FAZENDO SANTO

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de setembro de 2015

Crônica Nº 1.484

(Para Goretti Brandão e Roninho)

Foto: capuchinhos.com

Foto: capuchinhos.com

Aproveitando a novela de Roque Santeiro, procurei saber quem fabricava santos, na região. Ao descobrir, fui à casa do homem para convencê-lo a receber uma visita de alunos, com consequência de trabalhos e notas. Sempre levei meus pupilos para inúmeros lugares com a finalidade de despertá-los para a sociedade.

No dia e hora aprazados, chegamos à casa do artesão que, por sinal, ficava na periferia do Colégio. Fomos recebidos com boa vontade, mas com muita modéstia por aquele homem que jamais tinha registrado visita semelhante. A garotada invadiu o seu atelier, que era apenas uma cobertura aberta de telha com chão de barro batido. Alguns instrumentos maiores estavam ali para ajudá-lo, mas nem uma cadeira havia para alguém sentar. Uma pobreza absoluta que fazia pena! Os estudantes viam as coisas e indagavam, entrevistando com educação o exímio santeiro. O homem pobre não se sentia à vontade ─ percebia-se ─, mas procurava responder com paciência e acanhamento as indagações.

Havia em um canto de parede, cerca de trinta ou quarenta santos de madeira, entre trinta e quarenta centímetros de altura, cada. Nunca havíamos visto tanta perfeição em um trabalho daquele que parecia não ter sido feito por mãos humanas. Após a sabatina da turma, foi a minha vez de perguntar o destino da mercadoria. Os santos eram enviados ao Recife, entregues por preço vil e repassados aos estrangeiros por pequenas fortunas pelos atravessadores.

Um homem rude daquele, verdadeiro gênio, deveria ser tratado na sua cidade com honras de prefeito. Ignorado e invisível, o magnífico artesão fabricava santo para o mundo inteiro, enquanto no seu lugar, aparecia menos que mendigo.

Quando vejo grandiosos artistas na minha cidade, escultores, pintores, escritores, sem apoio da venda de uma peça, sem respaldo para publicar um único livro, lembro como a ignorância impera. Isso faz lembrar a declaração do papa dos poetas nordestinos, Severino Pinto da cidade de Monteiro, Paraíba. Elevou o nome de Monteiro para os quatro cantos do mundo e da sua cidade natal nunca recebeu uma homenagem: “Tudo dei a Monteiro, Monteiro nada me deu”.

A cultura no Sertão continua com a mesma qualidade do Santeiro e as infinitas mágoas dos artistas, semelhantes às do repentista Severino.

RETRATO NA CADEIRA (Minha Vida – Lulu Santos)

Uma nuvem caminhando sozinha do lado mais azul do céu, mais uma tarde se fez. Um lírio despencou do talo, feito uma lágrima branca, e era ainda aquela mesma tarde. Uma mãe sentada na cadeira na porta de casa, cada vez mais tarde ia à tarde. Uma que era filha veio vindo. Pediu a benção beijou-lhe a testa. Sentou noutra cadeira. Acendeu um cigarro, folheou um álbum de fotografias, e sorriu, a tia que estava no retrato, continuava séria. Muito bem disfarçada a cicatriz no supercílio direito que desde muito estava lá. “Tia queria ser cantora…” “Tenho saudade de minha mãe.” Disse a primeira. Olhando pras bandas de onde ficava a terra natal disse isso. Como se o céu pudesse trazer o passado, e ficou triste. Não apenas a que disse, mas tudo em redor ficou triste.

“Quando eu era pequeno

Eu achava a vida chata

Como não devia ser

Os garotos da escola

Só a fim de jogar bola

E eu querendo ir tocar guitarra na tevê”

A igrejinha, os degraus, alvo querubim no alto do portal, a santa no altar, o negro badalo, sisudo, sisudamente atrepado, lá em cima. Tudo como estava daquele jeito, trazia pra acolá a casa materna. A buscar tristes recordações, os olhos se enchiam de lágrimas. Lembranças das discussões acirradas de tio Enéas e tio João Doroteu. Um era crente, o outro católico. Se pudesse não ouvia aquela arenga. Vontade dava era de sumir. Tio Manoel ensaiando seus cânticos pros velórios. Cantos tão penosos. Acompanhava-o vô Antônio com sua rabeca “a porca cochicha”, Um riso morno chegou aos lábios, por ternos segundos virou sorriso. Tio Pedro sentado num tamborete perto da janela porque depois duma xícara de café, acendia o cigarro de fumo picado. As baforadas e as cusparadas defenestradas, umas pelas janelas, e outras por cima da folha da porta. O cheiro de pinha vindo da dispensa. Abóboras e pinhas amadurecendo dentro dum balaio, aguçando as ventas dos curiosos. Em cima da mesa uma travessa cheia de goiabas tão amareladas guarida dos mosquitos, fedidas a bufas de bebê.

