01 Maio

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Semana em homenagem à Caatinga: Artistas nordestinos que cantaram esse bioma

semanacaatinga

Não foram poucos os artistas nordestinos que cantaram e decantaram a Caatinga: que verdeja e clareia a paisagem do semiárido brasileiro, inspirando repentistas, cordelistas, poetas, artesões, forrozeiros e tantos outros artistas amantes da natureza.

Muitos Ambientalistas e defensores dos sertões nordestinos, iniciaram a defesa em favor do Bioma Caatinga, a partir desses artistas.

Agricultor com alma de poeta

Foto: onordeste.com

Patativa do Assaré
(Foto: onordeste.com)

Poucos devem ter ouvido falar em Antônio Gonçalves da Silva, mas se nos referirmos a essa mesma pessoa por seu pseudônimo: “Patativa do Assaré”, um dos maiores poetas nordestinos, nascido em 1909, no sertão cearense, é provável que quase todos os amantes da poesia já tenham lido e se encantado com algo deste extraordinário talento.

Em um verso de um dos maiores dos poemas, “A Triste Partida”, que virou música famosa na voz de Luiz Gonzaga, Patativa, retrata a seca da “mata branca” nordestina, como poucos, diz ele: “Sem chuva na terra descamba janêro, depois, feverêro, e o mêrmo verão. Entonce o rocêro, pensando consigo. Diz: isso é castigo! Não chove mais não”!

No entanto, Patativa do Assaré não cantou apenas a o flagelo da seca. No poema, “A Festa da Natureza”, ele fala das belezas do sertão:

“Chegando o tempo do inverno/Tudo é amoroso e terno/Sentindo o Pai Eterno/Sua bondade sem fim/O nosso sertão amado/Estrumicado e pelado/Fica logo transformado/No mais bonito jardim/Neste quadro de beleza/A gente vê com certeza/Que a musga da natureza/Tem riqueza de incantá/Do campo até na floresta/As ave se manifesta/Compondo a sagrada orquestra/Desta festa naturá/Tudo é paz, tudo é carinho/Na construção de seus ninho/Canta alegre os passarinho/As mais sonora canção/E o camponês prazentero/Vai prantá fejão ligero/Pois é o que vinga premero/Nas terras do meu sertão.”

Outros poemas de Patativa, que se transformaram em músicas consagradas, como: Vaca Estrela e Boi Fubá; ABC do Nordeste Flagelado; O Poeta da Roça; O Sabiá e o Gavião e O Vaqueiro, ainda hoje são lembrados pelos amantes da cultura sertaneja.

Mesmo fazendo poesia de primeira linha, Patativa do Assaré nunca se considerou um profissional da área, morreu em 2002 no mesmo lugar em que nasceu afirmando ser agricultor.

O maior divulgador das belezas da Caatinga

Se Patativa do Assaré recebeu o dom divino de criar poesias belíssimas, coube a Luiz Gonzaga o papel de divulgá-las.

Mesmo compondo, como fez com seus maiores parceiros Humberto Teixeira e Zé Dantas, Gonzaga se consagrou ao divulgar e defender as belezas do Nordeste através da sua voz, especialmente a fauna e a flora, sempre acompanhado da parceira inseparável, a sanfona.

Em o “Xote das Meninas” Gonzaga relata como o sertanejo tem a ideia de que aquele ano o inverno será proveitoso: “Mandacaru quando fulora na seca, é o sinal que a chuva chega no sertão…”.

O mandacaru é uma planta comum no sertão nordestino e não raro, atingir até mais de 5 metros de altura, servindo de alimento para diversas aves típicas da caatinga.

Em sua longa carreira no rádio na TV, nas feiras, nos circos e muitos palcos, Gonzaga divulgou tanto o sofrimento quanto a alegria do sertanejo que convide o dia a dia com na caatinga, cantando animais e plantas, como Juazeiro, Assum Preto, Sabiá, Fogo Pagou, Aroeira e sobre tudo Asa Branca: “Inté mesmo a asa branca bateu assas do sertão”.

Mas Luiz Gonzaga não se contentou apenas em cantar a fauna e flora, ele decantou, sobretudo, o povo do sertão. O folclore, o vaqueiro e o agricultor.

Na música “Acordo as Quatro”, do compositor alagoano Marcondes Costa, Luiz Gonzaga canta a forma simples de uma família sertaneja, a qual, mesmo diante dos percalços enfrentados, não mede distância para encaminhar seus filhos à escola.

