RENAN, O FILHO

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de fevereiro de 2015

Crônica Nº 1. 367

Foto: mapa político de Alagoas (geografia.blogspot.com)

Foto: mapa político de Alagoas (geografia.blogspot.com)

O nosso sempre professor Alberto Nepomuceno Agra, era sábio, rígido e muitas vezes enigmático. Ex-pracinha, ex-diretor do Ginásio Santana, comerciante, fazendeiro, professor de Geografia e intelectual, dizia: “Não elogie o homem”.

No momento, ainda não estamos elogiando nada, apenas vendo o que se queria ver.

Depois de uma sucessão pífia de administradores ─ de acordo com alguma maldição lançada ao Palácio dos Martírios ─ mudaram de palácio. Nada adiantou. E na boa história das Alagoas, os feitos sem efeitos logo estarão sendo esquecidos. A poeira do tempo vai encobrindo nomes de vaidosos, arrogantes, inexpressivos, deixando apenas como caridade retratos em galerias que as novas gerações teimam em não conhecer.

O que lavou as mãos para os precatórios de tantos sofridos funcionários; o mesmo que retirou o atendimento do Ipaseal Saúde do interior, causou muitas dores aos que teriam que procurar atendimento médico somente na capital; passando semanas e até meses na corrida maluca pela saúde, sem dinheiro de hospedagem e alimentação.

São esses tipos de gestores que Alagoas não quer mais; insensível e indiferente que esquece que o dinheiro do seu cargo é pago pela massa e, ao invés de se julgar gerente do povo, julga-se um reizinho russo ou um barbudo cubano.

Tachado como ineficaz, pelo também candidato na época, Benedito de Lira, Renan Filho pode provar que Lira estava errado.

Muito jovem ainda, o atual governador nesse pouco tempo à frente do executivo, mostrou que está atento a todos os setores. O efeito do dinamismo na tentativa organizacional começa a impressionar o povo, mesmo não tendo completado ainda o teste dos cem dias.

Nos meus tempos de apreciador de sinuca, ouvia o ditado de quem começava perdendo: “Não existe ‘Senhor do Bom Começo’, mas ‘Senhor do Bonfim’, não é?” A frase tem alguma semelhança com a do meu inesquecível professor.

Como disse, ainda não estou elogiando ninguém. Mas, se o governador continuar com esse fôlego, sensibilidade aos funcionários públicos e profunda vontade administrativa geral, poderá quebrar a maldição que paira em nosso território.

Nesse caso uma frase do meu saudoso pai poderá ser positiva para ele. “Administrador é como cavalo bom, mora longe um dos outros”. Quem sabe!

TORPE!

“ (ó) que entorpece, embaraçado, acanhado; (ô) impudico; obsceno; sórdido, infame; ignóbil; nojento; sujo; manchado”

Ilustração: Fábio Campos

Ilustração: Fábio Campos

Outra vez, lá estavam os dois juntos. Cezar e o mar. O mar e Cezar. Um diante do outro. A praia sempre bela. As ondas lânguidas esticavam-se, vindo beijar-lhe, o corpo estendido na areia. Beijava-lhe os pés, subia até o peito. A areia entranhando os cabelos. Por dentro do calção bolinando-lhe o sexo. Despudoradamente se amavam. Os braços do mar, libidinosos avançavam e recuavam. Carinho de amor mútuo, impudicamente correspondido. Lascivamente entregues um ao outro. Gostava daquele afago, e tanto lhe excitava. Retivera todas as delícias das vezes que estiveram juntos. Jamais esqueceria. Com ênfase nos dias de carnaval.

Dali da areia dava pra ouvir o som do frevo, indo pelas ruas da cidade. Os clarins, o frenesi dos tambores. Sopro torpe do deus Baco. Pelo vento tangido, alucinado. Decaído das asas de Ícaro, chegavam a si. E lhes vinham sob a forma de antigas marchinhas. Reberverando ao baterem ritmadas no coração das almas folionas. A acordá-las do entorpecido sono que dormiam sorridentes, a mais de ano. As troças surgiam nos becos, e logo por outros deles eram engolidas. Debaixo de um sol agastado de luz, os blocos a brincar de colorir as coisas. A tarde de carnaval tinha todo um poder, uma magia, de facilitar as coisas. Alegravam as pedras de pisar. Donde outrora negros estrangeiros umidificados de suor na pele retinta, luzidia de sol e sal, trazido do mar. Aquelas pedras tingiram-nas um dia com seu próprio sangue. E seus corpos fizeram sombras de mesma cor no chão na dança de capoeira. Tingiam-na agora, com vinho do porto, com vermelho de colorau, azul de anilina, branco de maisena derramado. E brilho de pó de mico.

