ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (V) (Série de 5 crônicas)

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de março de 2014

Crônica Nº 1160

Escritor Clerisvaldo B. Chagas detalha para a TV Gazeta as belezas da região (Foto: Manoel Messias)

Escritor Clerisvaldo B. Chagas detalha para a TV Gazeta as belezas da região (Foto: Manoel Messias)

O povoado Barra do Panema estava ali sob meus pés. Mal acreditava naquilo. Dava uma tremenda vontade de chorar ao fluir à lembrança de 1986 quando cheguei ali com Wellington Costa e João Quem-Quem, a pé, pelos areais do rio Ipanema. Havíamos saído de Batalha, povoado Funil, às três da madrugada e adentramos a Barra às cinco da tarde. Vejamos trecho do livro “Ipanema um rio macho”. “Penetramos triunfantes no povoado Barra do Panema às cinco horas da tarde do dia 9 de janeiro de 1986. Fomos comemorar com aguardente no bar Toca da Raposa, aonde havíamos chegado. Não havia tira-gosto. No povoado não tinha pão. Não havia bolachas para vender. Não havia peixe, nem carne, nem nada (…)”. A zeladora da igreja de N.S. Assunção nos recebeu bem e falou que a igreja, no morro-ilha, estava fechada para reforma. Desistimos de ir lá agradecer à santa. Dormimos num grupo escolar indicado pela zeladora. No livro “Ipanema um rio macho”, falamos da miserabilidade do povoado de Alagoas e o progresso de outro povoado bem à frente, em Sergipe. Diz o livro: “Voltei infeliz e envergonhado com o que constatei no lado alagoano”.

Igreja centenária em morro do São Francisco. (Foto: Clerisvaldo)

Igreja centenária em morro do São Francisco. (Foto: Clerisvaldo)

A única mudança que encontramos foi a estrada boa de acesso; a rua da frente calçada com pedras; um prolongamento do povoado em direção à foz do Ipanema e algumas barracas na praia porque a estrada melhorada de acesso ao povoado estava atraindo pessoas de fora em final de semana. Afora isso, várias residências desabando ou desgastadas significando regressão. O rio São Francisco continuava bonito, mas assoreado.

Parcial do povoado Barra do Panema (Foto: Clerisvaldo)

Parcial do povoado Barra do Panema (Foto: Clerisvaldo)

Peguei o livro “Ipanema um rio macho”, abri na página 60 e indaguei aos moradores se eles conheciam a foto de uma mulher com sua netinha. Todos reconheceram dona Eliete, a zeladora que nos recebera na época. Não pude lhe abraçar porque ela estava em Salvador, fazendo exame de vista. A netinha de colo deveria estar com quase trinta anos agora, mas também se encontrava em outra região. Deixei um livro autografado para ser entregue à zeladora. Fui, então, ao Bar Toca da Raposa. Estava lá ainda o bar, o desenho da raposa, a dona do bar (antes bonitona) completamente envelhecida. Foi uma farra de alegria. Depois o marido apareceu e disse me haver reconhecido. De homem atlético, passou àquela figura típica de homem sessentão. Li trechos do livro sobre “A Toca da Raposa” e deixei um com eles. Para outros moradores indaguei sobre fotos de um casal perto de uma camioneta que nos traria de volta do povoado à Batalha, em 1986, páginas 62, 63 e 64. Ela seguiu conosco como passageira, o marido ficou. Muita bonita a fumante cabocla sertaneja. As pessoas identificaram os personagens na hora. Ela já havia falecido e ele também um ano depois. Fiquei triste novamente.

Marcílio e Manoel Messias animam a noite da Rua Delmiro Gouveia, em final de reportagem (Foto: Clerisvaldo)

Marcílio e Manoel Messias animam a noite da Rua Delmiro Gouveia, em final de reportagem (Foto: Clerisvaldo)

Após saborosa peixada, escritores, profissionais da TV Gazeta de Alagoas e acompanhantes pisaram fundo de volta as suas bases.

Eu lembrava de 1986, página dinâmica, pura e nostálgica da minha vida.

* Final da série de cinco crônicas sobre o trabalho para o programa “Terra e Mar” da TV Gazeta de Alagoas.

ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (IV) (Série de 5 crônicas)

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de março de 2014

Crônica Nº 1159

Escritor e geólogo Clerisvaldo B. Chagas fala à TV Gazeta. Ao fundo, foz do Ipanema (verde) e rio São Francisco (Foto: Manoel Messias)

Escritor e geólogo Clerisvaldo B. Chagas fala à TV Gazeta. Ao fundo, foz do Ipanema (verde) e rio São Francisco (Foto: Manoel Messias)

Parte física da barra do Panema

Estava tudo registrado no livro “Ipanema, um rio macho”, paradidático que concedeu identidade e CPF a Santana.

Vinha à cabeça qualquer sentido de mudança em relação ao paupérrimo povoado Barra do Panema. Aquele mesmo povoado em que eu chegara a pé vindo da minha cidade através do rio Ipanema, com meus companheiros, radialista Wellington Costa e João Soares Neto (João Quem-Quem), em janeiro de 1986.