“Aí veio a adolescência

E pintou a diferença

foi difícil esquecer

a garota mais bonita

também era a mais rica

me fazia de escravo do seu bel-prazer”

Osvalinda e Aucantina iam pra igreja. Esta de cá carinhosamente Tinô. Tinha por obrigação toda tarde ir as duas pra igreja. Por vezes ia Dália. As três, às três da tarde de joelhos, véu sobre a cabeça, rosário nas mãos, rezavam a ladainha, o terço da Divina Misericórdia. Uma vela acesa penitência encomendada por madrinha Amália. A bancada em verniz preto, o apoio dos braços marcado de pingos de parafina recrudescido. O sacrário ladeado de imagens de anjos segurando luminárias, as asas subindo suavemente, olhar de quem guarnecia serenamente. A imagem de Cristo o lado traspassado pela lança, ombros esfacelados, joelhos em carne viva, na iminência do sangue gotejar nos alvos panos do altar. Sagrado altar esmeradamente forrado da cor das tapiocas de dona Faustina. Santo Antônio com seu rosto de anjo segurando no colo outro menino. A moeda colocada no cofre da igreja. O trinco da bolsa fazia um barulhinho engraçado quando fechava. Um dia, André filho de dona Mirian foi pra missa, levou um cruzeiro pra por na cesta de coleta. Só que ao invés de colocar o peralta tirou foi mais um. Pra completar o ingresso pra sessão de cinema: “Noites Cariocas” com Oscarito, somente naquela noite, no salão do açougue. Andrezinho bronca tão séria levou do padre que bastava ver um menino se aproximar da urna de doações que arregalava os olhos. E de longe, com medo de se aproximar avisava aos berros pra ter cuidado que “A alma de meninos eram sugadas pelo cofre do padre!” E que a noite ao pé da cama, na hora de rezar, daria pra ouvir o gemido das pobres pedindo pra alguém tirá-las de lá dentro.

“Quando eu saí de casa

Minha mãe me disse: Baby

Você vai se arrepender

E lá iam às duas irmãs, sem pressa, pela estrada seguindo. Acima de tudo felizes. Os vestidos alvos caçoavam das nuvens, acenavam ao vento. No rosto, diáfano pó de arroz, no penteado belo broche, um chapéu gracioso. Tudo que era dito um dia teria sido realmente. A mãe se segurando pra não chorar. Chorava porem as palavras. E era como uma cortina feita de polissílabos que no eco plasmavam flutuantes. Talvez fosse mais fácil dizer silêncio. O mundo porem teimava em ser repleto de azul. Cheio de saudade. Estupidamente caduco de lembranças que instigavam os sentidos, a flor da pele. Causando um frio que casaco nenhum conseguiria aplacar. E as coisas todas como se estivesse esperando os relógios envelhecessem as horas, e era como se toda dor que não devia ter sobrevivido voltasse, irremediavelmente. O amarelo das goiabas querendo adultamente ser laranja; o lilás detestando ser roxo; o púrpura despudoradamente sendo violeta fruto do mandacaru. O colo esperando um rosto amigo pra repousar, mas quem sabe, jamais viria. A iminência de coisas muito sérias novamente voltando a acontecer, coisas que tiveram gosto de faca cortando, lânguido igual babão da jaca mole, o liga do leite de labirinto. Cheiro de velho, de ninho de passarinho. Gosto de água de pote na boca. Os homens um dia se foram, e caminhavam sem olhar pra trás, muito sérios iam. Só Deus sabe tão sérios aonde queriam chegar. A vila inteira, os feirantes, os meninos, o açougueiro, o tabelião, o delegado, a professora. Dentro de um azul e preto em câmara lenta seguiam a procissão dos iludidos. Menos o padre Bulhões que tinha ido pro sítio Gameleiro encomendar uma alma, e o farmacêutico Moreninho fora até a fazenda de Zé Roque aplicar uma injeção contra Cornage, um mal de cavalo que fazia assobiar forte ao respirar. Compromisso nenhum do que foi dito, tinha com a história que ainda estava pra acontecer. Talvez o esperado nunca fosse realmente contado.

Pois o mundo lá fora

Num segundo te devora

Dito e feito

Mas eu não dei o braço a torcer”

Padrinho Pizeca tinha uma tosse crônica que piorava com o cair de tarde, tão fria quanto àquela. Lá do quintal dava pra ouvir a pulmoneira que começava pouquinha e acabava em crise. Dona Amélia fazia um chá de hortelã com mastruz que aliviava, só não podia tomar muito, pois era muito forte. Enéas mais Seu Esaú foram cubar uma terra de Seu Tonico Ambrósio que seria repartida em herança, parte seria vendida pelos filhos, a Seu Pedro Vieira. Tinha uma semana pra mandar destocar quando viriam as chuvas de inverno atrasado. As chuvas arrastaria o barro e tudo ficaria nuzinho, os tocos queimados ponteariam sobre a terra. O imbuá caminhando, a tanajura zumbindo na cumieira da serra. A sementeira quietinha dormindo, aguardava esperando o momento certo depois de covar, desarcordar debaixo do chão. Negro Bongo dera pra andar com Casteado. pense duas peças lorde! Boa coisa os dois não andavam aprontando no oitão do mundo. Pegaram uma encrenca com dona Terezinha por conta duma gamela. Foram dar comida pros porcos, o jumento pisou dentro do cocho que se partiu em dois pedaços. Pense no fuzuê que a mulher fez. Botou os dois pra correr debaixo de chicote.

