O Rio São Francisco nasce na Serra da Canastra, centro-oeste de Minas. São mais de 2,8 mil km que cortam cinco Estados, até desaparecer nas águas do Atlântico, na divisa de Sergipe e Alagoas. Onde sempre houve fartura do recurso agora há escassez, e 85 Municípios da Bacia do São Francisco já decretaram Situação de Emergência por causa da seca só em Minas Gerais.
A Barragem de Três Marias foi construída para armazenar 19,5 bilhões de metros cúbicos de água. Mas, no mês de outubro, o volume útil chegou a menos de 3% da capacidade. Ela pode parar de gerar energia elétrica a qualquer momento e cortar o fluxo d’água rio abaixo, e colocar 122 Municípios em risco de desabastecimento. Um trecho de 40 km do São Francisco pode secar.
São os efeitos da pior seca dos últimos 100 anos, segundo a Companhia de Abastecimento de Minas Gerais (Copasa), que fica agravada pela ação do homem.
Primeira vez
Em Morada Nova de Minas, as raízes das palmeiras buritis já estão expostas faz tempo. Em Pedras de Maria da Cruz, pela primeira vez, expectadores chegaram à exibição do projeto ‘Cinema no Rio’ de ônibus, já que a barca não pode mais navegar.
A situação é tão séria, que até a principal nascente do São Francisco, na Serra da Canastra, secou este ano. Foi a primeira vez na história que isso aconteceu.
A estiagem tem afetado também a economia local. Com o nível da água baixo, os peixes vão embora, e os turistas também. Em alguns pontos do rio, por causa das pedras, o motor do barco não pode mais ser ligado. É possível descer e caminhar, uma cena antes impensável.
Poluição e o assoreamento
A poluição e o assoreamento contribuem para tornar o São Francisco cada vez mais raso. E 77% das águas que saem do leito vão para a agricultura e pecuária. Os ambientalistas não têm dúvidas: estão exigindo demais do Velho Chico.
Com a estiagem, o rio vai perdendo força e vida. Mesmo assim ele continua seguindo o caminho, rompe as barreiras do estado e chega na Bahia.
Quando está cheio o Lago de Sobradinho, o maior do São Francisco, é do tamanho da Baía de Guanabara. Hoje, está irreconhecível: já encolheu 80%. Árvores da caatinga submersa reapareceram e comunidades que ficavam na beira da represa agora dependem do caminhão-pipa.
Sem operação
O porto da única hidrovia que transportava grãos, entre Ibotirama e Juazeiro, há três meses parou de operar. Da divisa da Bahia com Minas até o Município de Xique-Xique, em vários pontos o assoreamento impede o rio de correr. Onde passavam barcos, agora passam carros, carroças. Dá até para apostar corrida de cavalos no leito do São Francisco.
Um dos motivos deste cenário assustador é a destruição das matas ciliares. Elas foram derrubadas em mais de 80% de toda a extensão do rio
Pelas leis ambientais, margens de rios como o São Francisco, devem ter a proteção de pelo menos cem metros de mata em cada lado. Mas os pastos avançam até a calha e o desbarrancamento tem avançado tanto que comunidades que ficavam a um quilômetro da água agora estão a no máximo 30 metros. Famílias ribeirinhas já foram obrigadas a se mudar.
Revitalização
Os projetos de revitalização, que preveem o replantio das matas ciliares, até agora não plantaram uma árvore, segundo o presidente do Comitê da Bacia do São Francisco.
Mesmo com pouca água, a barragem de Sobradinho, até agora, está conseguindo liberar a vasão mínima para garantir a geração de energia rio abaixo. O Velho Chico chega ao fim de sua longa viagem sem nenhuma força. Na foz, ele, que empurrava o mar, hoje, se deixa invadir pela água salgada.
Por CNM / com G1