Para muitos custodiados, a ida ao médico ou ao dentista, em muitos casos, acontece pela primeira vez dentro de um presídio. Pode ser a oportunidade de ser diagnosticado a tempo de iniciar com êxito um tratamento de saúde. Em Alagoas, esse é um direito da pessoa privada de liberdade, garantido pelo Governo do Estado e a Secretaria da Ressocialização e Inclusão Social (Seris).
Em 2022, foram realizadas mais de 9,2 mil consultas médicas entre os reeducandos que cumprem pena em Alagoas. Esse número deu um salto considerável em 2023. De janeiro a setembro deste ano, de acordo com a Chefia de Pesquisa e Estatística da Seris, ocorreram mais 16,1 mil consultas médicas, um aumento de 74%, percentual que deve ser ampliado ainda mais até o fim do ano.
No caso de atendimento odontológico, foram 6.454 consultas de janeiro a setembro de 2023, que representa mais de 100% do ano anterior, com 2.899.
DIAGNÓSTICO DENTRO DO PRESÍDIO
O pernambucano P.F.S tem 60 anos e está recolhido na Penitenciária Baldomero Cavalcanti há quase três. Dentro do sistema, ele começou a ter incômodos, como a dormência em uma das pernas. Durante pesquisa realizada pela equipe da Seris junto aos reeducandos, os profissionais descobriram que P.F.S tem hanseníase multibacilar. Desde então, iniciou o tratamento, que já está sendo concluído.
“Senti muita coisa e quando teve essa visita desse pessoal descobriram que eu tenho essa doença. Já vou terminar o tratamento agora”, lembra o custodiado.
Aos 42 anos, S.P.S nunca fez uma consulta médica antes de ser preso e começar a cumprir pena no sistema prisional alagoano. Certo dia, ele teve uma dor de cabeça forte e foi encaminhado e medicado na enfermaria da penitenciária Baldomero Cavalcanti. No mesmo dia, quando foi dormir, percebeu que não conseguia mexer um dos braços e uma das pernas. Foi levado ao hospital e ficou internado.
S.P.S teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Alagoano de Ibateguara e recolhido no sistema prisional há mais de quatro anos, conta que depois das crises não conseguia sequer andar. “Comecei a fazer fisioterapia aqui e só assim, consegui andar com as muletas. Agora tomo remédio todo dia. Pensei que não iria andar nunca mais na vida, que não tinha como sobreviver dentro do presídio depois de um problema tão sério como esse que tive”, disse.
E.S.L foi ao dentista pela primeira vez quando entrou no sistema prisional. “Quando começou a incomodar, a doer o dente, eu procurei ajuda. Já perdi as contas de quantas fui no dentista daqui. Fiz tudo, foi um alívio danado. O atendimento é ótimo”, conta.
DESAFIO E RESPEITO
O coordenador de Odontologia Paulo Fraga trabalha no sistema prisional alagoano há 13 anos, onde começou a atuar quando ainda era recém-formado. “Quando a gente entra no sistema prisional traz esse atendimento mais humanizado. Não vejo diferença do atendimento fora e aqui. Um desafio é atender todos que precisam porque a demanda odontológica é alta”, ressalta o profissional, confirmando o atendimento da demanda que chega ao consultório.
O coordenador de Enfermagem do sistema prisional alagoano, enfermeiro Joabson dos Santos Lima, foi estagiário no presídio, voltou e ficou para exercer a missão na área de saúde. “Nosso desafio é fornecer uma saúde de qualidade para todos os cidadãos, pois, para nós, todos estão somente privados de liberdade e a saúde tem que ser ofertada. Tem reeducando que se não tivesse recluso não iria descobrir por exemplo a hanseníase, outros não iriam descobrir a tuberculose ou a psoríase ou até mesmo uma doença mais simples como a infecção urinária ou sexualmente transmissível de ser tratada em tempo hábil”, destaca o enfermeiro.
SERVIDORES DA SAÚDE
Prioridade do Governo do Estado e da Secretaria da Ressocialização e Inclusão Social (Seris), que prezam pela prevenção e tratamento como forma do controle de doenças, o sistema prisional conta atualmente com 30 assistentes sociais, 26 psicólogos, 30 enfermeiros, 62 técnicos em Enfermagem, cinco fisioterapeutas, um terapeuta ocupacional, dois nutricionistas, 14 médicos, 11 dentistas e 11 auxiliares de serviços bucais.
“Acho que a maioria (dos custodiados) quando chega tem alguns problemas de saúde, sejam doenças crônicas ou sexualmente transmissíveis. Muitos só ficam sabendo que têm algum tipo de IST lá no sistema e a gente inicia o tratamento. Outros casos que a gente descobre comumente são de diabetes e hipertensão. Então inicia o tratamento e faz o acompanhamento”, destaca a gerente de Saúde, policial penal Andrea Rocha Sarmento de Azevedo.
“Nós temos na medida do possível nos esforçado para conseguir prestar esse serviço de assistência em saúde para os custodiados. Temos também casos de documentação civil. Muitos chegam sem documentos, sem acesso ao serviço de saúde, ao serviço de educação e somente depois que estão no sistema prisional é que eles vão ter esse direito, o acesso aos serviços públicos de assistência”, conclui a policial penal.
BUSCA ATIVA
A busca ativa feita pela equipe da Gerência de Saúde, dentro das unidades prisionais de Alagoas, revelou situações graves entre as pessoas privadas de liberdade, a exemplo de casos de insuficiência cardíaca, pneumonia, tuberculose, Aids e sífilis.
Com as informações nas mãos, os profissionais iniciam um trabalho de detecção de patologias e tratamento.