“Hoje eu vendo sonhos

Ilusões de romance

Te toco minha vida

Por um troco qualquer”

Anacleto filho de dona Ciça todo dia ia pegar passarinho nos cafundós dos Judas. Os cafundós das redondezas eram as propriedades de Seu Arnóbio e Seu Canuto. Dona Ciça desde cedo, metia o pau a gritar pelos meninos “Anacleto! Diógenes!” Pra irem apartar os bezerros das vacas no curral. Os pestes se largavam no oco do mundo. Dona Ciça coitada, sozinha ia fazer o serviço levando Benezinho o mais novo, arreganhado na cintura. Comadre Dorinha encomendou um braço de milho seco a Seu Tobias. O homem achou de mandar justo nêgo Bongo pra quebrar esse milho que ainda estava na roça. Era pras galinhas poedeiras de tio Doroteu. Quando alguma estava choca botava pra deitar atrás da porta da dispensa. Toda vez que tinha que ia buscar uma cuia de feijão, era zoada doida. Zé Candinho tinha uma queda danada pelas modernidades. No meio da feira comprou um peste dum rádio. Ligava numa bateria velha e tinha um monte de arame que ia pra debaixo do chão por cima da casa. Sintonizava a rádio clube de Pernambuco, gostava de ouvir as músicas de Inezita Barroso e “As Irmãs Galvão” que as filhas de dona Amália imitavam direitinho. Os meninos tinha uma história de ir tomar banho no açude de Seu João Lola que queria ver o cão, mas menino lá dentro nem ver. Mas se um dia é da guariba o outro é do caçador. Aí o can-cão piou! Munido duma “soca-tempêro” o velho mandou chumbo. O tiro cobriu e foi menino correndo pra todo lado. Sóstenes, Maurílio desembestaram pelas capoeiras. Fernando, “Titico” e Dorival sumiram na catingueira. Era nêgo se ralando nos rasga-beiço, nas urtigas, as roupas e os chinelos deixando pra trás. Temístocles pegou a vereda, não viu o colchete lascou-se em cima dos fios de arame foi um rasgão que uma orelha pendurou, quase aparta da cabeça. Cléster outro que levou azar subiu num pé de jaqueira tinha um enxame de abelhas, levou ferroadas na cabeça, rosto e pescoço, teve febre, frio e dor de cabeça. Por um bom tempo os pássaros e bichos daquelas bandas teve sossego.

“É o que chama de destino

E eu não vou lutar com isso

Que seja assim enquanto é”

Comadre Zefinha ria pra se acabar das doidices de Emília. De tudo falava, achava extravagante quem comprava muita roupa. E Dália entendia que era com ela, punha Francisco no braço e ia embora. Mal criada Emília um dia levantou a mão pra bater em dona Neném. O filho não gostou nada disso. Seu Antônio fumava cachimbo no alpendre. Depois dos setenta teve catarata e glaucoma ficou cego. Otacílio a tarde aparecia na casa de Abdon pra contar histórias do tempo de Lampião. Os dois lembravam da seca de 32. E começavam uma discussão sobre qual tinha sido realmente o ano, 32 ou 36? Lembrou que era o povo caindo pelas calçadas pedindo alguma coisa pra comer. Cena parecida com a peste negra que assolou a Europa. O povo se trancava dentro de casa com medo da fome. A seca de 70 essa ninguém nem sonhava mas já estaria marcada pra vir.

“Hoje eu vendo sonhos

Ilusões de romance

E troco a minha vida

Por um troco qualquer”

Dália se lembrou do dia de seu casamento. O noivo contratou um sanfoneiro que começou a tocar duas da tarde, e puxou pro meio dia do dia seguinte. Lembrou que ficou sentada na cama, o pai lá na cozinha chorou. O noivo chegou pra dar um beijo, não permitiu, teve vergonha. Quis que o casamento fosse em casa. Pois soube que a igreja estava cheia de curiosos só pra ver como ficariam os noivos. No dia seguinte vieram pra Santana no carro de Seu Dota chofer contratado especialmente para aquela ocasião. O Panema em toda largura teve que atravessar de canoa, empreitada nada fácil. Quando Francisco nasceu dona Amália veio passar os dias do resguardo com a filha. Voltando pra infância lembrou que teve asma e Seu Moreninho receitou três injeções, tomaria duas, e ficaria boa. Moreninho perguntou se a menina guardava mágoa por conta do fuzuê que fizera quando levou um capão pro padrinho Pizeca na semana santa. Não ficara. A irmã na foto, o cabelo derramado pelas espáduas cobertas pela blusa de manga bufante. Tão bonita, tão séria. Para sempre no álbum de fotografias ficaria. A cicatriz no rosto, um corte de caco de pires de quando criança tomava café. Irrequieta derrubou a xícara e caiu. Dona Amália tratou da ferida. Seu Doroteu todo dia. Longe, muito longe ia buscar um pote d’água, saía madrugada e só chegava altas horas da noite. “Mãe me dá um tostão? A senhora tem tanto dinheiro… Pra que quer um tostão menina? Eu queria tanto tirar um retrato.”

