Impostos, políticas públicas e corrupção: entre chagas e benesses a população vive num fogo cruzado

Todos somos contribuintes, recolhemos impostos, taxas e outros tributos aos governos federais, estaduais e municipais; entre os principais estão: IPI, ICMS, IPTU, ISS, ITR e IR; mas, para vão todos esses recursos?

Na hora em que compramos uma agulha, estamos recolhendo de imposto 33,78%, quando compramos um automóvel de luxo recolhemos 40,74% de imposto; tudo o que consumimos contribuímos para que o País arrecade mais tributos e com isso possa investir em benefícios à população.

Segundo o site Impostômetro, que registra a quantidade de impostos pagos pelos contribuintes brasileiros nas esferas federal, estadual e municipal, esta marca já ultrapassa R$ 1 trilhão de tributos pagos este ano.

Em 2012, somente de ICMS, Alagoas arrecadou, segundo a Secretaria de Estado da Fazenda, R$ 2.454 bilhões.

Em Santana do Ipanema, município fincado no sertão alagoano, onde boa parte do ano os seus quase 45 mil moradores estão preocupados em solucionar a falta de água, a Câmara de Vereadores aprovou no final do ano passado um orçamento de cerca de R$ 90 milhões. A previsão é que este recurso chegue aos cofres públicos municipais através, principalmente, do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que na verdade está voltando ao município pelo fato de o consumidor comprar diariamente alimentos, eletrodomésticos, bebidas entre outros bens de consumo. De uma forma direta ao município, nós santanenses recolhemos ainda ISS, IPTU e ITBI, que ajuda nesse orçamento.

Mas, a pergunta que deixa muito contribuinte confuso é: “para onde está indo todo esse dinheiro recolhido através do nosso consumo diário; que ocorre desde o nascimento até a hora da morte?

As muitas propagandas divulgadas pelos governos sugerem que o imposto que pagamos está sendo investido, entre outros, em educação, saúde e segurança, o que não podemos discordar, pois temos realmente esses benefícios.

No entanto a demanda da sociedade vai muito além do que as necessidades citadas acima.

Quem há de discordar que precisamos de educação, saúde, segurança e estradas de qualidade, por exemplo?

Em l982, durante a conferência internacional Eco-92, realizada na cidade do Rio de Janeiro, foi discutido a Agenda 21.

Organizada pela ONU, a Eco-92 contou com a participação de 179 países, onde foram discutidas medidas para conciliar o crescimento econômico e social com a preservação do meio ambiente.

Muitos temas relevantes foram debatidos nesta conferência. Podemos citar, por exemplo, o combate à pobreza; planejamento e ordenação no uso dos recursos da terra; combate à desertificação e seca; desenvolvimento rural com sustentabilidade, além de outros tópicos não menos relevantes.

Cada comunidade tem suas peculiaridades, por isso é importante que a cada ano os municípios discutam a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO), onde a população, e não apenas a Câmara de Vereadores, possa elaborar seus orçamentos fiscais, da seguridade social e do Poder Público.

A partir dai poderemos ter ideia para onde vai e como serão gasto os recursos arrecadados pelo nosso município.

Portanto, se arrecadamos impostos é mais do que óbvio que queremos, e temos direito de receber benefícios de qualidade – as chamadas políticas públicas.

Hospitais, estradas, segurança, creches, escolas, quadras poliesportivas, habitação, sementes, transporte, são alguns dos benefícios mais urgentes que necessitamos.

Mas ai entra um grande entrave, a chaga incrustada na sociedade brasileira, a corrupção. No momento de criticar somente os outros é que são corruptos, principalmente os políticos. Como se esses políticos não fossem pessoas comuns de convivência diária com a sociedade.

O tema corrupção precisa ser debatido nas escolas, nas igrejas, nas associações de bairros, e tantos outros locais, afim de que possamos ‘acordar’ para o mal que estamos fazendo a nós mesmos. Precisamos acabar com a ideia de que somos os mais ‘espertos’ e que devemos levar vantagem em tudo.

Em artigo intitulado “Corrupção: crime contra a sociedade”, escrito em abril de 2012, o Frei Leonardo Boff afirma, baseado na Transparência Internacional, que “o Brasil é um dos países mais corruptos do mundo”.

O teólogo brasileiro, defensor das causas sociais pelo mundo, chama a atenção para a seriedade do problema, “aqui ela [a corrupção] é histórica, foi naturalizada, vale dizer, considerada com um dado natural, é atacada só posteriormente quando já ocorreu e tiver atingido muitos milhões de reais e goza de ampla impunidade”.

Dois pontos me chamaram a atenção nesse trecho do artigo de um dos expoentes da Teologia da Libertação: a corrupção ser considerada natural e a impunidade de corruptos e corruptores.

No momento em que achamos que desviar recursos públicos, por mínimo que seja, é normal, passamos a ser responsáveis pela impunidade em que ocorre em todos os âmbitos, públicos ou privados, há anos em nosso país.

Conclusão: se contribuímos para termos escolas, hospitais, estradas, segurança, cultura e tantos outros bens públicos, e queremos o melhor, por outro lado a corrupção tem sido a grande contribuinte para que isso chegue até nós de má qualidade. E no final a nossa naturalidade leva os corruptos à impunidade.