Acordo as quatro

Letra e música: Marcondes Costa

Acordo às quatro

Tomo meu café

Dou um beijo na muié

E nas crianças também

Vou pro trabáio

Com céu ainda escuro

Respirando esse ar puro

Que só minha terra tem

Levo comigo

Minha foice e a enxada

Vou seguindo pela estrada

Vou pro campo trabaiá

Vou ouvindo

O cantar dos passarinhos

Vou andando, vou sozinho

Tenho Deus pra me ajudar

Tenho as miúças

Carneiro, porco e galinha

Tenho inté uma vaquinha

Que a muié véve a cuidar

E os meninos

Digo sempre a Iracema

Em Santana de Ipanema

Todos os três vai estudar

Pois eu não quero

 Fío meu anafabeto

Quero no caminho certo

Da cartilha do abc

Eu mesmo

Nunca tive essa sorte

Mas eu luto inté a morte} bis

Móde eles aprender

30 abr

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Semana em Homenagem à Caatinga: poeta descreve bioma excepcionalmente brasileiro

semanacaatinga

Após os belos versos de um pernambucano, no terceiro dia de homenagem à Caatinga, o site Alagoas na Net traz outros versos, desta vez de autoria um sertanejo da cidade de Santana do Ipanema, o poeta e cantador Ferreirinha.

Compositor e repentista, o artista já tem em sua longa jornada um belo trabalho falando de sua região, o Sertão, como num poema publicado também neste site, no ano passado. Atualmente o morador faz parte da Associação Guardiões do Rio Ipanema (Agripa) e tem lutado pela causa do rio que dá nome a sua terra.

Cantor e poeta Ferreirinha (Foto: Alagoas na Net/Arquivo)

Confira abaixo a poesia composta por Ferreirinha, em homenagem à Caatinga.

Dia da Caatinga

Autor: Cícero Ferreira (Ferreirinha)

Segunda-feira, 28 de abril

Na floresta a chuva pinga

Deixando um cheiro gostoso

No fundo verão que míngua

Alegrando o sertanejo

Na Semana da Caatinga

Homenagem a Caatinga

Na roça se faz lembrar

O voar do tico-tico

E canção do sabiá

Que aprendeu ser seresteiro

Sem ninguém pra lhe ensinar

Por isso vamos lembrar

Preservar com mais cuidado

Sem queimar sem desmatar

O que por Deus nos foi dado

Nossa flora e nossa fauna

E nosso reino encantado

Na caatinga ainda se ver

A coruja buraqueira

Que chora como criança

Quando perde a mamadeira

E passa o dia dormindo

Pra caçar a noite inteira

Fauna e flora brasileira

Não deve ser destruída

Aonde você andar

Na mata há sopro e vida

Quem preserva a natureza

Tem uma paz garantida

Entre as demandas da vida

Do homem que a mão engrossa

Que se criou trabalhando

Pra manter sua palhoça

Duvido que na cidade

Tenha a paz que tem na roça

A Caatinga é o cenário

Do vaqueiro do sertão

Onde ele exibe contente

Perneira, chapéu, gibão

Se faltar essa floresta

É o final da profissão

Da Redação

O BARÃO E O DISCO VOADOR

Naquela segunda-feira à tarde, resolvi ir à casa do visconde de Sinimbu. Sentia quão era bom, e como, fazia-me bem estar lá. Não exatamente pela companhia do Lorde. O que me fazia tanto bem era tão somente estar naquele lugar. A cada vez que ia mais e mais consolidava o que eu sentia.

Não me ocorria, ter estado lá alguma vez, pela manhã. Porém era muito provável, que algum dia, tenha ido, ao alvorecer. Muito embora a obrigação, o dever a cumprir, acabaria negando a oportunidade de contemplar a paisagem. De dar-me o direito de perder tempo admirando as coisas corriqueiras que se desfilavam a cada momento a minha frente. De modo que a manhã, jamais causaria a impressão que o vespertino imprimira. Como se nos fosse negado o prazer de gastar o horário da manhã com o descompromissado compromisso duma visita. Como se as primeiras horas cobrassem dos seres domésticos, preocupação com as coisas a serem feitas. Tinha o período matutino, essa capacidade incrível de furtivamente furtar a atenção pros afazeres. Em especial, no miolo da semana, os denominados dias brancos. Não permitia a um senhor de engenho tamanho desperdício, de contemplar a beleza dum amanhecer. Sendo dele próprio cobrado, inexorável acompanhamento dos trabalhos. Às ordens a serem dadas aos feitores que acompanhavam os escravos que iam pro desfrute dos coqueirais, era de muito mais importância. Ouvir dos capatazes que supervisionavam os trabalhadores no plantio de cana-de-açúcar que tantos negros haviam fugido. E de outros tantos safos dos trabalhos na olaria. E saber sobre quantos teriam morrido de maleita porque passavam dias a fio dentro da lama. As cantigas cantadas nas matinas vindas da senzala, carregadas de sortilégios de entidades da mãe África. Era o modo de despedir-se do preto velho, morto a mais de uma semana. Os negros andavam cheios de angústias. Arredios com seus mandantes. E a noite o baticum dos tambores ecoava na mata num choro, lamento.