Havia um quê de permissividade. Como se personagens de sonhos e fantasias sexuais de rapazes que quebraram o cabresto, se materializassem. Mulheres ébrias de amor se beijavam beijos com gosto de cerveja. Embriagados, homens e mulheres despudores aliviavam suas bexigas, sem dar-se a ocupação de esconder seus sexos das vistas dos passantes. Pegas de surpresas meninas pudicícias viravam os rostos de rubor pro lado do mar evitando a cena. A imensa faixa de areia virada em passarela, onde fantasiados banhistas desfilavam. Fantasmas de corpos esfuziantemente vivos. Mambembes, de gozos e gestos obscenos, se atiravam no mar como um amante se atira na cama na hora do amor. Ninfetas ingênuas ao mergulharem n’água inadvertidamente perdiam a parte de cima do biquíni. E corriam a cobrirem como podiam seus pequenos seios virginais. A parte de baixo da peça de banho, depois de molhada, tanta era a força de atração exercida pelo corpo, que se colava como uma outra pele. A ponto de suas vulvas intumescidas acabarem por se desenhar vivamente perante os ávidos olhos dos varões. E tão mal disfarçavam seus olhares, e os instintos de macho os denunciavam, pouco a pouco, inflamando os volumes de seus calções.

Ninguém acudisse que o sexo no carnaval, com ênfase na praia, ditava sua lei. Mulheres de corpos esculturais em sumaríssimos biquínis a untarem o corpo de óleo bronzeador. E era tanto esmero dedicado a este ato. Como se meticolosamente encenasse uma peça de teatro onde interpretavam personagens de si mesma, e eram tão carentes de amor. E não hesitaria em se masturbar publicamente só pra chamar atenção. As mentes masculinas precavidas – desejavam ardentemente que de fato tal intenção se realizasse – por trás dos óculos raybans, lançavam olhares lancinantes, vorazes devoradores. E reteriam na retina aquela magnífica cena para usá-la dali a pouco no banheiro. Haveria deles que ali mesmo, encobertos até o pescoço pelo mar, se dava ao luxo de produzirem simulacros daquelas vaginas com suas mãos. E as ninfas aceitavam passivamente o coito imaginário, contentando-se lascívias com as libertinas lambidas do sol. Aceitando, e adorando seu caliente carinho nos seios fartos, nas coxas eriçadas de pelos oxigenados, na bunda luzidia apalpada pela areia. Enquanto o montículo pubiano atacado pelo ínfimo taco de pano retinha forçosamente o cheiro de fêmea. A brisa brincante de areia nos cabelos sedosos e lisos. Uma língua vermelha, de lábios carnudos a devorar com sofreguidão um fálico e viril picolé cujo estado de coisa não dando pra agüentar mais tanta carícia escorria pela mão seu lambuzado gozo lácteo.

No ano passado também o carnaval havia sido ali naquela mesma praia. Vários casais amigos tinham vindo além de Cezar e Valdelice. Naquele ano, só Cezar mais ninguém. Pela saudade que sentia do mar ali estava. Também precisava dar um tempo no relacionamento desgastado. A doença de sua sogra estava atrapalhando o convívio.

Lembrou que ficaram todos na casa de dona Alcinéia e seu Oscar pescador, que moravam quase dentro do mar. A casa era pequena. Como se saída de um conto infantil, mas com jeito deu pra acomodar os quatro casais e duas crianças Elmo e Lavínia. E todos juravam que gostariam de morar ali para sempre. Recordou que ficaram no domingo à tarde vendo o por do sol. Que ocorria do lado oposto do mar, lá ia o rei, dando adeus à montanha, ao coqueiral, ao farol. Distantes um do outro apenas alguns metros estavam naquele mesmo lugar. A tarde inteira curtindo as ressacas de si, do mar. Nem perceberam que a noite chegara. Ali mesmo na praia, todos virados em negras silhuetas, fizeram amor.

Domingo de carnaval à noite. Sempre noite doidivana. Um palanque todo ano era montado no barranco do quebra-ondas. Bandas pra todos e gostos e ritmos desfilavam muito mais corpos, trejeitos, caras e bocas que música. Apenas som em altíssima frequência. Todo um terreno de terra batida toado pelo povo. Iluminado por gambiarras que ia refletir feito pingos de fogo dentro do mar, da cor de petróleo. Ainda alguns componentes de blocos resistiam de pé. Feito mambembes soldados escapes de uma batalha insana, que haviam lutado contra eles mesmos. Resistindo deseroicamente. Tudo o que meritoriamente alcançaram fora corpos extasiados, torpes. Zumbis exalando vapores de etil por todos os poros.