A região toda é formada de solo pedregoso com um mar de pedras soltas fragmentadas de grandes rochas desnudas. As enxurradas cada vez mais agem no solo raso deixando à mostra a formação rochosa. A expressiva variação de temperatura entre o dia e a noite, fragmentam as matrizes, deixando que as enxurradas cuidem do restante, é a chamada meteorização.

Equipe da TV Gazeta entrevista  Clerisvaldo B. Chagas em morro-ilha do rio São Francisco (Foto: Marcello Fausto)

Equipe da TV Gazeta entrevista Clerisvaldo B. Chagas em morro-ilha do rio São Francisco (Foto: Marcello Fausto)

A estrada agora estava boa e larga, completamente forrada de terra e pedregulho. Marcílio conduzia o automóvel velozmente, levando os escritores Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto (irmão de Marcílio) e mais o diretor de meio ambiente de Santana, Manoel Messias. Atrás seguia o jipão de reportagem da TV Gazeta de Alagoas com o trio profissional. Já havíamos entrado na tarde do dia 21 de março de 2014, ao deixarmos o sítio Telha. Ao vencermos seis ou oito quilômetros, chegamos ao povoado Barra do Panema, lugar pertencente ao município ribeirinho de Belo Monte. O povoado está à jusante da sede aproximadamente a seis quilômetros.

É a esquerda do povoado aonde o rio Ipanema forma a sua foz, desembocadura ou barra, como é chamada no sertão. A barra não havia mudado em nada, nesses quase trinta anos da nossa primeira visita. A mesma planície de aluvião; a foz em forma de delta, pela ilha de material trazido pelo rio Ipanema, sempre rasa, aplainada pelas cheias do São Francisco; a várzea inundável na margem esquerda; o povoado na margem direita; o morro-ilha defronte a foz, no meio do rio São Francisco; a igreja de N.S. Assunção no cimo do morro com seus túmulos defronte, onde o padre penedense Francisco José Correia de Albuquerque (um dos fundadores de Santana) pregava e vaticinava; tudo continuava como antes.

Guardiões do Rio Ipanema com a reportagem da TV Gazeta (Foto: Marcílio)

Guardiões do Rio Ipanema com a reportagem da TV Gazeta (Foto: Marcílio)

O rio São Francisco, assoreado, não oferecia mais o caminho de praia para se chegar pelo lado oposto do morro. Fomos de barco para a face do monte, lado da foz do Ipanema. Fizemos como cabritos escalando a parte íngreme do morro de N.S. dos Prazeres.Filmagem, entrevistas, fotos, realizadas no alto, foram complementadas pelo som de forró com pandeiro, triângulo e zabumba no barco e nas barracas da praia, guiado pelo também forrozeiro Manoel Messias.

Sobre as cheias do Ipanema, disse um pescador: “O Panema quando dá uma cabeçada, rasga o São Francisco no meio e vai mexer nas ilhas do lado sergipano”. Ô Ipanema, um rio macho!

Momento de lazer dentro do barco (Foto: Clerisvaldo)

Momento de lazer dentro do barco (Foto: Clerisvaldo)

Tudo ali já havia sido descrito no livro de Clerisvaldo B. Chagas, mas as belezas naturais e exóticas do lugar precisavam ser mostradas ao mundo. A TV Gazeta de Alagoas iria complementar o trabalho de B. Chagas.

O social do povoado e a peixada ficam para amanhã, a última crônica da série de cinco.

ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (III) (Série de 5 crônicas)

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de março de 2014

Crônica Nº 1158

ESCRITOR E GEÓGRAFO CLERISVALDO B. CHAGAS, EXPLICA OS FENÔMENOS NO RIO IPANEMA (Foto: Manoel Messias)

ESCRITOR E GEÓGRAFO CLERISVALDO B. CHAGAS, EXPLICA OS FENÔMENOS NO RIO IPANEMA (Foto: Manoel Messias)

Enquanto o automóvel engolia a estrada de terra pedregosa, eu pensava na frase escrita há 27 anos no livro “Ipanema um rio macho”: “Adiante, nada mais de veredas e sim uma longa descida de pedras gigantescas até chegar à areia, lá muito à frente, na parte central do abismo. Era um espetáculo tão grandioso e aterrador que eu tive a impressão de está em outro planeta”.

CLERISVALDO B. CHAGAS (CAMISA BRANCA) E EQUIPE DA TV GAZETA DE ALAGOAS (Foto: Marcello Fausto)

CLERISVALDO B. CHAGAS (CAMISA BRANCA) E EQUIPE DA TV GAZETA DE ALAGOAS (Foto: Marcello Fausto)

Lá íamos nós, Clerisvaldo, Marcello Fausto, seu irmão Marcílio e Manoel Messias. Atrás seguia a equipe de reportagem da TV Gazeta num jipão. Chegamos ao sítio Telha, nome local, ou Cachoeiras, apelidado pelos nossos antepassados santanenses. Estava ali o trecho mais fantástico do rio Ipanema em seus 220 km de extensão. Tudo intacto como eu o deixara ao passar ali a pé com meus companheiros Wellington Costa e João Quem-Quem, naquela tarde abrasadora de janeiro de 1986. O longo canhão rasgado pelo rio Ipanema, as montanhas marginais brancas e avermelhadas, a vegetação de caatinga no terreno pedregoso que a não deixava crescer; o extenso corredor de rochas lavadas no leito do Panema em variadíssimas formas e dimensões pelo declive imenso, as serranias mais distantes, a solidão de deserto e a bela e terrível paisagem num todo, deixavam-me repetir automaticamente a frase escrita: “Tenho a impressão de está em outro planeta”.