Fabio Campos 26 de Agosto de 2015

Novo logotipo da Google

A Google anuncia mais uma novidade: um novo logotipo. De forma geral, o logo continua limpo e de certa forma, singelo. A principal mudança nas letras é que estão sem serifas (pequenos traços no fim das hastes das letras). Em 17 anos de existência, a Google mudou seu logo apenas seis vezes. A última mudança tinha sido em 2013.

Numa postagem oficial, a empresa disse que a ideia da mudança é se adaptar aos novos tempos. Na época em que foi fundada, a Google pensava apenas no computador como canal de acesso. Agora, precisou se modernizar, então o logo foi pensado para se adaptar aos vários instrumentos tecnológicos, como os smartphones, tablets, notebooks e os próprios computadores.

A mudança é muito discreta. E quem reparar, verá que o último “e” continua inclinado, apontando ligeiramente para cima. Apontando para o céu, o único limite que a empresa aceita, por enquanto.

LEIA MAIS NO BLOG! CLIQUE AQUI!

Os alimentos mais prejudiciais à saúde

O Sorvete está no topo da lista, pois possui elevados níveis de açúcar e gorduras trans e corantes artificiais. Alguns desses corantes aromatizantes possuem neurotoxinas. 

“Uma bomba química” é como podemos definir os salgadinhos de milho. São responsáveis por causar alterações da glicemia (nível de açúcar no sangue) o que pode acarretar em risco de diabetes, acúmulo de gordura corporal, irritabilidade, entre outras alterações.

Uma dica: se for comer pizza, pelo menos que não seja congelada (alimentos de micro ondas). Os alimentos congelados possuem elevados níveis de condicionadores e conservantes. A massa da pizza é absorvida pelo corpo humano e transformada totalmente em açúcar puro de forma imediata, o que pode causar também, o risco de diabetes, acúmulo de gordura corporal e suas consequências. 

Para fritar as batatas, é necessário óleo, o qual sofre alteração na presença de oxigênio e em altas temperaturas. O que o torna prejudicial à saúde, principalmente cardiovascular. A batata frita possui uma das mais potentes substâncias com potencial para gerar câncer que se pode existir em alimentos, a desconhecida acrilamida. Essa substância é resultante do elevado aquecimento da temperatura da batata (branca), ou seja, a fritura.

O consumo frequente de bacon pode aumentar o risco de doenças cardíacas em 42% e o risco de diabetes em 19%. Um estudo de uma renomada universidade americana, adiciona ainda mais problemas ao consumo do bacon: comer com frequência pode acarretar em problemas pulmonares.

Um copo de refrigerante possui em média, sete colheres de açúcar, o que o torna uma bebida extremamente prejudicial à saúde. O pH do refrigerante é muito ácido, o que significa que o corpo humano sofre grandes alterações hidroeletrolíticas. Existem também, nos refrigerantes, substâncias com potencial para causar câncer (clique aqui para ler o texto que falo sobre essa substância), muitos conservantes e corantes artificiais. Para explicar melhor, isso significa que a cada copo de refrigerante ingerido, é preciso tomar trinta copos de água para iniciar a normalizar os níveis de eletrólitos do corpo.

O TROPEIRO (Meu Pitaguari)

Ilustração: Fábio Campos

Ilustração: Fábio Campos

A mata. Labirinto de puro mistério. Um calafrio a percorrer o corpo toda vez que ia por lá. Por que aquele medo toda vez que passava ali? A mula avançando pelo caminho. As casas. Cadê as casas que não apareciam logo? Desejava avidamente que a vila apontasse no olho da estrada. Por que justo naquela curva tinha que ter mata dos dois lados? Dum lado, subia a serra, do outro despencava abismo abaixo. A estrada serpenteando doida de pedras, e barro. Os olhos atirados lá pra cima, medo de olhar pra baixo. Os caçuás, vuco-vuco, roçando na sela dando ainda mais nos nervos. A burra, o ar dos pulmões entre o esôfago e a traqueia, remedava o som do roça-roça. Pensamentos de gelo, o frio petrificando os lábios, entristecido os olhos. Vida de tropeiro, vida toda varando o mundo em cima duma mula. Para que aquele vento gélido não viesse chover daria de pensar num começo de reza. Como sempre entendida ao contrário, e caía torrencial tempestade. Melhor seria não ter inventado reza. Lembrou com ternura do aconchego da bodega. Cheiro de bacalhau pubo, lapada de cachaça, fumo de cachimbo. Seu Pedro dizia que o Sítio Capim e toda aquela redondeza parecia que ficava mais perto do céu, porque nunca viu lugar pra chover tanto. O chapéu encharcado a aba amolecida, pingando e pingando, no bico da venta, congelando, a barba dura. A molhação empapando a roupa, penetrando até os ossos. Seu Antônio Tenório tinha uma ciência que chuva fina molhava mais que chuva de trovoada.

