Pela manhã, chega Manoel Félix somente com as agulhas. Não pode comprar o resto das coisas porque a polícia estava de olho nele”.
Pedro de Cândido está presente. Lampião entrega uma lista de compras a ele, inclusive a mescla. Manda-o vigiar a polícia. Pedro vai a Piranhas”.
O tenente João Bezerra está em Mata Grande e o sargento Aniceto em Pedra. Recebem telegrama de dona Cyra, esposa de Bezerra, dizendo sobre cangaceiros vistos na região de Piranhas.
Em Piranhas, Pedro faz as compras e não vê Bezerra nem Aniceto. Cochicha com a polícia e é visto por Eráclito. Disfarça mandando-o levar a mescla, o restante não.
No coito chegam o subgrupo de Corisco e o de Labareda. Festa de alegria.
Eráclito fala mal de Pedro, Corisco manda Virgolino matar a Pedro de Cândido, Lampião ameniza.
“À tardinha, Luiz Pedro cortava a mescla para calça, culote e bornais de José. Lampião mandou Vicente e Manoel Félix buscarem a máquina de costura na casa da mãe de Pedro de Cândido, ali nas Forquilhas, do outro lado do morro das Perdidas”.
Corisco não quis dormir ali e retirou-se para a fazenda do Velho Bié; Labareda foi dormir na fazenda Cuiabá, longe duas léguas. Os dois não confiaram no lugar em que havia apenas uma entrada, segundo eles. Moita Brava, alegando indisposição pediu para se tratar fora.
O tenente Bezerra chegou a Piranhas à noite.
Pedro havia entregado um bizaco de balas a Lampião com seu irmão Durval, mandado por Bezerra antes de sair de Piranhas. O autor Maciel diz que foi na quarta, dia de feira em Piranhas quando o bizaco desceu com outras mercadorias.
“O entendimento sobre os últimos preparativos para o veneno (se houve) deve ter acontecido na noite da terça, quando Bezerra chegou a Piranhas, ou na manhã da quarta, antes de deixar à cidade”.
· Narrativa baseada no livro: CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012.
Chega José, Sobrinho de Lampião, 17 anos, filho da irmã mais velha, Virtuosa. Viera de Propriá, onde conversara com seu tio João Ferreira. Contou as perseguições à família e que ele estava crescendo. Lampião lembra a ele que há dois anos, seu irmão mais novo e seu cunhado também haviam entrado no cangaço pelo mesmo motivo, e que este era o 6º Ferreira.
Lampião e Maria ajudam a José a armar a rede no grupo de Balão. Depois ele vai para o cimo do morro das Imburanas.
Lampião encarrega Manoel Félix, coiteiro irmão dos outros dois, Erasmo e João, de comprar agulha, linha, chapéu de couro e cinco varas de mescla, em Piranhas, parece que para fazer a roupa de José”.
A chegada de José atrasa a partida de Virgolino em um dia, o que seria fatal para o chefe de bando como se o próprio destino já tivesse de plano traçado. Lampião já estava descansando no riacho desde o dia 21. Como a grota da fazenda Angicos não estava muito distante do rio São Francisco, sua permanência no lugar ia ficando cada vez mais perigosa, mesmo com a confiança em está cercado de coiteiros. Pela frente, o rio era bem movimentado e alvo da sua vigilância com subgrupo de Relâmpago, mas que terminaria sendo completamente inútil. Por trás, havia a fazenda Logradouro do coiteiro Júlio Félix e outras que davam para o interior.
Para visitar Lampião não chegavam somente os coiteiros, mas outras pessoas que se interessavam em negociar com o bandido, informar, levar presentes ou simplesmente vê o homem de perto. Geralmente essas pessoas apontadas como de confiança, eram introduzidas no acampamento pelos próprios coiteiros como seus amigos.
Além disso, as feiras de Pão de Açúcar e Piranhas representavam maior movimento de canoeiros e barqueiros nas imediações, bem como cavaleiros nas terras áridas e pedregosas que margeavam o Velho Chico.
Manter segredos da sua permanência por ali, mesmo com seu aparato, parecia impossível.
· Narrativa baseada no livro: CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012.
Maria Bonita chora muito, nervosa, recostada a Lampião. Os dois sentiam o fim através das previsões de um vidente de Umã. Desde 1929 que Lampião tinha pressentimentos.