A casa dava o lado direito pro mar, muito lá adiante. De onde nascia, o rei de luz e calor. Ao realizar sua parabólica, tocava os gradis do jardim, os oitões. O esplendor de construção erguido num platô cujas portas e janelas frontais, olhavam pra um chapadão, emaranha de tantos tons de verde. Donde um dia braços humanos de negros e brancos abriram picada com característica de vala, e varou toda gleba. E sobre ela assentaram bitolas e grampos que sustinham vergalhões e deu-se estrada de ferro. O trem passava, as janelas olhavam: do trem pra casa, da casa pro trem. A construção de dois pavimentos tinha escadaria frontal que acessava um vão, circundo de parapeito. Três magníficas janelas de lado a lado ornavam o frontispício. Iam lá em cima, e desciam em portões de ferros em estilo gótico. Duas letras: “V.S.” uma na folha esquerda e outra na folha direita do portão, lá adiante do pomar amelhado de frutíferas. A porta central acessava a sala de estar. O piso de madeira untado de azeite, jamais permitindo, ao andar, que o peso do corpo fizesse ranger o lastro.

O visconde fora pra Europa, ter aulas de baruel e orfila. Dom João Lins Vieira Cansanção, apesar do nome, e dos pomposos títulos, era um homem novo, nem trinta anos tinha ainda. Desta última viagem a Paris e Alemanha voltaria à terra natal com o título de barão. O filho do capitão Manuel Vieira, formado em Direito pela Academia Jurídica de Olinda, gostava da vida na província. Das noitadas de festas que seus pais promoviam toda vez que volta de férias dos estudos nos estrangeiros. À noite, de sua casa dava pra ver as luzes dos lampiões do cais do porto de Jaraguá, lá na vila de Maceió. No pavimento inferior da casa ficavam os aposentos da criadagem, a dispensa, e a cozinha que tomava toda a extensão do lado leste do sobrado. A boquinha da noite farta refeição era providenciada para os convivas do barão, que estava pra chegar. A preta velha estava apreensiva, ficara sabendo que seu filho havia fugido. Não entendia o que se passava na cabeça daquele moleque. O boato da proclamação da libertação dos escravos, pela princesa Isabel, já se espalhara feito rastro de pólvora. Era só ter um pouco mais de paciência. Afinal o visconde era simpático a abolição. O capitão do mato saiu no encalço do negro, por conta própria, por puro ódio aos daquela raça.

Bela noite vaporosa e quente se havia. Uma chuva leve tinha molhado o mato ao cair da tarde liberando um cheiro bom de capim fresco. Um enfileirado de tochas acesas alumiava o terraço desde o portão de entrada até a escadaria que acessava o frontispício do imponente casarão colonial. Os pirilampos faziam a festa. Tudo ali, naquele momento, em muito, lembrava um ritual de casamento havaiano. Muito embora nenhum cerimonial de núpcias estivesse pra acontecer, tão somente aguardava-se a chegada do visconde, que chegaria ainda naquela noite. Na companhia de lindas donzelas, os convidados bebiam vinho no terraço. Deles preferiam passear pelo jardim. Ao som de um quarteto de músicos, que tornava tudo ainda mais alegre. Os mais velhos preferiam jogar gamão e pôquer na ante sala. Donde se ouvia leves estalos de língua ao deguste de modestas doses de uísque, vinte anos envelhecido. Fios de fumaça azulada saiam dos charutos subiam, e subiam. Indo impregnar de fumo e nicotina o lustre de cristal pendido do teto. Uma pintura, a óleo, de busto do barão olhava sereno pra outro quadro, duma gravura náutica na parede do lado oposto. Numa mesa enorme com forro branco, requintados petiscos. Um leitão jamais tocado parecia dormir sobre a bandeja, ornado de frutas e legumes. O capitão providenciara para a chegada do visconde barão a queima de fogos de artifício. Porém nada daquilo aconteceria. Ao aproximasse dali, o barão liberou o cocheiro. Passou a conduzir a carruagem e na companhia de algumas meretrizes trazidas de Paris, ganhara o caminho da praia. Amanheceram bêbados e nus. Aos gritos, recitavam poesias em francês. Os nativos que a tudo presenciara batizariam o local de praia do francês.