CLERISVALDO, MANOEL MESSIAS E MARCÍLIO NA CAATINGA DO SÍTIO TELHA (Foto: Marcello Fausto)

CLERISVALDO, MANOEL MESSIAS E MARCÍLIO NA CAATINGA DO SÍTIO TELHA (Foto: Marcello Fausto)

Quando o repórter se chegou a mim, repetiu a mesma frase, como se tivesse lido meus pensamentos: “Tenho impressão que estou em outro planeta”. Todos estavam extasiados e meditativos. Como é possível um cenário deste em pleno sertão alagoano? “Ipanema um rio macho” descreveu, a TV Gazeta de Alagoas vai mostrá-lo ao mundo.

O santanense dizia que a piracema esbarrava nas Cachoeiras. O peixe não chegava a Santana, com razão. Menos de 1% da minha cidade conhece o lugar Telha.

Não se pesca mais o pitu nas Cachoeiras para ser vendido em Sergipe. A estrada até o lugar foi alargada. Talvez tenha surgido umas duas casas de taipa, no restante tudo permanece igual como se o tempo nunca tivesse passado naquele fim de mundo, naquele deserto de outro planeta repleto de macambiras, facheiros e cobras venenosas.

RIO IPANEMA E O FANTÁSTICO (Foto: Clerisvaldo)

RIO IPANEMA E O FANTÁSTICO (Foto: Clerisvaldo)

Estávamos ali entre 6 e 8 km do povoado Barra do Panema, município de Belo Monte. Após filmagens, fotos e entrevistas, juntamos o material de pesquisa, retornamos pela mesma estrada em forma de corredor até a principal que leva ao povoado. Tarde do dia 21 de março de 2014.

ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (II) (Série de 5 crônicas)

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de março de 2014

Crônica Nº 1157

ERMIDA NO LEITO DO RIO IPANEMA E SUA HISTÓRIA COLOSSAL. (Foto: Clerisvaldo)

ERMIDA NO LEITO DO RIO IPANEMA E SUA HISTÓRIA COLOSSAL. (Foto: Clerisvaldo)

Milagre na Capelinha

Em 1941, o rio Ipanema chegou com a maior cheia que se tem notícia em Alagoas.

Nos areais e pedregulhos do seu leito, no povoado Capelinha, município de Major Isidoro, o Panema trouxe longo choro. Uma família que habitava na margem direita, cuja residência ainda existe, foi lavar roupa no rio. As águas, porém, levaram uma criancinha de três anos de idade. A procura e o desadoro durou três dias pela região. No final dos três dias, um pastor de ovelhas ouviu um choro e encontrou a criança na crista de uma pedra, defronte a casa dos pais, porém na margem oposta. Imaginemos a alegria daquela pobre família. O garoto, chamado Antônio, não tinha um só arranhão! Indagado ele contou que uma mulher o agasalhara e o alimentara, colocando-o debaixo de uma pedra. Os pais e outras pessoas, devido ao sobrenatural acontecimento, mostraram ao garoto várias fotos e imagens de mulher para ver se ele identificava alguma. Antônio não vacilou e apontou para a imagem de Nossa Senhora de Lourdes. O povo, em agradecimento à santa, construiu uma igrejinha na pedra onde o menino fora encontrado. Ainda hoje a igrejinha é lugar de promessa, romaria e meditação.

Contam ainda que muito tempo depois, adulto e morando na região de Craíbas, Antônio viera visitar a igrejinha com outras pessoas. Chegando à porta da ermida, teria exclamado para todos: “Ela está aqui! A mulher que me salvou está aqui!”. Claro, todos correram para aquele ponto e nada viram. Entretanto, Antônio, que parecia ouvir alguém, virou-se para todos e falou o que ela lhe dissera naquele momento: “Eu o salvei não foi para você se tornar ruim do jeito que é”. A população conta que Antônio voltou para a região de Craíbas, por certo muito desgostoso, pois jogava, fumava e praticava outras coisas. Afirmam que ele ainda é vivo e deve contar com 76 anos de idade.

Ipanema

O povoado Capelinha é centro da Bacia Leiteira. Cria gado ovino e bovino selecionados, sendo também a terra de grandes fazendeiros e vibrantes vaquejadas. Ali perto, o rio Ipanema recebe o riacho Dois Riachos que vem de Pernambuco, banha a cidade do mesmo nome, em Alagoas, e se torna o mais importante afluente do Panema

DIVA, PESQUISADORA DA REGIÃO, FOTOGRAFA O RIO. (Foto: Clerisvaldo)

DIVA, PESQUISADORA DA REGIÃO, FOTOGRAFA O RIO. (Foto: Clerisvaldo)

Infelizmente o povo ainda precisa muito das suas águas de cacimba na estiagem e, a extração de areia do seu leito, está prejudicando o povoado. Foi criada em Capelinha a organização Guardiões da Mata que age como os Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA, em Santana.

