E Cuba está nas conversas dos brasileiros, com o programa Mais Médicos e, agora, a viagem de Dilma.
Cuba e, indiretamente, os Estados Unidos, por causa do embargo americano.
Um giro pela história mostra como sobram razões aos cubanos para abominar os Estados Unidos.
Cuba foi uma das primeiras grandes vítimas da expansão americana que começou no final do século 19 e não mais se interrompeu.
Em meados da década de 1890, os cubanos, liderados por Martí, se rebelaram contra o domínio espanhol.
Os Estados Unidos acharam que seus negócios na ilha estavam ameaçados. Em consequência disso, moveram uma guerra contra a Espanha, rapidamente ganha.
O espírito bélico já dominava o país, como mostra o historiador Howard Zinn em “A História do Povo Americano”.
“Todas as grandes raças foram guerreiras”, disse Theodore Roosevelt, um dos políticos americanos mais influentes daqueles dias e presidente entre 1901 e 1909. “Nenhum triunfo na paz é tão grande como um supremo triunfo na guerra.”
Se você estranha que Obama tenha conquistado o Nobel da Paz, saiba então que Roosevelt também levou o seu. Numa carta a um amigo, ele escreveu: “Estritamente entre nós: eu gostaria de qualquer guerra, pois acho que este país precisa de uma.”
Logo ficaria claro que a independência dos cubanos estava em segundo plano diante dos interesses econômicos dos Estados Unidos. No ultimato dado à Espanha, em março de 1898, não era sequer mencionada a independência de Cuba.
Um portavoz dos rebeldes cubanos disse ao governo americano: “Diante da presente proposta de intervenção sem prévio reconhecimento da independência, é imperioso para nós darmos um passo além e dizer que vamos considerar essa intervenção como nada menos que uma declaração de guerra dos Estados Unidos contra os revolucionários cubanos.”
A Espanha foi batida com facilidade. Em três meses a “esplêndida guerrinha”, como a definiria o secretário de Estado, estava vencida.
O problema, para os cubanos, veio depois.
Nenhum rebelde cubano participou da cerimônia de rendição dos espanhóis. Um general americano avisou que as repartições públicas de Cuba continuariam a ser tocadas por espanhóis.
Zinn, em seu livro, conta que mesmo antes que a bandeira espanhola tivesse sido baixada os interesses econômicos dos Estados Unidos já comandavam Cuba.
“Os Estados Unidos não anexaram Cuba”, diz Zinn. “Mas os cubanos souberam que o exército americano não deixaria o país se a Emenda Platt não fosse incorporada à nova Constituição de Cuba.”
A Emenda Platt é, ainda hoje, motivo de horror entre os cubanos, mais de um século depois.
A emenda dava aos americanos “o direito de preservar “ a independência de Cuba. Também previa bases militares. (A base de Guantanamo nasceria ali.)
Os rebeldes cubanos não gostaram, evidentemente. Um documento deles dizia o seguinte: “Os Estados Unidos se reservarem o poder de determinar quando a independência de Cuba está ameaçada equivale a dar-lhes a chave de nossa casa de forma que eles possam entrar a qualquer momento, de dia ou de noite, com boas ou más intenções.”
Era claro isso para todos. Um general americano escreveu para Roosevelt: “Com a Emenda Platt há pouca, ou nenhuma, independência para Cuba.”
Cuba não teve senão aceitar.
Fidel diria, depois, que a emenda foi uma das razões vitais que levaram à Revolução de 1959.
O que resta hoje da emenda são duas coisas: Guantánamo e o ódio eterno dos cubanos aos colonizadores americanos que se fantasiaram de libertadores.
Paulo Nogueira = Diário do Centro do Mundo