 Blog do Sérgio Campos

11 out

1 Comment

Saquear caminhão de água… o que mais falta pra chamar sua atenção doutor?

Rapaz, o negócio tá feio pra bandas do sertão alagoano; se é que pode ficar pior. A longa estiagem, associada às constantes danificações das bombas que abastecem as cidades sertanejas, pela Companhia de Abastecimento e Saneamento de Água de Alagoas (Casal), durantes alguns dias levaram moradores de uma comunidade de Santana do Ipanema a uma atitude de extremo desespero.

Munidos de baldes e bacias, homens e mulheres, adultos e adolescentes cercaram um caminhão pipa, que levava água para uma escola da comunidade, que já sofria a falta de água a cerca de três dias, e exigiram que o motorista parasse o veículo e liberasse o “precioso líquido”

Sem outra alternativa, o condutor do caminhão foi obrigado a liberar a água, que em questão se minutos já não tinha um pingo sequer no tanque do veículo.

O chefe da Defesa Civil de Santana do Ipanema, Edmilson Idelbrando “Tuca Maia”, chegou a ir ao local, a fim de acalmar a população, mas quando chegou o veículo já estava vazio.

“Nunca tinha visto tanta gente junta, com baldes e panelas; parecia um formigueiro; de longe quase não se via o carro”, disse Tuca Maia, que ainda afirmou que não tem sido fácil lidar com o problema da falta de água no município; tanto na zona urbana quanto rural.

A estória se transforma em verdade

Esse fato me fez recordar um causo em que os antepassado contam em forma de piada. A realidade é que foi bem parecido com esse episódio ocorrido esta semana.

Conforme a estória (agora tenho minhas dúvidas se realmente não aconteceu) quando começou a chegar os primeiros carros pras bandas da caatinga, uns até corriam com medo sem saber que tipo de “bicho” era aquele. Com o costume perdeu-se o medo e se ficou sabendo como funcionava a tal engrenagem.

Certa feita, um fazendeiro se deslocava da cidade para sua fazenda, em seu Jippe, quando foi surpreendido por alguns sertanejos municiados e foices e facões, que o ordenavam que descesse daquela “coisa”.

Assustado, o proprietário disse que não fizessem nada com ele; que poderiam levar o carro, mas que o deixassem vivo.

– Doutor – disse o líder dos esqueléticos sertanejos – não queremos fazer mal ao senhor, é que soubemos que isso ai carrega algo que estamos a necessitando urgentemente”.

– Pois fiquem à vontade, afirmou o fazendeiro.

Conforme conta a história, os sertanejos abriram o caput o carro e foram direto no radiador, de onde retiram toda a água e saíram em disparada.

Pelo sim pelo não, o sertanejo há anos sobre com a promessa de acabarem com a seca; quando sabemos que os governantes já poderiam, sem muitas delongas, ser verdadeiros e trabalhar na intenção de conviver com ela.

Cisternas, poços artesianos, irrigação e preservação da caatinga já para o sertanejo.

Blog do Sérgio Campos

CRONICA ACREDITE SE QUISER Crônica acredite se quiser

NOVIDADE? NENHUMA… ACREDITE, SE QUISER!

Pra quem não sabe, dentre tantas histórias sobre a criação do refrigerante Coca-cola, tem uma que diz que foi criado inicialmente como um xarope, um tônico para cura de todos os males, enfim uma panacéia. Pois bem já se vão 127 desde então. Recentemente o refrigerante sofreu poderoso “ataque” do famigerado jogo de marketing. Alguém apareceu no facebook acusado-o, de uma sequela grave motivada pela ingestão da bebida. Vejam só! Pra recuperar as vendas o fabricante saiu com essa:

“Cientistas chineses se dispuseram a descobrir como lidar com uma ressaca desde o início. A resposta é mais banal do que se imagina: Sprite. Sabe-se que os piores sintomas da ressaca não são causados pelo álcool em si, mas pela reação do organismo para tentar decompor o álcool ingerido. Por isso, muitos recomendam tomar uma dose de bebida alcoólica para “rebater” a ressaca. O organismo desencadeia duas reações químicas para decompor o álcool.

Primeiro, o fígado transforma o álcool em acetilaldeído e depois transforma esse segundo produto em acetato. O acetato não faz mal ao organismo, mas o acetilaldeído é prejudicial ao fígado e responsável pelos principais sintomas da bebedeira: náusea, vômito e dor de cabeça.

Cientistas de uma universidade em Guangzhou estudaram como as bebidas afetam a maneira como o corpo metaboliza o álcool ao pesquisar 57 tipos de bebidas: chás, bebidas gaseificadas e outras foram analisadas, segundo reportagem do jornal inglês Independent.

Enquanto alguns chás frearam o metabolismo do álcool, uma bebida conhecida como Xue bi acelerou a decomposição do álcool, encurtando a ressaca por causa da menor exposição ao acetilaldeído. No resto do mundo, a bebida atende por Sprite. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Food and Function da Royal Society of Chemistry.” (Fonte: Yahoo.com.br/notícias)

Entenderam? Caiu a venda de Coca-cola anuncia o “Sprite” como curador de ressaca! Acredite se quiser! Mais interessante é o nome do refrigerante “Sprite” na China Xuebi. Um anagrama de Xibiu. Ou seja pra curar ressaca chupe Xibiu! Que aqui no Brasil é uma bala doce…

Essa outra é ainda mais engraçada. Coisa de americano:

“Um grupo de alunos da Universidade do Tennessee foi suspenso após ser pego numa prática duvidosa. Um dos alunos, um rapaz de 20 anos, foi parar no hospital por ter ingerido álcool através do reto. A brincadeira é chamada de “butt chugging”.