“Meu Pitiguari/ Meu Pitiguari

Voa vai buscar/ Voa vai buscar

A espera mata/ A espera mata

Um coração que quer amar

 …

Ansiedade me machuca o peito

Sem ver a hora de você chegar

Amor ardente, paixão incontida

Por toda a vida é o que vou lhe dar

Meu Pitiguari”

O tropeiro. Todos os dias, caminho de casa caminho da rua. Caçuás cheios de macaxeira, a vender de porta em porta. Entrou no armazém de Seu Eliezer precisava duns atavios. As coisas ali, de tão cansadas dormiam, como em berço esplêndido. Um silêncio velho, passeando na camada de pó das prateleiras sem sentir o menor constrangimento por isso. Mercadorias sérias, caladas demais. Tudo ali era tão sem assunto que dava agonia. Tudo tão anêmico de tons, apático de cor, raquitismo de luz. Tudo assim tão carente de vida. Ali dentro se sentiu como um resto de piada “…mais perdido que rato em casa de ferragem!” o que acabaria trazendo um pouco de calor humano, conforto pra alma. A mente numa tentativa sobre humana de trazer de volta a alma do desinfeliz que vagava. O consciente ia apresentando um sequencial de tudo de que precisava: uns metros de corda de caruá, pavio de candeeiro, fósforo da marca Matches, sal Cisne, um facão Tramontina, pólvora Sacy, chumbo Guarany. Vários novelos de corda de caruá de diversas bitolas deitados no chão, vasos de grãos de feijão e milho de chapas de zinco apoiados em lastros de madeira encostados na parede, perfilados. O cheiro reinante ali era de querosene da marca Jacaré. Seu Eliezer que era da lei de crente usava camisa de mangas comprida abotoadas nos punhos, e a gola fechada rente ao pescoço. O bigode branco combinando com a alva carapinha. A bíblia de capa preta sobre o balcão sempre ao alcance da mão, enorme mão de dedos nodosos. No interior penumbra, as aberturas das portas como fendas que ameaçavam encher tudo dum imenso deserto de luz de fina cal como um portal que daria acesso a terra da lua. O sol que um dia havia talvez tivesse adquirido uma mancha negra que se estendia formando um magnífico eclipse e a todo instante provocava explosões espalhando pelo cosmo uma chuva de larva incandescente que acabaria por dizimar toda a vida reptiliana, a única existente sobre a terra de uma época remota. Isso talvez fosse o que se chamaria de caos. E a partir daí daria início a criação.

“Meu Pitiguari/ Meu Pitiguari

Voa vai buscar/ Voa vai buscar

A espera mata/ A espera mata

Um coração que quer amar

Eu lhe dou tudo o que você pedir

E faço tudo que você gostar

Dou a paixão que eu sempre tive

O amor bem livre, com sede de amar

Meu Pitiguari” 

A Rua. Um pingo de remorso não tinha, de nada se sentia culpada. De quem era pobre, de quem tinha muitas posses, de quem era miserável. A rua não sentia culpa se ‘a’ ou ‘b’, se fulano, sicrano ou beltrano não tendo o que fazer ficava falando da vida alheia pelas esquinas. A rabeca de Seu Antônio em duas notas: “A porquinha ronca e fuça” gargalhada geral. Desconfiavam que o rapazola que ajudava o padeiro com o forno da padaria tivesse um chamego com De Lourdes empregada de dona Cristina, e daí não era a mulher, solteira mesmo. Só que pendia uma asa pro cabo Matias. Depois que vendia a macaxeira, tropeiro ia buscar uma carrada de madeira encomenda de Seu Arlindo da padaria. E se estivesse chovendo não tinha quem fizesse o ajudante ir até a bodega comprar uma garrafa de cana. Considerava o fim da picada, sair na chuva depois de horas a beira do forno, e correr o risco de ter uma constipação, ficar doente. Como aconteceu com finado Zezinho. E olhe que ele tomava umas canas pra aguentar o rojão. O peste era tão viciado que pra conseguir tomar a primeira dose do dia, segurava o copo com as duas mãos. Tremia tanto que derramava quase tudo no rosto no pescoço. O companheiro Mané guarda chegava de madrugada ligava o motor do caminhão Ford que fazia a maior zoada. A chuvinha fina bem escondidinha no escuro enganava quem tinha que sair da cama cedo. Se ao menos desse pra ouvir os pingos batendo na telha se negaria a sair tão cedo de debaixo dos cobertores. Naqueles dias de inverno cadê coragem pra tomar banho. O lençol abafa-bufa grosso que só parede de igreja, pegava uma inhaca desgraçada. A mulher pra aguentar a catinga o obrigava a lavar pelo menos os possuídos.

