07 fev

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NO TEMPO DOS LAMBE-LAMBES

LAMBE-LAMBES. (FOTO: JORNAL LANCE)

Como os mais antigos fotógrafos profissionais alcançados por nós, estavam Seu Antônio e Seu Zezinho. Seu Antônio atuava na calçada alta – logo no início da Ponte do Padre. Depois se mudou para a Rua Coronel Lucena, entre os dois becos de acesso à Rua Ministro José Américo. Era magro, barba por fazer, calado e fumante. Seu estabelecimento tinha o nome de “Foto Santo Antônio”. Seu Zezinho trabalhava na Rua Coronel Lucena (defronte a antiga Praça Emílio de Maia) depois migrou para a Rua Benedito Melo (Rua Nova) parte de cima, perto do declive de acesso ao Bairro São Pedro. Morava no próprio lugar de trabalho, era gordinho, branco e ansioso. Ali funcionava o “Foto Fiel”.

A produção de ambos era mais voltada para o social, principalmente para documentos 3×4 e fotos maiores para lembrança. Afora isso, quando convidados registravam eventos como inaugurações, batizados, casórios, formaturas. Dizem que Seu Zezinho tirou várias fotos das cabeças dos cangaceiros mortos em Angicos e apresentadas em praça pública de Santana do Ipanema.

Não havia a percepção de fotografar inúmeras ruas e prédios públicos para engajá-las à História. Não havia percepção nem interesse, além do material fotográfico raro e caro.

Já os fotógrafos denominados lambe-lambes, atuavam na frente da Matriz de Senhora Santa Ana. Como os outros dois, limitavam-se aos 3×4 dos matutos da feira, das suas poses nos altares, de casamentos e batizados. Nada de registrarem em geral para a História, pois eles representavam a própria história presente.

No dia em que chegou um ditador abusado, meteu grades defronte a Matriz, expulsando os tradicionais fotógrafos do povo. Daí em diante, os lambe-lambes ficaram desarvorados. Nem na frente da Igreja e nem mais em lugar algum. A prepotência  havia dado o golpe de misericórdia numa riqueza cultural brilhante, prestativa e indefesa.

Enquanto o Papa anda com flores nas mãos, outros andam com relhos de couro cru. Droga de tanto ódio!

Dizem os espíritas que esses são os que reencarnam na marra.

Os fotógrafos ou retratistas hoje são raros e estão em cidades como Recife e Juazeiro do Norte, misturados aos romeiros e sobrevivendo como podem.

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de fevereiro de 2018

Crônica 1.840 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

ILHAS DE CALOR

ILHA DE CALOR. (ILUSTRAÇÃO: MUDA-MUNDO BLOG SPOT)

As geograficamente denominadas “Ilhas de Calor” são áreas com temperaturas mais elevadas do que as da redondeza. Isso costuma acontecer no centro das grandes cidades, onde há maior concentração de construções, calçadas, asfaltamento e veículos.

Vários motivos juntam-se para essa formação como o concreto das edificações, a pavimentação de ruas e avenidas, a inexistência de áreas verdes e a poluição atmosférica que elevam a temperatura fazendo com que o ar torne-se mais quente e seco.

Nos grandes centros urbanos predomina o concreto em detrimento a área verde. Mas não somente acontece nos grandes centros, pois as cidades menores também seguem os padrões das maiores com efeitos similares.

As cidades dos sertões nordestinos, antes com o calor amenizado pelo entorno da caatinga, hoje sofre com o desmatamento da antiga proteção. O progresso que vai chegando segue os padrões das metrópoles, mas, raramente a jardinagem urbana é lembrada permitindo as “ilhas de calor” em maiores ou menores proporções.

Inúmeras dessas cidades incentivam a arborização, sem orientações técnicas alguma. Em várias delas as árvores são até inadequadas causando transtorno à população.  Outras são abandonadas à própria sorte como se a obrigação das autoridades não passasse de um discurso raro, chocho e cadavérico.

O agrônomo, o urbanista, o geógrafo, o geólogo, tornam-se figuras raras no planejamento urbano e, os garis – os mesmos que recolhem o lixo – passam para os importantes ofícios dos especializados.

