A SIRIGAITA

Essa é história de pessoas pacatas. De gente ordeira e simples. Dum lugar tão conhecido da gente que achamos até, que é aquele em que um dia vivemos. Aquele singelo lugar que nos viu criança. Mas o mundo deu muita volta. E nas voltas que o mundo deu, muita coisa aconteceu. Coisas que jamais se imaginaria que pudesse acontecer. E quando vem de quem menos esperamos? Pra esse tipo de coisa, Seu Doroteu que não era homem de muita conversa, tinha sempre uma frase pai d’égua: “É assim mesmo. De onde menos se espera é que sai.”

Ô bicho danado mode gostar de magoar coração é o rádio. Lá de dentro dele vinha à voz mansa de Nestor e Nestorzinho, cantando a mais nova moda sertaneja.

“O joão-de-barro

pra ser feliz como eu

Certo dia resolveu

Arranjar uma companheira

No vai e vem com o barro da biquinha

Ele fez uma casinha

Lá no galho da paineira”

Melhor mesmo é começar do começo. Se é que se possa chamar de começo, uma tarde de janeiro daqueles bem antigos, que as pessoas vestiam roupas feitas de siroco e organdi e cambraia. E o mundo, e tudo o que os homens já haviam inventado, apesar da cara um tanto ingênua, já andava até bem taludinho pra andar fazendo besteira. O lugar a que nos referimos, ficava bem na garganta semiárida do sertão. Donde soavam trovões cujos estrondos acabavam produzindo um zumbido, quem sabe um sinal de comunicação, que os ouvidos humanos, e as mentes talvez ainda não conseguissem decifrar nem entender o significado. Por puro instinto de sobrevivência os saguis buscariam os ocos dos paus. Os peixes Cará ressuscitavam do lombo dos açudes vindo nervosos futucar as costelas das enchentes. Ameaçavam sair d’água tanta era a tormenta. As tartarugas às profundezas das mornas águas do oceano se sentiam protegidas, nada ouviam. Um polvo gigante emergia toda noite de lua cheia. Sendo que em dias como aquele, jamais apareceria. Diferente dos crustáceos que de tão excitados se vomitavam dos seus refúgios, nos invólucros samurais dando início a um ritual dantesco de acasalamento. Tão distante daquela outra realidade. Tudo isso era tão somente pra dizer que os tempos de trovoadas no sertão e no beiço da praia eram bem distintos.

“Toda manhã o pedreiro da floresta

Cantava fazendo festa

Pra’quela que tanto amava

Mas quando ele ia buscar o raminho

Para construir seu ninho

O seu amor lhe enganava”

Dona Maria e Seu João moravam no cimo da Serra do Gavião. A ave tão presente ali emprestara seu nome àquela elevação rochosa. Toda segunda-feira era dia de ir pra feira livre na grande vila. De manhã bem cedinho, nem tinha ainda clareado nem esquentado o sol. E botava o pé na estrada. Levavam farinha de massa puba e beiju pra vender. Num fogareiro rude feito de barro, num pedaço de zinco polido faziam tapiocas. Quentinha na hora, bem ao agrado da freguesia. A barraca coberta com empanada de saco de açúcar limpinho de fazer gosto, tudo branquinho e cheiroso. Ficava bem próximo a igreja matriz de Santo Antônio. As mulas ficavam amarradas em terreno baldio próximo a barbearia de Seu Doroteu. Na casa de dona Amália iam pra tomar um café de caco, adoçado com tacos de rapadura. Teve um dia que dona Maria acabou perdendo uma colar de ouro. Foi assim, ela deixava seu João vendendo tapioca na barraca e ia procurar um sapateiro por nome Jaime e os dois se encontravam, pra manterem um caso amoroso, acoitado por Zefinha que pegava os meninos pequenos nos braços e saía de casa, se danava pra feira. Ganhava um tostão pra iscruvitiar e deixar a casa livre pros amantes. Ficava um tempão na cozinha de dona Amália, baforando num cachimbo, que era pra dar tempo do casal de adúlteros se entregarem ao sexo pecaminoso. Acontecesse que quando dona Maria da Tapioca foi passar debaixo do arame o colar, um cordão de ouro que ela trazia pendurado no pescoço enganchou no arame, se partiu e caiu ali mesmo. Sem que ela percebesse, pois se entreteu se benzendo, botando cuidado pra que ninguém testemunhasse seu ato. Uma menina por nome Dália, todos os dias passava aquele arame bem naquele mesmo lugar. Depois de buscar o leite tirado da vaquinha Mimosa, foi quem acabou achando a joia. Com a pindureza no pescoço chegou em casa, dona Amália deu logo fé e quis saber donde procedia o tal objeto. Prontamente a menina disse direitinho, onde e como havia achado. Zefinha fez de conta que nem ouviu. Como diria Seu Doroteu: “Fez boca de siri. Bico calado, boca piu!” Somente quando chegou em casa dona Maria deu por falta do colar.

