Sobre Sérgio Campos

Sérgio Soares de Campos, nasceu em 11 de novembro de 1961, em Santana do Ipanema, Alagoas. Possui crônicas publicadas em sites e livros como: À Sombra do Umbuzeiro e À Sombra do Juazeiro. É membro idealizador e cofundador da Associação Guardiões do Rio Ipanema (Agripa). Criou o projeto musical Canteiro da Cultura, lançado dia 14 de dezembro de 2019.


Semana em homenagem à Caatinga: Artistas nordestinos que cantaram esse bioma

1 Maio 2014


semanacaatinga

Não foram poucos os artistas nordestinos que cantaram e decantaram a Caatinga: que verdeja e clareia a paisagem do semiárido brasileiro, inspirando repentistas, cordelistas, poetas, artesões, forrozeiros e tantos outros artistas amantes da natureza.

Muitos Ambientalistas e defensores dos sertões nordestinos, iniciaram a defesa em favor do Bioma Caatinga, a partir desses artistas.

Agricultor com alma de poeta

Foto: onordeste.com

Patativa do Assaré
(Foto: onordeste.com)

Poucos devem ter ouvido falar em Antônio Gonçalves da Silva, mas se nos referirmos a essa mesma pessoa por seu pseudônimo: “Patativa do Assaré”, um dos maiores poetas nordestinos, nascido em 1909, no sertão cearense, é provável que quase todos os amantes da poesia já tenham lido e se encantado com algo deste extraordinário talento.

Em um verso de um dos maiores dos poemas, “A Triste Partida”, que virou música famosa na voz de Luiz Gonzaga, Patativa, retrata a seca da “mata branca” nordestina, como poucos, diz ele: “Sem chuva na terra descamba janêro, depois, feverêro, e o mêrmo verão. Entonce o rocêro, pensando consigo. Diz: isso é castigo! Não chove mais não”!

No entanto, Patativa do Assaré não cantou apenas a o flagelo da seca. No poema, “A Festa da Natureza”, ele fala das belezas do sertão:

“Chegando o tempo do inverno/Tudo é amoroso e terno/Sentindo o Pai Eterno/Sua bondade sem fim/O nosso sertão amado/Estrumicado e pelado/Fica logo transformado/No mais bonito jardim/Neste quadro de beleza/A gente vê com certeza/Que a musga da natureza/Tem riqueza de incantá/Do campo até na floresta/As ave se manifesta/Compondo a sagrada orquestra/Desta festa naturá/Tudo é paz, tudo é carinho/Na construção de seus ninho/Canta alegre os passarinho/As mais sonora canção/E o camponês prazentero/Vai prantá fejão ligero/Pois é o que vinga premero/Nas terras do meu sertão.”

Outros poemas de Patativa, que se transformaram em músicas consagradas, como: Vaca Estrela e Boi Fubá; ABC do Nordeste Flagelado; O Poeta da Roça; O Sabiá e o Gavião e O Vaqueiro, ainda hoje são lembrados pelos amantes da cultura sertaneja.

Mesmo fazendo poesia de primeira linha, Patativa do Assaré nunca se considerou um profissional da área, morreu em 2002 no mesmo lugar em que nasceu afirmando ser agricultor.

O maior divulgador das belezas da Caatinga

Se Patativa do Assaré recebeu o dom divino de criar poesias belíssimas, coube a Luiz Gonzaga o papel de divulgá-las.

Mesmo compondo, como fez com seus maiores parceiros Humberto Teixeira e Zé Dantas, Gonzaga se consagrou ao divulgar e defender as belezas do Nordeste através da sua voz, especialmente a fauna e a flora, sempre acompanhado da parceira inseparável, a sanfona.

Em o “Xote das Meninas” Gonzaga relata como o sertanejo tem a ideia de que aquele ano o inverno será proveitoso: “Mandacaru quando fulora na seca, é o sinal que a chuva chega no sertão…”.

O mandacaru é uma planta comum no sertão nordestino e não raro, atingir até mais de 5 metros de altura, servindo de alimento para diversas aves típicas da caatinga.

Em sua longa carreira no rádio na TV, nas feiras, nos circos e muitos palcos, Gonzaga divulgou tanto o sofrimento quanto a alegria do sertanejo que convide o dia a dia com na caatinga, cantando animais e plantas, como Juazeiro, Assum Preto, Sabiá, Fogo Pagou, Aroeira e sobre tudo Asa Branca: “Inté mesmo a asa branca bateu assas do sertão”.

Mas Luiz Gonzaga não se contentou apenas em cantar a fauna e flora, ele decantou, sobretudo, o povo do sertão. O folclore, o vaqueiro e o agricultor.

Na música “Acordo as Quatro”, do compositor alagoano Marcondes Costa, Luiz Gonzaga canta a forma simples de uma família sertaneja, a qual, mesmo diante dos percalços enfrentados, não mede distância para encaminhar seus filhos à escola.

Acordo as quatro

Letra e música: Marcondes Costa

Acordo às quatro

Tomo meu café

Dou um beijo na muié

E nas crianças também

Vou pro trabáio

Com céu ainda escuro

Respirando esse ar puro

Que só minha terra tem

Levo comigo

Minha foice e a enxada

Vou seguindo pela estrada

Vou pro campo trabaiá

Vou ouvindo

O cantar dos passarinhos

Vou andando, vou sozinho

Tenho Deus pra me ajudar

Tenho as miúças

Carneiro, porco e galinha

Tenho inté uma vaquinha

Que a muié véve a cuidar

E os meninos

Digo sempre a Iracema

Em Santana de Ipanema

Todos os três vai estudar

Pois eu não quero

 Fío meu anafabeto

Quero no caminho certo

Da cartilha do abc

Eu mesmo

Nunca tive essa sorte

Mas eu luto inté a morte} bis

Móde eles aprender

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