ONDE O GUERREIRO MORA

11 ago 2014 - 00:35

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de agosto de 2014

Crônica Nº 1.237

Foto: Ascom Maceió

Foto: Ascom Maceió

A friezinha do mês de agosto não quer me deixar sair da cama. O quentinho do leito faz imaginar que lá fora está caindo gelo. Sertão de Alagoas. Chuva fina sem parar, noite e dia, comadre. O espanta-boiada corta os ares com o seu grito estridente, anunciador. Vai para as baixadas do relevo, às margens encharcadas do rio Ipanema. Uma força segura no lençol, outro impulso chama para o cafezinho quente, para a luz do dia. É o mês de agosto com suas caracterizadas chuvas constantes e frio de matar lavoura. Nem sei o porquê, vem à cabeça o guerreiro, peça folclórica genuína desse território. Lembro-me de uma empregada da casa de meu pai ─ figura de guerreiro – e reforço o pensamento da moçona Expedita:

O avião

Subiu

Se alevantou

No ar

Se peneirou

Pegou fogo

E levou fim…!

Os pingados maneiros sobre o teto, os garranchos da chuva fina, tangidos pelas lufadas do vento brando, trazem a voz também de espanta-boiada de Clemilda, a cantora, que tanto admiro:

Mestre Pedro

Eu saí de Penedo

Domingo bem cedo

Às seis horas…

Só agora

Estou recordando

Sou alagoano

Onde o guerreiro

Mora…

E diante da xícara fumegante, parece que chegam as explosões folclóricas como se dissessem: “Vamos dançar guerreiro, Clero”. Credo em cruz! Sabem até o meu apelido carinhoso, de família. Volta Expedita com o seu folguedo:

Toda mata tem espinho

Toda lagoa tem peixe

Toda velha tem “me deixe”

Toda moça tem carinho…

O mundo hoje está mais para crônica do que para cronista. Ô meu Deus, só mais um pouquinho na cama, Jesus.

É o canto da Clemilda:

Me lembrei

De Palmeira dos Índios

Pra lá vou seguindo

Agora…

Sou devoto

De Nossa Senhora

Sou alagoano

Onde o guerreiro

Mora…

Arre! Que frieza! Só tenho compromisso à noite. Ah é? Vamos dormir mais um pouquinho, eita quenturinha boa, a do lençol.

Sou alagoano

ONDE O GUERREIRO

MORA!…

Notícias Relacionadas:

Comentários