‘Mas nesse mundo o mal feito é descoberto

João-de-barro viu de perto

Sua esperança perdida

Cego de dor trancou a porta da morada

Deixando lá sua amada

Presa pro resto da vida”

O farmacêutico Moreninho estava sentado na calçada da delegacia conversando com Seu Pita, Jerson, Batista e o delegado Matias. Nisso ia passando um menino com um alçapão cheio de passarinho, pra vender na feira. Seu Pita quis saber que espécies havia na ínfima gaiola. “-Dois Papa-Capim, três galo de campina, um joão-de-barro. O boticário cheio de dó das aves disse que pagava um tostão pro menino soltar tudinho ali mesmo. Não conseguiu obter êxito nesse comércio. Foi-se o menino. Enquanto o charlatão ponderou: “-João-de barro é passarinho sabido. Faz sua morada mas não trabalha dia de domingo e dia santo. As penas vermelhas na cauda é porque pousou na cruz de Jesus Cristo. Passarinho construtor de fornos é isso o que significa seu nome. Ave trabalhadora e inteligente. Seu canto se assemelha uma leve e espontânea gargalhada. Lá no sul seu canto é tido como sinal de bom tempo que se aproxima Dependendo da região é conhecido também como barreiro, joão-barreiro, maria-barreira, amassa-barro, joaninha-de-barro, sabiazinho, forneiro, pedreiro, oleiro, na Argentina “horneiro”. Mas sua maior marca mesmo e fazer seu ninho com a entrada contrária à vinda da chuva. Se ameaçado por uma cobra lutará para salvar seu ninho.”

“Que semelhança marcando meu calendário

Só que eu fiz o contrário

Do que o joão-de-barro fez

Nosso Senhor me deu calma nessa hora

A ingrata eu pus pra fora

Onde anda eu não sei”

Segunda-feira de manhã, os mascates se organizavam ainda, ocupando aos poucos os espaços das vias públicas pra iniciar a feira, após a missa, antes da benção final, o padre Bulhões avisou da perda do cordão de ouro de dona Maria. E quem encontrasse e devolvesse seria bem gratificado. O colar devia ser levado até a pensão de Seu Pizeca que daria a gratificação de um conto de réis. A peça de estimação era ouro dezoito quilates. Dália estava na igreja com sua mãe e saiu dali direitinho pra pensão de Seu Pizeca. “Coisa ruim nunca vem solteira, sempre vem acompanhada.” Assim disse Seu Doroteu quando soube que o filho de dona Maria Tapioqueira levou uma queda dum cavalo e quebrou uma perna, por um bom tempo ia andar de muletas. E não fazia um mês que Seu João tinha sido roubado numa pareia de boi de arado. Houve quem dissesse que eles tinham mesmo era mau-olhando, olho gordo. Era muita inveja que o povo botava em quem prosperava a olhos vistos. Seu Doroteu era um homem temente a Deus, devoto de padre Ciço do Juazeiro e só se confessava com frei Damião. Um filho pequeno, ou neto deitado no chão, proibia severamente que alguém passasse por cima, pois considerava xingamento. Armar guarda-chuva dentro de casa, nem pensar atrasava o crescimento das crianças. Calçado emborcado era escarnecimento pros pais. Xingar o redemoinho era pedir castigo pra lavoura. E dizia “Cumpade mais cumade vira fogo corredor!” “Enquanto o bem retarda, o mal chega a galope!” De Seu Doroteu era também esse predito: “Tudo de ruim que está pra acontecer já está escrito. No livro do cão escrito.” Nas profundas dos infernos. É lá que as coisas ruins são planejadas, na assembleia dos demônios. O tinhoso tinha mesmo, só o trabalho de encontrar, as mãos certas, pra cumprir o que precisava ser feito.”

