O PASTORIL DE DONA JABIRA

11 fev 2015 - 02:05

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de fevereiro de 2015

Crônica Nº 1.364

Foto: severinos.wordpress.com (Efeito especial: Clerisvaldo)

Foto: severinos.wordpress.com (Efeito especial: Clerisvaldo)

Tudo estava bem encaminhado no pastoril Estrela do Norte. Aliás, em matéria de pastoril, Dona Jabira fazia o melhor de Alagoas. Atraída pelo ritmo, a beleza das pastorinhas e a rivalidade de azul e encarnado, a multidão se aglomerava defronte o “sobrado do meio da rua”.

Um empresário chamado Zé Rico, chamava muitas vezes a “contramestra, em cena”, e como de praxe, depositava o dinheiro pendurado no decote da chefa do cordão azul. A palma dos torcedores azulinos cobria. Mas a mestra reagia bem e inúmeras pessoas chamavam o cordão encarnado.

De repente chegou um matuto de nome Tonho Bicudo e, começou a chamar a contramestra em cena; uma vez, duas, dez… Desgostando o empresário Zé Rico que antes estava absoluto. Mesmo sendo o dinheiro do matuto aplicado no cordão azul, o seu mesmo cordão, Zé ia ficando irritado com a concorrência. O matuto cochichou para uma pessoa próxima: “Vendi uma vaca para botar o dinheiro todo no azul”, e não parava de chamar a contramestra em cena.

Somente a diana, representante dos dois cordões, não ganhava dinheiro porque era muito feia.

Lá para às tantas, Dona Jabira ria à vontade, nos bastidores, pois nunca havia visto tanto dinheiro em sua vida.

Zé Rico estava para explodir a qualquer momento, quando Tonho Bicudo levantou o braço com uma nota graúda e disse para a contramestra: “Se me der um beijo, eu boto essa” e agitou a cédula no alto.

A contramestra balançou a cabeça e o matuto subiu ao tablado beijando a pastorinha e colocando o dinheiro em seu vestido. Ora, Zé Rico subiu a pequena escada de madeira com dois passos, empurrou Bicudo e disse: “Você pode botar dinheiro à vontade, seu peste, mas beijar a minha contramestra, você não beija mais”. Danou-lhe a mão no pé do ouvido que Tonho Bicudo caiu de cima do palanque.

Óóóóóó!!! ─ exclamou a multidão horrorizada.

O matuto levantou-se atordoado, sacou um bicho bruto que trazia sob a camisa, atirou em Zé Rico, conseguindo atingir-lhe a bunda.

A multidão espanou numa correria desordenada que até o pastoril de madeira robusta de Dona Jabira, foi no peito.

Após a chegada da polícia e as seguidas investigações, foram encontrar Tonho Bicudo, cinco dias depois, nos braços amorosos da mestra do pastoril, isto é, a primeira do cordão encarnado.

Ninguém conseguia entender o mistério. O homem havia gastado o dinheiro da vaca com a contramestra que representava o azul e, como fora encontrado em amores com a mestra, guardiã do encarnado?

Somente muitos anos depois alguém descobriu que Bicudo era namorado da mestra e com ela havia brigado. A questão com a contramestra era apenas uma grande vingança do matuto.

Após o tiro na bunda, tudo voltara aos velhos amores.

A multidão mudou a roupa, mas o povo brasileiro continua diante do pastoril de Dona Jabira.

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