A professora Diva Correia de Morais, é avó, pesquisadora, cordelista e está à frente dos guardiões. Foi ela quem narrou a história acima e, sua luta pela preservação da natureza na região é árdua, insistente e quase solitária.

O rio Ipanema banha praticamente toda a Bacia Leiteira, tornando a região rica e agrestada. Lá mais a leste, o rio Traipu, faz parte dessa força que impulsiona a agropecuária sertaneja, fazendo trio com o rio Capiá, no alto sertão, formando assim a trinca mais importante dos caudais sertanejos.

Amanhã desceremos mais o rio até o sítio Telha e o povoado Barra do Panema.

ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (I)

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de março de 2014

Crônica Nº 1156

IPANEMA EM ALAGOAS

PROFESSORA E GUIA, ELIANE, MOSTRA O RIO IPANEMA NA DIVISA (Foto: Clerisvaldo)

PROFESSORA E GUIA, ELIANE, MOSTRA O RIO IPANEMA NA DIVISA (Foto: Clerisvaldo)

Era quinta-feira (20) primeiro dia de outono, quando os escritores Clerisvaldo B. Chagas e Marcello Fausto mais o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, de Santana, Luiz Carlos e o diretor de meio ambiente Manoel Messias, partiram de Santana do Ipanema em direção ao município de Poço das Trincheiras. Do Bairro Barragem, após o encontro com a equipe de reportagem Gazeta de Alagoas, comandada pelo repórter Giovani, a caravana seguiu até o minúsculo povoado Barra do Tapera. Seria o primeiro ponto entre os quatro escolhidos do rio Ipanema, pelo escritor Clerisvaldo B. Chagas, para serem apresentados no programa “Terra e Mar”, exibido aos sábados pela TV Gazeta.

RIACHO TAPERA (ACIMA DA CERCA) DESPEJA NO IPANEMA. (Foto: Clerisvaldo)

RIACHO TAPERA (ACIMA DA CERCA) DESPEJA NO IPANEMA. (Foto: Clerisvaldo)

Passando pela sede do município, pelo povoado Quandu e dali guiados pela professora Eliane Gomes, até o seu natural, povoado Tapera, chegamos ao destino.

Ali, aonde o rio Ipanema vindo de Pernambuco, penetra em Alagoas, recebe o seu primeiro afluente importante, o riacho Tapera e outros menores. O riacho Tapera tem leito de areia fina, calha considerável de aproximadamente 10 metros de largura e suas nascentes estão no lugar chamado Barra Verde, proximidades da cidade pernambucana de Itaíba. É riacho de fronteira e na confluência com o rio Ipanema, mostra como cenário em terras alagoanas a serra da Tapera completamente salpicada de rochas brancas desnudas.

Toda a calha do rio Ipanema, suas margens e várzeas no município de Poço das Trincheiras, exibem o verde de árvores, bosques de craibeiras, algarobeiras, capim, grama, plantações de sorgo, milho e palmas forrageiras irrigadas através de bombas nas cacimbas escavadas do rio.

A última vez em que Ipanema tinha botado grande cheia fora em janeiro de 2004, segundo a professora Eliane Gomes que também é fazendeira na serra da Tapera. O riacho Tapera e o rio Ipanema, além do fornecimento de água para a Agricultura local, também são pontos de lazer nas cheias violentas de ambos.

INÍCIO DO RIO IPANEMA EM ALAGOAS (Foto: Clerisvaldo)

INÍCIO DO RIO IPANEMA EM ALAGOAS (Foto: Clerisvaldo)

O vale do rio Ipanema é bastante habitado no município do Poço das Trincheiras, cercado pela serra da Tapera, serrote do Quandu e serra do Poço, a mais alta daquela região.

O Quandu é o maior povoado e já tem boa parte da rua principal calçada com paralelepípedos e possui várias escolas municipais e estaduais.

Não confundir a palavra guandu com quandu. Guandu é uma espécie de feijão, também chamado andu. Quanto à palavra Quandu, é o mesmo significado de ouriço-caixeiro, mais conhecido no sertão como porco-espinho. Tapera: casa pobre feita de taipa.

Após várias entrevistas, partimos para o povoado Capelinha, município de Major Isidoro.

Assunto de amanhã.

ANÁSTACIA

Nem seria preciso dizer, o quanto é bom ouvir história contada pela mãe da gente. Lá na infância, ao pé da cama antes de dormir. Aquela época já o era. O tempo passou, eis que sentados lado a lado. Adulto no limiar da senilidade com muita serenidade. Outras histórias vir contar, não mais de trancoso, agora reais. Ainda mais prazerosas de ouvir. Olhando pra uma nesga de céu azul, através de uma área verde, que alumiava a sala de janta. Ela quis saber se já estávamos na quaresma. Confirmamos.