Quando ingerido por meio da via retal, o álcool é absorvido de forma muito mais rápida pelo organismo: isso porque a região tem mais vasos capilares e veias. Como resultado, os efeitos da bebedeira acontecem mais rápido. No dormitório, foram encontrados outros jovens embriagados e diversas caixas de vinho.

Segundo o jornal Konoxville News Sentinel, o rapaz chegou ao hospital com um nível muito alto de álcool no sangue: cerca de 0,4% e também apresentava sinais de violência física e sexual. Os alunos foram suspensos pela Universidade. (vi no Washington Post).(Fonte: Yahoo.com.br/notícias).

Juro que eu não sabia que os americanos gostam de tomar no c… Literalmente!

Procurei uma piada engraçada com o tema ressaca e não encontrei. Aí me lembrei de meu amigo Tonho Neguinho, o cabra mais arretado de Senador Rui Palmeira! De quem nunca mais contei nada. Pois bem, Tonho foi passar uns dias em Aracaju na casa de um de seus filhos, que tinha uma garagem pra alugar. Sentado na porta, numa baita duma ressaca. Aí chega uma mulher interessada em alugar o ponto, e pergunta:

-Seu Zé! Passa ônibus aqui na porta?

-Minha senhora! Na porta passa um guarda-roupa, uma mesa! Ônibus não…

-Essa rua vai dá no shoping?

-Ela pode até ir. Mas eu prefiro que ela fique aí mesmo…

Nisso parou um ônibus próximo. E a dona continuou o interrogatório:

-Esse ônibus vai pra praia de Atalaia?

-Se a senhora tiver um biquíni que dê pra ele…

Um convite a ação

(Para Cristovam Buarque, nosso mais proeminente semeador de utopias)

Profícua, mobilizadora e instigante a leitura do novo livro de Cristovam Buarque (“Reaja”, ed. Garamond, 54 páginas). Um pequeno livro – no formato – mas “grande” em conteúdo, com uma capacidade ímpar de nos chamar à mobilização em torno de um único movimento: reação.

O livro é um “convite” para reagirmos frente aos desmandos políticos e institucionais, frente às desigualdades socioeconômicas, às incoerências do setor público, à brutal agressão ambiental patrocinada pela sanha consumista alimentada por produções excessivas, à corrupção em diferentes níveis, a falta de moral que permeia algumas Instituições do “alto poder” nacional.

Com mais esse livro, Cristovam Buarque promove, na verdade, um panfleto-manifesto. Uma espécie de “grito de alerta”, um convite/chamado à ação para a reação, para que não nos acomodemos; para que não deixemos escapar a arte de sonhar, ainda que sejam sonhos impossíveis, meras quimeras ou tópicas utopias, mas que, nem por isso, deixam de ser possível realizá-las, dentre essas, a de transformar o mundo.

A cada página, uma reflexão nos chamando a tomar consciência. A cada tópico, um especial pedido para que lutemos bravamente na construção de um mundo melhor, de um meio ambiente que não sofra com o descaso da economia produtivo-expansiva e possa “respirar” aliviado, sem a pressão exercida por uma economia do crescimento que destrói para se fazer grande e pujante.

Um convite, um chamado, uma conclamação para que todos lutem, por exemplo, “contra uma civilização que produz quase setenta trilhões de dólares por ano, dez mil por pessoa”, mas que, em muitos casos fecha os olhos para as “crianças com fome, sem roupas, brinquedos, higiene” (p. 9).

O texto brada para que não deixemos de protestar frente aos desmandos de uma estrutura econômica que destrói a natureza em nome do progresso, em nome de fazer a economia crescer para assim fazer sorrir o mercado de consumo, de uma economia que pouco se importa se, para produzir mais mercadorias, rios são poluídos, o ar é contaminado, os recursos hídricos são escasseados, a biodiversidade é ultrajada.

Por isso o autor de “Reaja” pede para que não nos acostumemos “com o fato de que, para acender a luz de sua casa, foi preciso destruir florestas, expulsar índios de seus hábitats, exterminar espécies biológicas e até biomas inteiros” (p. 10)

O texto de Buarque ecoa como um grito de ordem para que reajamos às imposições vindas do mercado, consubstanciadas numa economia brutalmente desigual que separa e não inclui, de uma macroeconomia da injustiça social, de uma estrutura política perversa e tacanha que, em pleno século XXI, ainda privilegia quem tem os bolsos e as contas bancárias mais cheias de cédulas ou influência e apadrinhamentos múltiplos, que apenas nos vê (só em épocas de campanha eleitoral) como “eleitores”, não como cidadãos.