“Meu Pitiguari/ Meu Pitiguari

Voa vai buscar/ Voa vai buscar

A espera mata/ A espera mata

Um coração que quer amar

Meu desejo já não tem sossego

Buscando o seu todo instante vai

Por tudo peço não demore não

Que o meu coração já não aguenta mais

Meu Pitiguari

Descambou a folhear um jornal velho, encima do balcão. Tão cheio de tanta letra. Figura que é bom quase nenhuma. Talvez só servisse mesmo pra enrolar prego. E tudo poderia ser muito menos dolorido do que na sempre fora. Lamentou não ter leitura suficiente pra ler aquele monte de coisa. Quem sabe lesse a crônica de Rubem Braga que falava de borboleta, dum pé de jambo na Rua do Ouvidor. Ficaria a par da recessão que assolava a nação americana. Depressão severa nos Estados Unidos, da América, e no Canadá tudo por conta da maldita guerra. Muita gente não podendo assumir seus compromissos com o aluguel foi morar em favelas apelidadas de Hoovervilles, uma sátira ao presidente Herbert Hoover. Não tendo dinheiro pra abastecer de combustível seus automóveis, muitos passariam a atrelar mulas aos veículos apelidados de Bennett Buggles, carroças Bennet, uma crítica ao primeiro ministro Richard Bennet.

“Meu Pitiguari/ Meu Pitiguari

Voa vai buscar/ Voa vai buscar

A espera mata/ A espera mata

Um coração que quer amar

Se seu amor é igual ao meu

Chega de pressa, vem de pressa vem

Que o meu desejo é lhe matar de beijo

Depois de saudade eu morrer também”

A casa. Lá estava arribada na ribanceira do gravatá. Mês de agosto fazia muito frio, meu Deus como era frio! Dona Amélia dizia que aquela casa ficou mal-assombrada. Quando estava sozinha do alpendre ouvia alguém abrindo o armário da cozinha. As alpercatas de couro cru rangendo, rastejando no piso. A gaveta dos talheres se abrindo. Tudo em plena luz do dia. Alguém pegando a faca na gaveta. Exatamente como naquele dia. Calmamente indo ao quarto, a filha estava deitada na cama toda enrolada, nem um pio se ouviu. O sangue morno descendo pelos lençóis empapando o colchão. As grades da cabeceira ficaram sujas de sangue. Depois das sevícias na hora do desespero teria se agarrado ali. Sete facadas nos peitos e colo. Institivamente olhou pro mato, na direção onde haviam encontrado o corpo. O vestido rasgado, a calcinha bem longe dali, uma tiara e os sapatos. O caderno todo rasgado tinha desenhos, vários corações sublinhavam a frase: Te amo papai.

Fabio Campos 13 de Agosto de 2015

O GOVERNADOR E O PICOLÉ

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de agosto de 2015

Crônica Nº 1.480

Foto: Francisco Aragão

Foto: Francisco Aragão 

Cada um tem seu modo de ser e, seu Nouzinho tinha o dele. Vindo de Viçosa, Alagoas, em 1936, passou a ser comerciante e fazendeiro em Santana do Ipanema. Tornou-se amigo do famigerado coronel Lucena e por este indicado para prefeito interventor da sua nova cidade. Sem nunca esboçar um sorriso, foi um folião solitário dos Carnavais do Sertão. Com apenas uma simples máscara fina, talvez comprada na casa Rainha do Norte, do empresário e comerciante Tibúrcio Soares, desfilava sem nenhuma companhia pelas principais ruas e avenidas. Era o seu jeito.

Firmino Falcão Filho exerceu o mandato de prefeito interventor, em Santana do Ipanema na gestão 1947-1948. Em tão pouco tempo, o homem que montou a Sorveteria Pinguim, no Bairro Monumento, muitas coisas importantes realizou como prefeito nomeado pelo governador Silvestre Péricles. Tinha orgulho de ser chamado “prefeito marca três efes”. Muito ajudou o time da cidade Ipanema e, foi ele quem construiu a ponte de concreto que liga o Comércio ao Bairro Camoxinga.

Os picolés da sua sorveteria eram feitos de essências e tinha o morango como carro-chefe, embora os sertanejos nunca tivessem visto um morango in natura.

Brincalhão sem sorriso, sempre se saía com suas próprias tiradas. Despachando na sorveteria, atendeu a um matuto que lhe perguntou de que era aquele picolé tão verde assim. Respondeu sem pestanejar: “É de mata-pasto”, erva daninha da região. Outra vez indagado de que era feito aquele picolé que não tinha gosto de nada, respondeu Seu Nouzinho ao cliente: “Você que está chupando não sabe, quanto mais eu que sou o dono”.

xxx

O nosso governador Renan Filho, como candidato, pregou que a Educação era tudo, dando a entender que por ela não seria mais um. Depois que deu a impressão de que seria um bom governo, começou a esfarrapar, perdendo completamente o crédito com o funcionalismo. Sua proposta de reajuste ao Magistério é uma grande piada de mau gosto e deboche que só encontra igual no governo que passou. Uma VERGONHA! E para não dizer muita coisa sobre o homem do palácio, em relação aos professores, assemelha-se ele, no momento, à qualidade peste do picolé de seu Nouzinho.

