Militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) desde 2005, Guilherme Simões assumiu em janeiro o comando da recém-criada Secretaria Nacional de Políticas para Territórios Periféricos, uma das cinco secretarias que compõem o Ministério das Cidades. A pasta, criada originalmente em 2003, no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, havia sido extinta pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
A secretaria voltada para cuidar das regiões periféricas é, no entanto, uma novidade que, segundo Simões, atende a demandas dos movimentos sociais. Uma estrutura que, na visão do secretário, une o pensamento urbanístico à vivência dos territórios que ficam às margens das grandes cidades.
“É uma confluência dessas formulações de urbanistas, arquitetos, com os interesses dos movimentos que atuam nas periferias. O [presidente] Lula atende essa demanda e cria essa secretaria”, resume.
Como funções, a secretaria deve tratar da urbanização das favelas e da prevenção de riscos, como enchentes e deslizamentos de terra. Questões que Simões pretende abordar tanto de forma emergencial, como estratégica, de longo prazo. “O que a gente tem observado nesses anos todos é que os territórios periféricos ficaram abandonados e estão desmobilizados”, avalia.
Durante as chuvas de verão, favelas na periferia de grandes cidades de todo o país convivem com o risco de tragédias decorrentes de deslizamentos. Na imagem, deslizamento do Morro da Oficina, em Petrópolis, no ano passado – Fernando Frazão/Agência Brasil
Nascido no Grajaú, na zona sul da capital paulista, Simões se aproximou da luta por moradia quando o MTST fez uma ocupação no bairro. “Vim de uma família muito pobre e tive muita dificuldade para sobreviver mesmo, para ter comida na mesa, para morar. E isso, para além de ser um problema real, concreto, sempre me mobilizou muito, sempre mexeu muito comigo”, conta.
Para ele, a falta de moradia digna, que afeta milhões de famílias no país, está diretamente ligada ao histórico escravagista do Brasil.
“A gente costuma dizer que o 13 de maio [assinatura da Lei Áurea] veio e o 14 de maio é um dia que nunca acabou para a população negra. Ficamos jogados sem direitos básicos, proibidos de participar politicamente do país, proibidos de exercer direitos, proibidos de sermos cidadãos. Essa situação nunca foi resolvida”, diz.
No movimento por moradia, Simões ajudou a expandir a atuação do MTST para além de São Paulo. “Hoje, o movimento está atuante em 14 estados”, enfatiza sobre o processo que coordenou. Também se formou em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista e fez mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, com uma dissertação em que analisa o processo de urbanização do país a partir da obra do dramaturgo Plínio Marcos.
Agora, como integrante do governo federal, espera estabelecer uma relação construtiva com os movimentos sociais. “Há uma convicção profunda de que estamos no caminho certo com o movimento social tendo voz, e o governo afinado com as pautas do movimento social”, afirma.
Simões espera, inclusive, que parte das soluções para os problemas das favelas e comunidades periféricas venha dos próprios territórios. “Tem muita gente que enxerga a periferia como se fosse um território de abandono, de ausência. Mas, a periferia é também um território de muita potência, de muita dinâmica”, diz.
Confira os principais trechos da entrevista concedida pelo secretário à Agência Brasil, CLICANDO AQUI