“Samba crioula que vem da Bahia

Pega a criança e joga na Bacia

A bacia é de ouro ariada com Sabão

Dália com as outras meninas brincava. Dona Maria sempre que a via, lhe sorria, lhe acenava e lhe agradava com doces. Seu Moreninho continuava: “O João-de Barro é uma ave graciosa. Mede entre 18 e 20 centímetros de comprimento. Não passando de 49 gramas de peso. Trás o dorso marrom avermelhado. Sobre os olhos se desenha uma suave sobrancelha, formada por penas mas claras, em leve contraste com o restante da plumagem da cabeça. As penas das asas são anegradas, ainda mais destacada durante o voo. O ventre de coloração clara, sendo o papo e o pescoço branco. A cauda destaca-se pela tonalidade avermelhada ventral e dorsalmente. Não gosta de se afastar muito do local onde mora. Ave dócil se deixando ser observada e mesmo a aproximação de uma pessoa que pode chegar a poucos metros de distância sem que o joão-de-barro voe. Quando não está empoleirada próximo a sua casa, é comum vê-la descer ao solo. Ali passa boa parte de seu tempo caminhando, alternando pequenas corridas com passadas mais devagar.”

“E depois de ariada vai lavar o seu Roupão

Seu roupão é de seda sedinha de Filó

Cada um pegue seu par e vá dar a benção a sua vó

A Benção Vovó A Benção vovó.”

Jaime e dona Maria Tapioqueira já a algum tempo, passaram a se encontrar no próprio leito conjugal da amante. A casa de Zefinha tornara-se imprópria para os encontros amorosos. Lá na croa da serra do Gavião livre dos olhares maldosos se amavam. Pra chegar até lá tinha que se vencer uma subida íngreme. Enfrentar uma mata de caatinga densa e sombria. Uma vez dentro da mata o tempo fechava, parecia quando ia chover. Mesmo que lá no aceiro o sol alumiasse o mundo todo com sua potente claridão. No oco da mata era quase breu. De fazer medo aquele silêncio de assovios inquisidores, e olhos selvagens ameaçadores porem nunca acusadores, mas que só quem via é que sentia. Um dia de segunda-feira Seu João se ajeitou pra descer pra rua. Arriou as mulas pôs a farinha nos caçuá. Dona Maria ainda estava no quarto se arrumando. Ele saiu e trancou a porta de chave. Ficou um tempão sentado do lado de fora. Dona Maria começou a chamar por ele pra vir abrir a porta pra que pudessem ir. E ele lá calado, não batia nem as pestanas. A serra Já estava impaciente com aquela mulher implorando pro homem abrir a porta. E nada. A mata, somente a mata escutava seus pedidos, sua súplica. E caiu a noite. Duma fogueira que havia acendido Seu João tirou um tição. Com a força que somente o ódio pode dar atirou sobre o telhado do casebre. A medida que se afastava mais longe os gritos iam ficando. Cada vez mais longe, até cessarem, debaixo das cinzas, dos escombros, e do orvalho da madrugada, na serra do gavião.

Fabio Campos 29 de julho de 2015.

O MITO NO CHÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de agosto de 2015

Crônica Nº 1.467

Foto: (Divulgação)

Foto: (Divulgação)

Quando se critica o Brasil, parece que este país é o único do mundo onde ainda existe pobreza.