AVISTANDO A RESERVA

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de agosto de 2015

Crônica Nº 1.479

MANCHA DAS GARÇAS NO RIO IPANEMA,  AGUARDA FIM DE INVERNO.  Foto: (Clerisvaldo).

MANCHA DAS GARÇAS NO RIO IPANEMA, AGUARDA FIM DE INVERNO.
Foto: (Clerisvaldo).

A consciência ecológica ainda tem grande parte do rabo de fora. Desmatamento é coisa constante em nosso Nordeste, particularizando agreste e sertão das Alagoas. No grande número de padarias do sertão e nas fabriquetas de queijos e manteigas, o uso de vegetais de caatinga se amontoa. Parece até que existe uma blindagem contra a fiscalização que nunca aparece para coibir a prática vergonhosa do desmatamento; o uso ilegal do que ainda resta da mata branca. E se a tal fiscalização aparece, pouca gente sabe, quase ninguém vê. Pelas estradas do Agreste, a paisagem original de transição, deu lugar a campos limpos e, quem quiser, pode contar nos dedos as árvores de porte que escaparam do machado.

No Sertão, o crime ecológico se repete. Em inúmeras rodovias asfaltadas e mesmo estradas de terra, é sacrifício para quem sente a tal dor de barriga. Uma só moita que lhe permita esconder-se totalmente, nos despachos dos intestinos, não se encontra. O pelado das regiões faz com os animais selvagens ─ os que escaparam ─ procurem os cocurutos de algumas serras mais distantes e de difícil acesso ou os lixões periféricos das cidades. Quando a seca vem, acaba com o restinho de solo fértil que ainda resta.

E vou apreciando da minha casa, todos os dias, um naco do serrote Pelado, dentro da reserva particular Tocaias, daquele que foi herói de guerra, professor e comerciante, Alberto Nepomuceno Agra. Nem sei como o seu filho Alberto consegue defender a reserva da ambição de muitos naquela parte da periferia urbana! Mas, as agruras encontradas na luta do cotidiano, também abrem as cortinas da natura para espetáculos deslumbrantes. O ninhal formado pelas garças do Centro-Oeste, em migração, fica a cerca de um quilômetro da reserva Tocaias, entre o Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo e o rio Ipanema. Todos os dias à tardinha o ninhal com cerca de 2.000 mil aves aguardam os curiosos. Dano à máquina para cima e a foto parece ligar o ninhal com o serrote Pintado, mas é apenas uma ilusão de ótica. Em breve, elas retornarão às origens.

Abençoados sejam os conservadores da Natureza.

GILMAR E O LATÃO DE GASOLINA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2015

Crônica Nº 1.478

Foto: Wikipédia

Foto: Wikipédia

Não existe lei perfeita no mundo. Também não se pode dizer que sempre ao se aplicar a lei, justiça foi feita. Fora isso, ainda tem a fraqueza, covardia, parcialidade e venda de quem as aplica, não em resumidos casos. Não se pede somente justiça ao magistrado, mas também coerência equilíbrio e que inúmeras vezes são mais importantes do que a lei, propriamente dita. Vê-se também que neste mundo, ninguém é sábio o suficiente para ser perfeito. E quando o chamado sábio erra, parece causar muitos mais danos do que o homem do chapéu de couro. Se a exigência da sabedoria individual já e cobrada de homens de leis em circunstâncias normais, imaginemos, pois, em momentos tensos e controversos.

Estão sendo investigados 52 políticos “grandolas”, inclusive o presidente da câmara e um ex-presidente do Brasil. A inquietação política, faz com que haja manobras e descomposturas dos investigados e de outros, cuja carapuça também aguarda a sondagem velada. Somada a isso, a loucura de um cabra de Minas procura agitar o Brasil em proveito próprio, sem medir atos e consequências. Movimentos nas ruas acontecem manobrados por ele e seus cupinchas; outros movimentos em favor da democracia e do respeito ao voto, também compensam o fiel da balança. Quem viveu o golpe de 64 e o período dos 20 anos da botina, entende, perfeitamente, o que poderá acontecer.

Diante de tudo isso, quando se espera equilíbrio do Ministro Gilmar Mendes, surge o homem com um latão de gasolina para jogar na fogueira que ele ainda está achando pequena. Ninguém está acima do bem e do mal, nem nós, nem Dilma, nem o próprio Gilmar. Não estamos defendendo Dilma, PT ou quem quer que seja. Queríamos apenas sabedoria de parte do Ministro. Não é momento de investigação sobre a campanha de Dilma. Esperávamos, unicamente, que todo o problema atual dos 52 fosse concluído e, no momento propício, com águas calmas, o ministro procurasse fazer a investigação sobre o dinheiro de campanha do PT. O ministro Gilmar Mendes, colocou o poder, a lei e a doidice a serviço do demo. Caso haja uma guerra civil armada no país ou uma tomada de poder militar, vai sobrar para todos, inclusive para o dono do latão de gasolina.

