Resistência e desafios atuais são encarados pela FPI em quilombo no Sertão Água, posto de saúde e moradias dignas estão entre maiores necessidades de quilombolas de Poço das Trincheiras/AL

Ascom / FPI Rio São Francisco

01 dez 2023 - 10:30


Foto: Ascom / FPI Rio São Francisco

Na zona rural de Poço das Trincheiras e Santana do Ipanema, no sertão de Alagoas, estão algumas comunidades quilombolas que resistem há anos de preconceito e vulnerabilidade social. A falta d´água para o sertanejo é a luta pela própria sobrevivência, onde a ausência de água se traduz em fome e doenças.

Nesse cenário desafiador, a Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) do Rio São Francisco emerge como um agente indutor de políticas públicas essenciais a essas comunidades. A FPI visitou o Povoado Jorge, em Poço das Trincheiras/AL, o mais antigo quilombo da região. Uma comunidade que remonta a possíveis fugitivos do ataque a Palmares, em 1694, perseguidos por Domingos Jorge Velho até essa localidade.

Jorge Velho teria ficado na região por um tempo buscando capturar pessoas negras para reescravizá-las. Esse período de ocupação marcou profundamente a área, que passou a ser conhecida como Jorge, o local onde Jorge esteve.

Foto: Ascom / FPI Rio São Francisco

Apesar de sua história rica, o Povoado Jorge, berço dos quilombos do Alto do Tamanduá e Baixio do Tamanduá, permanece o mais vulnerável. A água escasseia nas casas, e a comunidade carece de cisternas, ao contrário dos outros dois quilombos.

Foto: Ascom / FPI Rio São Francisco

As moradias precárias são outro ponto crítico. Nas chuvas do último inverno, muitas casas foram danificadas, algumas inabitáveis, levando alguns moradores a construírem casas de taipa, enfrentando condições adversas. Sem falar na falta de banheiros nas casas, que leva à sujeira, insalubridade e doenças.

Foto: Ascom / FPI Rio São Francisco

Embora conte com uma escola de boa qualidade que atende as crianças do povoado, a comunidade de cerca de 160 famílias enfrenta a falta de um posto de saúde. Os atendimentos básicos ocorrem semanalmente na sede da associação comunitária, mas no dia da visita da FPI, já era a segunda terça-feira consecutiva sem atendimento. Uma criança ferida na noite anterior aguardava transporte para o hospital, pois os pais não conseguiram que a ambulância prestasse socorro.

A falta de perspectivas e de oportunidades para os moradores do Quilombo Jorge leva os jovens a se aventurarem em lavouras pelo Sul e Sudeste do país, nem sempre em condições adequadas. Os raros alunos que concluem o ensino médio também não conseguem emprego por falta de vagas.

A visita ao Quilombo Jorge foi feita pela Equipe Comunidades Tradicionais e Patrimônio Cultural, coordenada pelo Ministério Público Federal (MPF), com a presença do procurador da República Érico Gomes, que também coordena a FPI em Alagoas, que informou aos moradores que estará empenhado em efetivar políticas públicas para os quilombolas.

A visita foi acompanhada pela Rede Mulheres de Comunidades Tradicionais (RMCT), que intermediaram o contato com a comunidade e facilitaram a interlocução com os moradores. Assim como a Fundação Palmares e a Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh) que apresentaram políticas públicas disponíveis para os quilombolas, indicando a Secretaria Municipal de Assistência Social como o órgão facilitador.

O representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que investigou o patrimônio cultural da comunidade, descobriu eventos vinculados à Igreja Católica, como a tradicional procissão de São José em março.

Enquanto a equipe se envolvia em diálogos com os moradores, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) realizou uma inspeção na comunidade, examinando a qualidade da água e o estado do saneamento básico. E a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) avaliava meios para viabilizar o acesso à água de qualidade na comunidade.

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