A igreja do Santo Rosário estava lotada. Naquela ensolarada manhã de domingo celebrava-se a missa da páscoa. Quinze dias, exatamente duas semanas, separava aquela cerimônia clerical, do episódio a beira mar. O solene som do órgão solfejava cânticos, o santo ofício. Padres, bispos e presbíteros em seus paramentos. Sentados diante do altar, distribuíam-se em meia lua, conforme a hierarquia, do centro para as pontas. O tilintar do castelo batendo nas correntes do turíbulo, o cheiro de incenso perfumando toda a nave, a assembléia. O coroinha segurando a franja do véu umeral, a reta guarda do sacerdote, enquanto era incensado o altar. A mitra apontando pra cúpula eclesiástica. O recital, os cânticos tudo em latim pronunciado. De repente, lá na porta da igreja, uma figura grotesca surgiu. Era o capitão do mato.

Aos gritos de “-Senhor Barão!” entrou na igreja. Em vão tentaram interpô-lo, porém pararia somente aos pés do barão. Lívido de espanto, assim como toda a igreja, Dom João viu o terror nos olhos daquele seu empregado. O rosto crispado de medo, relatou-lhe o seguinte: “-Meu senhor! Estive no encalço dum negro fujão. A dois dias atrás, o encontrei. Era por volta das três da tarde quando o coloquei sob a mira da minha espingarda. Eu ia atirar, quando do céu apareceu uma grande carruagem de ferro, sem cavalos, nem cavaleiro. De lá, saiu um facho de luz que desceu até o negro, e sugou-o pra lá dentro. E A imensa nave sem vela que flutuava no ar, se foi!” Dito isso desmaiou.

Duzentos anos se passaram, e a nave espacial voltou. Mansamente veio vindo, veio vindo, e pousou ao lado da casa do Barão de Sinimbu. A aprazível casa do primeiro ministro da justiça, pioneiro em defesa do ensino primário e secundário patrocinado pelo governo. Depois de sua morte foi cedida como espaço para os professores se reunirem.

Fabio Campos

23 abr

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Medo: um grande negócio

Foto: Ambermb / Pixabay

Quantas vezes paramos para imaginar o quanto o medo produzido pela mídia gera um ganho econômico incalculável?

Quase nunca. Às vezes sequer imaginamos que isso seja possível, mas é. E muito rentável.

A história de amedrontar os outros em detrimento de alguns, a fim de tirar proveito, especialmente em relação ao rendimento financeiro, se perde na história da humanidade.

Apenas para citar um ponto referencial, no início da era cristã o filósofo romano Lúcio Sêneca já havia alertado: “As coisas que mais nos assustam são em maior número do que as que efetivamente fazem mal, e afligimo-nos mais pelas aparências do que pelos fatos reais”.

Portanto, ao longo do tempo, principalmente com o advento do rádio da televisão e posteriormente com a abrangência da internet, o “produto” medo foi se aprimorando e ganhando espaço junto à população, onde mais e mais pessoas passaram a consumi-lo de forma desenfreada e psicótica.

Confira o artigo completo no Blog do Sérgio Campos

DIA 21, DISSECANDO A AGRIPA

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de abril de 2014

Crônica Nº 1173

FUNDADORES DA AGRIPA 20 DIAS APÓS A FUNDAÇÃO. ARISELMO MELO, MANOEL MESSIAS, MARCELLO FAUSTO, VILMA LIMA, SÉRGIO CAMPOS, CLERISVALDO CHAGAS E FERREIRINHA (AUSENTE, D. JOANINHA) (Foto: Arquivo / Agripa)

FUNDADORES DA AGRIPA 20 DIAS APÓS A FUNDAÇÃO. ARISELMO MELO, MANOEL MESSIAS, MARCELLO FAUSTO, VILMA LIMA, SÉRGIO CAMPOS, CLERISVALDO CHAGAS E FERREIRINHA (AUSENTE, D. JOANINHA) (Foto: Arquivo / Agripa)

Fundada em 10 de agosto de 2013, a Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA tem como finalidade lutar pelo meio ambiente do município de Santana do Ipanema. O momento atual, porém, exige que a AGRIPA socorra primeiro o rio Ipanema e seus afluentes que escorrem em seu território.

Formada por um grupo de cidadãos e cidadãs de boa vontade, a AGRIPA não tem ligação nenhuma com partidos políticos. Sendo uma associação organizacional e educativa, procura parceria entre os órgãos executivos, legislativos, judiciários e civis, para que a sua missão seja realizada com o êxito merecido.

A AGRIPA, em apenas oito meses de existência já conseguiu ser o maior centro de informações sobre o rio Ipanema; possuir mais de 20 títulos de livros sobre o Panema; catalogar mais de trinta plantas medicinais encontradas em seu leito seco e margens; ministrar inúmeras palestras sobre essa corrente fluvial; conceder várias entrevistas no rádio e na televisão sobre esse tema; motivar e despertar todas as escolas de Santana e outros órgãos para a questão do nosso rio periódico; mexer na autoestima do povo santanense; ouvir o sim do prefeito Mário Silva para a criação do Polo Ambiental com estação meteorológica, observatório da AGRIPA, memorial do rio Ipanema e sementeira de mudas nativas, no lugar do atual matadouro; implantação pela câmara de vereadores do Dia do Rio Ipanema (21 de abril); filmagens da TV Gazeta de Alagoas para as coisas boas e ruins do rio Ipanema.

