O VEADO E O MACACO

06 fev 2015 - 09:02

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de fevereiro de 2015

Crônica Nº 1.361

Foto: R7, entretenimento. Solnet / The Grosby Group

Foto: R7, entretenimento. Solnet / The Grosby Group

Nos anos 50 e mais um pouco, época em que a política ainda era repleta de truculência, havia dois candidatos a governador de Alagoas. Um deles, com parentela militar, era arrogante, metido a valente e bruto que só parede de igreja. Chegara a ocupar o Palácio dos Martírios, dobrando assim o perigo das suas atuações. O outro era mais manso, porém, político do mesmo jeito e, como o primeiro, também chegou a dirigir as Alagoas.

Nessa fase agitada no estado, o povo tinha prazer em ir às praças ouvir os argumentos dos discursos inflamados, muitas vezes correndo risco de vida. Havia muitos seguranças, guarda-costas ou capangas nos palanques e em pontos estratégicos com seus respectivos “mocotós de boi” debaixo dos paletós.

No decorrer de uma dessas campanhas ─ narra um cidadão santanense fã de episódios políticos e do candidato valentão ─ houve fato interessante. O candidato bruto, além de tentar desmontar o adversário com várias partes detratoras, ainda o chamou de veado. Naturalmente ganhou muitos aplausos dos seus seguidores.

Na vez do segundo candidato, no mesmo palanque, dias depois, o rival rebateu chamando o arrogante de macaco, por ele ser parecido com um soim.

No terceiro comício o primeiro postulante a governador, não quis ficar por baixo e gritou para a multidão o fraseado mais ou menos assim: “O outro candidato me chamou de macaco. Eu digo que ele é veado. E o que é que vocês têm a dizer? É melhor votar num macaco ou num veado?”.

O prezado leitor imagina a reação da plateia de rua.

Passadas algumas décadas, quando grandes comícios encontram-se em extinção, tem-se observado certa mudança de comportamento nos gogós demagógicos dos engravatados.

Quanto aos tipos de bichos da floresta, o do rabinho curto ganhou direito de lei. Pode pular mato à vontade. E o da careta já pode denunciar as ofensas recebidas.

Quais serão os novos animais estrelas de palanques?

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