Além da arborização planejada de ruas e avenidas, ainda temos direito as áreas verdes do entorno da cidade, das praças e dos parques gigantes que são atualmente os amenizadores das tensões diárias da população. E se os climas do mundo estão sofrendo modificações negativas, deveremos cuidar da nossa própria casa que é o lugar onde a gente mora. Ainda como dizia um grande filósofo: “Se todo mundo varresse a porta de casa, o mundo inteiro seria limpo”.

Pois é assim que se formam as “ilhas de calor”, bem como é assim também que deveremos agir para uma melhor qualidade de vida. Sertão: cobre do seu dirigente local.

Clerisvaldo B. Chagas, 6  de fevereiro de 2018

Crônica 1.839 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

QUEM FOI O PRIMEIRO ESCRITOR SANTANENSE?

Oscar Silva (Foto: Fruta de Palma)

Como Santana do Ipanema, não possui rastreamento, nem arquivo e nem coisa alguma sobre seus escritores em território brasileiro, fica difícil afirmar o título deste trabalho. É que alguns santanenses tornaram-se escritores após deixarem a terra.  Sobre eles, essa geração nunca ouviu falar. Mas estou me referindo a escritores verdadeiros e não a certas coisas que surgem como fantasia de Carnaval.

Apenas dentro da minha área de pesquisa (o que é muito pequena) tenho como primeiro trabalho publicado, uma conferência, “Asas para o pensamento”, em 1945, em Maceió, pelo escritor da minha rua, Oscar Silva. Tenho ainda como segundo trabalho publicado por um santanense, “O Cavaleiro da Esperança”, obra em cordel, em 1946, ainda do escritor Oscar Silva. (essa obra foi apreendida pela polícia do, então governador, Silvestre Péricles).

Como terceira obra publicada por um santanense, temos o “Caderno de Geografia do Brasil”, em 1951, pelo escritor maiúsculo Tadeu Rocha. Apontando como quarta obra publicada por autor da terra, temos “Fruta de Palma”, novamente de Oscar Silva, editado em 1953, em Maceió, pela Editora Caetés. O quarto, o quinto e o sexto lugares, são ainda ocupados por Tadeu Rocha com: “A Geografia moderna em Pernambuco”, em 1954, “Roteiros do Recife”, em 1959, e “Delmiro Gouveia, o pioneiro de Paulo Afonso”, em 1963.

Como já dissemos, alguns santanenses que escreveram livros, nunca mais voltaram a terra e, para nós, seus livros e eles se tornaram ilustres desconhecidos. Quanto à resposta em saber seus motivos, só eles sabem. Pessoas partem muito cedo, esquecem a terra em que nasceu. Outras saem revoltadas com alguma coisa e nunca mais dão notícias. Nada disso, porém, foi o caso de Tadeu e de Oscar, em cujas obras Santana do Ipanema está sempre em evidência e trazem inúmeras revelações que fazem parte da nossa história ignorada por autoridades municipais e escolas.

Portanto, a classificação acima das seis primeiras obras publicadas por santanenses, pode não está correta, mas, diante das considerações que estes homens tiveram com Santana, dificilmente esta lista deixará de ser vitoriosa.

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de fevereiro de 2018

Crônica 1.838 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoas

SERTÃO E A VITÓRIA TRÊS EM UM

Centro de Santana do Ipanema (Foto: Clerisvaldo B. Chagas)

Abrimos o mês de fevereiro dentro do anúncio não oficial da implantação de uma faculdade particular no Sertão alagoano. Para a cidade polo, Santana do Ipanema, segundo os comentários, a referida faculdade estará funcionando por aqui ainda este ano com os cursos de Fisioterapia, Enfermagem e Direito.

Mesmo sendo uma faculdade particular, as alvíssaras são motivos de regozijo e mais uma merecida mega festa para o Sertão inteiro. Isto faz lembrar os filhos de Santana tentando formatura em cidades como Belo Jardim, Arco Verde (Pernambuco) Pão de Açúcar, Palmeira dos índios e Arapiraca, lugares mais procurados nos últimos tempos.

