População rural do país pode ser o dobro do que dizem números oficiais.
A população que vive no meio rural do país pode ser o dobro do que apontam os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A revelação foi feita na sexta-feira pela professora Tania Bacelar, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em debate na Comissão de Agricultura (CRA). Ela ressaltou a importância da releitura para a formulação de novas políticas públicas.
A professora, que integra a coordenação do Estudo sobre a Ruralidade no Brasil Atual, desenvolvido pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e universidades brasileiras, citou a metodologia da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Com base em critérios diferentes dos utilizados pelo IBGE, a Cepal calcula que 36,2% dos brasileiros vivem no campo, em contraste com os 18,8% estimados pelo instituto.
Para tipificar área rural, a Cepal usa critérios como densidade demográfica de menos de 150 habitantes por quilômetro quadrado. Também considera que ao menos 35% da população economicamente ativa (PEA) esteja ocupada no setor agropecuário.
Vinculado à UFPE, o professor Jean Bitoun afirmou que, na nova tipificação, é mais adequado trabalhar com o conceito de regiões, em lugar de municípios. Ele disse que há regiões essencialmente rurais, relativamente rurais e essencialmente urbanas. Ele reconhece que a população brasileira é muito concentrada nas regiões urbanas, mas principalmente ao redor das grandes metrópoles: 376 municípios concentram mais de 100 milhões de habitantes.
Já a professora Leonilde Medeiros, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), citou a falta de dados sobre a propriedade de terra para concluir que a concentração fundiária brasileira tende a transformar o campo num grande deserto. Responsável por uma equipe que define os marcos jurídicos das noções de rural e urbano, a professora lembrou que raramente os planos diretores dos municípios brasileiros tratam da área rural.
A Secretária de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Andrea Butto, disse que as estatísticas assinalam uma estagnação do êxodo rural no Brasil, graças às políticas sociais do governo do PT.
Manuel Otero, representante do IICA no Brasil, afirmou que o estudo ajuda a levantar a autoestima dos produtores rurais.
Cristovam Buarque (PDT-DF) questionou a possibilidade de implantar um modelo que não expulse as pessoas do campo, ofertando empregos, saúde e educação.
Do Jornal do Senado