E passou a relatar o que contamos. Quando era menina, minha mãe sempre ia passar a quaresma no sítio. Alguns gêneros de primeira necessidade eram providenciados. Por volta de quarenta dias, a família ia pra velha casinha do Sítio Capim. Longe da cidade, iam pro retiro até que viesse a páscoa. Retornariam na semana Santa para acompanhar os ritos litúrgicos da igreja, a procissão do Senhor Morto, o santo Ofício com a Ladainha, a Missa do Lava-pés, a Via Sacra, a vigília do sábado da Aleluia. Os fiéis vivenciariam os sacramentos da Confissão, e da Penitência: do jejum, da oração, da caridade. A cor roxa no altar, nos paramentos do sacerdote, as imagens cobertas, tudo para lembrar o luto. Padre Moisés nos seus sermões lembraria aos fiéis que era tempo de renunciar a velhos hábitos. Diria pro sertanejo que a paixão, de nosso Senhor Jesus Cristo, significava tempo de renúncia. Tempo de pensar no sofrimento do redentor. Que tudo fez por nossa causa.

Meu avô Tomaz, era agricultor, pra complementar a renda, exercia a profissão de barbeiro. No verão, no meio da feira armava uma tolda, cortava cabelo, fazia barba, a maior parte da sua freguesia os matutos. No inverno ia pro sítio botar roça. No entanto, de inverno a verão, a vida era uma só, de tardezinha, depois da janta, ia pra porta de casa, pitava um cigarro de fumo picado. Depois, descia a rua, e na Pensão das Irmãs Ferreira, ia jogar baralho, até altas horas da madrugada. As irmãs Ferreira vieram de Pernambuco, tentar a sorte em Alagoas. Tinha freguesia seleta: a guarnição da polícia, o delegado, Seu Moreninho, o farmacêutico, os mascates vendedores de artefatos de couro, de calçados, e corda de caruá. Pela devoção que tinha ao padre Cícero do Juazeiro e a Frei Damião, na quaresma meu avô, suspendia o jogo de baralho, o aperitivo de antes das refeições. E não cortava cabelo, nem fazia barba pra ganho. Reduzir até que reduzia, porém não conseguia evitar o tabagismo. Sobre a confissão era radical, preferia ir até debaixo de um pé de juazeiro. Aonde ia confessar-se diretamente com Deus. Dizia que não precisava de intermediário pra confessar-se com Nosso Senhor.

Com o passar do tempo, meu avô resolveu abrir uma barbearia. Aproveitou um pequeno salão, anexo à casa de morada – bem ali, na Rua da Assembléia. Porque naquela Rua funcionava a Câmara Municipal – dividiu o espaço com outro barbeiro, chamado de Tibúrcio. Desde menina, e mesmo na juventude, minha mãe ostentava vastíssima cabeleira negra. Admirada pelas colegas e pela vizinhança. Diziam que tinha cabelo de índia, ainda mais pelo corte que meu avô lhe fazia. E proibiria severamente de cortá-lo, somente ele poderia, quando lhe aprouvesse aparar as pontas. Cortar jamais. Por essa época, aparava porque acreditava que a força da lua depois da páscoa faria aumentar de volume. Entre os dois amigos barbeiros, algumas coincidências minha mãe observou. Tibúrcio e Tomaz, os nomes dos dois começavam com “T”. Nas duas famílias haviam nascido inicialmente duas mulheres. Osvalinda e Aucantina, apelidada de “Tinô” na casa de Seu Tibúrcio. Dineusa e Maura na casa de Seu Tomaz. As esposas dos dois barbeiros ficariam grávidas, e tiveram ambas, filhos meninos. Rubens na casa de Seu Tibúrcio, e Dorival na casa de Seu Tomaz. Antes de partirem pro exílio quaresmal, algumas coisas iriam acontecer. Umas sérias, outras pitorescas.

Um dia antes de partirem, minha mãe foi encarregada de ir comprar pães. Afoita saiu de pés descalços, em desabalada carreira. Lá ia, pulando, dinheiro na mão. Como gostava de pão. Ao passar num imenso lajedo, no início da rua que ainda não tinha calçamento, teve a certeza de ter pisado numa cobra. De volta, buscou outro caminho temendo um reencontro com o réptil ofídio. Outro susto de idêntica monta, passaria ainda naquela mesma tarde. Ao chegar à porta de casa, meu avô vinha saindo com um sapo cururu na mão. Ora minha mãe sempre teve medo de sapos. Brincando, fez menção de atirar-lhe o batráquio. Não teve jeito, um grito horrendo estrondou pela rua, acabando por chamar a atenção de todos. Os policiais apreensivos saíram da delegacia. Dona Amância, minha avó, detestava escândalos, e reprovaria seriamente tal atitude de Seu Tomaz.

Na manhã do dia de partir pro sítio, por acaso Dona Amância descobriria que Seu Tomaz, andava de coito com uma quenga. Como descobriu? Foi assim: Dias antes, lá vinha minha vó, da roça, na cabeça um balaio, cheio de capucho de algodão e umas abóboras. A rameira, uma negra chamada de Anastácia, que morava naquela mesma rua. A sem-vergonha teve o atrevimento de pedir uma abóbora a minha vó. Sem saber do que ocorria lhe deu. De boca em boca o fuxico correu solto. Até chegar aos ouvidos de minha vó. A discussão foi feia. Nas raras ocasiões de desentendimento entre seus pais, minha mãe confidenciou que ficava muito triste. Seu Tomaz nada dizia, calava-lhe a consciência por estar errado. E dona Amância acabaria por cobrar-lhe: ”-O senhor trate de procurar o padre Moisés, se confesse de verdade! Pé de pau não perdoa pecado! Não quero um Judas dentro de casa.”