Os mais íntimos de Lampião sabiam nas duas margens do rio São Francisco, que Maria Bonita havia ido a médico em Propriá; não sabiam, porém, qual era a doença. Depois, também poucos souberam que era somente nervoso e nada mais.
Por aí se vê que Lampião estivera antes em uma das fazendas de Antônio Caixeiro (SE), aí convocara o bando inteiro para Angicos (SE), atravessara o rio para Alagoas, serra de São Francisco (AL) para despistar, depois voltara para Sergipe. AA.
Neste domingo, dia 24, para ninguém vê, Durval foi abrir, salgar e enxugar a carne, de canoa, no meio do rio. Depois de pronta, levou-a para Lampião e a ofereceu de presente. Sem aceitar, o cangaceiro pagou a posta de carne com cem mil reis. Como o boi inteiro tinha custado noventa e dois mil reis, o rapaz pensou que se Lampião demorasse mais com um negócio daquele, daria para qualquer um muito dinheiro (segundo seu depoimento). (Ótima carne, régio pagamento).
As coisas, carne e as outras encomendas, chegam num jegue com dois caçuás. As encomendas foram compradas por Erasmo Félix e, Durval teria feito as entregas no domingo à noite”.
Prossegue Lampião e seu bando acampados na grota da fazenda Angicos, de propriedade da família de Durval. O que Virgolino precisava da fazenda, usava para pagar quando se fosse retirar do coito a exemplo de bodes, cabras e cabritos. Quando queria complementar seus alimentos ou fazer uso de algum objeto de fora do coito, usava os coiteiros para compras em Piranhas ou em Pão de Açúcar, cidade alagoanas.
Narrativa baseada no livro: CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012.
Era uma vez, assim que o dia nasceu. Mais uma vez era. A casa continuava no mesmo canto, encostada nas outras. Se tivesse sozinha já teria caído. O salitre, os tijolos frágeis, de barro cozido. Ao ver aquela cena, vieram lembranças que fez tudo voltar ao passado de João Pedro. Pra construí-la foram dias de trabalho duro, o homem e a mulher somente. Da encosta do riacho arrancaram o barro. Com as próprias mãos moldaram os tijolos. Fizeram uma caieira que varou a noite queimando. E o bolo de fogo crepitou na catingueira verde azeitada que produziu um cheiro doce. A caninana buscou outro lugar pra se entocar. Os olhos gigantes da coruja assoviavam, causando arrepios de dar medo. O ponto de fogo lá no pé da serra, de cá da cidade parecia só o lume dum palito de fósforo aceso.
Pitava João, pitava Maria cigarros de palha, de rara beleza, singela ação pra quem via; raro sabor, um primor pra quem vivia. A cozinha baixinha, pretinha punha os mais taludos de cócoras e os pequenos aproveitavam pra desabarem nos seus colos. O menino viu e guardou, sem saber que guardava guardou. Os dias andaram de roda gigante, e fez miséria. A rua cresceu, e se multiplicou, fez como rezava no livro de Gênesis. Mas despois que cresceu, seus filhos foram embora, foram cuidar de suas vidas cortando o cordão umbilical deles com a rua. Rua que lhes amamentara, lhes embalara lhes pusera pra dormir. E de tristeza a rua encolheu, definhou, tanto que morreu. No seu lugar nasceu outra. Que nem em sonho imaginava que um dia fora a outra. O tempo de bandidos saqueadores estava instalado, não mais agora, mas naquele tempo da Rua Nova. Os homens se reuniram em assembleia daí virou Rua da Assembleia. A dificuldade do governo de cobrir com um contingente policial todos os municípios facilitava a ação dos malfeitores. Dona Adelia e Seu Canuto eram os moradores mais ilustres, os mais abastados de recursos. Os facínoras os tiveram em mira. Os-leva-e-trás, os olhos do coronel deram com a língua nos dentes. Vulnerável se tornavam vítimas. Quem só tinha a vida, uma reserva de grãos no fundo da dispensa, e alguns tostões enrolado num lenço debaixo da camarinha. Outra alternativa não havia, a não ser fugir. Um vaso branco era peça de estimação, também ia pra o mato, nos dias de tribulação. Fugir talvez fosse a única saída pra quem não queria ir pro enfrentamento. Os declives do relevo, as encostas dos cursos d’água, as grotas, tudo que pudesse esconder um cristão servia de refúgio.