Domingo de carnaval à madrugada. Sempre madrugada doidivana. Pura extravagância, um esbaldar-se do ser. Como se todas as regras de vida e de mundo merecessem serem quebradas, descumpridas. Um dar-se ao direito de deleitar-se. A negação de tudo que se era. Direito a assumir-se a duplicidade de personalidade. Homens travestidos de mulheres. Alguns de tão perfeito disfarce pondo-se a passar perfeitamente por damas. Dando a pobres observadores sóbrios, o direito a dúvida. Ainda mais quando satisfazendo a desejos secretos, o ano inteiro adormecidos, beijavam-se na boca. Alegariam depois devaneios culpa da diamba ingerida, do pó consumido, do lança-perfume. Como num mundo surreal. Seres estranhamente levados por uma comoção frenética, psicodélica. Um manancial de ilusões, de arrojo e duma volubilidade tão fremente como suster um elefante por um fio de cabelo. Sobrando apenas o direito ao riso, ainda que falso, artificial sorriso de palhaço.

A chácara de doutor Luiz ficava no boqueirão, na croa da enseada. Elmo, tinha só treze anos naquele carnaval viera passar praia com os pais, ao cair da tarde foi olhar os cavalos na chácara. Saulo um negro enorme cuidava dos animais. A pedido arreou duas montarias e foram os dois cavalgar pela encosta, até quase noite andaram. O descendente de africano cuidou de dar banho nos cavalos. Despido a beira do grotão, o negro parecia o deus Priapo, com seu enorme pênis mesmo em estado de repouso. Elmo viu e ficou simplesmente estupefato. Pior não conseguia tirar os olhos de lá. Ao tempo que do seu íntimo vinha a curiosidade de saber que tamanho aquilo ficaria ereto. Parecendo adivinhar seus pensamentos Saulo ficou excitado, e a estrovenga criando vida própria, cresceu. Desejos nasceram no coração de ambos. O menino de pele alvinha, limpa, sedosa, como de uma moça. O negro não resistiu a tentação de seduzi-lo. Mas recebeu uma negativa. Prometeu que dar-lhe-ia um daqueles potros que tanto lhes fascinara. Depois de muitas tentativas o garoto cedeu, e o negro o possuiu. Fizeram amor avassalador. Arrependido do que fizera Elmo ameaçou dizer ao pai o que se sucedera entre eles. Saulo implorou pra ele não fazer aquilo pois tratava-se de uma tara, algo que não podia controlar. O menino concordou e os dois acabaram repetindo a dosagem. Saulo ainda faz amor com ele por mais outras vezes. Desta feita o mancebo o faria com prazer. E daí passou a cobrar do varão outras e mais outras vezes. Desfalecido Saulo se vê obrigado a dizer: -“Para, ou sou eu que direi a teu pai.”

Fabio Campos 03 de fevereiro de 2015

LULU FÉLIX E A DEFESA SOCIAL

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de fevereiro de 2015

Crônica Nº 1.366

Foto: Reprodução / TV Gazeta

Foto: Reprodução / TV Gazeta

Interessante notícia foi veiculada sobre as câmeras de monitoramento da Defesa Social, em Maceió. Vejamos alguns trechos da reportagem da gazetaweb de 11.02.2015.

“Câmeras de monitoramento da Defesa Social estão danificadas em Maceió. Empresa aponta ação de vândalos e débito de R$ 2 milhões do Estado”.

Mais:

“(…) Câmeras de monitoramento, que deveriam auxiliar os trabalhos das polícias Civil e Militar, estão danificadas e sem previsão de manutenção (…)”.

Mais um pouco:

“Na Ponta Verde, a câmera foi quebrada por um caminhão; no Dique Estrada, foi quebrada por vândalos. Os equipamentos não foram reinstalados”.

Lá no meu interior, o cidadão decente, Lulu Félix, morava na entrada do subúrbio Maniçoba, em Santana do Ipanema. Baixinho, simpático, fala não muito grossa e arrastada, Lulu tinha um vasto círculo de amizade e jamais dispensava um paletó sem gravata. De vez em quando Lulu desaparecia, isto é, viajava para longe e, após alguns meses, ressurgia na terrinha. Imediatamente formavam-se rodas de conhecidos onde Félix estivesse. Lulu, então, começava a contar às novidades que presenciara pelo mundo. Cada episódio narrado era um espetáculo. Caso surgisse um ousado para afirmar que aquilo era mentira, Lulu respondia sempre com seriedade, ironia e paciência usando seu infalível e próprio chavão: “Você não viaja…”. Sim, como alguém pode contestar um fato distante se não viaja. Lulu não, Lulu viajava e era ele mesmo a testemunha ocular do que narrava.

Lulu Félix, aquele homem simples, divertiu muito as pessoas da sua época com os seus casos extraordinários, muitos narrados em livros que fizeram Félix virar imortal e folclórico como o maior mentiroso entre os três maiores de Santana.