“Reaja à propaganda que amplia suas necessidades e manipula seus gostos e gastos” (p.24). Eis aqui um grito contra esse “deus mercado” que nos quer “converter” à “religião do consumo fácil”, conspícuo (como gostam de dizer os economistas), regado de futilidades (como observam e nos alertam os filósofos)

“Reaja contra a economia que considera produtos as armas que matam e comemora o aumento da riqueza medido pelo uso delas” (p. 27). Eis aqui a estupidez de um indicador chamado PIB que contabiliza de bom grado as mortes, os terremotos, os desastres automobilísticos, a poluição dos rios, pois tudo isso faz a economia crescer, faz o PIB disparar e ajuda a eleger (dá votos) muita gente.

Ao nos chamar à reação contra todos esses desmandos, Buarque deixa expresso nas páginas de “Reaja” o sentimento de que a vida só tem sentido quando passamos por ela com o intuito de transformar algo, de não nos acomodarmos à letargia, mas, antes, de colocarmos mãos na massa para moldarmos um novo mundo, um mundo diferente, mais fraterno, pautado numa nova maneira de construir às relações que enlaçam o nosso dia a dia numa perspectiva de melhoria da qualidade de vida.

Esse “reaja” propagado por Buarque vem nos alertar para o “não se acostume”, evidenciando que uma eficaz saída para superarmos os mais diferentes desequilíbrios passa pela mobiliz(ação), pela re(ação) e pela agiliz(ação).

“Não se acostume com o conforto pessoal que vem da concentração de renda e com o custo de destruição ambiental. Lembre que hoje não nos acostumaríamos com os privilégios da nobreza ou com a exploração de escravos. E naquele tempo todos estavam acostumados. Não se acostume agora com o luxo dos ricos ao lado da miséria dos pobres. Escravocratas são todos os que vivem indiferentes à pobreza que os rodeia.” (p.36)

Esse “Reaja” se enquadra naquela linha de análise defendida por Leonardo Boff: “Ideias boas podemos até tê-las aos montes, mas o que de fato move o mundo são as nossas ações”.

Dito ainda de outra forma por L. Boff, esse “Reaja” de Cristovam Buarque pode ser assim resumido: “O que convence as pessoas não são as prédicas, mas as práticas. As ideias podem iluminar. Mas são os exemplos que atraem e nos põem em marcha”.

Para sorte de todos nós, a história está repleta de exemplos que corroboram com o texto apresentado por Cristovam Buarque. De nossa parte, que não deixemos “escapar” mais essa oportunidade.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. prof.marcuseduardo@bol.com.br

A Coca-Cola dessa vez foi longe! e os “ratos” também…

“O relojoeiro de Goiás, Wilson Batista de Rezende, de 46 anos de idade, estaria processando a fabricante da bebida Coca-Cola aqui no Brasil por dano moral, por ter ficado doente após ingerir um refrigerante contaminado. Em contato com a fabricante do refrigerante por telefone, as informações que nos foram passadas são: A empresa tem ciência do processo e está aguardando a determinação da justiça; Sobre o corante caramelo IV: Em maio de 2012, o Center for Science in the Public Interest (CSPI – Centro para a Ciência a Favor do Interesse Público) realizou testes de análises químicas nos refrigerantes consumidos nos Estados Unidos e detectou a presença de 4- metilmidazol (4-MEI) em níveis bastante altos em duas marcas da bebida: A Pepsi e a Coca-Cola.” (Fonte: www.e-farsas.com/R7).

No tempo da “guerra fria” capitalismo, representado pelos EUA, versus socialismo, encabeçado pela extinta URSS (União Soviética da Rússia), quem vivia viu, venceu o capitalismo. Caiu o muro de Berlim e tudo mais. Isso abriria um precedente para as empresas capitalistas se instalarem nos países, antes fechados para o mundo. A Coca-cola viu nisso, um interessante jogo de marketing. Propagandeava a chegada desse produto em lugares, os mais inóspitos. Só não esperávamos que ela fosse tão longe!

Zé Lezin (o humorista Nairon Barreto) conta em um de seus trabalhos, que saiu com a família lá do interior de Picos no Piauí foram pra feira em Terezina. Entraram na bodega de seu Lunga e estava lá uma propaganda enorme: “Coca-cola é isso aí!” embaixo tinha uma peça de xita. Ele não contou conversa pediu: _Ô Lunga! Corta aí 10 metros de Coca-cola! Embrulha que eu vou mandar fazer um vestido pra mãe, de Coca-cola! Uma camisa pra mim, de Coca-cola…”

Na hora da descontração, da mesa do bar, da festinha entre amigos, o que não falta é criatividade, com relação a essa marca de refrigerante:

“-Você aceita dois dedinhos de coca?” (coca: corruptela de cócoras, claro!)

“Na falta de Fanta um “litraço” de coca vai bem?” ( Lhe traço de cócoras!)

Ratos e Coca-cola, duas coisas que não combinam. Agora ficou claro porque o fabricante desse refrigerante preferiu instalar uma grande fábrica desse produto em Sergipe, ao invés de Alagoas. É que aqui está cheio de “ratos” (taturanas, gabirus,etc.). A Assembléia Legislativa que o diga.

E lá estava eu dando minha aula, de repente parei e comecei a rir. Ninguém entendeu nada. É que lá no fundo, haviam vários cartazes colados, um trabalho sobre charges. Num deles aparecia um político, num discurso inflamado dizia:

-Esses bolsos aqui nunca viram dinheiro público!