Planejando, organizando-se durante meses para iniciar os seus trabalhos efetivos sobre o resgate do Panema a AGRIPA sabia que uma ação intempestiva, rápida, movida apenas pelo entusiasmo, não passaria de 24 horas, como já aconteceu no passado. Hoje, 21 de abril, Dia do Rio Ipanema, tem início a limpeza de lixo e entulhos no rio Ipanema, riachos Camoxinga e Salgadinho (divisor dos Bairros Domingos Acácio e Floresta).

Momento de cheia no Rio Ipanema, em 2004

Momento de cheia no Rio Ipanema, em 2004

Logo cedo os Guardiões estarão vigilantes aos movimentos de máquinas e homens da Secretaria de Obras, através do secretário (e vice-prefeito) Adenilson, bem como recepcionando a equipe da TV Gazeta de Alagoas que, prestigiando a AGRIPA, vem registrar o trabalho das máquinas. A limpeza do rio terá campanha permanente e ações periódicas, sempre que necessário.

(Amanhã, terça-feira, escritores e guardiões novamente estarão descendo com a equipe da TV GAZETA para novas filmagens perto e na foz do rio Ipanema em Belo Monte).

O próximo passo da AGRIPA é para os mais grossos males que sufocam o rio como cercas de arame no leito, pocilgas, cercas e construções avançadas, construções sob pontes e nos próprios leitos de rio e riachos, extração de areia, fossas e esgotos, lava a jatos, matadouro, currais, pesca predatória.

Para isso a AGRIPA, (incentivada pela sociedade que exige melhor qualidade de vida) convidará através de ofícios, para um amplo debate, a câmara de vereadores (os fiscais do povo), a secretária da saúde, a secretária da ação social, o secretário de agricultura e meio ambiente e a gerência da CASAL, diretamente ligados aos problemas acima e, se preciso, o Ministério Público. DIA 21, DISSECANDO A AGRIPA.

A importância do Dia do Rio Ipanema

RIO IPANEMA E A ETERNA FESTA DOS URUBUS (Foto: Sergio Campos / Alagoas na Net / Arquivo)

Para alguns pode soar estranho comemorar o dia de “algo” que se apresenta de forma tão sujo e degradante. Até poderíamos considerar normal esse pensamento, levando em consideração o que nós santanenses permitimos que o nosso maior e mais belo acidente geográfico chegasse a situação na qual se encontra; pelo menos num pequeno trecho de cerca de três quilômetros, exatamente na área urbana da única cidade em que leva garbosamente o seu nome, Santana do Ipanema.

No entanto, para nós que vivemos bons e marcantes momentos das nossas vidas aproveitando tudo de benéfico que esse “algo” nos deu, como banho, pesca, lazer e reflexão: comemorar esta data é o mínimo que poderemos oferecer nesse momento ao nosso querido rio Ipanema.

O Dia do Rio Ipanema é apenas o começo de um alerta à população santanense, não apenas para lembrar o que ele nos proporcionou, mas o que ainda temos para compartilhar.

Enquanto o rio Ipanema oferece benevolamente aos seres vivos bens indispensáveis à vida, tais como a água, a flora, a fauna e o minério, recebe em troca dejetos, lixo de todas as espécies e o pior: o desprezo.

Paulão

Lixo em um dos acessos ao rio Ipanema (Foto: Sérgio Campos)

Em 10 de agosto de 2013 um grupo de pessoas preocupadas com a situação de um dos importantes afluentes do rio São Francisco se reuniu em Santana do Ipanema com a finalidade de discutir formas que viessem alertar a população a buscar soluções para a grave situação em que se encontra o que pode vir a ser o mais belo cartão postal da cidade. A partir daí nasceu a Associação Guardiões do Rio Ipanema – Agripa, que logo em seguida recebeu o apoio incondicional das mais diversas camadas da comunidade.

Um dos lemas da Agripa, totalmente voltada ao meio ambiente, é: “conscientizar para salvar”. Desde então, a associação, formada por ambientalistas de vários matizes, não para de trabalhar e receber adesões e incentivos, num só objetivo: VAMOS SALVAR O RIO IPANEMA.