“Então, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: “Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores.” Jesus lhe respondeu: “As raposas tem suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o filho do homem não tem onde repousar a cabeça.” Outro de seus discípulos lhe disse: “Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Mateus 8-20”
A filha de João e Maria tinha saudade do pai, queria tanto ver o pai. Lembrava dos seus olhos calados. Lembrava do jeito como sentava. Se afastava de costas até a cadeira segurando com seus braços magros, os braços rijos da cadeira. E cruzava a perna direita sobre a esquerda, nunca ao contrário. As mãos espalmadas uma sobre a outra apoiadas sobre os joelhos. Assim acabaria escrevendo na memória da filha, como queria para sempre ser lembrado. Meu Deus como era tanta a vontade de revê-lo, não existia outra coisa mais importante que isso. Era tudo o que dali por diante pediria a Deus, até seus últimos dias. Perguntaria como estava de saúde, se no céu também cuidavam de roça. O cabo da enxada lustroso de uso, a folha do instrumento de tão gasto arredondara nos cantos. O cabide de pendurar pano de pratos era de madeira, tinha a cabeça dum peru branco com sua pinta vermelha descendo por cima do bico. O filtro d’água tinha roupinha com enxadrezado de crochê na borda e um desenho de rosas amarelas que lembravam bagos de jaca. A bandeja dos copos coberta com redinha de filó ornada com fuxicos. A outra filha não se lembrava mais de nada disso. Tão esquecida coitada. Não lembrava mais do dia do sepultamento do pai. O sobrinho ajudou. Se lembre tia que o padre Moisés disse assim: “-João… Morreu num grande dia. No dia da anunciação. Dia em que o arcanjo Gabriel anunciou a Virgem Maria que ela ia ser a mãe do Salvador.” Era o dia 25 de março daquele ano.
“Quando Isabel estava no sexto mês de gravidez, Deus enviou o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia chamada Nazaré. O anjo levava uma mensagem para uma virgem que tinha casamento contratado com um homem chamado José, descendente do rei Davi. Ela se chamava Maria. O anjo veio a ela e disse: “-Que a paz esteja com você, Maria! Não tenha medo! Encontrastes graças diante do Senhor. Ficarás gravida, darás a luz um filho e porás nele o nome de Jesus. Ele será um grande homem e será chamado de Filho de Deus Altíssimo. Deus o Senhor, vai fazê-lo rei, como foi o antepassado dele, o rei Davi. Ele será para sempre rei dos descendentes de Jacó, e o reino dele nunca terá fim. “-Como isso se dará? Se não conheço homem.” Perguntou-lhe Maria. Ele respondeu: “-O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Deus Altíssimo o envolverá com sua sombra. Por isso o menino será chamado de santo e filho de Deus. Sua parenta Isabel está grávida, mesmo sendo idosa. Diziam que ela não podia mais ter filhos, no entanto ela já está no sexto mês de gravidez. Porque para Deus nada é impossível.” Maria respondeu: ‘-Eis aqui a serva do Senhor, que aconteça comigo o que o senhor acabou de me dizer.” E o anjo foi embora. São Lucas 1,26-38”
O primo Casteado teve uma dor de dente horrível. Foram cinco dias com cinco noites sem dormir. Na primeira noite, destroçou um travesseiro mordendo e grunhindo feito um cão raivoso. Amanheceu na porta de Seu Pedrinho, protético, que temeu extrair o maldito, pois estava bastante inflamado. Receitou-lhe um anti-inflamatório, que praticamente surtiu efeito contrário. O peste era teimoso e fazia esforço durante o dia, pra desparecer a dor maligna trabalhava, na broca duma roça, no carrego de saco na cabeça. Na segunda noite sem pregar o olho, teve alucinações. Andava com um pano amarrado por baixo do queixo e encima da cabeça. Na terceira noite andava doido o homem. Tomava um litro de cachaça de uma vez só e a única coisa que conseguiu foram ferimentos no cocuruto que bateu muitas vezes contra o tronco de uma árvore. No quarto dia foi a um rezador, os galhos de arruda do homem murcharam que foi uma beleza. Disse-lhe que estava cheio de olhado, espíritos ruins lhes acompanhava. Disse ele que botou tudinho pra correr. Durante a reza ele passava a mão espaduada do ombro até os rins. Como se estivesse tangendo algo que estava sobre os ombros do caboclo. Somente os espíritos do outro mundo viam, o que ninguém mais via. Pediu que lhe estendesse a mão espalmada, olhou-a atentamente, se benzeu. Pediu que se benzesse também. E continuou suas profecias dizendo que uma mulher por nome Maria, que na juventude havia sido sua namorada, com quem acabara o namoro. Por vingança fez um trabalho para derrubá-lo. Não conseguindo, no entanto, pois Casteado, tinha o corpo fechado. Por conta desse dente, Casteado ficou vagando várias noites, pelos arredores da vila. Passaram a dizer até que estava correndo bicho, e que teria o poder de tornar-se vulto, de se transformar na besta fera, ou num lobisomem, nas noites de lua cheia. No quinto dia, mesmo inchado, o charlatão resolveu extrair o dente. Em vão aplicou sedativo. No cru mesmo o infame teve que ser tirado. Horripilante grito ouviu-se do pobre diabo. No exato momento que o sol se ia, e a lua prateava o início da noite.
