Urubus e carcarás aguardam o momento certo para o bote
10 janeiro 2013
Tem sido comum e quase uma praxe observar as figuras chamadas “carimbadas”, as quais se acham oniscientes e parecem onipresentes, pois aparecem em todas as administrações, como num passe de mágica.
Não importa quem essa figura tenha defendido nas últimas eleições, mas ao final lá está ela, novamente, se lambuzando nas benesses do poder, com a velha desculpa de que: “agora o palanque acabou”.
São verdadeiros artistas, na arte de representar, daqueles de causar inveja aos grandes protagonistas das novelas globais, quiçá Christopher Lee, o eterno intérprete de o Conde Drácula.
Muito se comenta sobre a cara de pau dos políticos, no entanto se esquece dos eleitores sem pudor. E da mesma forma que certos políticos acabam convencendo os eleitores de que não foi bem aquilo que ele quis dizer durante o período eleitoral, esses eleitores acabam usando da mesma artimanha para convencer e persuadir os políticos eleitos.
Não é preciso muita sapiência para identificar esses apaniguados “urubus e carcarás administrativos”. Em geral são puxa-sacos, dedos-duros e traidores. No momento em que seu chefe passa à condição de ex essa desprezível figura é a primeira a pular fora, tipo aquela velha história dos ratos, os primeiros a abandonarem o convés no momento do naufrágio.
Os urubus e carcarás administrativos são, em sua maioria de classes mais abastadas, entre a média e a alta, apesar de existirem os de menor poder aquisitivo. Quando estão desempenhado funções de baixo escalão os seus chefes são semideuses e pessoas hiper-competentes. Entre muitos exemplos de bajulações, esses nauseabundos chegam a fazer as compras dos seus comandados mesmo sem ser a sua função, escolher os seus perfumes e até a trocar as fraudas de seus filhos.
Quando o carcará se encontra numa função de destaque, é comum trocar as pessoas competentes pelas bajuladoras, além de pisotear e humilhar as de menos poder aquisitivo.
Ao longo da história política mundial se verificou que poucos governantes deram uma maior atenção a esse fato, no entanto poucos sobreviveram por muito tempo quando agiram de forma a beneficiar mais os adversários do que os aliados, mesmo admitindo que existam aliados traidores. E nesse caso não pode haver maior aliado de um governante posto pelo povo do que o próprio povo.
Santana do Ipanema tem demonstrado possuir um histórico de resistência política, ainda que desorganizada. Revelando assim ter uma célula de independência. Nas vezes em que agiu dessa forma teve uma maciça participação popular. E mesmo quando os governantes não atenderam aos seus anseios, a classe popular desta cidade sertaneja voltou a agir contra a opressão e a ostentação de poder, demonstrando a sua insatisfação.
Toda revolução requer tempo, paciência, além de trazer bastante sofrimento para a população, especialmente a mais pobre. Pois ela tem consciência da sua importância na hora de eleger e defender o seu administrador, e continua acreditando que agindo dessa forma, um dia, algo vai mudar para melhor.
Por outro lado, a classe dominante, em menor número, acaba abarcando a maior fatia do bolo.
A Revolução Francesa ainda pode ser vista como um dos maiores exemplos de insatisfação popular de todos os tempos, onde rei, rainha e vassalos foram guilhotinados. O problema foi que, durante muitos anos, após a revolução, a burguesia, que tinha um maior poderio aquisitivo, acabou não beneficiando os trabalhadores, os quais tiveram que continuar lutando e adquirindo as suas conquistas.
Exemplo ainda maior do que o da Revolução Francesa aconteceu na pequena ilha de Cuba. A poucos quilômetros do país mais poderoso do mundo, Cuba deu exemplo ao mundo de como o povo unido pode vencer os seus opressores, por mais poderosos que pareçam. Onde um grupo de pouco mais de oitenta guerrilheiros conseguiu derrubar um governo corrupto e tirano.
Mas, numa análise mais profunda vamos verificar que, para que isso desse certo o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, contou com o apoio do povo oprimido, que de uma forma ou de outra lhe deu ampla ajuda, e depois desta importante conquista os cubanos contaram com o apoio da então União Soviética, dando-lhe suporte para evitar uma possível invasão dos Estados Unidos.
A pergunta é: por que ainda hoje, mesmo sendo um país pobre, o povo cubano reverencia e dá apoio aos seus heróis, liderados por Fidel Castro, Camilo Cienfuegos e Ernesto Che Guevara?
Para conquistar o apoio popular, os guerrilheiros que lutaram pela liberdade de Cuba prometeram, durante a campanha, que fariam uma ampla reforma agrária, que o povo teria educação e saúde de qualidade, além de outros benefícios, desfrutados apenas naquele momento por uma minoria. A resposta é simples: a promessa foi cumprida e o povo beneficiado, mesmo com uma das mais covardes atitudes imposta a um país, que é o bloqueio econômico liderado pelos Estados Unidos, que ainda hoje vigora.
Sem luta não há vitória e sem participação popular não há conquista verdadeira e o que resta é a opressão.
Como sugestão de reflexão segue abaixo a música Capim Guiné, de Raul Seixas. Dá pra ter uma ideia do que seja lutar pelo social e depois se ver obrigado a ser atropelado pelos urubus e carcarás.
Capim Guiné
Plantei um sítio
No sertão de Piritiba
Dois pés de guataiba
Caju, manga e cajá
Peguei na enxada
Como pega um catingueiro
Fiz acero, botei fogo
“Vá ver como é que tá”
Tem abacate, jenipapo
E bananeira
Milho verde, macaxeira
Como diz no Ceará
Cebola, coentro
Andu, feijão-de-corda
Vinte porco na engorda
Até o gado no currá
Com muita raça
Fiz tudo aqui sozinho
Nem um pé de passarinho
Veio a terra semeá
Agora veja
Cumpadi, a safadeza
Cumeçô a marvadeza
Todo bicho vem prá cá
Num planto capim-guiné
Pra boi abaná rabo
Eu tô virado no diabo
Eu tô retado cum você
Tá vendo tudo
E fica aí parado
Cum cara de viado
Que viu caxinguelê
Suçuarana só fez perversidade
Pardal foi pra cidade
Piruá minha saqüé
Qüé! Qüé!
Dona raposa
Só vive na mardade
Me faça a caridade
Se vire e dê no pé
Sagüi trepado
No pé da goiabeira
Sariguê na macaxeira
Tem inté tamanduá…
Minhas galinha
Já num fica mais parada
E o galo de madrugada
Tem medo de cantá.