Tomando os Estados Unidos como parâmetro, nação rica norte-americana, vemos que nem tudo é como se conta por aqui. Mesmo sendo uma superpotência do mundo, costuma mostrar suas mazelas no que tange aos seus problemas socioeconômicos.

Várias medidas tomadas como aumento de juros e cortes de verbas para habitação, saúde, educação, fizeram empobrecer alguns segmentos sociais nas últimas décadas. Houve concentração de riqueza, mas também, aumento do número de pobres que corresponde a 16% do total da população (55 milhões de habitantes).

No caso, a falta de moradia, fez com que muitos jovens fossem morar nas ruas ou nos lugares piores da cidade, em bairros violentos, com alta criminalidade e tráfico de drogas. Esses problemas cruciais atingem, em cheio, a população negra e os imigrantes, discriminados pela sociedade norte-americana.

No caso da discriminação racial, a lei proíbe, mas na prática esse olhar social ainda persiste nas ruas. Os negros são extremamente marginalizados e muitos dos crimes no país são de cunho claramente racistas.

Os imigrantes também não são olhados com bons olhos. Eles se inserem na população mais pobre. O governo procura restringir a imigração, usando até mesmo muro de fronteira como o usado pelos alemães, o muro da vergonha, para barrar mexicanos e de outras nacionalidades.

São vistos lixões a céu aberto, como no Brasil e, poluição nas águas como aqui.

A poluição industrial e o consumo sem critérios afetam terrivelmente o meio ambiente local e o planeta.

É muito fácil falar mal do seu país e elogiar as terras alheias e distantes. Mas quando bate a luneta da verdade é que se vê sem cor e sem filó o mito no chão.

O PRESIDENTE E O NEGO

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de agosto de 2015

Crônica Nº 1.466

ESTÁTUA DO NEGO d'ÁGUA (Foto: folcloredobrasil.2001)

ESTÁTUA DO NEGO d’ÁGUA (Foto: folcloredobrasil.2001)

Interessante são as histórias, mitos e lendas que atravessam os tempos ao longo do Rio São Francisco. Rio da Unidade Nacional que proporcionou o povoamento do interior nordestino e parte de Minas Gerais. À sombra das robustas e seculares crabeiras das suas margens, sentam-se os indivíduos contadores de casos estirados. E babando de contentamento, vai o ouvinte se enrolando ─ como cigarro de palha ─ entre uma dose da boa cachaça mineira e o caldo de peixe da trempe de granito. Enquanto fumega o amassado alumínio, o caboclo explica bem direitinho suas verdades inteiras e meias, encobertas pelo roído chapéu de palha artesanal. Entre as lendas mais famosas está em destaque o “Nego d’Água”.

O “Nego d’Água” é descrito como um negro alto, forte, careca, corpo coberto de escamas mistas com a pele, mãos e pés de pato. Costuma aparecer aos pescadores e outras pessoas junto aos rios. Sua função seria amedrontar as pessoas que por ali passam, partindo anzóis de pesca, furando redes, dando sustos em pessoas nos barcos e mais. Muitos pescadores dizem tê-lo visto.

Manifesta-se com suas gargalhadas e vira as canoas dos pescadores que não lhe dão um peixe.

Há pescadores que jogam garrafa de cachaça no rio, durante as pescarias, para não ter a canoa virada pelo “Nego d’Água”.

A lenda do “Nego d’Água” espalha-se por vários grandes rios brasileiros e ganhou escultura com mais de 12 metros de altura nas águas do São Francisco, em Juazeiro da Bahia.

Mudando de pau para madeira, temos o tiro que saiu pela culatra. Foi o que aconteceu com as investidas do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara, nas suas insanas cabeçadas contra Dilma. Querendo voar mais alto do que as aves do céu enganchou-se na própria turbulência, perdeu o tálamo, roda como galo de macumba e agora bate de frente com o “Nego d’Água”.

O problema todo agora, Zé, é que o presidente da Câmara não tem peixe na canoa e nem cachaça para jogar no rio.

