O FORRÓ DAS VEIAS

26 mar 2015 - 09:15

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de março de 2015

Crônica Nº 1.395 

Escultura em barro em Caruaru

Escultura em barro em Caruaru

Tardes de domingos desertas no rio Ipanema. As últimas cheias haviam desmantelado os campinhos de futebol do areado, ali no Minuino. Monotonia sem fim tomava conta da paisagem agreste, observada por mim do fundo das casas da Rua Antônio Tavares. Lá adiante está o rio, a subida das antigas olarias, a estrada de acesso às Cajaranas, ao sítio Curral do Meio, ao riacho João Gomes… Mas, na curva da estrada vai ter início uma animação diferente. Numa casinha imprensada no conjunto Eduardo Rita, ainda em formação, é chamariz para a meia idade o “Forró das Veias”.

Acho que foi após a música de Elino Julião, esgoelada por Cremilda:

Só tem veia

Só tem veia

No forró da Coréia 

(…) Eu fico lá 

Trocando ideia 

Mas na Coreia 

Eu não vou mais. 

No caso, a Coreia referida é uma região de Natal, no Rio Grande do Norte. Como em várias capitais nordestinas sempre tem lugares com o nome Coreia cada qual toma para si a música que tanto sucesso fez. 

E lá na ponte molhada do Ipanema, caminha um sexagenário, durinho, engomado, traje domingueiro: “Vai para onde compadre?”. E a firme resposta: “Vou para o Forró das Veia”. Não existe cota, nada cobra o sanfoneiro, o zabumba come solto. 

O bom, o simples, o barato, vai se desfazendo na tela do Minuino, que se esfuma com olarias, enchentes, sanfona dos tempos ricos da paz. Nunca se ouviu dizer que um só empurrão tivesse acontecido naquelas brincadeiras saudosas de ponta de rua. 

E nas inspeções saudosas, também domingueiras, pela periferia, vamos contando histórias para nós mesmo ou para os raros acompanhantes. O dedo indicador vai à frente:

“Era aqui O Forró das Veias”.

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