Com a finalidade de promover um bate-papo entre as magistradas da Coordenadoria da Mulher e estudantes, o Programa Cidadania e Justiça na Escola (PCJE) recebeu alunos da rede pública para debater sobre violência doméstica. Entre os estudantes estava Islany dos Santos, uma menina de 14 anos que já sabe como quer ser tratada enquanto mulher e que fala para todos que “mulher não nasceu para apanhar e sim para ser livre”.
A estudante é aluna da Escola Municipal Haroldo da Costa, uma das três escolas presentes na roda de conversa que aconteceu nesta segunda (21), no auditório da Escola de Magistratura de Alagoas (ESMAL). Além dela, cerca de 150 alunos puderam conversar com as juízas Eliana Machado, Luana Freitas, Lívia Mattos e Natália Castro sobre violência de gênero, tipos de violência contra a mulher, rede de apoio e acolhimento e como combater essa prática dentro dos seus círculos de convivência e comunidade.
No início do bate-papo, a magistrada Carolina Valões, coordenadora do PCJE e mediadora da roda de conversa, perguntou se alguém conhecia uma mulher que já havia sofrido violência. Muitos dos presentes levantaram a mão. Em seguida, ela questionou se alguém conhecia uma mulher que havia denunciado a violência. O número de mãos levantadas diminuiu consideravelmente e Islany foi uma das alunas que manteve a mão levantada.
A estudante relatou que tem uma amiga que viveu durante muitos anos a violência doméstica dentro da sua residência e o quanto isso a deixou reclusa, acuada e com medo de sofrer o mesmo.
“A mãe dela sofria muito porque o pai dela não a deixava sair de casa ou trabalhar e quando ela saia ele a agredia. Ela me contou que tem até medo de namorar e viver a mesma coisa que a mãe dela viveu. E eu sinceramente não entendo o que faz um homem bater em uma mulher e se um dia isso acontecer comigo pode ter certeza que eu vou denunciar”, disse Islany.
Segundo a magistrada Lívia Mattos, uma das juízas integrantes da Coordenadoria da Mulher e presente no debate, um dos objetivos da roda de conversa também é promover conscientização para que os jovens se percebam dentro do contexto de violência caso ele ocorra.
É importante que eles entendam os tipos de violência porque muitas vezes eles crescem em um ambiente em que a violência psicológica ou moral, por exemplo, são naturalizadas. Então é fundamental que eles tenham consciência dos seus direitos e saibam o que é um relacionamento familiar saudável”, explicou.
O estudante do 9º ano, Everton Almeida, de 14 anos, falou que viveu dentro da sua casa um contexto de violência e que faz terapia para tratar os traumas causados.
“Minha mãe apanhou do meu pai durante muitos anos. Teve uma vez que ele correu atrás dela com uma faca e depois de mais de 10 anos vivendo isso ela foi no Juizado e denunciou. Ela faz tratamento com psiquiatra e com psicólogo e sofre até hoje com tudo que viveu e eu também faço terapia. Eu não quero ser igual ao meu pai que fez tudo isso com a minha mãe, eu quero um relacionamento saudável e com respeito, acima de tudo”, desabafou o aluno.
Para a juíza Carolina Valões trazer os alunos para discutir essa temática é transformar jovens em replicadores e formar cidadãos que vão combater a violência contra a mulher em vários círculos social.
“Nosso objetivo é fazer com que esses jovens se tornem multiplicadores para que eles levem a mensagem da conscientização não só no seu âmbito familiar e social, mas também para sua comunidade, chegando em pessoas que talvez o Judiciário não consiga atingir”, finalizou a magistrada.
O PCJE sempre realiza rodas de conversa e palestras com estudantes de forma rotineira com o objetivo de aproximar o Poder Judiciário da sociedade e levar conscientização e noções de Direito e Justiça para jovens. As escolas participantes do bate-papo foram a Escola Municipal Haroldo da Costa, Escola Municipal João Sampaio e Escola Estadual Anaias de Lima.