SEM SOFRER AGORA

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de agosto de 2015

Crônica Nº 1. 465

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Com duas etapas de esperanças o Canal do Sertão prossegue a sua marcha pelas caatingas das Alagoas. A primeira foi à luta braba dos sonhos, das reivindicações, dos projetos, da crença e utopia como o asfalto Carié ─ Inajá. Este, a quase quarenta anos de briga, inicia seus trabalhos nos jornais de quatro em quatro anos. Já conseguiu eleger muitos políticos em várias décadas, que escancham as pernas de vaqueiro no lombo do projeto. Estão acumuladas em montanhas, as mentiras sobre as obras, prejudicando o meio ambiente e estourando as fábricas de sacos do Papai Noel. Sobre a Carié ─ Inajá, não e mais Freud quem explica. São as almas dos finados Lulu Félix, Mário Nambu ou Querubino e seus seguidores políticos do estado.

Sobre o Canal do Sertão, número alto de pessoas envolvidas partiu para a eternidade sem vê água e nem canal, somente o sertão. Uma vez iniciadas as obras, os apertos da fiscalização e os medos com a responsabilidade, fizeram a marcha dos trabalhos, praticamente sem interrupções.

O que já foi realizado até agora, já pode ser chamada a maior obra hídrica de Alagoas. Ainda dentro do sertão ─ área mais necessitada ─ as obras prosseguem fazendo com que se acredite que em breve estarão penetrando às terras agrestinas, mais chuvosas e férteis. Quem conhece as obras e a prosperidade que reina em Petrolina, no vizinho estado de Pernambuco, pode afirmar que ali só se fala em três coisas: dólar, toneladas e carros importados. A ilha sanfranciscana de progresso que ali se formou com a irrigação, faz inveja até mesmo ao exterior.

Como ainda não surgiu nenhum escândalo daqueles, estima-se que os trabalhos foram e estão sendo conduzidos com critério. Nota-se uma preocupação muito grande com o destino do Canal. As regras do uso da água, da energia e das terras estão sempre em evidência, segundo notícias publicadas. É que existe um receio popular de que, no final, todas as terras paralelas à água sejam adquiridas por grandes empresas que transformariam os pequenos proprietários de hoje, em empregados dos grandes ou em mendigos. Mesmo assim, não podemos sofrer por antecipação.

Diet, Light e Zero, qual a diferença?

O produto Diet é elaborado com modificações especiais para se adequar a diferentes dietas ou pessoas com suas necessidades específicas. Possui inserção de açúcar, proteína ou gorduras. É indicado para indivíduos diabéticos, Porém, atenção, alguns alimentos Diet, podem ter mais calorias do que os alimentos que possuem açúcar.

Um produto é considerado Light quando apresenta redução de, pelo menos, 25% das calorias em comparação com o original. Essas redução pode ser em gorduras, açúcares ou sódio. É indicado para quem deseja reduzir o teor de algum desses componentes. Mas cuidado, nem todo alimento Light é indicado para perda de peso, pois a redução calórica em alguns alimentos é insignificativa.

Já o produto Zero indica restrição ou inserção de algum nutriente em comparação com a versão tradicional (exemplo: “Zero Açúcar”, “Zero Carboidratos”). Se a inserção for de açúcar, o produto mesmo assim precisa apresentar valor calórico reduzido. A indicação é similar aos alimentos Light, de modo geral.
O importante é se manter atento às Tabelas Nutricionais, localizadas nos rótulos dos produtos. Nessas tabelas são encontradas informações sobre a composição do produto. É um direito do consumidor e um dever das empresas. Aliado a isso é importante ressaltar também, sobre a data de validade dos produtos.