Rio

Ponte de acesso a cidade de Olho d’Água das Flores (Foto: Alagoas na net/Arquivo)

A água salobra que em tempos idos matou a sede de muitos sertanejos, hoje, mesmo poluída, ainda serve para saciar a sede dos animais, bem como para a irrigação e a pesca, ainda que em pequena escala. Imaginemos então o rio Ipanema despoluído e sem cercas, onde crianças e adultos possam tomar banho sem medo de contrair alguma doença; ou os pescadores possam ter a certeza de que sairão de seus lares em busca de alimento e voltarão com as sacolas cheias de banbá, lambari, traíra, cará-zebu, caribola e no futuro o pitu, alimentos que já foram tão comuns nas mesas dos nossos ribeirinhos.

Delmiro

Crianças se divertindo às margens do rio Ipanema (Foto: Sérgio Campos)

Seria demais imaginar os animais nativos voltando a beber água nas cacimbas ao longo do rio Ipanema? Tatus e pebas; teiús e camaleões; guaxinins, gatos-do-mato e raposas; jaçanãs, siricoras e tantas outras espécies que a ação devastadora do ser humano fez sumir desta região.

Quantos de nós já não precisamos usar alguma planta medicinal (meizinha) advinda deste rio? Pois bem, às margens do nosso rio Ipanema, mesmo com um descontrolado desmatamento, ainda podemos encontrar: jenipapos, mulungus, mussambês, velames, quinas-quinas, catingueiras, juremas pretas, angicos-de-caroços, melões-de-são-caetano, alenta-cavalos, aroeiras, imburanas-de-caboclo entre tantas outras plantas sustentadas pelas águas escassas deste surpreendente rio.

Planta

Vegetação nativa (Foto: Sérgio Campos)

O rio Ipanema é um patrimônio da humanidade, mas que ainda precisa ser mais conhecido por aqueles que o vê chorando lágrimas de lama. Pois está com uma de suas partes ferida, sangrando e, portanto precisa ser tratada. Nos seus 220 km, de Pesqueira/PE a Belo Monte/AL, a parte mais degrada está localizada na zona urbana de Santana do Ipanema, do Poço Grande às Cachoeiras, cabendo a nós, legítimos guardiões do meio ambiente, assim outorgado pela Mãe Natureza, a responsabilidade moral e humana de tratá-la para que as futuras gerações não se envergonhem das nossas atitudes, ou da falta delas.

Ponte dos Canos

Imponente e desafiando os percalços, o Ipanema segue rumo ao São Francisco (Foto: Sérgio Campos)

Desta forma, desejo do fundo do meu coração, neste dia 21 de abril, se não pelo estado em que te deixamos chegar, mas por terem se lembrado de ti “ó Velho Panema”, PARABÉNS RIO IPANEMA PELO SEU DIA.

Blog do Sérgio Campos 

XOTE DOS GUARDIÕES

Letra e música: Cícero Ferreira (Ferreirinha)

Velho Panema

Pelos índios batizado

Limpinho, cristalizado

Sertão abaixo corria

A sua água não oferecia risco

De Pesqueira ao São Francisco

A todo povo servia

Por isso agora

O guardião lhe convida

Para devolver à vida

Ao nosso velho Panema

E ver de novo

Aquelas velhas imagens

Bebendo nas suas margens

Lagartos, tatus e emas – Refrão

O bom carreiro

De diversas regiões

Da Marcela ou dos Torrões

Água potável trazia

Matando a sede

E outras necessidades

Que muitas celebridades

Tomavam banho e bebia

Por isso agora

O guardião lhes convida…

(Refrão)

Não se ver mais

Aquela paisagem bela

Flor vermelha e amarela

Simbolizando alegria

E nas ramagens

Dos velhos pés de ariús

Debaixo dos mulungus

Acabou-se a água fria

Por isso agora

O guardião lhes convida…

(Refrão)

Os mulungus

As grandes caraibeiras

Cortadas nas ribanceiras

Quem ver não sente alegria

Os juazeiros, jenipapo e catingueiras

Viraram tudo fogueira

A margem ficou vazia

Por isso agora

O guardião lhes convida…

(Refrão)

Queremos ver

Nossa cidade crescendo

E nossos rios correndo

Com paz e com harmonia

E os nossos filhos

Jogando bola, brincando

Gritando e tomando banho

Na transparência sadia.

Por isso agora

O Guardião lhes convida…

(Refrão)

OS DEZ MANDAMENTOS SANTANENSES SOBRE O RIO IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 18de abril de 2014

 Crônica Nº 1172

Foto: Arquivo Agripa

Foto: Arquivo Agripa

1º – Amar o rio Ipanema acima de todos os outros acidentes geográficos;

2º – Não falar sobre o rio Panema sem elogios;

3º – Fazer a bem do Ipanema, tudo o que puder;

4º – Descrever para filhos, netos, amigos e visitantes, o que o rio Ipanema representa para o sertão;

Foto: Arquivo / Agripa

Foto: Arquivo / Agripa

5º – Entender o que o rio Ipanema significa para a flora, a fauna, seus habitantes ribeirinhos e animais domésticos;

6º – Analisar o papel do Panema na História, Geografia, Sociologia e Economia da área banhada por ele;

7º – Percorrer trechos a pé, do seu leito seco e margens para melhor entendê-lo;

Foto: Arquivo / Agripa

Foto: Arquivo / Agripa

8º – Acampar às suas margens pelo menos uma vez na vida;

9º – Não jogar e não deixar ninguém jogar nada em seu leito e margens que o prejudique;

10º – Ajudar por todos os meios ao seu alcance a resgatar e preservar o rio Ipanema e seus afluentes.

