NÓS E O TEMPO
17 agosto 2018
Diz o povo do meu sertão que “mês miou, mês findou”. E para melhor entendimento do praciante, como o sertanejo também diz, é que chegou a primeira quinzena, pronto, o tempo parece correr para o final do mês. Os dias não miaram com o português do analfabeto, mas mearam. E de fato parece que quando a coisa não anda muito bem em nossas vidas, o tempo parece muito devagar e depois acelera a jornada quando chega tal dia 15. Quem vive da agricultura e de um pequeno criatório, fica desanimado e muito mais pobre quando as chuvas não chegam com precisão em nosso semiárido. No sertão nordestino pode-se falar em tudo, porém, o assunto principal naturalmente é o clima que reflete muito bem a doideira do hoje em dia.
O movimento é grande em diversas prefeituras do interior, visando à ajuda do governo central, contra a seca. Nem terminou ainda o nosso período chuvoso e se torna necessário o berro descomunal do homem do campo. É como dizia certo proprietário rural: “No Nordeste estamos sempre começando”. Amealha-se alguma coisa por certo tempo e depois se perde tudo para voltar ao ciclo vicioso que marca o agronegócio do pequeno. Mas nem todos conseguem persistir na resistência e migram. Migram para bem longe da terra natal, dando adeus à terra que lhe deu à luz. Tenta-se em outro canto conquistar a dignidade que as terras e os senhores da terra não quiseram dar. É assim que se ouve uma triste partida silenciosa e sem a melodia do Rei do Baião.
E volta-se à triste e necessária política do caminhão–pipa, tristeza para o Jeca, felicidade para o político viciado que esfrega as mãos com o contentamento da seca que lhe arranja escravos. A água mistura-se a humilhação diária, mata a sede, mas não anima. O caminhão-pipa não chega com o charque, o açúcar, a proteína… Nem a saúde combalida de velhos, crianças e adultos que batem com o desengano nos pratos lisos. Agosto “miou”, um miado gigante que destroça o coração do necessitado. Mas os rios de dinheiro tornam-se riachos para as necessidades da Justiça que procura um aumento do tamanho de um elefante.
Continuamos vivendo uma vida egípcia onde a desumanidade ainda reina nos cetros dos faraós.
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de agosto de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 1.966