Na cozinha de cócoras com os pés descalços sujos, a calça enrolada até a batata das pernas. Uma xícara de café fumegante na mão que cobria parte do rosto. Fitava o primo Benício Felix que tinha por aqueles dias, chegado da Bahia de São Salvador. Fazia cinco anos que não aparecia, tinha ingressado na marinha, na capitania dos Portos da majestosa enseada dos Nautas de fronte a igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia. E agora de férias, resolveu estar de volta, rever os parentes. Casteado não parava de fazer perguntas. Fascinado queria saber como era a história que soubera que ele viajava num bicho grande todo feito de ferro, que andava no fundo do mar chamado de submarino. Naquela cabecinha de pouca massa cinzenta aproveitável tal ideia era inconcebível. Não entendia como era que um troço pesado todo de aço não afundava. Como era que conseguia passar vários dias debaixo d’água? E pra respirar? Felix se divertia a custa do matuto, dizendo coisas ainda mais absurdas, que num hotel onde esteve em Mar Del Plata tudo era automático, apertava-se um botão e uma esteira rolante levava as malas até o quarto do hotel, na hora de servir-se a mesa. Do mesmo jeito, era só apertar um botão e as panelas sobre a mesa deslizando em trilhos despejavam as comidas no prato. E ria por dentro diante da cara de estupefação do pobre matuto.
Casteado também tinha uma história pra contar. Disse ele que na hora da agonia, na quinta noite da dor de dente um milagre aconteceu: “-Meu padrinho Cíço Romão Batista me apareceu! Perante a luz de Deus como era ele, Benício! Vestidinho na sua batina toda pretinha, pretinha todo ‘arrudiado’ de nuvens e uns anjinhos tudo voando. Tirou o chapéu da cabecinha, os cabelinho bem alvinho! E disse bem assim: “-Casteado quando você era menino pequeno, tinha só oito anos. Você teve uma doença, que ia lhe matar. Mas sua mãe chamou por mim, e disse que se você ficasse curado lhe levaria até Juazeiro do Cariri. Mas levaria você nuzinho, despido. E só era pra vestir uma roupa em você, quando chegasse nos degraus da igreja de Nossa Senhora das Dores.” No outro dia Benício, eu tomei uma decisão tirei minha roupa todinha, e fiz finca pé pra Juazeiro. Nu pelado do jeito que eu vim ao mundo. Quando cheguei no Pedrão, um soldado de ‘políça’ chegou junto. Todo enjoado me deu voz de prisão. Eu disse que estava indo pro Juazeiro pagar uma promessa a meu padrinho Ciço. Seu ‘poliça’ rodou-me a mão no pé do ouvido que o sangue do dente extraído espirrou fora. Passei uma semana preso, na delegacia de Olho D’água das Flores.”
O leitor viu que Lampião acampou na grota, cedinho, do dia 21. Mandou chamar o futuro coiteiro Durval, no dia 22 e com ele conversou. Você viu também que Virgolino atravessara o rio com 18 pessoas acomodadas em três canoas. Quando acampou foi com quarenta pessoas, supondo-se que outros subgrupos aguardavam nas imediações.
