Metade das cidades de Alagoas não tem médicos domiciliados

15 jul 2013 - 10:17


SaudeO programa Mais Médicos, lançado semana passada pelo governo federal, promete ser uma alternativa à carência de médicos nos municípios brasileiros, em especial aqueles onde não reside nenhum profissional da categoria.

Dados do Ministério da Saúde apontam que a oferta de médicos no Brasil (1,8 para cada grupo de mil habitantes) é menor que em países vizinhos, como Argentina (3,2) e Uruguai (3,7). Além disso, eles estão concentrados nos centros urbanos, o que faz com que cerca de 700 municípios não tenham nenhum médico permanente.

Em Alagoas, a situação parece ser mais grave. Dos 102 municípios alagoanos, apenas 48 dispõem de médicos domiciliados, disponíveis para atender a população que depende do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 54 municípios não há sequer um médico residindo por lá.

O Conselho Regional de Medicina (CRM) conta com 3.800 médicos cadastrados, só que deste total, 3.471 são domiciliados em Maceió, e o restante está distribuído em 47 outras cidades: 213 em Arapiraca, 51 em Palmeira dos Índios, 37 em Penedo, 21 em Marechal Deodoro, 20 em Santana do Ipanema, 12 em Piranhas e um ou dois nos demais municípios que têm médico permanente.

O reflexo desses números pode ser entendido na fala da secretária de Saúde de Messias, cidade onde não há médicos domiciliados. Segundo Morgana Oliveira, há 23 médicos trabalhando pelo SUS no município, mas com muita frequência, a secretaria precisa contratar novos profissionais, porque a evasão é constante. “Eles conseguem um emprego melhor, na capital, e deixam o cargo do interior”, afirma.

Para a diretora da Atenção Básica da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), Cláudia Cerqueira, a deficiência de médicos no estado é maior quando os municípios estão mais distantes da região metropolitana.

“São mais de 700 equipes de Saúde da Família em Alagoas. Existe uma deficiência de mais de 20 médicos e os que têm não cumprem a carga horária de 40 horas, alegando baixa remuneração. Nem no alto sertão, onde se paga melhor que Maragogi, por exemplo, os médicos têm interesse em trabalhar. O Provab [Programa de Valorização da Atenção Básica] em seu edital diz que seriam beneficiados apenas os municípios mais distantes, porém os médicos escolheram as cidades interioranas mais próximas de Maceió”, apontou.

545 vagas no interior não estão preenchidas

Em Alagoas, para que o estado tivesse Equipes de Saúde da Família suficientes para 100% de cobertura, seriam necessários 1.309 médicos. Atualmente, a cobertura do programa tem apenas 764 profissionais, o que significa que o atendimento chega a somente 72,69% do território alagoano. Dessa forma, há um déficit de 545 profissionais médicos.

O déficit remete ao caso de uma jovem de 22 anos, identificada apenas pelo apelido de ‘Claudinha’, que faleceu no dia nove deste mês, por não ter conseguido atendimento médico, na Unidade Mista Carlos de Barros, em Passo do Camaragibe, região norte de Alagoas.

No estabelecimento de saúde, a jovem teria recebido a notícia de que não havia médico. No local, funcionários sugeriram que a paciente procurasse outra unidade de saúde, no município vizinho de São Luiz do Quitunde, mas não houve tempo para garantir a vida de ‘Claudinha’.

De acordo com a diretora de Saúde Básica da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau), Cláudia Cerqueira, em todos os municípios alagoanos há médicos, porém ainda sobram vagas em determinadas regiões como é o caso das cidades mais distantes.

A direção não soube precisar quais são estes municípios onde sobram vagas para médicos. A gestora justifica afirmando que a equipe estaria focada no surto de diarreia que ocorre no estado, e que teria que consultar o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde para fazer o levantamento, um processo demorado, segundo ela.

“Não temos disponível no momento por município os dados solicitados, portanto estamos encaminhando o quantitativo de profissionais médicos necessários na Estratégia Saúde da Família no Estado de Alagoas”, colocou em resposta, via e-mail para a reportagem.

“Uma equipe composta por sete pessoas do apoio institucional está no processo de tratamento e coleta de dados. Em 52 municípios já foi feito este levantamento. O ideal seriam dez [pessoas], um por cada região de saúde”, acrescentou.

Tribuna Hoje

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