Série: Uso excessivo da tecnologia móvel é tema desta última etapa da reportagem

03 set 2015 - 07:00


Pais e filhos enfrentam dilema para superar o fascínio pelas novas tecnologias e especialista fala sobre o assunto.

O mundo virtual em primeiro plano: uma família onde a tecnologia está bastante presente e que em várias situações, essa utilização foge do controle. (Foto: Gustavo Aquino)

O mundo virtual em primeiro plano: uma família onde a tecnologia está bastante presente e que em várias situações, essa utilização foge do controle. (Foto: Gustavo Aquino)

Além de crianças, como foi mostrado em um dos casos anteriores da reportagem, os adolescentes são os que mais exploram as novas tecnologias em redes móveis. Se pudessem, não se desligariam delas nem por um minuto. Uma família, onde todos têm celulares com 3G, poderia até entender a simplicidade para se estabelecer uma comunicação rápida e eficaz, o que se pode afirmar, em determinadas situações, que esse parâmetro de conexão se faz necessário. O acesso a informações é instantâneo, requerendo, através dessa realidade, mais objetividade no que se pretende alcançar na rede. Consequentemente, essa prática faz internautas acumularem mais funções. É a partir dessa ótica que o limite deve ser imposto.

Depois que a tecnologia móvel passou a fazer parte da vida da família da pediatra Gilma Alécio, surgiram aspectos positivos e negativos quanto a essa novidade. Por trabalhar durante a semana em outra cidade, ela tem a oportunidade de conversar com os filhos diariamente através do smartphone. Entretanto, os seus filhos mais novos, Paulla (16) e Jonathas (18), excedem o limite nos aparelhos. “Ela passa praticamente vinte e quatro horas conectada. Ele, que ainda tem um período de tempo livre para iniciar seus estudos acadêmicos, está viciado em jogos. É difícil impor um limite aos filhos nessa faixa etária”, disse.

Paulla e Jonathas têm essa percepção, tornando possível o controle nas redes sociais e nos jogos, respectivamente. “Por um lado atrapalha o convívio com a família e a concentração nos estudos. Por outro é bom, porque fazemos pesquisas através dele (do smartphone), mas as redes sociais, para mim, se tornaram um vício”, admitiu Paulla. Já Jonathas, jogador assíduo de League Of Legends, afirma conseguir se desvincular do notebook para fazer outra atividade mais importante, mas que no decorrer da partida, sua atenção só é desfocada depois que ela se encerra.

Para o pai, Félix Teles, não só os filhos estão se deixando levar pelo mundo virtual. Até ele reconhece o impacto que a tecnologia móvel vem causando no seu estilo de vida, tornando inevitável, em determinadas circunstâncias, seu uso exagerado. “Percebemos que essa prática interfere nas nossas relações”, disse. Tanto ele quanto sua esposa destacam sua filha primogênita, Raianna (21), acadêmica de Direito, a que mais controla a maneira como usa o celular, e consequentemente, a única que não lhes dá problemas quanto a esse aspecto.

Diálogo e as brincadeiras entre pais e filhos são grandes oportunidades não encontradas no smartphones. (Foto: Gustavo Aquino)

Diálogo e as brincadeiras entre pais e filhos são grandes oportunidades não encontradas no smartphones. (Foto: Gustavo Aquino)

“Creio que de vez em quando o contato com meus pais é prejudicado por eu estar prestando mais atenção a uma conversa ou a alguma notícia, e no momento aquilo ser mais interessante, mas não é sempre”, destacou Raianna, enfatizando que não vale a pena trocar o mundo real pelo virtual e que não há nada melhor do que interagir verbalmente e estar em contato de verdade com a família.

Para a psicóloga Roberta Sampaio, especialista em psicologia clínica e saúde mental, a importância da tecnologia na vida e no cotidiano das famílias é inquestionável devido às suas facilidades e atribuições. Todavia, sua outra observação para a realidade presente num espaço ocupado por pais e filhos se sobressai se for comparada ao lado positivo da questão. “É preciso ter o bom senso para a utilização de algumas ferramentas. Falta muito esse aspecto nessa relação, pois há pais e filhos que muitas vezes acabam misturando as situações e permitindo que só a tecnologia prevaleça. Vejo essa realidade na minha prática e observo que muitas relações estão sendo prejudicadas devido a isso”, assinalou.

O fator tanto do pai como do filho em alcançarem a percepção de que suas atenções estão mais voltadas para a tecnologia móvel do que para a relação afetiva, é se questionarem se estão deixando de se comunicar verbalmente e se estão dando mais valor ao celular do que um ao outro. “O fiel da balança é quando os pais se permitem levantar para si esses questionamentos ou têm a consciência de que estão utilizando muito mais o aparelho do que parando para olhar nos olhos do filho e perceber as necessidades que ele tem. Esse é o ponto de equilíbrio”, finalizou a psicóloga.

Por Gustavo Aquino – colaboração

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