No exílio, minha vó revirando uma velha bolsa de tiracolo. Lá no fundo encontrou esta oração:

“Vemos que algum algoz fez da tua vida um martírio, violou tiranicamente a tua mocidade, vemos também no teu semblante macio, no teu rosto suave, tranquilo, a paz que os sofrimentos não conseguiram perturbar. Querida Anastácia: Eras pura, superior, tanto assim que Deus levou-te para as planuras do céu e deu-te o poder de fazeres curas, graças e milagres. Amada Anastácia, pedimos por…(aqui faz o pedido), roga por nós, proteja-nos, envolva-nos no teu manto de graça e com teu olhar bondoso, firme, penetrante, afasta de nós os males do mundo. Tudo que pedimos, pedimos por Nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém.”

No verso da oração uma gravura com o rosto de Anastácia amordaçada, e uma breve biografia da mártir dos negros afro-descendentes. Considerada santa: “Da tribo dos Bantus, na longínqua África, foi trazida escrava. Por não possuir documento ganhou o nome de Anastácia. Negra, tão bela. Sua beleza causaria inveja as donzelas da corte. Quis saber que gosto tinha um torrão de açúcar, vista por um malvado feitor, que acusaria de ladra. Colocaram-lhe uma mordaça de couro que cobria a boca e parte do rosto. O filho de um fazendeiro caiu doente, e não tendo mais a quem recorrer, socorreu-lhe Anastácia, suas rezas e benzeduras, fez o rapaz ficar curado. Pelos castigos que sofria, nos ferimentos contraiu gangrena. Vindo a falecer desse mal. Teve direito a enterro de escravo alforriado.”

Aquele folheto estava agora em minhas mãos. Um dia fora da minha avó, que mal sabia ler. No entanto no fundo do coração, pediu a Deus, e a aquela santa que lhe desse paciência, e tirasse a aflição do seu coração, para que pudesse viver naquele ano, uma boa páscoa.

Fabio Campos

O BRASÃO DOS CHAGAS

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de março de 2014.

Crônica Nº 1155

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Como brincadeiras sadias cabem em todos os lugares, lembrei-me de uma delas em fonte de pesquisa. Em Santana do Ipanema, há uma família humilde que muito foi ajudada por nós. Isso fazia recordar o que a minha mãe Professora Helena Braga das Chagas fazia com os paupérrimos da região em que morávamos. Da Rua Antônio Tavares até as imediações da hoje Rua da Praia, que ainda não existia, a pobreza tinha Helena Braga como mãe, inclusive, também ampla família da Maniçoba/Bebedouro. Por coincidência, minha mãe tinha o sobrenome Braga, de origem portuguesa. O Chagas de meu pai veio com seus antecedentes portugueses radicados no agreste alagoano e que parte migrou para a zona rural de Santana do Ipanema, em torno de 1900. (O Boi a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema).

Pois bem, fomos então chamados, recentemente, para uma buchada, penso, como gratidão dessa família ajudada por nós. Ao chegarmos lá, a dona de casa falou que ao saber que ela iria fazer uma buchada para aquele dia, a vizinhança se alvoroçou. Todos se convidavam para provar a delicia da conhecida exímia cozinheira. A mãe da dona da casa, sob nossos risos constantes, dizia que teve de colocar gente para correr, dizendo: “Isso não é para a boca de vocês. Isso é para quem tem sangue nobre, para quem tem brasão, vocês não têm!”. Ríamos de cair de costas com a maneira de a senhora contar as presepadas. Não sabemos onde a dona da casa e a senhora sua mãe foram buscar esse negócio de sangue nobre e de brasão. Mas, pela brincadeira que se prolongou até deixarmos àquela humilde residência, nunca havíamos rido tanto durante uma buchada nordestina.

Pois bem, passado certo tempo, encontrei de fato o brasão mencionado por aquela brincalhona senhora. E para imitar esse povo jovem que se expande em kkkkkk no Face, kkkkkk também em ter achado o BRASÃO DO CHAGAS.

CAUPOLICAN – 1974

O menino estava dormindo, abriu os olhos. Nove letras pretas, do tipo bastão, sob um fundo branco. A palavra na lombada do livro: Geografia. Já conhecidas dele, outra vez apresentava-se pra sua retina. Deu-se conta que estava na sala de aula. Permaneceu com a cabeça apoiada na carteira. Um fio de baba escorrera molhando-lhe a bochecha. A professora continuava a aula. O ventilador de teto, preguiçosamente girava a hélice. Duas moscas sobre as cabeças esvoaçavam traçando parábolas no ar. Verão de 1972.

Apoiou a cabeça pondo o queixo por cima das mãos sobrepostas. No alto da parede, próximo a campainha, o quadro com o retrato do general Emílio Garrastazu Médici. A faixa presidencial, o brasão da república sobre o peito. E tudo ficou preto e branco. Terno preto, rosto branco. Moldura negra, fundo branco. Lousa negra, gizes brancos. Birô negro, relógio de parede branco. Blusa da farda e meias brancas. Sapatos e bolsa escolar pretos. O cabelo, todos da sala tinham-nos bem penteados. Untados e cortados ao estilo militar. Por que o chefe da nação brasileira se mostrava tão sério? Seu olhar inquiridor, como se perguntasse: o que mais vocês querem que de mim? Já criei o PIS, o BNH. Estamos construindo a hidrelétrica de Itaipu. Em breve entregarei a ponte Rio-Niterói. Já está em andamento os serviços de construção da rodovia Transamazônica que ligará Santarém a Cuiabá. Pra acabar com o analfabetismo criei o MOBRAL. Os universitários terão oportunidade de explorar o país através do Projeto Rondon.