BABADO E BICO NO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de julho de 2015

Crônica N º 1.464

Foto: (glossariofechion)

Foto: (glossariofechion)

A frieza vai esticando as molas após a meia-noite com a chuva fininha nas biqueiras. A ansiedade em concluir a história do povoado Barra do Ipanema angustia e deságua para os cafezinhos, bem como nosso Panema desemboca no Opará. Como definir uma encantadora história do paraíso perdido se mal comecei a escrevê-la? Os danados dos espanta-boiadas não aguardam mais o amanhecer. Dia e noite no espaço sertanejo, querem virar também notívagos para o prolongamento de alegria no verde diurno da caatinga. As bênçãos do inverno brotam no ar, na terra e nas águas que furam o mundo lavando a vida da gente. Mas escritor não se dá com muriçocas municipais que teimam em atacar e comer escrevente, computador e tudo. Ô meu Deus! Por onde anda o peste do carro fumacê!? Lá vem outro pensamento doido: a moça desbocada filha de empresário dos anos sessenta. Quer parodiar a marchinha carnavalesca da cachaça: “Você pensa que cachaça é água…” Nem sei se ela ainda é viva, a desbocada moderna de Santana:

“Você pensa que babado é bico,

Babado não é bico, não,

Babado se bota em vestido,

E bico em combinação…”

Ainda existe? Mulher ainda usa combinação?

Droga!

Sumiram com a chuva, com os espanta-boiadas, mas com os sons do teclado não sumiram. Antes que amanheça o dia tenho que fazer um capitulo da história da Barra do Ipanema, elaborar uma página literária de compromisso com o “alagoasnanet”, o “santanaoxente” o “mendesemendes”, o face, o blog pessoal e, quase que já observo o cocuruto do sol chamando para dormir. Fogem os temas, correm os assuntos, desembesta o silêncio e se apresenta a moça da língua porca:

“Você pensa que babado é bico

Babado não é bico, não…

A SANTA, O URUBU E O ESPAÇO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de julho de 2015

Crônica Nº 1.463

OBRAS NO LARGO PONTE DO URUBU. (Foto: Clerisvaldo/arquivo)

OBRAS NO LARGO PONTE DO URUBU. (Foto: Clerisvaldo/arquivo)

Há muitos anos, em várias gestões municipais, a parte profana da festa da padroeira sempre irritou condutores de veículos e pedestres. Os famosos parques de diversões que tanto alegram crianças e até mesmo adultos, ocupavam toda a dimensão do comércio, tornando o centro de Santana do Ipanema, um verdadeiro inferno. Há décadas que a cidade não move uma palha em busca de novas alternativas para circulação de pessoas e máquinas. Nem uma rua nova no centro, nenhum beco, nenhuma alameda, nenhuma ponte, nenhum viaduto… Nada, absolutamente, nada que possa aliviar um pouco as agruras que o trânsito proporciona.

Este mês de julho, porém, o milagre aguardado por mais de vinte anos, finalmente surgiu. Não um milagrão completo, perfeito, simétrico, arestas polidas de bom acabamento. Um milagre ainda torto, capenga de perna de pau, mas ainda assim um bom milagre. É que a gestão municipal resolveu realizar os festejos profanos de Senhora Santana, sem os transtornos eternos dos anos anteriores. Todos os parques e muitas outras atividades deixaram de obstruir as avenidas e ruas centrais, quando ocuparam pela primeira vez um largo por trás do comércio, cortado pelo riacho Camoxinga, afluente do rio Ipanema. Pelo início de obras e depois pelo abandono total com uma ponte sem cabeças, foi o largo apelidado pelo povo de “Ponte do Urubu”. O trecho cortado pelo riacho há muito virou esgoto a céu aberto, com largura considerável. Mesmo assim foi a melhor solução que já houve até o momento.

Existe unanimidade na beleza de como ficou o lugar da festa, inclusive cabendo naquele espaço, jurado e apanhado, tudo que pode abrilhantar essa ala popular da santa avó do Cristo. Mesmo sem cobertura móvel e de concreto sobre o canal do afluente; sem jardim, sem banco, sem praça e sem asfalto, correligionários e adversários do professor Mário Silva falam que finalmente o prefeito marcou um tento.

Esperamos que os elogios da populaça faça com que o gestor execute todas as obras que têm que ser feitas no futuro Parque Asa Branca, pois a santa e o espaço realçam a boa festa, mas urubu não combina muito com o Largo, a não ser com o tiroteio que houve pela vizinhança do Bairro Artur Morais, o mais perigoso de Santana.