A quem interessar os cursos, economizará nas viagens, alimentação e hotel, além de mais preservar a vida pelas estradas aventureiras.

Ganhará Santana do Ipanema definitiva consolidação como polo universitário do interior nordestino. Nova onda de estudantes de outras cidades buscarão serviços, notadamente em hotéis, pousadas, casas de lanches, postos de gasolina, gráficas, livrarias, papelarias, barzinhos, transportes e o Comércio em geral com suas compartimentações.

Certo que ainda estamos esperando a cereja do bolo que continua sendo a Medicina. Mas pode chamá-la que ela virá. Hoje em dia só não estuda quem não quer. Os convites ao tapete vermelho do Saber estão chegando por todas as ruas, becos e avenidas da facilidade. E nada mais valioso na vida de que o alto conhecimento que liberta.

É bom lembrar que a Festa do Feijão, acabou porque a fama cresceu mais do que a estrutura. Chegou gente por aqui de todos os recantos brasileiros, mas deu no que deu.

Santana do Ipanema há muito vem atuando com três bancos federais: Caixa, Banco do Brasil e Banco do Nordeste, despejando dinheiro e alavancando o desenvolvimento sertanejo. Com UNEAL, IFAL, UFAL e outros cursos particulares, a tendência é virar a Índia no trânsito por falta de alternativas para a mobilidade.

Tudo que foi feito até hoje pelo trânsito foi a ponte sobre o rio Ipanema e o Aterro na BR-316. Precisamos redesenhar o espaço físico da cidade, indenizando casas, terrenos… Criando novas vias com uma engenharia eficiente e um planejamento de alto nível.

Chega de administrações pífias e covardes que escravizam o povo e não passam de pedra de calçamento e recolhimento de lixo.

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de fevereiro de 2018

Crônica 1.837 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

OS QUATRO DA MODA DE ONTEM

Feira em Santana do Ipanema nos anos 60 (Foto: Domínio Público)

Aproveitando marca de sapato exibida no Face pelo nosso compositor Remi Bastos, resolvemos reagir com este trabalho saudosista. Vamos relembrar quatro objetos que atuaram fortemente no modismo do Brasil, particularmente em nosso Sertão das Alagoas, em torno dos anos 60, não necessariamente pela ordem.

Um deles foi um pente longo e preto, dito inquebrável. Era muito maleável e vendido na feira de Santana do Ipanema. Vendedores e rapazes adquirentes do objeto dobravam-no e faziam outras piruetas com ele e o pente na quebrava. Na época predominava a moda da cabeleira farta e fazia sentido comprar, usar e exibi-lo.

Dos falados de boas cabeleiras, lembramos apenas de alguns como o Gilson Alfaiate, o Pascoal de José Urbano, eu e um barbeiro, cujo nome não me recordo, mas havia pelo menos uns dez na disputa. Também não me chega à marca do objeto que foi após o pente menor e elegante marca “Flamengo”. Era o tempo da brilhantina.

Outra moda marcante foi a do relógio “Seiko” mesma época do “Oriente”. Os rapazes jogavam-no longe como uma pedra e nada acontecia a ele. Lembramos ainda o Jorge de Leusinger, fazendo isso na Rua São Pedro.

Teve também a moda – como escreveu o Remi – do sapato “Passo Doble”. Todo mundo queria comprar esse tipo de sapato que a novidade trazia como infinitamente durável, inclusive, seguido de boa propaganda que não era enganosa. Durava tanto que parecia sem fim! Muito bom para nós os estudantes (ginasianos) destruidores de sapatos. Era confortável, preto e sem beleza. 

E finalmente, a camisa mimosamente azul, manga comprida, elegante e também indestrutível chamada “Volta ao mundo”. Lindérrima e meu sonho de consumo.

Pense num rapaz: cabeleira vasta com brilhantina Coty, camisa Volta ao Mundo, calça de linho, pente Flamengo, meias Lupo, lenço italiano, cinto Ypu, sapatos Samello, relógio Oriente e perfume francês!

Ah! Somente no antigo Reino de Monte Mor.

