Mandato limpo e humor rendem mais de um milhão de votos para Tiririca

08 out 2014 - 19:00


Após ser eleito em 2010 com 1,3 milhão de votos, deputado volta ao Congresso com segunda maior votação do País.

Foto: Reprodução

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O deputado Francisco Everardo Oliveira Silva, conhecido como Tiririca (PR-SP), transformou seu espaço gratuito de campanha no rádio e na televisão em grandes encenações humorísticas. Não houve propostas, mas imitações de Roberto Carlos e Pelé, entre outras esquetes. Resultado: foi escolhido por 1.016.796 de eleitores para ser um dos representantes de São Paulo no Congresso Nacional.

O número é cerca de 25% menor em relação aos votos obtidos em 2010 (1.353.766), quando foi eleito pela primeira vez com a segunda maior votação da história até aquele momento.

Se quatro anos atrás o protesto contra a política formal (com o bordão “pior que tá não fica”) foi a explicação para a surpreendente votação do palhaço, neste ano o carisma do humorista e a aplicação demonstrada durante os quatro anos em que esteve no Congresso ajudaram a garantir o novo passe.

Como deputado, Tiririca teve uma atuação discreta, quase apagada. Apresentou dez projetos de lei – a maioria propondo benefícios para artistas circenses -, não fez nenhum pronunciamento no plenário, atividade que dá visibilidade ao legislador, e também não conseguiu papel de destaque entre os colegas – como, por exemplo, a presidência de uma comissão. No entanto, Tiririca foi extremamente assíduo e não teve seu nome envolvido em nenhum escândalo de corrupção, em desvio de recurso ou de enriquecimento ilícito.

Segundo o ranking Atlas Político, que avaliou a atuação dos congressistas do País, Tiririca recebeu 2,92 de nota (vai até 5) e ocupa a 68º posição entre os 513 deputados do País. Os critérios representatividade (número de votos recebidos), campanha responsável (gastos), atividade legislativa (projetos apresentados), debate parlamentar (intervenções em plenário) e fidelidade partidária compõem o ranking, sendo 1 a nota máxima para cada item. Os deputados mais bem avaliados, segundo o levantamento, são Chico Alencar (PSOL-RJ), Manuela D’Avila (PC do B-RS) e Fátima Bezerra (PT-RN).

O analista político Antonio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), órgão que fiscaliza a atividade parlamentar, define a atuação de Tiririca como “mediana e discreta”.

“O mandato não foi o vexame que se imaginava. Não houve grandes proposições, mas as pessoas veem como positivo o fato de ele não criar escândalos”, diz. Após a eleição de 2010, o Ministério Público moveu processo contra o deputado, que foi acusado de fraudar o registro da candidatura ao declarar que sabia ler e escrever. Ele conseguiu provar que tinha “rudimentares conhecimentos na escrita e leitura” e o processo, que chegou a tramitar até no Supremo Tribunal Federal, foi arquivado no ano passado.

Queiroz afirma ainda que, apesar das piadas vistas durante a campanha, o deputado Tiririca é bem diferente do palhaço Tiririca – inclusive nas roupas. “No mandato ele não é debochado, presta contas de maneira adequada, tem o cuidado para não criar escândalos e não dá margem para ser enquadrado na quebra de decoro. É esperto”.

Campanha

Sem apresentar nenhuma proposta no horário eleitoral, Tiririca investiu apenas no humor e em músicas para pedir votos. Ele se fantasiou de Roberto Carlos e fez paródia da canção “O Portão”, uma parceria com Erasmo Carlos. A peça rendeu um processo e a proibição de uso no horário eleitoral.

Voto de protesto

O bordão “Pior que tá não fica”, de 2010, atraiu votos de descontentes com a forma de atuar dos congressistas. Quase quatro anos se passaram e para, os analistas, a motivação para apertar o número do deputado na urna ainda é a mesma para parte do eleitorado. “A votação dele é uma forma de protesto, mas um protesto inócuo, que não surte nenhum efeito prático”, avalia Arruda, da PUC-SP, referindo-se aos poucos projetos e à baixa atividade legislativa do deputado.

“A continuidade das práticas ilícitas, como denúncias de corrupção e compra de votos, leva certo cansaço ao eleitorado. Talvez o eleitor tenha buscado demonstrar essa insatisfação com o desempenho da classe política tradicional e vota em candidatos que também estão tentando entrar no processo por outras formas”, diz Maria do Socorro, da Ufscar.

Por iG

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