Sobre Sérgio Campos

Sérgio Soares de Campos, nasceu em 11 de novembro de 1961, em Santana do Ipanema, Alagoas. Possui crônicas publicadas em sites e livros como: À Sombra do Umbuzeiro e À Sombra do Juazeiro. É membro idealizador e cofundador da Associação Guardiões do Rio Ipanema (Agripa). Criou o projeto musical Canteiro da Cultura, lançado dia 14 de dezembro de 2019.


Vicente e Nanete: do Litoral ao Sertão, uma história recíproca de amor

17 agosto 2014


Foto: Arquivo Familiar

Foto: Arquivo Familiar

Recém convocado para compor as fileiras da Polícia Militar de Alagoas, o soldado Vicente Alves da Silva, recebe determinação do seu comando para fortalecer as tropas que prestavam serviços no Sertão do estado.

O ano era 1951 quando desembarcou em terras sertanejas o jovem Vicente Alves da Silva, oriundo da capital alagoana. O Estado era governado por Arnon Afonso de Farias Melo, enquanto isso Santana do Ipanema, a Rainha do Sertão, a qual se destacava como região promissora na economia agrícola, recebendo posteriormente o título de “Terra do Feijão”, se encontrava sob o comando político do prefeito Adeildo Nepomuceno Marques.

Com o coração cheio de esperança e obediente à sua corporação, o militar logo se enturmou com populares e, mesmo tímido, a cada momento construía novas amizades por todo o município, assim como fez ao longo de sua vida.

Na década de 1950 a juventude santanense se reunia nas imediações do Cine Glória, no bairro do Monumento. A casa de entretenimento vivia o auge da diversão, com exibições de grandes clássicos do cinema nacional e internacional, sempre aos sábados e domingos.

Naquele clima de trabalho e distração, o jovem militar enxergou pela primeira vez o olhar da sua amada. Ali o destino lhe reservou o que de melhor poderia ter acontecido em sua vida. Não demorou para que o moço se aproximasse daquela donzela que já arrematara o seu coração, fazendo com que nunca mais pensasse em voltar para a capital.

Filho de seu Antônio Plácido Silva e dona Valdomira Alves da Silva, Vicente Alves, que jamais tinha visitado o sertão, era natural da cidade de Viçosa, tendo ido morar ainda criança em Maceió, enquanto sua namorada, a jovem Maria Nanete Oliveira, havia nascido no Povoado Pedra d’Água dos Alexandres. No momento em que os seus olhares se cruzaram pela vez primeira, a jovem, que lecionava na zona rural de Santana do Ipanema, visitava a residência de sua tia Nina, na Avenida Coronel Lucena, como era de costume, sempre que tinha oportunidade.

Até que os dois estivessem enamorados e concretizassem as núpcias, tudo correu de acordo o protocolo tradicional da época e da localidade. Vicente cortejava a jovem Nanete, mas para que o seu sonho se tornasse algo concreto seria necessária a autorização dos pais da moça, Miguel Fernandes Oliveira e Francisca Fernandes Oliveira, residentes no Povoado Pedra d’Água dos Alexandres.

A data que marcou uma nova história na vida do casal foi outubro de 1953. Numa manhã ensolarada de terça-feira, a matriz de Senhora Santana testemunhou a cerimônia matrimonial do casal Vicente Alves e Nanete Oliveira: o único e eterno amor do “praça” oriundo da capital, que antes daquele momento distinto já agradecia ao comando da Polícia Militar o fato de tê-lo convocado para uma missão especial na região sertaneja.

Para o casal de sertanejos, que criou seus dez filhos a fim de que um dia pudesse vê-los formar suas famílias nos padrões educacionais da religião católica, a qual praticava, a simpatia foi recíproca com aquele que se tornaria um membro da família. Seu Miguel e Dona Francisca, carinhosamente chamada de “Dona Francisquinha”, não tiveram dificuldades para aceitar o galanteio do militar, que a essa altura já era bastante popular e muito querido na cidade.

Sob as bênçãos do padre Jeferson, pároco auxiliar do cônego Luis Cirilo da Silva, o casal Vicente Alves e Nanete Oliveira passa a viver os seus novos desafios. Inicialmente o casal morou na Rua Barão do Rio Branco, até realizar o sonho da casa própria, onde mora até hoje Dona Nanete, na Avenida Martins Vieira.

Sempre firme nas suas atividades laborais, com exemplo e retidão, Vicente Alves galgou o posto de 3º Sargento da Polícia Militar. Na década de 1970, com intuito de encaminhar os seus filhos para a vida profissional Seu Vicente dá suporte para o funcionamento de uma banca de revistas, o que lhe daria posteriormente o epíteto de “Seu Vicente da Banca de Revistas”.

O “Sargento Vicente”, como era mais conhecido por seus colegas de farda, entre outros hobbies, gostava de futebol.

Com todos os percalços, mas também aproveitando as bênçãos que a vida lhes reservou, o casal conseguiu educar e entregar para a o mundo seus oito filhos: Carlos Alberto, Miguel Antonio, Carlos Jorge, Ana Lúcia, Paulo Fernando, Adenilson, Roberto Cezar e Maria Élcia.

No dia 25 de julho deste ano, véspera do dia em que a cidade que o adotou homenageia sua padroeira Senhora Santana, Dona Nanete, filhos, netos, genros, noras e amigos receberam, com pesar e tristeza, a notícia do falecimento de Seu Vicente. Naquele momento ele acabara de cumprir sua missão aqui na terra. Este viveu 84 anos, sendo 63 deles dedicados a Santana do Ipanema e sua família.

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