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de janeiro de 2018

Crônica 1.8360 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

UMA CRÔNICA DOMINGUEIRA

BARRAGEM A MONTANTE. BARRAGEM A JUSANTE. (FOTO: B.CHAGAS)

Acordei com os passarinhos, montei nos dois pés e fui andar pela periferia, como sempre faço. Conversar, inquirir, curiar… Desci até à barragem, pensando que a rua que margeia a BR-316 (DENIT à barragem, rua de antigos quebradores de pedra) estivesse calçada. Nem vou dizer o que ouvi. Difícil andar por ela. Tive que ir para o asfalto, encolhendo-se para não ser atropelado na pista muito movimentada.

Foi assim que passou um maluco numa moto, com um doido na garupa, acelerando, gritando e perseguindo seus cavalos soltos no asfalto. Nunca tinha visto um negócio daquele e por pouco não sofri acidente grave. Os cavalos do bandido, aterrorizados e olhos fora de órbitas, entraram em estrada vicinal na cabeça da ponte, com uma velocidade das “mile” e uma peste!

O cabra da moto deu um cavalo-de-pau e retornou em direção ao centro. Passou dois motoqueiros com pessoas na garupa, pegando corrida (em dupla) por cima da ponte.

Cheguei à barragem apenas para bater algumas fotos e fazer contato com a Natureza. O assoreamento do antigo lago artificial no rio Ipanema, de mais de um quilômetro de espelho d’água, formou um bioma particular semi pantanoso naquele local. Fios d’água, poços, florezinhas multicores, areia grossa, vegetação rasteira, arbustos, arvoretas e árvores com até 20 metros de altura. Na parte inferior da barragem, também um panorama de encher os olhos, desde as pedras do rio, aos batentes da serra da Remetedeira, com sopé de barro vermelho no verde da paisagem. De repente perdi a coragem de encarar a estrada rumo ao riacho Salobinho ou a trilha que leva ao Poço Grande.

Nem irei falar do que estar acontecendo ali, sobre o meio ambiente nas areias do rio que já é de amplo conhecimento de todos. Apenas procurei gozar ao máximo o que a Natura poderia me oferecer. Respirei o mato verde, tomei o Sol da manhã, conversei com muita gente humilde, matei a saudade para não ser morto por ela e, ainda cedo da manhã do domingo (21), retornei ao lar, feliz como quem havia escalado o Pico da Neblina.

 

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de janeiro de 2018

Crônica 1.835 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

BATALHA E O LIVRO DE YSNALDO

Centro de Batalha (Foto: Ângelo Rodrigues)

Somente agora se acha em minhas mãos, o livro “Resquícios de minha temporada em BATALHA, capital da bacia leiteira alagoana”. O livro do bancário e advogado – hoje desfrutando sua aposentadoria – José Ysnaldo Alves Paulo, teve seu lançamento no final do ano passado, em Batalha, em comemoração ao aniversário daquele importante município sertanejo. Foi impresso na Fonte Editorial e consta de 299 páginas em papel fosco e amarelado o que motiva o conforto dos olhos do leitor.

Estamos agradecendo a sua referência ao nosso livro “Ipanema, um rio macho”, às páginas 125, 126, 127, 128 e 129 e também como uma das fontes de pesquisa à página 289. As gordas citações referem-se ao rio Ipanema e, quando da passagem da nossa expedição por aquele festejado município.

Todos os autores têm suas preferências dentro da própria área dos seus escritos. Assim acontece no livro BATALHA, quando o foco de Ysnaldo estar dirigido para o social, num mergulho profundo naquela organização batalhense. O autor faz algumas incursões pela parte física, mas o forte são as pessoas da sua convivência e das pesquisas realizadas que, finalmente conta a história da urbe por este ângulo.

O livro, boa capa e ótima encadernação, traz a polêmica origem do nome do município em algumas opções. Para nós continua valendo o que dissemos ao autor por telefone ainda em sua fase de pesquisa. O próprio Ysnaldo encontrou a nossa referência em fonte segura que a mim, como curioso, parece a mais aceita, descrita na íntegra por ele. Entretanto, a escolha ficou em aberto para os filhos de Batalha.