Naquele sábado, porém, dia 23 de julho de 1938, faltando apenas cinco dias para o seu fim, o chefe do bando aguarda a volta de Durval no esconderijo daquela grota na fazenda Angicos.
“Durval mata os bois e nada diz ao irmão Zezé e nem a ninguém. Após a matança, à tardinha, Durval volta ao coito, como Lampião pedira. Lampião pergunta por notícias dos macacos. Ele diz que não tinha ido falar de nada. Lampião indaga se conhece o tenente Bezerra. Responde que conhece muito.
─ Você conhece um homem chamado Pedro de Cândido?
─ É meu irmão.
─ Seu irmão?
─ É meu irmão.
─ Ah, tá certo!
Lampião diz que abateu uma cabra para comer. Mostra o couro e diz que tudo que utilizar na fazenda será pago. Encomenda a Durval boa manta de carne-de-sol, 01 cantil e 06 litros de conhaque marca ‘Cavalinho’.
Durval teve medo de olheiros e recusou o pedido das compras fora à carne. Lampião mandou que ele procurasse o coiteiro Erasmo Félix, irmão de outros coiteiros: Manoel e João Félix”.
O jogo ativo da espionagem é grande por parte de todos: cangaceiros, coiteiros e volantes. Os coiteiros não podiam vacilar em nenhum momento, pois poderiam ser trucidados por cangaceiros ou pelas volantes de olho no rio.
· Narrativa baseada no livro: CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012.
“Lampião mandou chamar Durval Rodrigues Rosa, irmão dos coiteiros Pedro Rodrigues Rosa (Pedro de Cândido) e Ozéas, na propriedade Forquilha, ali perto, na casa da mãe deles, viúva, do outro lado do morro das Perdidas, perto da foz do riacho Forquilha com o São Francisco.
Durval Rosa (Durval Rodrigues Rosa) e seu irmão Pedro de Cândido, filhos do falecido Cândido Rodrigues Rosa e Guilhermina, eram proprietários da fazenda Angicos, onde Lampião se acoitara e foi morto. Durval era muito novo ainda, com dezesseis anos e ajudava os irmãos: Pedro, na padaria e seu José (Zezé) nos negócios e na matança de boi que ele vendia na feira”.
O rapaz tangia uns bois do seu tio, para matar e vender na feira semanal de Pão de Açúcar. Foi cercado por um grupo de cangaceiros chefiado por Zé Sereno. Levado à presença de Lampião, ficou impressionado com o ouro que brilhava do chapéu e dos cordões do bandido. Lampião indagou:
─ Sabe com quem tá falando?
─ Não senhor.
─ Já ouviu falar em Lampião?
─ É o capitão Lampião?
O rapaz diz que é marchante, vai matar uns bois para vender…
Lampião indaga se sabe a regra do bom viver. Durval diz que não sabe e Lampião diz que: ouvir, vê, calar é a regra do bom viver porque em boca fechada não entra mosca. Indagou mais e disse:
Tá certo. Olhe aqui, se eu souber que você chamou uma volante para botar em cima de mim, você morre! Da sua raça não fica nem pinto que eu não deixo. Se você sair daqui e a volante lhe pegar, não sofra não, diga onde nós tá, porque cangaceiro é pra morrer no mato, nasceu para isso. Só não vá chamar. Se tiver tempo de me avisar, lhe agradeço muito! E amanhã volte de novo.
“Durval garantiu que assim o faria. Foi embora e entregou os bois em Entremontes, ao irmão Zezé”.
* Baseado no livro: CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió,Grafmarques, 2012.
No último sábado. Encontrei várias celebridades como a Ex Primeira Dama do Brasil Rasane Malta, entre outros. A Musique bombou, os tops Djs fizeram uma noite incrível, a galerinha entrou no clima e a Eletro White foi simplesmente perfeita!
O bando de Lampião chega à grota da fazenda Angicos, ao amanhecer. Armam acampamento assim: Em baixo, 03 subgrupos no leito seco do riacho Angico ou Ouro Fino. 01 subgrupo no alto do morro das Umburanas à direita do riacho.
