Os empregos verdes em uma economia de baixo carbono
8 Maio 2013
No seu relatório anual sobre as tendências mundiais do emprego, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que, “apesar de uma recuperação moderada do crescimento da produção” esperada para este ano e para 2014, “a taxa de desemprego deverá aumentar de novo e o número de desempregados no mundo crescerá 5,1 milhões em 2013, ultrapassando 202 milhões”.
Contudo, esse cenário desolador da economia mundial pode ser atenuado via geração dos chamados empregos verdes a partir da transição para uma economia de baixo carbono; para uma economia que se desenvolva qualitativamente sem impactar o meio ambiente, que cresça moderadamente sem destruir os elementares serviços ecossistêmicos, que se paute na ética dos valores contidos no ideário do desenvolvimento sustentável, protegendo a flora, a fauna, reduzindo o consumo de recursos naturais, de energia e de água.
Para a OIT, os empregos verdes são aqueles que reduzem o impacto das empresas no meio ambiente e dos setores econômicos a níveis que sejam considerados sustentáveis, além de reduzir a necessidade de energia e matérias primas.
Isso somente será possível com a prática de uma nova economia que respeita o meio ambiente e reconheça a necessidade de reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa, respondendo afirmativamente pela geração de empregos em áreas-chave da sustentabilidade.
Ainda segundo estudos elaborados pela OIT, até 2030 o Brasil deve criar cerca de 730 mil novos postos de trabalho com a implantação de projetos de economia de baixo carbono, somente no setor de energias renováveis.
Hoje, já contamos com mais três milhões de postos de empregos verdes, com destaque para as seguintes áreas: agroecologia, proteção de áreas de conservação, biocombustíveis e construção civil, usando nesse último caso a eficiência energética em prédios residenciais e industriais, com construções mais inteligentes que consomem no ato produtivo menos energia, água e materiais, portanto, em sintonia à ideia de “cidades sustentáveis”.
Dentro da perspectiva dessa nova economia que obrigatoriamente coloca no centro das decisões a questão ambiental, fazendo a interface entre a atividade econômica e as Ciências Naturais (especialmente a biologia e a ecologia), permitindo assim com que o processo econômico gire em torno dos ecossistemas, derrubando, pois, a economia neoclássica que leva em conta o meio ambiente apenas pela ótica da externalidade, há um amplo conjunto de atividades que são potencialmente geradoras desses empregos ambientalmente equilibrados e favoráveis à qualidade de vida.
Essas atividades necessariamente passam pela descarbonização da atividade econômica. Dentre essas, destacam-se: a agricultura orgânica (com o desenvolvimento de compostagens e adubação orgânicas – transformação de resíduos em húmus), o turismo ecológico e de aventura (englobando patrimônios culturais e as belezas naturais), a reciclagem de resíduos (com a normalização dos catadores de materiais e criação de cooperativas), o setor de energia solar, atividades de apoio à produção e manejo florestal (dados da OIT – base 2009 – apontam que esse setor emprega 12,9 milhões de trabalhadores em todo o mundo), geração e distribuição de energias renováveis, saneamento, gestão de resíduos, processamento e distribuição de gás natural, atividades paisagísticas, caça e pesca, horticultura e floricultura.
Especificamente no setor de transportes, cabe destacar como bons postos de empregos verdes, o marítimo de cabotagem, por navegação, de travessia, ferroviário de carga, metroferroviário de passageiros, além da construção de embarcações e estruturas flutuantes.
Outro setor que responde afirmativamente pela geração de vagas no mercado de trabalho é o do cultivo da cana de açúcar para produção de etanol; resguardando-se, nesse caso, os impactos negativos sobre o meio ambiente, tais como a exaustão dos solos, degradação das matas, assoreamento e a poluição dos rios.
De toda sorte, os empregos verdes em uma economia de baixo carbono se insere na perspectiva de que é possível ainda salvar o planeta da agressão produtiva típica das economias modernas que anseiam a qualquer custo obterem elevadas taxas de crescimento econômico.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor, com especialização em Política Internacional e mestrado em Integração da América Latina (USP). email: prof.marcuseduardo@bol.com.br