Um gaiato na platéia emenda:

-De calça nova em deputado!

Fabio Campos 02.10.2013

No fabiosoarescampos.blogspot.com Breve o Conto inédito: “Lembranças por trás de Um Grito”

Combater a violência: qual a solução?

Guerras

1ª imagem – Guerra entre gregos e persas – 2ª imagem – Mortes por luta no campo – 3ª imagem – Protesto por assassinatos em Alagoas (Foto montagem Blog do Sérgio Campos)

Desde os primórdios da humanidade que se tem notícia de que há uma incessante tentativa de domínio de uma classe sobre a outra.

No Brasil, por exemplo, os primeiros colonizadores já chegaram impondo a mais antiga forma de violência: a escravidão. Primeiro com os índios e em seguida com os negros, dessa forma se constitui a sociedade brasileira.

A soma do trabalho escavo e a colonização mercantilista resultou no surgimento do coronelismo e das oligarquias, com seus grandes latifúndios e concentrações de renda.

Em relação ao Nordeste, a violência esteve marcada com maior evidência no campo, onde famílias tradicionais disputavam uma hegemonia territorial e política. Com isso criavam suas milícias, os conhecidos capangas; e o pequeno produtor, no fogo cruzado, não tinha muita escolha na disputa; ou se aliava a uma das oligarquias, ou fugia ou entrava na espingarda.

Os tempos mudaram; se modernizaram; a população anteriormente forte migrou para a zona urbana de forma rápida, onde ocorreu o chamado êxodo rural. Quem veio em busca de soluções só encontrou mais problemas, entre eles as mais diversas formas de violência.

Ao invés de crescerem; desenvolverem, as cidades incharam e as favelas são uma realidade em todo o Brasil, onde o que não falta são problemas.

Ao longo dos mais de quinhentos anos de existência, os governos oligárquicos brasileiros, com o aval das grandes potências internacionais, foram incapazes de mudar o quadro de miséria -por maldade ou incompetência – que por si só já é uma forma brutal de violência.

Diante deste quadro caótico em que nos meteram, resta-nos perguntar: “decidiremos nos unir em busca de soluções, das quais já tivemos promessas de reis, marechais e salvadores da pátria, ou vamos continuar numa acomodada inércia e achando que um dia, como num passe de mágica, vamos dormir e acordar no paraíso?”

Por fim, a pergunta principal do momento: “combater a violência, qual a solução?”

Para alguns a resposta está na ponta da língua: “mata esse infeliz, porque bandido bom é bandido morto”.

Como costumo dizer por aqui: “desde que me entendo de gente que se mata “bandido” e a cada dia só tenho visto aumentar o número de pessoas que são assassinadas em decorrência da violência. Isso se referindo apenas a violência relacionada ao banditismo, onde a droga está cada vez mais presente”.

Mas, se formos relacionar esses crimes as violências domésticas, sexuais, de fome, de desemprego, de alcoolismo, preconceito ou de corrupção, com certeza entraremos num labirinto onde acabaremos nos enrolando cada vez mais.

Nesta cidade em que nasci e vivo: Santana do Ipanema, no Sertão alagoano, onde convivemos pouco mais de 45 mil habitantes, há alguns anos atrás não se imaginava que se matasse tanto por aqui, e que o crime se tornasse tão banal.

Não é necessário ter números exatos para saber que o índice de violência em nosso município é altíssimo.

Em contrapartida os índices sociais são baixíssimos. Temos um déficit habitacional muito alto; muitas pessoas vivem na linha da miséria; temos pouquíssimas creches; nenhuma escola de tempo integral; zero de políticas públicas para esportes e cultura, além do alto índice de desemprego.

Vemos entrar e sair governante e nenhuma atitude ser tomada de forma impactante, a fim de que a violência diminua no município como um todo.

Já passou da hora de se unir, sociedade civil organizada, associações comunitárias, religiões, clubes de serviços, estudantes e poderes constituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário, num pacto de combate à violência, a curto e longo prazo.

Todos somos responsáveis. Resta saber se teremos coragem de assumir a responsabilidade sobre o problema, onde cada um renuncie a algo ou se doe, em prol de nós mesmos; ou estaremos fadados a se perpetuar em constantes reclamações, onde será sempre mais simples apontar o dedo para o outro.

 Blog do Sérgio Campos

Em Alagoas, ratos causam devastação e grilos pagam a conta

Foto: Divulgação

Vários meios de comunicação de Alagoas destacaram durante esta semana a enorme infestação de grilos que vem acontecendo em algumas cidades do interior do Estado, especialmente no sertão.

 

Escolher os grilos ou os ratos?

Apesar do incômodo, os grilos são inofensivos aos seres humanos, diferente dos ratos. Além do mais, os insetos em questão, relacionados aos gafanhotos, passam pouco tempo do ano criando algum tipo de indisposição a população, além do mais se resume a uma determinada região.

Enquanto que os ratos se proliferam por todas as partes e regiões e passam o ano inteiro causando enormes prejuízos a todos, principalmente aos mais pobres.

Em Alagoas, por exemplo, os ratos são vistos a qualquer hora e lugar. Apesar de os grilos, também, serem vistos pelo dia, a sua maior incidência acontece durante o período noturno.