É DE SE CHORAR

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de julho de 2015

Crônica Nº 1.462

EDIFÍCIO PALMARES. Foto: (Janylle Bezerra).

EDIFÍCIO PALMARES. Foto: (Janylle Bezerra).

Falamos já sobre os antigos prédios de Maceió e do Recife, notadamente, dos que estão localizados no comércio. Mas, sobre os prédios antigos mesmo, inclusive a situação de abandono e risco. Poucos dias depois, houve o incêndio em loja comercial famosa do centro de Maceió e logo após, a depredação do miolo do Edifício Palmares.

Parece mentira o absurdo de uma repartição nacional deixar que um prédio ainda da década de 60, situado em uma das áreas mais nobre e valorizadas da capital chegar ao ponto em que chegou o Edifício Palmares. Edifício muito bonito, por sinal, vizinho à Praça Palmares, centro comercial, cultural e histórico de Maceió, perto de tudo.

Transformada, praticamente, em comércio livre, a praça encheu-se de barracas onde se oferece inúmeros serviços, numa espécie de mercado persa. Por ali, rodeando e cortando a praça, existe um intenso movimento de ônibus, táxis e automóveis particulares que facilita e ao mesmo tempo azucrina os passantes. Ainda vizinho funcionou o antigo e famigerado hotel Bela Vista (hoje demolido) que hospedou as cabeças de Lampião e Maria Bonita na última noite em Maceió, antes do traslado para Salvador. Nas imediações funcionou também o edifício do PRODUBAN e outras repartições estaduais e federais que sempre foram referências na capital.

Por isso ou por aquilo, após o abandono do prédio belo e caríssimo e a depredação, o INSS que se livrar do “cavalo branco”, mas não encontrou ninguém interessado em adquiri-lo. “Será o Benedito!”

“Nenhum interessado em participar do leilão do Edifício Palmares compareceu, na manhã desta terça-feira (28), à sede do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), no centro de Maceió, para arrematar o prédio. Com isso, o futuro do imóvel, que já abrigou diversos órgãos públicos, continua incerto”.

(…) “Ainda assim, por ficar numa área de 8.615m², em pleno centro de Maceió, foi avaliado em R$ 8,98 milhões”.

É DE SE CHORAR…

A MORTE DE LAMPIÃO (IX)

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de julho de 2015

Crônica Nº 1.461

Livro "Lampião em Alagoas" (Foto: Reprodução)

Livro “Lampião em Alagoas” (Foto: Reprodução)

Vamos resumir em uma crônica, cerca de 20 páginas ricas em detalhes.

28.07.1938. (Quinta-feira).

Segundo o autor da tese do envenenamento.

Madrugada ainda quando Maria Bonita faz o café, Lampião e mais cerca de três cangaceiros, tombam ao prová-lo. Lampião caindo sentado na rede, já sem vida, começa certo alvoroço no acampamento. As três volantes estão em suas respectivas posições, quando o intenso tiroteio, inclusive com metralhadoras, acontece para dentro da grota. Os cangaceiros, desesperados não sabem o que fazer. Escuro, frio, neblina e fumaça. Alguns atiram e fogem, outros resistem e morrem quando a grota dos Angicos vira um inferno repentino.

No entrevero, que vai amainando, estão mortos alguns cangaceiros e outros feridos e ainda vivos, vão sendo torturados até a morte. Entre os que ainda estão com vida, Maria Bonita é degolada viva. Após o saque ao acampamento, o comandante ordena que cortem as cabeças dos cangaceiros mortos. Houve uma cena dantesca narrada pelo cangaceiro “Paturi” que se escondeu na pequena furna e tudo presenciou.

Entre os mortos do bando estão os cangaceiros: Lampião e Maria Bonita, Quinta-feira, Mergulhão, Enedina, Luiz Pedro, Elétrico, Moeda, Alecrim, Colchete II e Marcela.

Da parte da polícia foi morto o soldado Adrião Pedro de Souza e ferido o comandante das três volantes, tenente João Bezerra.

