Artigo: Pandemia e ressignificações Que ironia, a humanidade que em sua sede insaciável de produzir, polui o ar, e agora precisa produzir ar em pequenos respiradores para manter-se viva.

22 abr 2020 - 12:30


Charlie Chaplin escreveu, dirigiu e interpretou um trabalhador no filme Tempos Modernos (Foto: United Artists / Domínio Público)

A realidade pandêmica dá uma sacudida na ilusão da sociedade de mercado e seus valores. A ecologia em sua dinâmica dialética nas relações sistêmicas entre as formas de vida mostra o quão utópica é a busca de felicidade nos moldes materialista do capitalismo. Um microrganismo obriga a humanidade e suas instituições a ressignificar valores e suas formas de organização da vida coletiva e sistemas produtivos.

A sacudida do micro abalou o macro: a grande mãe terra respira melhor com o freio dado na produção industrial e a mitigação do fluxo de veículos; Pessoas ouvem e se olham melhor no seio de suas famílias; Abraços, toques, o chá da tarde ou happy hour no fim do dia, coisas que pareciam tão automáticas, hoje tomam outra dimensão, aquela da essencialidade à vida.

A sacudida do micro obriga a redistribuição da “gordura da terra”, antes acumulada ao extremo, a alcançar minimamente, via o Estado, os menos favorecidos no sistema, aqueles duplamente excluídos do direito ao consumo de bens essências e da oferta ambiental de ar puro. Que ironia, a humanidade que em sua sede insaciável de produzir, polui o ar, e agora precisa produzir ar em pequenos respiradores para manter-se viva.

Quão bela é a verdade, epistemologicamente, essa consonância entre o ser e o objeto! As utopias, os psicologismos e as frágeis crenças sempre caem frente à realidade. Quão bela é a liberdade, todas as vezes que o formas reacionárias se extremam, caem sob a égide da essência humana ou ecológica.

Ou, como humanidade, ressignificamos as formas de fazer e os sentidos de ser, aceitando a ciência como orientadora da realidade da vida e indicadora da verdade na dinâmica da matéria, ou tendemos ao fracasso, a injustiça e ao genocídio de grande parte de nós, infelizmente os mais pobres.

Todas as vezes que mercantilizamos os direitos fundamentais retroagimos como humanidade. Saúde, educação, moradia, segurança e liberdade não têm preço e nem donos. São bens coletivos e o seu gestor deve ser o Estado. Qualquer coisa fora disso não condiz com a consonância entre a realidade e o humano e tende a promover exclusão, injustiças, desiquilíbrios ecológicos, e genocídios.

Ressignificar exige se render à possibilidades outras, à aceitação de que se tem um paradigma estrábico, exige reconhecimento do erro e tomada de decisão para mudança. Como sociedade devemos considerar tal possibilidade constantemente, fugir de dogmas que embriaguem a sede humana de aprender o novo. Ressignificar demanda humildade e ação sistemática da natureza humana.

A mais importante das ressignificações, por hora, talvez seja o sentido de humano. O que é ser Humano? Ser gente, ser pessoa? Somos apenas o trabalho? Um parafuso na grande máquina do industrialismo moderno? Uma poeira sacudida de um lado a outro pelo grande “moinho satânico” do sistema produtivo? O que somos?

Por Lenivaldo M. Melo* – colaboração

*É Sociólogo e Docente na UNEAL e FASVIPA.

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