QUEM SOU?

15 abril 2024


Foto: Peter H / Pixabay

Imagine você, se a palavra pudesse se autodefinir? O que diria de si mesma? “–Muito prazer! Sou a palavra! Fui eu que a tudo criou! Deus disse: “Faça-se a luz!” E por minha causa a luz se fez! Na verdade, disse-me em hebraico, aramaico? Ou latim? Não sei ao certo. Posso garantir que em qual idioma for, sou muito bonita. Nasci para unir, pra esclarecer, para crescer, para desenvolver, para promover. Vim ao mundo pra alegrar, pra emocionar, pra ajudar, pra facilitar, pra melhorar a comunicação entre os homens.

Nem sempre consigo. Às vezes fico triste, melancólica, reflexiva, pensativa. Tantas vezes já fui pisada, rasgada, enlameada, jogada fora, desprezada, humilhada. No entanto nunca desisto. Já imaginaram quão prazer, e ao mesmo tempo, como sofrem os que vivem da minha existência? Escritores, professores, comunicadores, políticos, jornalistas, magistrados, médicos, compositores, intérpretes, dicionaristas, tradutores etc. Muitas vezes mal entendidos, desrespeitados, caluniados, vilipendiados.”

Sobre o termo “autodefinir” “O falso prefixo “auto” é um elemento de composição na formação de palavras. Pela nova ortografia somente é separado do segundo elemento por hífen nos casos em que este inicia por “o” ou “h”. Caso o segundo elemento se inicie com a consoante “s” ou “r” é necessário dobrá-la, sem usar hífen. Nos demais casos quando o segundo elemento inicia por demais consoantes ou vogais não há hífen.  By site: soportugues.com.br”

A palavra nos proporciona muitos momentos de alegria, disso não temos dúvida! Em especial quando deixa a seriedade da prosa e entra no jardim da infância da poesia.

“Sóbolos rios que vão por Babilônia, me achei/ Onde sentado chorei as lembranças de Sião e quanto nela passei/ Ali o rio corrente dos meus olhos foi manado, e tudo bem comparado/ Babilônia ao mal presente, Sião ao tempo passado.  Luis Vaz de Camões [1524-1579]

“Sôbolos – etimologia – contração sobre alguma coisa já determinada; em cima; para cima; da preposição “sobre” mais o artigo arcaico “lo”. Fonte: Google.com.br”

A poesia de Camões uma Décima, arte poética, é uma estrofe de dez versos, podem ser heptassilábicos (redondilha) ou decassilábicos, podendo aceitar outras métricas.

“Soltai-me Amor enganado/ Que enganado me prendeis/ Que em meu poder não tereis/ Seguro vosso cuidado/ Sou um pastor desprezado/ Que numa aspereza vivo/ A toda brandura esquivo/ Sujeito a todo rigor/ Não posso servir a Amor/ Que estou de sorte cativo.  Francisco Rodrigues Lobo, Poeta português [1580-1622].

De acordo com Ricardo Sérgio [recantodasletras.com.br] Os poetas Românticos não apreciavam muito a Décima, Porém os Parnasianos a puseram em circulação. Os nossos cantadores nordestinos utilizam-na com frequência.

“Quem é esta clandestina que dentro de mim viaja/ e de mim não se separa mesmo quando estou dormindo/ e aparece nos meus sonhos breve e leve como a neve? Quem é esta clandestina doce e branca e feminina/ que me segue quando saio sombra em mim dissimulada/ e torna a voltar comigo colada ao cair da tarde?  Quem é essa clandestina que de mim não desembarca? Sou seu trem ou seu navio? Seu barco ou seu avião? E sua voz me respondeu: és meu berço e meu jazigo/ Antes mesmo de nasceres eu já estava contigo/ E sempre estarei em ti até o fim da viagem. Ledo Ivo “Crepúsculo Civil -1990.

UM POUCO DE HUMOR PRA ENCERRAR

VERSOS SEM RIMA

LÁ VEM A LUA SAINDO

POR DETRÁS DAQUELA SERRA

BRANQUINHA QUE NEM LEITE

SE TALHAR EU COMO.

LÁ VEM A LUA SURGINDO

REDONDA COMO UMA VARA

SE VOCÊ NÃO COME MELÃO

PORQUE ROUBOU MINHA BICICLETA?

ESPEREI POR VOCÊ

DEBAIXO DUM GALINHEIRO

ESPEREI TU NUM VIESSE

A GALINHA ME CAGOU…

SUBI NUM PÉ DE LIMÃO

PRA VER MEU AMOR PASSAR

O MEU AMOR NÃO PASSOU

AÍ EU DESCI.

 

Fabio Campos, 15 de Abril de 2024.

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