Ah! Já sei o motivo da insatisfação, talvez seja porque coibi veementemente as manifestações nas universidades. Dissidentes políticos e guerrilhas, reprimidas com mão de ferro. Não me diga que é o Ato Institucional número 05, o motivo da insatisfação? Aceito qualquer crítica, podem dizer que sou radical, em não reconhecer a UNE, e o MST. Porém não me compare a governos extremamente ditadores, como o de meu colega Fidel, ou de meu amigo Pinochet. Muito menos com o que faz Anástasio Somoza na Nicarágua. Quero que saibam duma coisa, todo povo tem o governo que merece. Denúncia de torturas, morte e desaparecimento de presos políticos atribuídos ao nosso governo. Sobre isso, o que tenho a dizer: que, muito do que andam dizendo não é verdade. Assim como Pilatos dou-me o direito de perguntar: mas o que é a verdade?

Monocromática sala de aula. Sentados dois a dois permaneciam os meninos. O silêncio quebrado unicamente pela voz suavemente melodiosa da professora. Ah! Dona Vanda, tão bonita! Como se fora uma fada com sua varinha de condão, o cabelo num rabo de cavalo gracioso, balançava pra um lado e pro outro, toda vez que ela gesticulava, ou apontava a anotação na lousa. Espádua alvíssima, ornada por belo colar de contas brilhantes. Mesmo que não quisesse, confiscava os olhos dos infantes. Ó quão cheiroso colo, de inebriar pobres coraçõezinhos, toda vez que se debruçava para verificar as lições nos cadernos. Vestida num gracioso tubinho que lhe desenhava as curvas. Cruelmente acabava a alguns centímetros a cima dos joelhos. O costureiro, músculo da coxa, sempre requisitado. Flexionava-se retesando o direito, ao tempo que relaxava o esquerdo. Aquela boca, aqueles lábios, aqueles dentes. De repente só havia aquela boca. Os incisivos alvos, cintilantes, como tabletes de chicletes prontos para serem degustados. Indo preencher pupilas intumescidas. Cílios molhados como de alguém que acabara de chorar. A língua sorrateira deslizando por entre duas palavras, indo tocar o lábio superior, tornando discretamente umedecidos… Ai que boca! Que boca professora! Os lábios de baton vermelho carmim. E falava e falava, sobre astros, estrelas, satélites, os nove planetas que compunham o sistema solar. E do céu daquela boca, luas alvíssimas. Lindas e nuas. E o sol? Por que a professora tinha que trazer uma estrela de quinta grandeza pra sala de aula? Ofuscou, esbaforiu, com seu calor sufocante fazendo transpirar por todos os poros. E veio a sede, e a vontade de urinar, tudo ao mesmo tempo. Um jato de adrenalina irrigando entranhas, estonteante doçura. Sonolência.

Dona Vanda continuava e sua aula espacial foi atingida por um asteróide. Caupolican – 1974 teria sido descoberto em 1968, pelo astrônomo Carlos Torres. Achou por bem passar a falar de História: Quem teria sido Caupolican? Perguntou em voz alta. Abrindo um livro amarelado. respondeu ela mesma: “- Caupolican foi um líder indígena chileno, que lutou contra as invasões espanholas, de depois do descobrimento. Após grandes feitos foi preso. Em 1558, foi executado em praça pública por empolamento. Um tipo de morte cruenta onde o condenado era obrigado a sentar-se numa estaca. E sofrer hemorragia pelo reto até morrer.”

Através da janela o menino olhou pra lá fora, um mundo pavorosamente ameaçador se havia. Um céu grotesco. Donde um sol quase apagado, tingia as nuvens de Lilás. E aviões de guerra sobrevoavam, bombardeando as casas. Soldados corriam para se abrigar em trincheiras e barricadas. Não entendia porque a professora, diante de uma situação tão caótica ocorrendo lá fora, permanecia passivamente ministrando sua aula. Como se nada, absolutamente nada estivesse ocorrendo. Isso talvez porque, de lá fora, nada se ouvia. Nenhum som vinha de lá fora, apenas imagens. O que estaria acontecendo?

De repente Aldo, o menino, se deu conta que a professora não mais estava lá. Distraído, em olhar lá pra fora, nem percebeu que toda a turma evadira. Não havia mais professora, nem seus colegas, só ele. Apreensivamente só. Enquanto lá fora, a guerra. Não podia continuar ali, precisava saber pra onde todos tinham ido. E tinha só nove anos. O que um menino como ele poderia fazer em meio a uma guerra. Ao sair pro pátio, encontrou alguns dos seus colegas. Indiferentes a hecatombe ocorrendo logo ali brincavam, de bola de gude, pega-pega, nos balanços. Nem um pouco preocupados, com as bombas, e mísseis que caiam. E provocavam imensa destruição, pavor e morte. Só a alguns metros dali. Os meninos sorriam. E se movimentavam com em câmara lenta. Tudo parecia muito real, exceto por um motivo, não havia som, estrondo das bombas, nada. Só a imagem, desesperadamente lenta.