* Crônica Nº 1172. Clerisvaldo B. Chagas. 21 de abril de 2014.

O SERROTE DO CRUZEIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 18de abril de 2014

Crônica Nº 1171

SERROTE DO CRUZEIRO DE TRADIÇÃO RELIGIOSA (Foto: Clerisvaldo)

SERROTE DO CRUZEIRO DE TRADIÇÃO RELIGIOSA (Foto: Clerisvaldo)

Quando os mais antigos chegaram à região da Ribeira do Panema foram nomeando os seus incontáveis acidentes geográficos. Entre os montes circundantes da atual cidade sertaneja de Santana do Ipanema, um se tornou mais íntimo dos homens que vieram de longe. Bem ao sul da cidade, fechando um amplo círculo de elevações como serrote Pintado, serras Aguda, Remetedeira, Poço, Camonga, Macacos e os serrotes Gonçalinho e Pelado, o morro da Goiabeira ganhou notoriedade.

No ano de 1900, para celebrar a passagem do século XIX para o século XX, os santanenses fincaram uma cruz de madeira no cimo do morro da Goiabeira e passaram a chamá-lo serrote do Cruzeiro. Nessa ocasião, também era construída uma igrejinha/monumento, quase no centro da urbe, com o mesmo objetivo.

Entre 1914 e 1915, como motivo de promessa, um sargento por nome de Antides, casado com uma senhora da ilustre família Rocha, chamada Hermínia, construiu uma capelinha no cume do serrote, com abertura de picada, ternos de zabumba, feijoada para os participantes e bastante animação. A igrejinha veio a ruir pelo abandono, na década de 1960.

Nessa mesma década, o deputado santanense Siloé Tavares, repetiu os feitos do sargento Antides, reerguendo a capela em homenagem a Santa Terezinha. Pelo mesmo motivo da primeira, a segunda igrejinha também não resistiu ao abandono.

Perto do final do século XX, pela terceira vez a capelinha foi erguida por um grupo de pessoas, dessa vez em estilo diferente e ainda hoje ali permanece.

Sendo o monte mais simpático ao santanense, o serrote do Cruzeiro, de forma arredondada e cimo de granito, recebe devotos e curiosos sempre em dias de Semana Santa. O imaginário popular mostra marca do pé do menino Jesus na rocha viva; falam das tramas dos poderosos de Santana e Lampião em conchavo no pé da alta cruz de madeira (a atual é a segunda); comentam botijas escondidas em sua crista.

O alto mostra um cenário fantástico com parcial da cidade e arredores. Sua vegetação original foi criminosamente extinta nos anos 1960 e levou cerca de 35 anos para cobrir o serrote, porém, sem árvores como antes, somente com arbustos.

Quando o movimento religioso estava no auge e no seu sopé, encenava-se a Paixão de Cristo acompanhada por milhares de pessoas, poft. Ciúme de padre é pior do que ciúme de político. Um golpe definitivo no teatro ao ar livre que poderia ser atualmente muito maior do que o do agreste de Pernambuco, nocauteou o entusiasmo da Camoxinga. A sociedade calou.

Os outros padres perderam o fôlego e nenhum prefeito jamais teve a ideia de transformar o serrote (um dos poucos pulmões verdes de Santana), em reserva ambiental. Ora, se as pessoas que merecem não são reconhecidas, imaginem um pedacito da natureza: O SERROTE DO CRUZEIRO.

· Parcial extraída do livro: O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema.

GUARDIÕES PALESTRAM EM COLÉGIO CENECISTA

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de abril de 2014

Crônica Nº 1170

AGRIPA, PROFESSORES E ALUNOS QUEREM RESGATAR O RIO. (Foto: Assessoria)

AGRIPA, PROFESSORES E ALUNOS QUEREM RESGATAR O RIO. (Foto: Assessoria)

Atendendo convite do Colégio Cenecista, em Santana, através da professora Dilma Gomes, a Associação Guardiões do Rio Ipanema, enviou representantes para uma palestra naquela unidade de ensino. O acontecimento ocorreu ontem, no turno da manhã, quando três membros da AGRIPA falaram sobre a Associação e suas finalidades, rio Ipanema e rio São Francisco para uma plateia animadíssima de estudantes de séries diferentes.