A distribuição fica assim:
Subgrupo de Lampião: Lampião, Maria Bonita, Luiz Pedro, Vila Nova (afilhado de Luiz Pedro) Quinta-feira, Amoroso, Moeda, Cajarana, Caixa de Fósforos, Elétrico, Paturi, Diferente e Vinte Cinco.
Este grupo ficou perto de uma pequena furna. O mais abaixo do riacho. Lampião estava em barraca de lona branca; os cabras um pouco mais afastados.
Subgrupo de Balão. Vinte braças mais acima: Balão, Mergulhão, Criança e Dulce. Cajazeira e Enedina, Candeeiro, Mangueira II e depois José (sobrinho de Lampião que veio ingressar no cangaço e só chegou no dia 25) e que depois foi para o grupo de cima).
Subgrupo de José Sereno. Vinte braças mais acima: José Sereno e Cila, Marinheiro, Gavião, Cobra Verde, Sabiá, Nevoeiro, Pernambuco, Novo Tempo, Juriti e Peitica.
Subgrupo de Relâmpago. No alto do morro das Imburanas: Relâmpago, Cruzeiro, Zé de Vera, Marinheiro, Chá Preto II (vigia dos cavalos) Tempo Duro, Canário II (depois José que subiu).
Temos aí um total de 41 cangaceiros. Lampião comenta que quer sair no dia 27, fim da semana da morte do padre Cícero Romão Batista. Manda chamar Zé Sereno, por Eráclito, coiteiro fiel de uma das fazendas de Antônio Caixeiro.
Observação: Paturi depois vai testemunhar tudo que viu com o ataque das volantes. Dizem que não existiu cangaceiro com esse nome, entretanto, para se dá o depoimento que ele deu, teria mesmo que usar um nome diferente.
Quanto a Chá Preto, Mangueira e Juriti, houve mais de um no bando que iam herdando o nome dos que morreram.
Continua amanhã.
* Narrativa baseada no livro: CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012.
O dia 18 de abril e o dia 19, deste ano, marcam os dois últimos combates de Lampião em sua vida de atropelos. O combate mais forte aconteceu no povoado Girau do Ponciano, agreste de Alagoas, no dia 18 de abril de 1938. O chefe cangaceiro encontrava-se com 17 cabras no povoado fazendo tropelias, quando foi surpreendido pelo sargento e delegado de Batalha, Waldemar, com dois soldados e alguns civis. O lugarejo estava sendo saqueado pelo bando, numa marcha de dez dias que Lampião havia empreendido desde o rio São Francisco rumo a Pernambuco, atravessando o estado de Alagoas.
“O tiroteio começou feroz e desordenado. Os bandidos talvez pensassem que estavam sendo atacados por grande número de atacantes. Waldemar rastejava em direção de uma casa onde supunha está o grosso do bando. O sargento foi ferido no terço médio do braço direito. A bala transfixou o braço alojando-se na região umbilical, mas sem atingir órgão vital”. O sargento passou a atirar com o outro braço cada vez mais animando os seus soldados. Um deles caiu ferido e o sargento recuou ao ponto de partida. “Restavam dois homens atirando. Um já ferido outro prostrado ao chão, esvaindo-se em sangue. O sargento brigava como um leão. Os bandidos foram amortecendo o fogo e fugiram”.
No dia seguinte, 19 de abril de 1938, continuando suas andanças sinistras, Virgolino invadiu e saqueou o povoado vizinho, Craíbas. Aí houve um combate menor, sendo o último de fato da vida de Lampião. A luta foi entre Lampião e seus 17 cangaceiros contra a volante alagoana do sargento Porfírio que marchava em busca do bandido, desde a serra da Brecha em Cacimbinhas. O único ferido nesse combate foi uma idosa, de bala perdida.
Lampião conseguiu escapar do cerco na sua marcha dos dez dias atravessando Alagoas e penetrando em Pernambuco pela fazenda Santo Antônio, município de Bom Conselho, em 27 de abril de 1938.
Portanto seus dois últimos combates estão dentro dos 77 anos e quase três meses.