Semelhança

Talvez a única semelhança entre o grilo e rato seja um tipo de alimento. Isso mesmo, os dois se alimentam de folhas.

Mas aí você poderá estranhar essa minha afirmação, de que ratos comem folhas.

Pelo menos os de Alagoas são especialistas em folha, assim como alguns pelo Brasil. Não as que alimentam algumas espécies de grilos, mas as folhas de pagamento; nesse quesito eles são imbatíveis e insaciáveis.

O último caso de consumo insaciável de folha, por parte dos roedores famintos da terra dos marechais, se deu na Assembleia Legislativa. A Casa Tavares Bastos, localizada no Centro de Maceió tem se tornado ponto de consumo dessa espécie de mamífero.

No entanto, o que não falta em Alagoas são “fast-food” para ratos catitas e cabirus. Além da capital, que oferece um sem número de locais, as cidades, grandes e pequenas do interior também têm locais convidativos onde oferecem o mais diversificado cardápio aos ratinhos e ratões; enquanto os ratos engordam sem serem perturbados, os grilinhos comem pouco e ainda têm que ficar em seus buraquinhos apenas fazendo cricri e tentando se livrar de uma sapatada.

Blog do Sérgio Campos

É POSSÍVEL MUDAR A POLÍTICA?

    A honestidade no mundo de hoje é rara. Principalmente, no campo da política, onde a maior parte dos nossos representantes políticos possui alguma pendência jurídica. A política brasileira nem sempre andou na mesma calçada da ética. Melhor dizendo, quase nunca andou. A dúvida e apatia contra a política são precedentes para que a má política seja abastecida. Para que só tomem poder aqueles que possuem terceiras intenções. A política é vista como uma área imprópria para homens de bem. Visão esta que é errada. Se pararmos para analisar que somente pelo campo da política existe a possibilidade de mudar a política. Ora, se você quer andar na chuva, você vai se molhar.
    A apatia criada contra a política é repassada para as gerações como se a política nunca terá “cura”. Ou seja, é como se a política não tivesse mais condições de reestruturar os problemas vividos no país. É fato que, certa parcela de apatia é necessária para se criar uma barreira, ou seja, para que a ingenuidade não nos force a acreditar em tudo que os políticos julgam como certo. Não estou querendo dizer que a política é um refúgio paradisíaco, e nem que é um mar de corruptos e hediondos. Porém, deve-se ter o senso crítico para perceber e analisar os fatos imparcialmente. Não se tem como mudar a política senão por ela mesma.
    O que se vê é uma juventude que não se interessa pelas possibilidades de mudança, que desacreditam antes de tentar, que preferem a desfeita. O fato de julgar a política como algo desnecessário já o faz um contribuinte para a situação de calamidade. Como já disse em outro texto, a melhoria de um conjunto depende da melhoria individual. Não existe mudança sem o primeiro passo. Não sou e nem quero ser utópico, todavia acredito que cada mobilização que fazemos move um milímetro positivo.

Financiando a aparência da felicidade

marcus_0311Muito interessante e oportuno o discurso proferido por Jose Alberto “Pepe” Mujica, presidente do Uruguai, na 68° Assembléia Geral da ONU (em 24/09/13): “A humanidade sacrificou os deuses imateriais e ocupou o templo com o deus mercado, que organiza a economia, a vida e financia a aparência da felicidade. Parece que nascemos só para consumir e consumir. E quando não podemos, carregamos a frustração, a pobreza, a autoexclusão”.

Pepe Mujica ainda mencionou ter “angústia pelo futuro” e contextualizou que a nossa “primeira tarefa é salvar a vida humana”. Além disso, o governante uruguaio ressaltou a necessidade em defender as riquezas naturais: “Carrego a dívida social e a necessidade de defender a Amazônia, nossos rios (…)

O discurso de Mujica, além de ser pontualmente interessante, é também oportuno para se discutir a busca pela felicidade que, pretensamente, estaria repousada no ato de consumir, característica típica da sociedade de consumo capitalista.

Em outras palavras, o presidente do Uruguai reafirmou a crítica disparada especialmente pela economia ecológica (ciência e gestão da sustentabilidade, na definição empregada por Martinez-Alier) apontando dedo em riste para a sociedade de mercado que se empanturra de futilidades, e se regozija na superficialidade estabelecida no consumo de massa, como se os elevados níveis de consumo fossem, per si, os determinantes máximos para se alcançar a felicidade.

Por trás desse deus mercado que, como bem disse Mujica, “financia a aparência da felicidade” há que se observar a existência de milhões de seres humanos vagando por aí, completamente alijados do consumo básico e indispensável para a manutenção da vida.

Esses, os excluídos da economia mundial, para usarmos a expressão empregada por Amartya Sen (Nobel em economia), se atormentam diariamente com a fome, com a miséria, com a ausência de condições básicas de higiene, sem acesso à água potável, a saneamento básico, sem moradia, sem esperanças num amanhã mais calmo e próspero.

Ao todo, são quase 1 bilhão de estômagos vazios e bocas esfaimadas que conformam os excluídos da economia mundial apenas em relação aos que passam fome, “perambulando” pelas grandes cidades do mundo. Esses são os desesperançados que se contrapõem aos 20% da humanidade (1,4 bilhão de pessoas) que se chafurdam na prática do consumo fácil, abocanhando 80% de toda a produção mundial.