Os outros cangaceiros conseguiram escapar, diante da confusão, neblina e fumaça.

As cabeças dos cangaceiros mortos foram salgadas e colocadas em sacos, pendurados em caibros e transportadas pelos soldados até o rio São Francisco. Os corpos dos bandidos eliminados ficaram amontoados sob pedras.

Os sacos com as cabeças subiram o rio em canoa até à cidade alagoana de Piranhas de onde partiram as volantes para o ataque. Ali houve muita festa das tropas e do povo, desfiles de soldados pelas ruas e exposição macabra das cabeças na porta da prefeitura.

As cabeças dos onze cangaceiros mortos foram exibidas ainda em várias cidades como Santana do Ipanema, Palmeira dos Índios, Maceió e em alguns povoados.

Com a morte do chefe, os cangaceiros que escaparam da hecatombe tomam três destinos diferentes: uns se entregam à polícia, outros procuram fugir para destinos como São Paulo e, outros ainda, bem poucos, continuam perambulando sem rumo certo pelas caatingas.

Oficialmente é considerado extinto o fenômeno Cangaço no Nordeste, consolidando-se com a morte de Corisco, dois anos depois.

· Narrativa baseada no livro: CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcelo. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012.

FIM DA SÉRIE DE NOVE CRÔNICAS.

LAMPIÃO, O CERCO FATAL (VIII)

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de julho de 2015

Crônica Nº 1.460

Livro "Lampião em Alagoas" (Foto: Reprodução)

Livro “Lampião em Alagoas” (Foto: Reprodução)

Tentaremos resumir 27 páginas em uma crônica.

27.07.1938. (Quarta-feira).

São cinco frentes nos acontecimentos.

Joca do Capim, com raiva da esposa por um motivo e de Pedro de Cândido, por outro, quer entregar o bando às volantes. Em Piranhas, dia de feira, João Bezerra tem partido e, Joca fica aguardando a chegada de Aniceto.

No coito, Lampião pede a Durval para vir no dia seguinte, levar a máquina de volta e receber o dinheiro das carnes consumidas. Somente bodes para levar foram 36.

Em Piranhas, Pedro combina com Bezerra ou na noite anterior ou naquela manhã sobre o envenenamento. Envia um telegrama para ele mesmo como se tivesse sido chamado para o Moxotó. Os coiteiros vão contar a Lampião.

À tarde, chega Aniceto em Piranhas e logo Joca conta tudo e manda apertar Pedro de Cândido. Aniceto passa telegrama para Bezerra dizendo que o boi está no pasto.

Combinam-se para se encontrar em Pedra. Ali se encontram Aniceto, Bezerra e o aspirante Francisco Ferreira que tem volante pronta e é espião do governo contra o tenente João Bezerra. O aspirante discute com Bezerra que não quer levá-lo. Chega Domingos dos Patos trazendo recado de Pedro de Çândido.

Depois do meio-dia Pedro foi levar a carga envenenada a Lampião, com a ajuda de Durval.

Perto de Pedra, após a discussão, as três volantes partem juntas para Piranhas. Levam metralhadoras emprestadas. Chegam a Piranhas já à noite e com chuva. Arranjam três canoas e descem o rio, mas só os comandantes sabem para onde.

No coito um vento frio encanou pelo grotão. Os bandidos se recolheram no escuro e somente uma vela permanecia acesa na barraca de Lampião. Maria Bonita, emburrada com Lampião, conversava com Cila em uma pedra.

A tropa manda buscar Pedro de Cândido e que forçado, vai guiá-la até a grota, juntamente com o irmão Durval.

Após várias peripécias, as três volantes estão diante do coito ainda antes de amanhecer o dia, guiadas por Pedro e Durval. As volantes dividem-se em várias frentes e surpreendem os bandidos ainda com escuro, frio e neblina.

É feito o ataque que termina com onze cangaceiros mortos e um volante. Lampião e Maria Bonita desencarnaram.

*Narrativa baseada no livro: CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012.

Amanhã: última crônica da série.