Outra vez, Aldo Felix acordou. Estava noutra sala de aula, havia penumbra, um data-show, exibia um vídeo. Em questão de segundos, quatro décadas haviam ficado para trás. Instintivamente tocou-se. Temeu se encontrar no corpo de um menino de nove anos, indefeso, assustado diante duma guerra. Professor Aldo, talvez vivesse realmente aquele conflito internamente, lá no fundo no mais íntimo do seu ser. Permanecia tomado de tão forte emoção, de tão presentes recordações. O vídeo que passava pra seus alunos, referia-se ao discurso de uma chefa de estado, cujo partido teria sofrido repressão no período ditatorial do regime militar. Uma presidenta, em cujo país em breve ia ocorrer uma Copa do Mundo. Dizia: “-O que querem que eu faça? Por favor! Não aceito, que venham comparar nosso governo, ao do meu amigo lá da ilha de Cuba.” Sonhos, todos eles devem ter um significado. Por Deus, também este haveria de ter.

GUARDIÕES APROVAM PROJETOS

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de março de 2014

Crônica Nº 1154

Como estava previsto, a sessão de ontem à noite (sexta) realizada pela Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA, na sua sede provisória, Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas, foi bastante movimentada.

Após a leitura e aprovação da Ata da sessão anterior e informações sobre o expediente, foi de grande importância a Ordem do Dia. Foram apresentados os projetos elaborados por uma comissão especial da AGRIPA e, aprovados sem emendas. O primeiro foi sobre uma campanha sistemática da retirada definitiva do lixo doméstico, lixo comercial e entulhos do rio Ipanema e seus afluentes, trechos urbanos, numa parceria entre AGRIPA e prefeitura. A culminância poderá acontecer até o final do mês de março.

Sobre a presidência interina do escritor Clerisvaldo B. Chagas, foi aprovada também na Ordem do Dia, a programação festiva em homenagem ao rio Ipanema, prevista para o dia 21 de abril, entre AGRIPA e Prefeitura.

Os dois projetos acima, entretanto, ainda serão apreciados pelo prefeito do município, professor Mario Silva.

Foto: Assessoria Agripa

Foto: Assessoria Agripa

Na vez da palavra a Bem da AGRIPA, foram definidos assuntos como a recepção aos novos sócios, visita aos povoados Capelinha e Quandu, recepção à reportagem Gazeta de Alagoas para realização de trabalho para o programa Terra e Mar, convites importantes outros para a presença dos Guardiões, incentivo maciço da população pela existência da AGRIPA e visitas às autoridades estaduais de apoio como Batalhão, Delegacia, e ainda OAB e MP.

A Hora de Estudos foi preenchida pelo professor Marcello Fausto, que falou sobre legalização de ONGs e associações.

Em não havendo mais nada a tratar, o presidente em exercício, Clerisvaldo Braga das Chagas, passou a palavra ao orador da noite, representado pelo guardião Manoel Messias, que a considerou altamente produtiva.

Sem outros assuntos para o momento, o presidente em exercício, Clerisvaldo Braga das Chagas, encerrou a sessão.

AGRIPA CONSOLIDARÁ PROGRAMAÇÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de março de 2014.

Crônica Nº 1153

Foto: Arquivo Agripa

Foto: Arquivo Agripa

A Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA estará realizando sua primeira sessão ordinária do mês de março, nesta noite, na Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas, às 19 horas.

A AGRIPA aguarda a segunda votação (são três) da Câmara Municipal Tácio Chagas Duarte, sobre a criação do “Dia do Rio Ipanema” (21 de abril). Enquanto isso, na sessão de hoje haverá apresentação de esboço da campanha da primeira fase de resgate do rio Ipanema em parceria com a Prefeitura local. Nessa primeira fase AGRIPA e prefeitura deverão realizar uma campanha educativa na mídia da cidade, simultaneamente acompanhada de panfletagem, orientação e ouvidoria nas comunidades ribeirinhas, sobre o lixo doméstico, o lixo comercial e o entulho até a culminância da limpeza cuja dia foi apontado como 31 de março.

Por outro lado, o Dia do Rio Ipanema, já tem esboço de programação que deverá ser aprovado na ordem do dia da sessão de hoje. Consta abertura do festejo com missa solene, seguindo com abraço simbólico ao rio Ipanema, torneio de futebol, corrida de jegue, corrida pedestre, corrida de bicicleta, show com atrações da terra e encerramento com seresta. Tudo no leito ou às margens do Ipanema.

Após o dia de festejo, haverá a segunda fase de resgate que deverá incluir as outras mazelas que afogam o rio Ipanema: A AGRIPA prevê denúncias, brigas na Justiça e diálogos quando essas mazelas forem abordadas, como: pocilgas, estábulos, esgotos e fossas, matadouro, cercas no leito, avanço de cercas, construções no leito do rio e riachos, extração de areia, óleo doméstico e comercial, e pesca predatória.

Tudo vai depender da sessão de hoje à noite e depois com o entendimento com a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente e prefeitura de modo geral.