O nome do Assentamento Nova Esperança, situado em Olho d’Água do Casado, no Alto Sertão de Alagoas, ecoa o movimento da comunidade local para valorizar o Patrimônio Arqueológico e reinventar a sua relação com o território.
Conservar painéis rupestres, promover ações de educação patrimonial e gerar renda a partir da gestão sustentável dos sítios arqueológicos são apenas algumas das ações promovidas pelos moradores em parceria com a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Alagoas.
Aliar pesquisa ao desenvolvimento territorial tem sido o mote que conduz a atuação local do Iphan, autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo. O Instituto investe aproximadamente R$ 740 mil na iniciativa.
Trata-se de um projeto de arqueologia colaborativa, em que ações são construídas com a participação ativa da comunidade. O programa de gestão e desenvolvimento territorial contemplou inicialmente 14 sítios, que já eram cadastrados no banco de dados do Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA/Iphan). Durante as ações de conservação, foram localizados outros 16 sítios, atualmente em processo de cadastro.
Em 27 de agosto, o projeto teve mais um desdobramento: crianças da Escola Municipal de Educação Básica Dom Pedro II, em Nova Esperança, tiveram uma aula fora das paredes escolares nos sítios arqueológicos da região. Os estudantes residem no assentamento. A excursão incluiu o Patrimônio Cultural no programa educativo e apresentou aos jovens a cultura do local onde vivem.
Professora da escola e moradora do assentamento, Maria Betânia Vieira de Souza Lima participou das capacitações feitas pelo Iphan. Inspirada pelos conhecimentos aprendidos, levou os alunos para a visita: “A minha intenção foi dizer que as pinturas e gravuras trazem uma história do nosso passado e que pode ser contada futuramente pra nossos netos e bisnetos. Mas para que isso aconteça devemos zelar e ser verdadeiros guardiões desses sítios, que podem ser uma fonte de renda local que vai empregar muitas pessoas da região”.
A conservação da arte rupestre no local contempla distintas frentes de trabalho, como preparar mobilidade nos sítios, implantar receptivo de turistas e espaços de venda de produtos da economia criativa, preparar a comunidade para trabalhar como condutores de turismo, bem como tornar os proprietários dos sítios colaboradores nas conservação das pinturas rupestres.
Nos últimos anos, a região vem passando por um aumento significativo no fluxo turístico, o que gera visitas desordenadas ao Patrimônio Arqueológico. Para resolver essa questão o projeto busca estabelecer um turismo sustentável, no qual seja considerada a capacidade de carga de cada sítio arqueológico. Assim, preserva-se o Patrimônio Cultural e a comunidade adjacente.
Desde o ano passado, moradores são treinados para desenvolver produtos de economia criativa com temática da pintura rupestre. Para tanto, foram promovidas oficinas de corte e costura, artes plásticas e culinária. Os esforços estão gerando frutos: compostas de doces e geleias, camisas, temperos e licor de murici – fruto comum nas regiões Norte e Nordeste do país – já são comercializados pela comunidade.
Além disso, o Iphan em Alagoas promoveu uma reunião no via 19 de agosto com comunidade, Prefeitura de Olho D’água do Casado, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e representantes de grupos empresariais. A iniciativa visa firmar parcerias, potencializar o projeto e dar continuidade mais longa às ações.
“Esse projeto veio pra transformar vidas, mostrar pra essa comunidade o potencial desse povo: o sorriso, o brilho no olhar, a vontade de sonhar, lutar e realizar que esse povo tem”, comenta a moradora Ana Paula Ferreira da Silva. Norteia o projeto a noção de que setores como os de serviços, transportes e comércio são impulsionados quando a gestão dos bens culturais é integrada à vida da comunidade. Assim, a conservação do Patrimônio Cultural impulsiona o crescimento econômico, gerando renda, emprego, e melhorias para a vida da população.
“Contou uma história que poucos conheciam, que é a história dos nossos antepassados, dos sítios arqueológicos, das artes rupestres e a riqueza que temos ao nosso redor e não sabíamos. O turismo vai funcionar de forma que todos possam usufruir da cadeia produtiva do assentamento. Uma mulher que está em casa ou indo pra roça também tem a expectativa de ter uma renda pra ela. Um pai de família que produz o seu alimento e trabalha com couro também vai produzir o seu artesanato e contribuir com o projeto. Um jovem que termina seus estudos e não tem expectativa de trabalho na comunidade vai poder trabalhar como condutor, recepcionista e várias outras coisas”, enaltece Ana Paula.
Por Assessoria / Iphan