Contudo, cabe indagar: será que esses “privilegiados” do consumo, por deterem essa “facilidade” são mais felizes (possuem mais bem-estar) que os 5,6 bilhões de pessoas (80% da população mundial) que estão “do lado oposto do balcão de consumo”?

Felicidade estaria nessa facilidade em consumir? Dirigido por Helio Mattar, o Instituto Akatu, a maior referência brasileira quando o assunto é “consumo consciente”, em recente pesquisa intitulada Rumo à Sociedade do Bem-Estar mostrou que o brasileiro relaciona o bem-estar muito mais ao convívio social do que ao consumo.

Ser feliz é: estar com a família; ter amigos e relacionar-se bem com eles; e ter saúde. Segundo a pesquisa, para 6 em cada 10 brasileiros, conviver bem com a família e os amigos é parte considerável da concepção de felicidade. A tranquilidade financeira é entendida como atendimento às necessidades básicas para uma vida decente: boa alimentação, educação, saúde, lazer. Acima disso, o dinheiro e as posses materiais, para o brasileiro, não trazem felicidade – apenas 3 em cada 10 brasileiros “escolheram” a posse de tranquilidade financeira como elemento responsável pela felicidade.

A utilidade

Um ponto importante em torno dessa discussão está no fato da economia ser construída em cima da estrutura da utilidade. Utilidade (utilitarismo econômico) para os economistas só faz sentido se for pensada em forma de benefício, de bem-estar.

A base da Teoria do Consumidor passa pelo conceito de utilitarismo. Esse pode ser definido como o bem que se identifica com o útil. Os utilitaristas mais proeminentes – Jeremy Bentham (1748 – 1832) e John Stuart Mill (1806 – 1873) – foram claros a esse respeito: “a felicidade está na aquisição daquilo que nos é útil”. O útil, grosso modo, leva à satisfação, leva ao prazer, leva ao bem-estar.

Em essência, esse é o objetivo da economia: proporcionar oportunidades e escolhas disponíveis a todos no dia a dia, auxiliando o maior número de pessoas na busca de algo fundamental: de algo útil, de bem-estar.

Bem-estar, então, se relaciona à busca pela própria felicidade. Pelo menos é isso o que diz a ciência econômica quando recomenda a seus “fiéis consumidores” que maximizem a utilidade esperada, ou seja, que no ato de tomada de decisões (não somente no ato de consumir) cada indivíduo alcance o maior nível possível de utilidade.

Conquanto, nem sempre essa utilidade está relacionada apenas (e tão somente) ao ato de consumir, como insistentemente parece recomendar a lógica mercadológica. Posso perfeitamente obter utilidade (ser feliz, ter bem-estar) ao encontrar alguém, ao falar com alguém, ao pensar em algo prazeroso, ao ler um poema agradável, ao respirar ar puro, ao contemplar uma obra de arte ou um monumento público.

Estou assim consumindo algo? Sem dúvida; no entanto, não estou tendo nenhum dispêndio para esse consumo. Para desespero do capitalismo do moderno e de seus asseclas, nem sempre um “consumo” vem seguido de gastos. O resultado obtido aqui é de ordem social, e não econômica.

Resultados sociais

Ora, se a economia é uma ciência social, nada mais justo que seus resultados apresentem significados sociais – e não apenas econômicos, como reiteradamente expressa a ordem econômico-consumista-mercadológica.

No entanto, esse lado social imerso nessa lógica econômica tem ficado à margem das decisões que priorizam, apenas e, tão somente, o lado econômico. O lado social, lamentavelmente, sempre foi – e continua a ser – relegado a quinto plano.

Pelo lado econômico, o que tem validade são os ganhos financeiros, não os prazeres-utilitários, ou seja, as felicidades que não passam pela disponibilidade financeira.

O que interessa para o lado econômico é o predomínio econômico-financeiro, não a abrangência social. Essa é a razão da existência de algumas discrepâncias que beiram, em nosso entendimento, a patologia.

O que precisa ficar claro é que definitivamente o mundo não é uma mercadoria e, “nem tudo está à venda” (everything for sale) para outra situação que “causa” profundo desespero nas bases do sistema capitalista/consumista. Logo, a felicidade, nesse sentido, não pode (e nem deve) repousar suavemente sobre o “nobre” ato do consumo exagerado que exige, por consequência, elevados dispêndios. Há algo muito mais interessante que leva à felicidade, ainda que a publicidade, diuturnamente, nos bombardeie recomendando o consumo a qualquer custo.

E a economia tem tudo a ver com isso. Basta atentarmos para o seguinte: aonde a economia estará no futuro depende daquilo que milhões de nós faremos nesse meio tempo até lá. Cabe a nós decidirmos o futuro. O futuro nos pertence e a felicidade, certamente, há de nos esperar na próxima esquina abraçada à maximização da utilidade esperada, ainda que o deus mercado esteja “financiando a aparência da felicidade”, como bem ponderou o presidente Mujica.

Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO, em São Paulo. prof.marcuseduardo@bol.com.br

Momento de prosa de um sertanejo com Deus

MISSA

(Foto: divulgação)

Meu Deus, lá se foi o mês de Santana, passou-se agosto e setembro, tamos em outubro. Mais um ano de seca e agonia pra nós aqui no sertão. Num chove já faz é tempo! E o verão tá só mostrando a cara.

Olho pro céu e tento tirar um dedinho de prosa com Vossa Divina Justiça. Mas tenho cá minhas dúvida se, em suas ocupação, Vosmecê vai encontrar um tempinho pra um simples lavrador que o mundo nem sabe se existe. Mesmo assim teimo e Lhe dirijo essas palavra. Dessa vez num é rogatório, não. Também num é lamentação à toa. É só pra tirar uma dúvida, e bem sei que o Senhor não é desses que se ofende até com pergunta.

Apois me responda: que mal tão feroz eu cometi, meu Senhor, pra merecer tanto castigo? Até quando vamos ter que aguentar tanta provação?

No ano passado, eu, minha mulher e meus filho roçamo o pedaço de terra que ainda nos resta e plantamos um pouco de feijão e milho. Isso porque recebemos um pouco de semente que o governo distribuiu lá na cidade. Ficamos sabendo, pela rádio, que ia ser feita a tal distribuição, e os que não têm apareio de rádio suberam nas conversa de pé de uvido.

Tivemos que ir inté lá, pois, cuma num era época de eleição, eles não andam por essas capoeira. Chegamos cedo, pois o Senhor sabe que o matuto madruga, pra dar conta da labuta, e, nesse caso, pra garantir uma vaga na festa do benefício.

Lá na praça da cidade, onde estava as arrumação para a entrega das doação, vi muita gente bem vestida, vi tudo muito bem arrumado. Logo começou os falatório, cada um mais bonito que a outro; palavras que eu não entendia, mas imaginava que era coisa séria; pois esse povo que fala bonito é tudo gente séria, né? Promessa pro home do campo num fartaro. Teve inté um que chorou que nem minino! O Senhor sabe, o povo da cidade derrama lágrima só de pensar no mal que alguém tá fazendo com o povo…

Eu confesso, meu Deus, que num gostei de uma coisa, no meio de outras que também num me agradaram. Foi quando terminaram a cerimônia, na hora da saída, ouvi quando um daqueles home bem trajado, usando paletó e gravata, falou baixinho pro seu colega do lado: “Não sei o que é que essa gente aí quer mais, pois recebe bolsa família, salário maternidade, máquina forrageira, sementes de graça… O governo dá de tudo, mas nunca estão satisfeitos, a vida é reclamar”.

Já humilhado pela esmola que tinha acabado de receber, escondi ainda mais a cara, aproveitando o pequeno saco de sementes que tinha acabado de receber.

Agora meu Deus, o que mais me doeu, foi ouvir a resposta do outro cidadão, justamente o que tinha chorado na hora da fala. Ele disse: “Pois é, por isso que não encontramos mais quem queria trabalhar na roça. Ganham na moleza, e aí acabam viciados, esse povo não tem jeito”.

E o outro, pra confundir ainda mais a minha cabeça, emendou com essa: “E você tá reclamando de quê? Bom mesmo é ver que essas mixarias que o governo tá dando ainda é pouco, e a gente pode continuar viciando esses infelizes, esses vagabundos, em esmolas que dão votos. Pior será se os filhos e netos deles se formarem nas escolas técnicas, nas faculdades…”. Aí o outro botou as mãos na cabeça e saiu quase gritando: “Nem me fale! Nem me fale! Educação, não! Educação, não!”

Saí dali ainda mais humilhado do que quando cheguei. Ser chamado de vagabundo foi demais, meu Deus. Mas as lágrimas não escorreram pelo meu rosto, não, meu Senhor. E não foi por orgulho. Foi porque o sertanejo adulto, aqui das brenhas da caatinga, não tem mais lágrima. Tudo que a gente tinha de chorar já chorou, derna a infância, quando a fome, a sede e o abandono bateram na nossa porta e entraram sem pedir licença.

Mas eu estou aqui, meu Senhor, conformado, junto com a minha família, me preparando para enfrentar mais uma estiagem.

Esse ano, meu Deus, eu já decidi que vou deixar minha mulher cuidando dos nossos filho e vou arribar pro sul, cortar cana. Lá, pelo menos, se eu sair vivo, garanto o alimento e umas roupinhas pra eles. Além disso, trabalhando, eu tou me distraindo e não tenho tempo pra pensar besteira; pois, se não fosse a fé que tenho no Senhor, não sei se eu ainda tava vivo pra contar um pouco do meu sofrimento.

Na semana que vem, o ônibus da usina passa aqui em frente ao meu rancho, e, durante uma boa temporada, eu vou tá trabalhando e rezando pra que um dia eu possa voltar pro aconchego dos meus.

Mas pode crer, meu Senhor, jamais quero perder a esperança de um dia ver o meu sertão produzir alimentos em abundância e os meus filhos estudando em escolas decentes.

Ouvi dizer que tem um povo estrangeiro que costuma falar o seguinte: “Deus abençoe azamérica”. Num sei bem o que isso quer dizer, mas eu vou tomar a liberdade de pedir que o Senhor abençoe toda a humanidade.