PARA ONDE FOI A INFÂNCIA?
Aproveitando a abertura para o mês das crianças, senhores pais, mães, avós e avôs, senhores tios, madrinhas, professores, educadores e demais responsáveis, é para vocês que escrevo desta vez. Apesar da minha pouca idade, inicio refletindo que a infância que eu tive, já não existe mais. Então devo presumir que a infância de vocês também tenha sido completamente diferente, não só da infância atual, mas também da minha, que nem faz tanto tempo assim. E, sinceramente, olhando para a atualidade, eu já sinto lamentar muito pelas próximas gerações.
De acordo com a Lei 8.069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Art. 4º, “é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” a crianças e adolescentes, mas o que me parece, é que as crianças estão voltando a se tornar as miniaturas de adultos que o século XIII costumava construir.
Quando me refiro a esse retrocesso da infância, do qual volta a declinar à sua inexistência de séculos atrás, estou apontando que o processo de adultecer as crianças de hoje é algo que grita pela nossa atenção. As nossas crianças não estão menos vulneráveis, menos ingênuas ou menos inocentes só por que o mundo evoluiu a largos passos tecnológicos. Muito pelo contrário, a evolução também trouxe a exposição, e permitir que esses pequenos indivíduos fiquem expostos com tamanha normalidade, gera uma provável (e triste) ideia de extinção da infância.
As crianças de hoje não só portam um aparelho celular/smartphone, como também possuem redes sociais inapropriadas pra sua idade. Com isso, os padrões de moda lançados para adultos nas mídias online, passam também a serem padrão para as crianças que acreditam que a aquele perfil social lhes cabe. E como numa reação em cadeia, passam a fabricar miniaturas de roupas adultas sensuais, onde os pais não só permitem usar, mas ajudam na escolha da compra. E se não bastasse as vestes, o que falar das músicas e coreografias de linguajar e movimentos sensuais (para não dizer sexuais), que são ensinadas com direito à aplausos aos nossos pequenos?
A educação sozinha não consegue mediar conhecimento, a saúde sozinha não consegue conter o alto índice de gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis, a assistência social sozinha não consegue proteger proativamente, o conselho tutelar sozinho não consegue defender, se os pais, os responsáveis e a sociedade como um todo, não fizerem o seu principal papel de separar a infância da vida adulta, como cada fase deve ser. A educação primeira (leia-se familiar) será sempre a base para todas as outras portas que se abrirão na vida de um indivíduo. No entanto, com a falha desta, nenhuma outra consegue construir o alicerce que deixou de ser feito.
Acredito que a maioria de vocês, que agora refletem junto comigo enquanto lêem, se colocaram a lembrar de suas respectivas infâncias, e também tiveram a nostálgica vontade de voltar lá e brincar de pés descalços ao menos uma vez. Pois é, então vamos lembrar que, assim como todas as fases da vida, a infância não volta, ela simplesmente passa. Não deixe que as nossas crianças percam a magia do brincar, aprender e serem curiosas com seus inúmeros porquês. Não esperem que elas busquem suas respostas num vídeo do YouTube, ouçam-nas para respondê-las. Ser criança é tão mágico, que o poeta Fabrício Carpinejar teve uma feliz reflexão ao dizer que “Na infância, bastava sol lá fora, e o resto se resolvia”. Sejamos o sol dos nossos pequenos.
01 out
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