DESABAFO DE CIDADÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2015.

Crônica Nº 1.477

Foto: exameabril.com.br

Foto: exameabril.com.br

Grande alegria senti ao ver dezenas e dezenas de fotografias no movimento brasileiro pró-Dilma. Depois de vê tanta coisa em meu país, ainda ter que tolerar um Aécio m…, Napoleão de hospício, querendo tomar o poder. Um louco imbecil que não se conformou com a derrota nas urnas e não teve peito para tirar Dilma no coice do fuzil. Tentando várias vezes, das mais diferentes maneiras, jogar o povo contra a presidente, ansiava por tomar o seu lugar. Ele pensa que o espírito do avô é coronel de revolução armada. Cabra desse tipo para a democracia não vale um conto. É o que o sertanejo chama de cabra peste! O que um louco pensa ao derrubar uma democracia e fazer com ela? Ainda teve sorte em não ter havido um golpe militar para acabar com suas pretensões, fechar o congresso e todas as instituições política, metê-lo na cadeia com sua cambada ou colocá-lo em fuga para a casa da p. com sua cúpula seguidora.

Quanto ao Cunha, eu bem que avisei que ele estava diante do “Nego d’Água” sem cachaça para jogar no rio. Com suas maneiras também de maluco, destilando ódio contra Dilma, legitimamente eleita, acha-se como, presidente da Câmara, o dono do mundo. Taí cabra ruim, vá devolver a quantia exorbitante da propina a nós, os brasileiros de verdade.

Voltando ao cabra de Minas Gerais: com a saída da Globo do pretenso golpe; os principais jornais do mundo protestando contra suas intenções; a chegada de apoio de Ângela Merkel a Dilma só com sua presença e o movimento troco dos pobres contra a elite ariana, no dia de ontem em todo o país, onde enfiará a cabeça o Napoleão? Lembra a embolada do cantor Manezinho: Pra onde vai, valente? Pra onde vai, valente…?

E o ditado do Brasil: quem não pode com mandiga não carrega patuá, coube certinho na cueca de um aventureiro do bravo estado de Minas Gerais.

Coisas ainda vão acontecer e não é contra Dilma, não. Muitos outros ainda vão ver fantasmas mesmo de olhos arregalados. Em melhor situação do que a dos 52 investigados, está o cidadão honesto trabalhador e que adquire o pão de cada dia com o suor do rosto. E quem tiver com pena deles, leve-os para casa e aprenda como se rouba a Petrobrás e o País.

OS LAMBES E SUAS MÁQUINAS MARAVILHOSAS

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de agosto de 2015.

Crônica Nº 1.476 

CORISCO, VENDIDO E COMPRADO.

CORISCO, VENDIDO E COMPRADO.

Os fotógrafos, desde que as máquinas foram inventadas, são as verdadeiras testemunhas da história. Não fora esses profissionais e os pintores a óleo que os antecederam, contar o que aconteceu no mundo seria sem sal e sem açúcar.

Lembro-me, perfeitamente, dos dois fotógrafos mais famosos da minha terra. Seu Antônio, homem baixo, magro e barba por fazer, era amigo do cigarro. Atuava, onde o alcancei, em sua residência, no início da calçada alta da Ponte do Padre, lugar que separa o Comércio do Bairro Camoxinga. Depois Seu Antônio mudou-se para a metade da Avenida Coronel Lucena, entre os dois becos de acesso à Rua Ministro José Américo. Expondo na frente de casa uma réplica, fotografia de Corisco, eu a comprei por ser uma coisa diferente. Entre as moedas, Cruzeiro e o Cruzeiro Novo, paguei barato a Seu Antônio, provavelmente, no início da década de 60. Ainda hoje possuo a foto que está escrita atrás: “Foto comprada a um fotógrafo profissional em Santana, por Clerisvaldo”. Separadamente coloquei o nome “Curisco”, com “u”.

Seu Zezinho, o outro homem da máquina, morava e despachava à Rua Nova, no início do declive para à Rua de São Pedro, lado de cima. Quase alto, branco, gordinho, aparentava sinais permanentes de fadiga. Acho que fotografou as cabeças de Lampião, Maria Bonita e mais a de nove cangaceiros quando expostas nos degraus da igrejinha do Monumento.

Já os lambe-lambes, atuavam na porta da Igreja Matriz de Senhora Santana, aventurando no 3×4 e nos casamentos e batizados aos sábados, dia de feira. Certo padre que gradeou a frente da igreja, praticamente acabou com os lambe-lambes de Santana.

Quantas e quantas coisas foram registradas por aqueles homens e suas máquinas maravilhosas, hoje consideradas de domínio público. Muitas estão em nosso livro inédito “228, história iconográfica de Santana do Ipanema”, à parte, de “O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”.

Nossas homenagens aos que contribuíram com as letras.