TEMPO BRABO
2 agosto 2018
Madrugada caiu gelo no Sertão alagoano, meu compadre. Essa era a expressão usada por minha sogra e com razão. Céu limpinho, limpinho, mas foi preciso um casaco e dois cobertores para aguentar o tranco. Julho recebeu agosto pocando, como também diz a juventude. Mas as chuvas principais que são aguardadas em julho vieram este ano apenas como amostra grátis. E como o nosso chamado inverno geralmente tinha como limite o dia 15 de agosto, foi um fracasso. O mês em que nós estamos costuma ser o mais frio do sertão, notadamente, na primeira quinzena. Entretanto, a frieza muitas vezes destruiu os feijoais, seguida de pragas de lagartas. Novamente o homem do campo bota as mãos na cabeça e desengana.
Pela manhã só aparece a neblina ou nevoeiro, isto é, uma formação de nuvens pouco espessas próximas da superfície, provocadas pelo resfriamento e condensação do ar úmido, também próximo da superfície. Isso ocorre, geralmente em noites claras, de céu límpido, sobretudo no inverno e no outono. O solo perdendo rapidamente calor provoca o resfriamento do ar das camadas contíguas à superfície, e a umidade condensada aparece sob a forma de nevoeiro, que tende a acumular-se nos vales e nas planícies. Isso porque o ar frio, sendo mais pesado, geralmente se concentra nas partes mais baixas do relevo. Nem sei se o compadre estar entendendo alguma coisa, mas é assim que a Geografia diz.
Chamamos também de orvalho outro fenômeno parecido. Este aparece quando o ar durante a noite resfria-se abaixo do ponto de saturação. Esta forma de condensação ocorre muito próxima da superfície e pode ser observada nas plantas e nos objetos ao amanhecer. Quando, porém, a condensação ocorre com temperaturas inferiores a 60 C, surge a geada, representada pela formação de uma camada fina de gelo sobre a vegetação e outros objetos.
A propósito, também chamamos no sertão a condensação do orvalho no início da noite, de sereno. As crianças são sempre advertidas pelos pais: “Saia do sereno, Mané!”
Ô Sertão velho de guerra!
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de agosto de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 1.955