Uma vez, porém, Lulu vacilou ao dizer que possuía um cachorro extremamente valente e que ninguém conseguiria roubar a sua casa, pois o cão não respeitava ninguém além do dono.

Depois de inúmeras outras conversas, um sujeito voltou ao antigo assunto e perguntou se Lulu não queria vender o cachorro. Parecendo ter esquecido tudo que havia dito, Lulu respondeu: “Eu não vendo porque um maloqueirinho sem vergonha roubou o meu cão”.

Ê gente… Quando li sobre as câmeras ferozes da Defesa Social que iriam apontar a bandidagem, “os maloqueirinhos roubaram as câmeras sociais”.

Diante do caso semelhante atestado pela Gazeta, talvez Lulu Félix não fosse mesmo mentiroso, mas apenas um colecionador do absurdo.

O BRASIL NÃO QUER OBEDECER

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de fevereiro de 2015

Crônica Nº 1.365

Foto: (mapadacachaça.com.br)

Foto: (mapadacachaça.com.br)

No esticamento dos anos 50, na minha terra, Seu Antônio Bulhões, homem sério, digno e trabalhador, tinha espírito fabril. No espaço entre o Beco São Sebastião e a Rua Barão do Rio Branco, no comércio, o irmão do cônego Bulhões possuía fabriqueta de vinagre e aguardente.

O vinagre abastecia muito bem o consumo local. Já a aguardente, também servia para que um dos seus filhos peraltas embriagasse o jegue de entrega da mercadoria.

Certa feita, foram encontradas duas frases na parede da fábrica, lembra bem, João Neto de Dirce, o Primo Véi. A primeira, com o “S” de trás pra frente dizia: “Quando se pode é de vender mais barato”. A segunda era um apelo moral: “É proibido fazer sabão neste lugar”. Ora, já havia fábrica de vinagre e cachaça para que mais uma fábrica de sabão?

Para a época, na linguagem chula, “fazer sabão” traduzia-se por “xumbregar”.

Logo as piniqueiras e casais avançados passaram a respeitar o decreto da fábrica de Seu Antônio Bulhões.

Estamos em 2015 e ficamos sem entender porque a gasosa baixa de preço no mundo inteiro, menos no Brasil. Quanto mais o petróleo desce, mas a gasolina sobe, numa teoria matemática que nem meus antigos professores, Hernande Brandão e Ely, da Capela, conseguiriam resolver.

Não seria bem melhor que os postos de combustíveis colocassem a frase folclórica, mesmo com o “S” pelo avesso: “Quando se pode é de vender mais barato”? É um negócio da gota serena, diz um amigo da roça.

Quanto à frase: “É proibido fazer sabão”, está mais séria ainda. Agora o produto já vem embalado, encaixotado, fabricado em grande quantidade, nos becos, nas ruas, na Internet e mesmo nas orgias de alguns políticos republicanos.

Existe um desrespeito generalizado pela ordem expressa da fabriqueta de cachaça.

Ê, Seu Antônio Bulhões, o mundo está perdido! É uma saboaria só!

O PASTORIL DE DONA JABIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de fevereiro de 2015

Crônica Nº 1.364

Foto: severinos.wordpress.com (Efeito especial: Clerisvaldo)

Foto: severinos.wordpress.com (Efeito especial: Clerisvaldo)

Tudo estava bem encaminhado no pastoril Estrela do Norte. Aliás, em matéria de pastoril, Dona Jabira fazia o melhor de Alagoas. Atraída pelo ritmo, a beleza das pastorinhas e a rivalidade de azul e encarnado, a multidão se aglomerava defronte o “sobrado do meio da rua”.

Um empresário chamado Zé Rico, chamava muitas vezes a “contramestra, em cena”, e como de praxe, depositava o dinheiro pendurado no decote da chefa do cordão azul. A palma dos torcedores azulinos cobria. Mas a mestra reagia bem e inúmeras pessoas chamavam o cordão encarnado.

De repente chegou um matuto de nome Tonho Bicudo e, começou a chamar a contramestra em cena; uma vez, duas, dez… Desgostando o empresário Zé Rico que antes estava absoluto. Mesmo sendo o dinheiro do matuto aplicado no cordão azul, o seu mesmo cordão, Zé ia ficando irritado com a concorrência. O matuto cochichou para uma pessoa próxima: “Vendi uma vaca para botar o dinheiro todo no azul”, e não parava de chamar a contramestra em cena.

Somente a diana, representante dos dois cordões, não ganhava dinheiro porque era muito feia.

Lá para às tantas, Dona Jabira ria à vontade, nos bastidores, pois nunca havia visto tanto dinheiro em sua vida.