Um dos palestrantes, professor e escritor Clerisvaldo B. Chagas, discorreu sobre a estratégia de defesa ao rio Ipanema e o meio ambiente em geral, revelando como se organiza a AGRIPA e seu acirrado trabalho para que o santanense tenha melhor qualidade de vida.

O professor e escritor Marcello Fausto, falou sobre a importância do rio Ipanema como pai de Santana, o rio São Francisco e a urgente mobilização pela AGRIPA, estudantes e sociedade para novos caminhos na preservação da Natureza.

Ambos os palestrantes foram amplamente ovacionados pela plateia mirim, bastante atenta e participativa.

O cantor, compositor e poeta Ferreirinha fez delirar os estudantes ao cantar e tocar o “Xote dos Guardiões”, considerado como “Hino da AGRIPA e do Panema”. Imediatamente identificados com a melodia do xote, os alunos cenecistas acompanharam todo o desenrolar do cantor, assessorando com ritmo de palmas de mão.

“É das escolas de Santana que sairão os jovens guardiões valorizando e defendendo o rio Ipanema e seus afluentes” – falou o cantor Ferreirinha. “O entusiasmo da garotada faz com que chegue até nós a esperança da educação e da harmonia sertanejo/Natureza”, disse após, o guardião Marcello Fausto. A professora Dilma Gomes, entusiasta pelo meio ambiente, também tomou posse na AGRIPA, semana passada.

Nos próximos dias esses alunos farão acampamento no Rio Ipanema, guiados por outro guardião, cujo perfil é indicado pela AGRIPA para esse fim, o professor Ariselmo Melo.

Queremos fora do rio Ipanema trecho urbano: lixo, construções avançadas, cercas de arame, pocilgas, fossas, óleo, entulhos e muito mais. AGRIPA, Escolas e toda a sociedade exigem “O Pai de Santana”, limpo e cheio de vida como sempre foi. JUNTE-SE A NÓS.

“Por isso agora

O Guardião lhe convida

Para devolver à vida

Ao nosso velho Panema (Refrão)

E vê de novo

Aquelas velhas imagens

Bebendo nas suas margens

Lagartos, tatus e ema”

E AGORA, HAMURABI?

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de abril de 2014

Crônica Nº 1169

Foto: Ilustração

Foto: Ilustração

Diante da situação em que estamos vivendo, principalmente no Brasil, vem à mente a História Geral e um esforçado professor da minha terra. Costumava o professor falar sobre o Código de Hamurabi, personagem que governou o I Império Babilônico. Foi esse o primeiro conjunto de leis escritas dos povos do Oriente. Aconteceu que em 1902, pesquisadores encontraram no Irã, restos de um monumento de pedra em que estava escrito o Código de Hamurabi. Claro que essa descoberta veio acompanhada de diversas informações sobre os povos da Mesopotâmia, suas leis, modo de vida, hábitos e mesmo atividades do trabalho. Podemos, então, notar algumas leis do Código de Hamurabi e fazer um comparativo entre os tempos chamados bárbaros e o civilizado de hoje, cujas páginas da Imprensa brasileira estão cobertas de sangue:

Ø Se o homem cegou o olho de um homem livre, seu próprio será cego.

Ø Se cegou o olho de um escravo ou quebrou-lhe um osso, pagará metade do seu valor.

Ø Se uma taberneira, em cuja casa se reuniram malfeitores, não prendeu esse malfeitores e não os conduziu ao palácio: essa taberneira será morta.

Ø Se um homem tiver arrancado os dentes de um homem de sua categoria, os seus próprios dentes serão arrancados.

Ø Se um médico tratou, com faca de metal, a ferida grave de um homem e lhe causou a morte ou lhe inutilizou o olho, as suas mãos serão cortadas.

Ø Se um filho bateu em seu pai, cortarão sua mão.

Ø Se um construtor fizer uma casa e esta não for sólida e caindo matar o dono, este construtor será morto.

Ø Se causou a morte do filho do dono da casa: matarão o filho desse construtor.

Ø Se causou a morte de um escravo do dono da casa: ele dará ao dono da casa um escravo equivalente.

Ø Se causou a perda de bens móveis: compensarão tudo que fez perder. Além disso, porque não fortificou a casa que construiu e ela caiu, deverá reconstruir a casa que caiu com seus próprios recursos.

Diante do que vimos, qual a sua opinião? E se o dirigente babilônico voltasse à vida no Brasil, estudasse a violência e a impunidade, o que diria? Talvez só quem pudesse responder fosse o próprio reencarnado, não é isso, compadre? E AGORA HAMURABI?