O homem de Viçosa, levado a Batalha pelas circunstâncias da vida, durante uma década, amou, procurou entender, pesquisou e soube presentear à sociedade que o acolheu como funcionário de um banco da cidade. O autor deve estar muito feliz e, muito mais vibrante ainda, deve estar o povo da cidade sertaneja que teve sua história documentada.

O livro “Resquício de minha temporada em BATALHA, capital da bacia leiteira alagoana”, além do objetivo principal, torna-se também grande fonte de pesquisa para as novas gerações que procuram entender Batalha no todo sertanejo. Louvem-se à coragem, o desempenho e à determinação de José Ysnaldo Alves Paulo.

Batalha continua festejando.

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de janeiro de 2018

Crônica 1834 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

PROCURANDO SOLUÇÕES

VIDA E MORTE DE UMA LAVANDERIA (FOTO: B. CHAGAS)

Embora não seja nossa atribuição apontar as mazelas da terra, surgem determinadas coisas que pedem encarecidamente uma força para solução de problemas. Mesmo com o número de vereadores aumentado de nove para onze, tem alguma coisa errada com os fiscais do povo.

Nada fomos investigar, pois como dissemos acima, não é da nossa alçada, embora qualquer cidadão possa apontar e reivindicar sobre o lugar em que mora. Mas quando o absurdo é grande demais, não se pode fazer outra coisa a não ser berrar em favor dos humildes contra os ouvidos moucos. É preciso um olhar mais aceso das autoridades para a população carente que é filha do mesmo pai que criou o mundo.

Passamos pelo chafariz construído para lavanderia do povo mais pobre, no Bairro São José. Construção ainda feita pelo, então, prefeito Nenoí Pinto e que muito serviu à população carente. Encontramos a outrora lavanderia abandonada em estado lastimável, praticamente em ruínas e servindo de estábulo.

Um fedor insuportável no seu interior, deterioração generalizada, inclusive telhado/peneira. São, entre dez e doze boxes divididos em duas alas, cujos azulejos estão praticamente irrecuperáveis. Não existe vigia do bem público e os aproveitadores estão perto da demolição completa do prédio. A reclamação com o descaso é motivo de revolta surda do povo que utilizava a lavandaria quando decente e conservada.

O chafariz dentro do lixo e do abandono ainda funciona, quando várias pessoas para o local se dirigem em busca de água doce. Entre os onze vereadores santanenses, três são do próprio Bairro São José e moram em torno da citada lavanderia em raio de menos de duzentos metros.

Como simples cidadão também do bairro, estamos apelando para as autoridades assim como alguns moradores que não sabem mais o que fazer. Será que é preciso reportagem da televisão? A lavanderia está implantada por trás de escola municipal servindo de péssimo exemplo público que vem se arrastando por algumas gestões.

Quanta falta de sensibilidade!

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de janeiro de 2018

Crônica 1.833 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

ALBERTO AGRA E A PRAÇA DO TOCO

Praça Alberto Nepomuceno Agra, que ficou também conhecida como Praça do Toco em Santana (Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net)

Tive três bons professores de Geografia em minha vida, mas Alberto Nepomuceno Agra foi o maior deles e o responsável pelo meu amor à profissão. Intelectual, austero, professor, fazendeiro, dono de farmácia e ex-pracinha, Alberto não era de elogiar ninguém e economizava o riso.

Este cidadão foi ainda um dos pioneiros dos transportes coletivos Santana – Maceió, fundador de Companhia Telefônica na cidade, um dos fundadores e diretor do Ginásio Santana, da Rede Cenecista. Além disso, prestou inúmeros outros relevantes serviços à sociedade e sempre esteve presente em todos os grandes acontecimentos municipais.

Certa feita nos encontramos no Comércio e eu – todo acanhado diante daquela autoridade – fui surpreendido quando ele me disse: “Já corrigi as provas, coloquei a sua como uma das primeiras”. Quase não dormi à noite, ante aquela inusitada deferência.