Zé Rico estava para explodir a qualquer momento, quando Tonho Bicudo levantou o braço com uma nota graúda e disse para a contramestra: “Se me der um beijo, eu boto essa” e agitou a cédula no alto.

A contramestra balançou a cabeça e o matuto subiu ao tablado beijando a pastorinha e colocando o dinheiro em seu vestido. Ora, Zé Rico subiu a pequena escada de madeira com dois passos, empurrou Bicudo e disse: “Você pode botar dinheiro à vontade, seu peste, mas beijar a minha contramestra, você não beija mais”. Danou-lhe a mão no pé do ouvido que Tonho Bicudo caiu de cima do palanque.

Óóóóóó!!! ─ exclamou a multidão horrorizada.

O matuto levantou-se atordoado, sacou um bicho bruto que trazia sob a camisa, atirou em Zé Rico, conseguindo atingir-lhe a bunda.

A multidão espanou numa correria desordenada que até o pastoril de madeira robusta de Dona Jabira, foi no peito.

Após a chegada da polícia e as seguidas investigações, foram encontrar Tonho Bicudo, cinco dias depois, nos braços amorosos da mestra do pastoril, isto é, a primeira do cordão encarnado.

Ninguém conseguia entender o mistério. O homem havia gastado o dinheiro da vaca com a contramestra que representava o azul e, como fora encontrado em amores com a mestra, guardiã do encarnado?

Somente muitos anos depois alguém descobriu que Bicudo era namorado da mestra e com ela havia brigado. A questão com a contramestra era apenas uma grande vingança do matuto.

Após o tiro na bunda, tudo voltara aos velhos amores.

A multidão mudou a roupa, mas o povo brasileiro continua diante do pastoril de Dona Jabira.

Garoto Verão Celebridade 2015 Modelo Alberty Micael, Ele que é natural de Rio Largo – AL

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Alberty Micael N. dos Santos, Estudante do 3º ano do Ensino Médio da Escola Santos Dumont na cidade de Rio Largo – AL. Pretendo cursar direito.

CELEBRIDADE IN FOCO – Como você se sente sendo escolhido pela Coluna Celebridade In foco o Garoto Verão Celebridade 2015?

Alberty Micael N. dos Santos – Estou feliz por ser escolhido para representar esse título e darei o meu melhor parar honrar o mesmo! O meu muito obrigado pela escolha!

CELEBRIDADE IN FOCO – Com quantos anos vc começou a carreira de modelo?

Alberty Micael N. dos Santos – Comecei recentemente, tenho um pouco menos de 1 ano nessa carreira. Mas é um rumo que quanto mais tempo passa, mais amor envolve e que não pretendo parar.

CELEBRIDADE IN FOCO: Antes de você virar modelo, já trabalhva com modas? tem sonho em ser mister?

Alberty Micael N. dos Santos – (RISOS) Sim, sou modelo e pretendo virar mister talvez esse ano, pretendo concorrer a algum concurso estadual. Mas atualmente, só trabalho como modelo.

CELEBRIDADE IN FOCO: Qual título mais importante que você ganhou até agora?

Alberty Micael N. dos Santos – Participei de concurso 1 vez ano passado, onde fiquei em 3º lugar. Esse ano de 2015 estou me preparando mais pra chegar mais forte e com fé em Deus em ganhar o 1º lugar.

CELEBRIDADE IN FOCO: Você se considera um jovem bonito? É qual é parte do seu corpo que você mais gosta?

Alberty Micael N. dos Santos – (RISOS) Modestia parte, sim. Kkkk sou feliz comigo mesmo, sou feliz com o que vejo no espelho, digamos assim. A parte do meu corpo que mais gosto são os meus olhos e boca.

CELEBRIDADE IN FOCO: Uma mensagem para os leitores

Alberty Micael N. dos Santos – Queria agradecer ao carinho de todos vocês. Cada carisma e gestos. Agradecer por todo o reconhecimento que venho tendo e que espero continuar. Um abraçado à cada um de vocês.

Alberty Micael
Alberty Micael

 

Alberty Micael

Alberty Micael

Alberty Micael

Alberty Micael

 

MEDONHA NOITE

Ilustração: Fábio Campos

Ilustração: Fábio Campos

Era assim um cair de tarde, e as nuvens do céu se inventavam de falar de tristeza. Para isso tinham que se livrar do sol, que só falava de vigor e luz. E tudo estava como que empesteado com uma alegria quase incontida. Então o trovão disse, estou. O relâmpago também, eis-me aqui. E veio a chuva. Assim uma chuva feia. Com seus pingos grossos, espaçados, previsivelmente inesperada. Intrometidamente apressada. Borrando a tarde, afugentando as cores das flores, dos pássaros. A dizer o que não mais era prioridade. Tirou os namorados do banco da praça. Fez o velho senhor improvisar o jornal como guarda-chuva. As crianças, somente elas gostaram daquela chuva. E da mesma forma que veio se foi.

