Sobre Sérgio Campos

Sérgio Soares de Campos, nasceu em 11 de novembro de 1961, em Santana do Ipanema, Alagoas. Possui crônicas publicadas em sites e livros como: À Sombra do Umbuzeiro e À Sombra do Juazeiro. É membro idealizador e cofundador da Associação Guardiões do Rio Ipanema (Agripa). Criou o projeto musical Canteiro da Cultura, lançado dia 14 de dezembro de 2019.


Onde você vai passar o dia do fim do mundo?

20 dezembro 2012


Essa foi a pergunta que me fez um amigo meu nesta quinta-feira, dia 20 de dezembro de 2012. Um dia antes de acontecer o tão badalado “fim do mundo”, divulgado pela mídia mundial [pense como dá Ibope esse tipo de notícia, ainda que a maioria das pessoas não admita que acreditem], durante todo este ano de 2012.

Como já era um assunto muito mastigado, não tive muita dúvida na hora de responder. No instante me veio de relance, à memória, uma música do cantor e compositor pernambucano, o qual já teve o seu “fim do mundo”, no momento em que faleceu, Zé Castor.

“Meu fim do mundo pretendo passar na terra em que nasci, me criei e vivo até hoje. No Sertão nordestino. Junto dos meus amigos, familiares e desafetos. Pois foi nessa terra que criei minhas raízes, meus costumes, meus gostos, defeitos e manias. Aqui aprendi a conviver com pessoas. A gostar das tradições, da cultura e da vasta culinária. Eita sertão da gota serena de bom. É nele que pretendo viver até o fim do mundo”, respondi sem pestanejar.

Vendo que eu estava falando “sério”, o meu amigo, que demonstrava querer brincar comigo, por um instante franziu a testa, olhou para mim como se estivesse entre o temor e a surpresa e indagou: “mas você acredita mesmo que o mundo vai se acabar amanhã?”.

– Na verdade – respondi – li alguma coisa sobre o assunto, mas, confesso que, não o bastante para responder que estou a par sobre o assunto.

Ainda surpreso, ele insistiu na pergunta, demonstrando estar preocupado sobre o assunto, como se estivesse acreditando que realmente o que a mídia mundial vinha comentando sobre o fim do mundo para o dia 21 de dezembro de 2012, fosse realmente a única e soberana verdade.

– Bem – disse calmamente a meu amigo – primeiro é preciso respeitar a opinião de cada um. Eu acredito que o mundo se acaba no momento em que você “bate a caçoleta”, “toma da tarraqueta”, “bate as botas”, ou, num português culto, morre.

Depois de minha resposta ainda continuei a lhe encarar, e logo percebi que não tinha lhe convencido. Mas como essa não era a minha intenção, ignorei e tentei mudar de assunto.

Mas o cabra é do tipo renitente, não se contenta com qualquer resposta, e logo retornou ao assunto.

– Rapaz acho que você ta querendo me enrolar – me respondeu.

– Me responda se você acredita ou não que o mundo vai se acabar?

– Vamos lá – disse eu.

Foi quando lhe falei da música de Zé Castor – lembram?.

– Veja bem, – disse com bastante paciência [mas doido pra mandar ele tomar no fim do mundo] – lembre-se que falei que gosto do lugar em que nasci e vivo. Que gosto da cultura daqui, e uma delas é a musicalidade nordestina. Rica em sabedoria. Sou fã incondicional do maior artista do mundo, Luiz Gonzaga, o qual tive a grata satisfação de assistir uma apresentação em minha cidade.

Percebendo sua atenção, continuei.

– Nesse Nordeste, conheci muita gente boa. Artesãos, cantores, donas de casa, palhaços, pedreiros, médicos, garis professores, donos de cabarés músicos e tantos outros que me orgulharam até este dia 20 de ter nascido nesse lugar maravilhoso. Entre eles quero destacar, com grata satisfação, o fato de ter conhecido e assistido um cabra da peste de bom, chamado Zé Castor.

Já demonstrando impaciência, ele me interrompe e pergunta.

– E o que tudo isso tem a ver com a minha pergunta?

– Bem, estou tentando lhe dizer que já vivi o bastante para suportar o que vier daqui pra frente. Já tive tanto lucro, que não será um fimdemunduzinho qualquer que irá me abalar.

– Por isso meu amigo – respondi com convicção – que ainda hoje ligo meu som e ouço Zé Castor cantar: “eu tenho pena de morrer e deixar o mundo. Quando eu morrer o mundo pode se acabar”.

Link da música de Zé Castor “Quando eu morrer o mundo pode se acabar”

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