Vários anos depois, já atuando como professor de Geografia em várias escolas de Santana, novo encontro.   E ele: “Não me chame Seu Alberto, e sim, Alberto”. Fiz ver ao mestre a minha admiração pelo seu trabalho na matéria geográfica e ele me respondeu com a maior naturalidade: “Você me superou”. Atônito, respondi apenas: “Que é isso, Alberto!…”.

Mas a afirmação de Nepomuceno foi como se eu tivesse escutado o espocar de mil foguetes no alcance do meu objetivo: Desde a adolescência que eu queria atingir um dia a intelectualidade dos três homens que eu considerava os mais inteligentes de Santana e ficar na mesma plataforma: Alberto Nepomuceno Agra, Aderval Tenório e Eraldo Bulhões.

O tempo passou e o meu Velho Mestre partiu deixando a Geografia em minhas mãos, em minha cabeça e no meu espírito.

XXX

As autoridades, criminosamente ignorando o valor histórico da única praça original de Santana do Ipanema, construída na década de 1940 para homenagear um deputado federal que muito ajudou a nossa cidade, Emílio de Maia, destruíram quase tudo na fúria de trator. Para serem agradáveis, retiraram o nome do primeiro benfeitor para colocarem o nome do meu mestre que se fosse vivo jamais teria consentido semelhante aberração.

Mais uma vez a ignorância venceu a racionalidade. Atualmente o santanense perdeu as duas homenagens: nem Emílio de Maia e nem Alberto Nepomuceno Agra. A Praça agora estar sendo chamada PRAÇA DO TOCO.

As autoridades atuais precisam corrigir a injustiça transferindo o nome de um dos maiores santanenses da nossa história, para um lugar decente que até poderia ser uma futura ponte sobre o Ipanema, a futura Praça de Eventos ou mesmo um futuro calçadão no centro da cidade, sem cometerem o mesmo erro.

PRAÇA DO TOCO! QUE AFRONTA A QUEM DEU TUDO POR SANTANA!

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2018

Crônica 1.832 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

TEMA EM DÉCIMA

Ilustração (Foto: Rostam Medeiros)

Para a sensibilidade de Remi, Fábio Campos, Goretti Brandão, Kélvia, Lícia Maciel, Vasko, Mendes e Lúcia Azevedo.

Tema em décima:

Meu bioma é a caatinga

Da caça e do predador

 

Meu pai é mandacaru

Minha mãe é macambira

Meu doce é de jandaíra

Meu feijão é o andu

Meu vizinho é mulungu

Xiquexique é professor

Alastrado é meu senhor

Minha bebida é a pinga

Meu bioma é a caatinga

Da caça e do predador.

 

Sou primo do espinheiro

Não gosto de gerigonça

O meu cavalo é a onça

Creme dental juazeiro

Vaga-lume é candeeiro

Rasga-beiço meu credor

Pinhão roxo é meu doutor

Meu colchão é sacatinga

Meu bioma é a caatinga

Da caça e do predador.

 

Minha irmã é urtiga

O meu mano é cansanção

Meu chamado é o trovão

Minha comadre é formiga

Jararaca minha intriga

Meu jumento é inspetor

Maribondo o vingador

Quando espanto ele se vinga

Meu bioma é a caatinga

Da caça e do predador

 

Barriguda é meu ciúme

Meu comandante o facheiro

O guará meu companheiro

Bom angico meu curtume

A jurema meu perfume

Furão meu farejador

Coleira meu cantador

Mosquito agulha e seringa

Meu bioma é a caatinga

Da caça e do predador

 

Grossas como baraúna

Da morena são as coxas

Por flores brancas e roxas

Sabiá faz a tribuna

Minha aroeira é coluna

Meu instinto é pegador

Meu cachorro é caçador

E a minha reza é mandinga

Meu bioma é a caatinga

Da caça e do predador

 

Meu escudo é o gibão

Gitirana é minha Juba

Minha sombra é timbaúba

Imbuá meu anelão

Cascavel meu Lampião

Papagaio é locutor

Meu canário é o cantor

O meu estilo é coringa

Meu bioma é a caatinga

Da caça e do predador

 

(FIM)

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de janeiro de 2018

Crônica” 1.831 – Escritor Símbolo do Sertão Alagoano