A noite, desembestou-se cheirando a terra molhada. Ainda era cedo da tarde, mesmo assim chegou. Nem um pouco surpreendente mais cedo veio. A moça ficou no alpendre, e era parte desses acontecimentos. Não podia, nem devia ser apenas mera observadora. Fazia parte de tudo como protagonista duma história, que não tinha começo, nem meio, apenas fim. Os cílios molhados de lágrimas repousadas na foto que jazia na palma duma das mãos de seus longos dedos trêmulos. Mãos que a pouco esmerara no tocador seu longo cabelo. Enquanto seus olhos buscavam no espelho encontrar alguém tão estupidamente parecida com ela, porém não se sentia aquela, refletida lá. A boca semi-aberta os alvos incisivos mordiam o lábio inferior tornando-o túrgido, rubro. Uma palavra que teimava em não se materializar, cujas cordas vocais simplesmente se negavam concretizar, escondida no consciente, se fazia, ciente.

A brisa quente, esbaforida como bafejo de bovino. Veio vindo, carregando, como quem flutuava a alma morta da tarde. A tocar-lhe os lábios permitindo-se fundir-se com o seu hálito adocicado. Lembrava de Leonardo, com ardor. Do tempo do namoro, escondido porque seus pais de criação não consentiam. Leonardo era um soldado recém admitido na corporação. Não tinha um ano de farda, e fora designado para subdelegado da Vila Capim da Igrejinha. Administrada pelo intendente Firmino Fontes era, nomeado pelo então governador Major Luiz. E do alto de seu orgulho não aceitava que sua neta-afilhada namorasse um soldado de polícia. Pra ele, todo militar não prestava. Apesar de que precisava sempre dos seus préstimos: pra dar uma surra em cabra safado, pra dar fim a outro que andasse se metendo a besta. A falar de sua gestão, a ferro e fogo implantada. Debaixo daqueles bigodes até onde as vistas podiam alcançar, tudo que vivesse tinha que respeitá-lo.

Lembrou com muita veemência do dia que Leonardo conhecera coronel Firmino Fontes. Mais dois dias e faria uma semana que havia chegado à vila. Conheceu a professora Maria Auxiliadora por providência do acaso. A delegacia ficava quase defronte a escola. Uma troca de olhar, um cumprimento formal. Daí a pouco estavam conversando. Falaram sobre o calor, a escassez de água, e que naqueles tempos de seca, era tirada da cisterna da delegacia pra servir a cantina. Naquele quinto dia de vila, nem bem Leonardo pôs os pés dentro do cubículo onde funcionava o distrito policial, e o coronel por um dos seus capangas, mandou buscá-lo. Chegou trazendo-lhe outra montaria. Orgulhava-se de trajar aquela farda cáqui, o cinto largo, a cartucheira com a arma da corporação, os coturnos pretos, engraxados, o boné engraçado que cobria somente o cocuruto. Porem tão respeitado um soldado de polícia em todo estado, com ênfase no meio da feira. O cabelo rapado, rosto bem escanhoado. Era o ano de 1969, e ele só tinha vinte e quatro anos. Um bigode fino conservado, mais pra dar ideia de mais idade. O dia realmente muito quente, dum desses verão, seco torrado, dum céu azulino sem nuvem. De doer às vistas se o cristão se inventasse de olhar pra cara da bola de fogo que tinha nome de nota musical. Inclemente seguia o sol sua pauta de clave de si implacável. A música era a segunda paixão de Leonardo. Tinha um trompete que vez outra tirava dele uns acordes.