·
A ÚLTIMA VIAGEM DE LAMPIÃO
20.07.1938. (Quarta-feira). Era a semana de aniversário de morte do padre Cícero. Lampião queria se recolher e rezar. Estava na fazenda São Francisco no município de Pão de Açúcar (AL) e havia estado em Pernambuco pela última vez. Sentia pressentimentos do fim. Daí parte para Angicos durante à tarde, fazendo a sua última viagem. Descendo, passa a uma légua e meia das fazendas ou por dentro delas, rumo ao rio São Francisco: São Francisco, Conceição, Bom Jardim, Bela Vista e Bardão. Para na fazenda de testa com o rio, chamada Bonito (uma légua abaixo do povoado Entremontes) município de Piranhas.
Em Bonito, houve muita comida, pirão com ovos moles, cozidos, peixe, tapioca e café.
Lampião e o bando atravessam o rio São Francisco à noite. Lua minguante, escuro, frio e vento. São 18 pessoas em três canoas arranjadas por Domingos Ventura (o Domingos de Patos). Os canoeiros são Né Correia, Erasmo Félix e Joca do Capim. O cachorro “Guarani”, de Lampião vai com eles. Lampião tem pressentimentos e Maria Bonita está nervosa. Passa uma zelação e eles lembram um vidente da serra Umã sobre o fim.
Em Sergipe desembarcam na fazenda Capoeira Nova, sob pé d’água passageiro com relâmpagos. Abrigam-se. A mãe da lua surge com mau augúrio Guarani tremelica de medo com uivos de outros cachorros por perto que nem tiros conseguem espantar.
Passam a chuva e seguem para o coito de Angicos, disfarçando. Angicos era propriedade de Cândido Rodrigues (pai de Pedro de Cândido, Ozéas, Zezé e Durval). Nessa época Cândido Rodrigues já era falecido. Município de Poço Redondo. A fazenda é perto do rio, mas Lampião segue rodeando para não ser visto da outra margem, pretendendo entrar no coito por trás. Para isso passa pelas fazendas Macaba, Bebedouro, São João, Jacaré, Cajueiro, Lajeiro, Paraíso e Logradouro (esta do coiteiro Júlio Félix, vizinha ao coito) Aí é agasalhado e alimentado. Amanhece na grota da fazenda Angicos.
Essa foi a sua última viagem.
* Baseado no livro: CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012.
Uma das maiores notícias das Américas, quase passa despercebida no Brasil, pelas manobras de jornais tendenciosos. Vejamos abaixo alguns trechos de divulgação da cúpula Mercosul.
“Os chanceleres do Mercosul estão reunidos nesta quinta-feira em Brasília, em uma reunião prévia à cúpula de amanhã, que deve marcar a entrada da Bolívia como sócio pleno do bloco.
Com a perspectiva de uma troca de ofertas com a União Europeia (UE) até o final do ano, o encontro foi precedido pelos pedidos, do Brasil e do Uruguai, de maior abertura da união aduaneira, que têm poucos acordos comerciais com o resto do mundo.
Pouco depois do primeiro encontro, pela manhã, o secretário de Relações Econômicas Internacionais da Argentina, Carlos Bianco, disse à imprensa que nada disso foi pedido formalmente.
‘Na mesa de negociações, ninguém, em nenhum momento, pediu para se flexibilizar o Mercosul’, afirmou o diplomata, que representa a Argentina diante da ausência do chanceler Héctor Timerman.
O ministro argentino das Relações Exteriores está em Buenos Aires, onde se recupera de uma cirurgia (…)
(…) Além da anfitriã, Dilma Rousseff, são esperados Cristina Kirchner, da Argentina, Horacio Cartes, do Paraguai, Tabaré Vázquez, do Uruguai, e Nicolás Maduro, da Venezuela, para a cúpula de sexta-feira.
Também está prevista a participação do presidente da Bolívia, Evo Morales, para selar formalmente a entrada de seu país como membro pleno do bloco, que representa mais de 70% da população e do PIB da região, segundo dados do Itamaraty.
Evo, apesar das diversas polêmicas em que tem se envolvido, é elogiado até pelo FMI em razão da condução que dá à economia boliviana.
A principal conquista dessa presidência ‘pro tempore’ brasileira é a adesão definitiva como membro pleno da Bolívia, algo muito positivo, porque vai permitir aumentar a diversidade das opiniões e trazer um novo sócio que pode contribuir muito com sua experiência em matéria de crescimento e inclusão social”, disse Bianco.
Sobre Clerisvaldo Chagas
Romancista, historiador, poeta, cronista. Escritor Símbolo do Sertão Alagoano.
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26 jul
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