Nas áreas urbanas de cidades como Santana do Ipanema, Poço das Trincheiras, Olho D’Água das Flores e Batalha, o dia a dia tranquilo dos moradores na rotina de compras no comércio e nas feiras livres contrasta com as dificuldades vividas pelos agricultores da zona rural. Em Batalha, na Bacia Leiteira, basta sair um pouco do centro para constatar essa realidade.
Para minimizar um pouco os efeitos da estiagem, foi cavado um poço no leito seco do Rio Ipanema, onde foi instalado um dos dez conjuntos de motobombas adquiridos pelo Governo de Alagoas dentro das ações do Programa de Convivência com a Seca. Ali, caminhões pipas, carroças e carros de mão são abastecidos com a única opção de água boa até o Rio São Francisco.
Há 15 dias, a motobomba movida a óleo diesel funciona sem parar operada por um funcionário da prefeitura. Ele explica que o equipamento consegue abastecer um caminhão pipa com capacidade para 15 mil litros em menos de vinte minutos.
Batalha é um dos 37 municípios alagoanos incluídos no decreto que prorrogou a situação de emergência nas regiões do Agreste, Bacia Leiteira e Sertão. O decreto vai garantir à população atingida um atendimento mais efetivo por meio dos programas coordenados pelo Comitê Integrado de Combate à Seca e pelas prefeituras municipais.
“A salvação do município é a motobomba. Não existe outra água por aqui, só mesmo no Rio São Francisco. As pessoas que têm meios vêm até aqui, quem não pode é abastecido pelo caminhão da prefeitura e carros-pipa contratados pelo Exército. Estamos, inclusive, pedindo a ampliação do número de veículos para atender à demanda”, assinalou o secretário de Agricultura de Batalha, Matias Amorim.
O coordenador da Sala de Situação do Comitê da Seca, Josival Almeida, informou que outras nove motobombas já foram instaladas nos municípios de Pão de Açúcar, Jaramataia, Traipu, Maravilha, Palmeira dos Índios, Piranhas, Olho D’Água do Casado e Delmiro Gouveia.
“Outras dez motobombas estão sendo adquiridas com recursos do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza [Fecoep] e vão reforçar o abastecimento nos locais mais críticos”, informou o coordenador.
GADO
Com o abastecimento humano garantido pela motobombas, a preocupação passa a ser a alimentação dos animais, principalmente o gado da região leiteira.
“Até poucos dias, Batalha forneceu 30 caminhões diários de palma para criadores de Pernambuco e alimentou duas mil cabeças de gado do estado vizinho. Hoje, não temos mais palma para vender e o que resta é para alimentar nosso rebanho. Contamos com o milho vendido pela Conab e com bagaço de cana comprado pela Secretaria de Estado da Agricultura [Seagri], mas a quantidade destinada ao município ainda é pequena”, afirmou o secretário de Batalha.
A Seagri comprou, com recursos do Fecoep, 6,6 mil toneladas de bagaço de cana da Usina Pindorama, ao custo de R$ 330 mil. Cerca de 600 toneladas já foram distribuídas em parceria com as prefeituras. Segundo o coordenador da Sala de Situação, a secretaria espera a entrega de mais produto para continuar a distribuição.
Além do alimento para animais e da aquisição dos dez conjuntos de motobombas – no valor R$ 67 mil –, outras ações foram implementadas pelo Governo com apoio da União, do Exército Brasileiro e das prefeituras, como a distribuição da Bolsa Estiagem para 24 mil agricultores, no valor de R$ 13 milhões, e do Garantia Safra para 20 mil agricultores, com repasse de R$ 20 milhões.
LIMPEZA DOS BARREIROS
Saindo da cidade de Santana do Ipanema em direção ao município de Poço das Trincheiras pela BR-316, os estragos causados pela seca são visíveis. Os animais magros aproveitam a sombra de algumas árvores e, entre os campos de Caatinga, secos barreiros comunitários abertos e limpos pelo Governo do Estado aguardam as pancadas de chuvas que podem diminuir o sofrimento dos sertanejos.
Para a abertura e limpeza de açudes e pequenos barreiros comunitários, o Governo aplicou recursos próprios na ordem de R$ 1,3 milhão. Cerca de 600 barreiros e açudes, segundo dados da Secretaria do Estado da Agricultura, já foram limpos em todo o Sertão.
No povoado Tapuia, em Poço das Trincheiras, o açude comunitário com capacidade para mais de 200 metros cúbicos foi limpo com auxílio de uma máquina retroescavadeira e uma caçamba. Os técnicos da Seagri afirmam que, além da limpeza, o açude ganhou mais profundidade e vai beneficiar 170 famílias.
Na pequena propriedade de Ivanir de Oliveira, a única água que resta está armazenada na cisterna de dez mil litros – item obrigatório em quase todas as casas da zona rural do Sertão alagoano. O barreiro dela e o do vizinho estão secos há muito tempo. “A água da cisterna uso para matar a sede de seis vaquinhas”.
Para a alimentação dos animais, Ivanir ainda tem vagens de algaroba e alguns pés de palma miúda, que já estão bem secos. “Quando venta, o gado corre ligeiro para comer as vagens que caem do pé de algaroba”, conta a agricultora, que cuida da propriedade com o marido.
Segundo o coordenador da Sala de Situação, Josival Almeida, o barreiro da propriedade de Ivanir Ribeiro vai ser limpo e terá a estrutura ampliada para captação de água da chuva que abastece a cisterna. “Ela garantiu que o barreiro será usado também pelos vizinhos quando for preciso”, destacou.
AÇÕES PERMANENTES
Diante do sucesso do trabalho do Comitê Integrado de Combate à Seca e da Sala de Situação, o Governo pretende tornar permanente o funcionamento desses órgãos. No que diz respeito principalmente à seca, as autoridades estaduais pretendem desenvolver estratégias e planejar ações que ajudem os agricultores a conviver com esse fenômeno climático que se repete de tempos em tempos.
Para o coordenador da Sala de Situação, a criação do Comitê Integrado e da Sala de Situação representa um grande avanço. “A intenção do Governo do Estado é manter essa estrutura funcionando permanentemente. Ela não será desmontada com a chegada das chuvas”, explicou Josival.
“Vamos continuar agindo, planejando, criando uma metodologia própria para o enfrentamento de situações críticas, como a seca e também com as enchentes”, completou.
Sobre a participação dos municípios, ele alerta que as prefeituras precisam ficar atentas e trabalhar em parceria com o comitê e a Sala de Situação. “É necessário que as Comissões Municipais de Defesa Civil [Condec] participem ativamente e também criem estruturas permanentes”.
“É verdade que existem alguns gargalos e burocracia, mas estamos trabalhando para superar esses obstáculos. Com a transformação da Defesa Civil num órgão gestor (aprovado pela Assembleia Legislativa em dezembro), por exemplo, ela poderá receber recursos, capacitar as prefeituras e ampliar seu raio de ação”, disse Josival de Almeida.
Agência Alagoas