O coronel se estava no alpendre. Sentado na cadeira de palhinha. E pareceu que tudo no mundo, de tão cansado, parado estava. Não se ouvia um nada. Se quer um vento de respeito, dos que assobiam forte nos ouvidos, ou mesmo um redemoinho de encher os olhos de areia, e derrubar mais folhas da craibeira na calçada. O que ainda malmente se via, era aqui e acolá se levantar uma poerinha acanhada, a dar ideia de que algo ainda estava vivo. No sertão brabo de meu Deus os viventes não entregavam os pontos assim facilmente. O coronel Fontes despira o terno e a camisa. Porem lhe cobria os peitos flácidos forrado de fios brancos e a barriga volumosa, uma camiseta branca, de meia. Suava por todos os poros. Um cigarro branco de filtro amarelo, recém aceso pendurado no lábio. Longa ponta de cinza. O artefato apelidado de chupeta do cão, se consumia sem ser tragado. Servindo somente de incenso a espantar moscas. Os jagunços eram três negros, de raça, e de procedência pra lá de duvidosa, que pela convivência já conheciam os pantins do patrão. Com caras de cães raivosos, amestradamente vigiavam. Pra eles, aquele tipo de postura do senhorzinho só era concebida quando algo havia a ser resolvido. O coronel sem levantar a vista, buscou um revólver taurus 38, preto com cabo de madeira, que se encontrava numa pequena mesinha ao lado da cadeira. Abriu o tambor, checou a munição, girou o cilindro, e retornou com ele a posição original. Era tudo parte de uma encenação. A raposa velha fazia o jogo do: “É bom que esse cabra saiba: quem manda aqui sou eu!”, sem precisar dizer, exatamente. Ditava sua lei com gestos comedidamente ensaiados. “-Só tenho a dizer ao senhor delegado que deixe minha neta em paz. Não a quero de namoro com um soldado de polícia.” E sem dar a menor oportunidade de seu interlocutor falar palavra, tratou de mandar o mesmo jagunço voltar com o homem da lei até o seu posto.

Pra continuar os estudos, Maria Auxiliadora, teve que deixar a vila. Não ficou mais de seis meses e partiu. Foi morar na casa de uma irmã mais velha, no mesmo sertão, distante da vila somente alguns quilômetros. O mundo rodopiou. A professora acabou casando com um primo chamado Valdemar, que era agricultor. Com quem teria dois filhos Raquel e Rubens. Vinte anos depois estavam separados. Valdemar foi embora pro Mato Grosso, com ele foi Rubens. Raquel ficou com a mãe.

Naquela tarde de verão Maria Auxiliadora recordava. A foto na mão. Estava no terraço da casa onde morava por tantos anos. A se consumir em recordações pensava nos filhos. Rubens escreveu-lhe: tinha ido embora do Mato Grosso, fora morar com um tio em São Paulo. Prestou concurso para a polícia e aguardava o resultado. Era quase desespero, a angústia lhe invadia naquele momento ao recordar que seu filho poderia se tornar na metrópole, repleta de violência, um policial. E ainda lhe repousava na consciência o estigma da rejeição. Soldado são pessoas tão descriminadas. Veio-lhe com vigor a lembrança de Leonardo.

A foto era numa praia. Ela estava de maiô listrado, com óculos escuros, e sorria, com frescor de dentes perfeitos. Ainda não escurecido pela nicotina de cigarro, que mais tarde aprenderia a fumar. Herança maldita de família, pela admiração que tinha pelos hábitos do avô. Na imagem aparecia com uma das mãos segurando um enorme chapéu de palha. Estava em pé, ao lado do ex-marido. Sério, talvez incomodado pelos trajes minúsculos a todos se expondo. Incomum a um homem rude, do campo feito ele tal situação. Valdemar segurava firme a cintura da ex-esposa. Os dois filhos pequenos sentados na areia sorriam felizes. A pele alva que tão poucas vezes haviam exposto ao sol, daquela forma quase ofuscava.

O relógio na parede da sala de janta, uma lua cheia, de números. Três da madrugada diziam as setas pretas. De costas pro quintal, sabia do pé de manga, lá traz, falando de escuro, e mangas de vez, esperando desfrute e vento. O chão uma pracinha cimentada. O terreno com seu considerável declive. De repente um baque surdo. Oh! Alguém saltara o muro, com certeza um ladrão! A porta buscada com aflição e angústia. A chave tinha que girar a chave! Alívio, conseguira trancar-se do malfeitor que passou correndo, no oitão da casa. Oh longa noite insone, de desespero. Medonha noite que não trazia o dia. Mas quando viesse, e com certeza viria, a frondosa mangueira a sorrir pro sol, amanheceria com menos algumas mangas na copa.

Fabio Campos

PALAVRAS DE MARDOKEU

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de fevereiro de 2015

Crônica Nº 1.362

Ilustração: (correiobrasiliense.com.br).

Ilustração: (correiobrasiliense.com.br).

Com a narrativa abaixo adaptada, Mardokeu me contou:

De acordo com a criatividade brasileira, aconteceu na guerra. Depois de acirrado combate, os inimigos bateram em retirada. Havia chegado a hora de livrar-se dos mortos e socorrer os feridos, situados à beira de enorme precipício. Entra em cena o médico de jaleco branco, acompanhado de um nervoso sargento da retaguarda. O médico vai examinando, superficialmente, os estendidos no campo de batalha. Seguindo seus passos inseguros, o sargento é acompanhado por duas praças, executoras fiéis às suas ordens. O doutor vai examinando os caídos e passando o “diagnóstico” para o sargento: “Está morto… Está vivo; está morto… Está vivo”.

Naquele triste momento, cada homem deitado representava apenas uma peça, nada mais. Os classificados como vivos eram separados dos outros. Os indicados como mortos, pelo competente doutor, seriam jogados do alto do abismo pela ordem do sargento e os braços dos soldados acompanhantes.

Um desses combatentes estava apenas desacordado e foi classificado pelo médico Como “morto”. Ao ser colocado no balanço do abismo para ser arremessado, o homem acorda, compreende a situação e grita desesperado: “Estou vivo! Estou vivo!”. E de um dos dois soldados que não podiam perder tempo com suposições, sai à voz, sinistra e arrojada: “Quer saber mais do que o médico?”.

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Em nossa marcha da vida, suada, honesta e combativa, não deixamos de encontrar obstáculos, disse Mardokeu. Uns da própria antipatia, do carma transferido; outros, frutos dos olhos de ximbra disfarçados; de sapo cururu, repletos de gordura, cobiça e inveja do intelecto inalcançável. Esses são os mais perigosos: maquiavélicos, endiabrados, mentirosos, filhos de Caim que procuram envenenar a sua fonte, colocar pedras em seu caminho e lhe excluir das rodas sociais, com o amigo Lúcifer às costas dirigindo seus passos e cubando seu sangue.

Naturalmente, muitos homens de bem são vítimas desses desassossegados que ignoram pra si o que vêm à frente. E quanto mais você grita: “Estou vivo!”, mas eles querem lhe jogar no abismo, resmungando: “Quer saber mais do que o médico!”.

Uma dessas vítimas poderá estar lendo essa crônica amanhã ou mesmo um dos próprios olhos de ximbra, encerrou meu amigo Mardokeu.

O VEADO E O MACACO

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de fevereiro de 2015

Crônica Nº 1.361

Foto: R7, entretenimento. Solnet / The Grosby Group

Foto: R7, entretenimento. Solnet / The Grosby Group

Nos anos 50 e mais um pouco, época em que a política ainda era repleta de truculência, havia dois candidatos a governador de Alagoas. Um deles, com parentela militar, era arrogante, metido a valente e bruto que só parede de igreja. Chegara a ocupar o Palácio dos Martírios, dobrando assim o perigo das suas atuações. O outro era mais manso, porém, político do mesmo jeito e, como o primeiro, também chegou a dirigir as Alagoas.

Nessa fase agitada no estado, o povo tinha prazer em ir às praças ouvir os argumentos dos discursos inflamados, muitas vezes correndo risco de vida. Havia muitos seguranças, guarda-costas ou capangas nos palanques e em pontos estratégicos com seus respectivos “mocotós de boi” debaixo dos paletós.

No decorrer de uma dessas campanhas ─ narra um cidadão santanense fã de episódios políticos e do candidato valentão ─ houve fato interessante. O candidato bruto, além de tentar desmontar o adversário com várias partes detratoras, ainda o chamou de veado. Naturalmente ganhou muitos aplausos dos seus seguidores.

Na vez do segundo candidato, no mesmo palanque, dias depois, o rival rebateu chamando o arrogante de macaco, por ele ser parecido com um soim.

No terceiro comício o primeiro postulante a governador, não quis ficar por baixo e gritou para a multidão o fraseado mais ou menos assim: “O outro candidato me chamou de macaco. Eu digo que ele é veado. E o que é que vocês têm a dizer? É melhor votar num macaco ou num veado?”.

O prezado leitor imagina a reação da plateia de rua.

Passadas algumas décadas, quando grandes comícios encontram-se em extinção, tem-se observado certa mudança de comportamento nos gogós demagógicos dos engravatados.

Quanto aos tipos de bichos da floresta, o do rabinho curto ganhou direito de lei. Pode pular mato à vontade. E o da careta já pode denunciar as ofensas recebidas.

Quais serão os novos animais estrelas de palanques?

Catadora devolve 250 mil reais

Foto: Rodolfo Tiengo

Ana dos Santos Cruz, catadora de material reciclável encontrou no lixo cheques que totalizavam R$ 250 mil, dinheiro esse que pertencia ao Hospital de Câncer de Barretos, obtido por meio de doações. Ana mora com seus país e um filho de 3 anos. Seu marido foi preso por tráfico de drogas. Ana relata que trabalha até dez horas por dia recolhendo materiais recicláveis em pontos de coleta da cidade de Barretos – SP.

Os cheques foram devolvidos por Ana pessoalmente ao diretor do hospital e como “recompensa”, Ana recebeu uma promessa de emprego no Hospital. Os cheques foram encontrados no dia 22 de janeiro enquanto Ana recolhia papelão nas proximidades do Hospital. Apesar da promessa do diretor, o Hospital de Câncer de Barretos, em nota, não confirmou a vaga de emprego para Ana.

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