Mãe de Pedro Jorge visita exposição sobre mártir do Ministério Público

26 abr 2013 - 16:33


geralmp“Ninguém é profeta na própria Pátria”. Essa frase foi dita esta semana, pela professora Heloísa de Melo e Silva, 93, mãe do alagoano Pedro Jorge de Melo e Silva (1946-1982), procurador da República morto há 31 anos, depois de denunciar o caso que ficou conhecido nacionalmente como “Escândalo da Mandioca”.

Heloísa fez o desabafo ao lembrar que, após a morte de Pedro Jorge, Alagoas foi o único Estado da federação a não homenageá-lo. “Ele era tido como pernambucano”, conta. As palavras de Heloísa foram registradas durante a visita dela à Exposição Pedro Jorge: um Mártir da Justiça Brasileira, que segue até 3 de maio, na Procuradoria da República em Alagoas (PR/AL).

A sede do MPF em Alagoas, inclusive, recebeu, em janeiro deste ano, o nome “Pedro Jorge de Melo e Silva”. Sobre essa escolha, Heloísa retoma: “Ninguém é profeta na sua própria terra. Mas parece que agora restaurou. Eu sinto como se aqui (sede da PR/AL) fosse a casa dele e vocês (membros e servidores), os irmãos.

Heloísa passeia por toda a trajetória de Pedro Jorge, desde menino. “Ele sempre foi muito bom, inteligente, gostava de estudar. Queria ser padre. Fui eu que arrumei a roupa dele para a eucaristia”, relembra, enquanto aponta para uma das fotos do acervo da mostra, uma iniciativa da Fundação Procurador Pedro Jorge de Melo e Silva. A exposição deve percorrer o país. Depois de Alagoas, segue para a Procuradoria da República em Tocantins.

Heloísa veio à exposição, acompanhada da filha, Maria Teresa de Melo e Silva, e de dois amigos da família, Osvaldo da Rocha Ramos e Márcio Omena Filho. Márcio, formado em Direito, se aproximou de “Pedro Jorge” este ano. “Conheci a história e passei a vasculhar: ver documentos, cartas, vídeos, tudo que tratava sobre a vida dele e o Escândalo da Mandioca”, revela.

Num dos documentos, uma carta de Heloísa de quase 30 anos, estava escrito o telefone dela. Márcio arriscou e fez a ligação. A família permanecia com o mesmo número. Márcio passou a conversar com Heloísa e Maria Teresa constantemente, nos últimos meses. Em posse de uma autorização da mãe de Pedro Jorge, ele pode visitar o lugar onde está o corpo do procurador: um mosteiro, em Olinda (PE).

“A partir da morte de Pedro Jorge, o Ministério Público passou por uma revolução. Garantias, hoje fundamentais, como autonomia, inamovibilidade, somente foram conquistadas depois desse episódio”, explica Márcio. Para saber mais sobre Pedro Jorge e sua trajetória, visite a mostra.

Confiram, ainda, partes do depoimento da mãe dele, Heloísa de Melo e Silva. Quando solicitada a deixar uma mensagem a todos que lidam com o Direito, com a Justiça, a professora falou: “Basta seguir um exemplo. Venham [à mostra] e conheçam a vida dele [Pedro Jorge]. Vejam como é bonito ser bom…”.

Relação com Alagoas

Uma das coisas que eu fico assim… entrando aqui (sede da Procuradoria da República em Alagoas), é como se fosse a casa dele. Ele, quando faleceu, Alagoas foi o único Estado da federação que não fez nenhuma homenagem. Ele é tido como pernambucano. Ninguém é profeta em sua Pátria. Mas parece que agora, restaurou. Eu sinto como se aqui fosse a casa dele e vocês (membros e servidores) os irmãos.

Lição de humildade

Um dia, um colega de seminário o encontrou em Olinda, com as duas menininhas, e perguntou: “Há quanto tempo que eu não o vejo… O que aconteceu? Onde você está?”. Ele olhou para o rapaz, da mesma idade, colega de seminário, e disse: “Eu estou fazendo umas coisas na Procuradoria da República”. Ele disse “umas coisas”, não disse que era Procurador da República. No dia seguinte, o colega abriu o jornal e viu: “Mataram o Procurador da República”. O colega comentou: “Ele não disse que era Procurador da República, disse que estava fazendo umas coisas…”. O colega pensou que ele estava fazendo Serviços Gerais. Não é engraçado? Ele não tinha vaidade.

Coragem e obstinação pelo justo

Isso eu ouvi quando um colega que trabalhava com ele, disse: “Pedro, deixa esse processo [sobre o Escândalo da Mandioca]… Isso vai dar em morte…”. Ele respondeu assim: “Se eu deixar, pode acontecer duas coisas: primeiro, eu ser substituído por um colega honesto, que pode morrer em meu lugar. Fazer isto seria uma covardia de minha parte; segundo, eu também poderia ser substituído por um colega que viesse a sucumbir diante das pressões e, sendo assim, haveria a desmoralização do Judiciário Brasileiro. Eu não quero me sentir culpado disso”. Perceba a limpeza. Por isso, ele ficava enfrentando…

Lembranças ao longo dos últimos 31 anos

Segundo um deputado da época, Pedro Jorge não perseguia a fama, mas a busca da verdade; não corria atrás dos louros, queria Justiça; não pretendia colocar-se acima da lei, mas respeitar o Direito.

Essa passagem define bem o meu filho: “Bem aventurados os que sofrem perseguição por amor à Justiça”.

Papel à frente da Justiça

É preciso coragem e formação. Meu filho tinha aquela formação, ele vivia a Justiça. Ele queria o Direito. Ele queria trabalhar para melhorar. Não ficava calado. Ele ia atrás da corrupção. O que caísse na mão dele para ele limpar, ele ia atrás. Mas nem todo mundo é assim…

Motivação

Eu acho que a formação dele. Desculpe eu dizer, mas a formação dele em casa colaborou muito. Depois, ele foi aos 8 anos para o seminário. Aos 11 anos, foi para a Escola Claustral, em Garanhuns (PE). Ele estudava sozinho com um professor. Os outros meninos estudavam na classe. Ele gostava de estudar, gostava das coisas certas.

Consequências da morte

Valeu a pena. Eu choraria muito mais se não tivesse acontecido assim… Eu chorei muito. Eu ia para a praia, chorar, gritar, para ninguém ver. Depois, o José [pai de Pedro Jorge] me procurava e eu estava na praia, chorando… louca, chorando a falta dele! Todo mês ele ia em casa. Eu dizia: “Meu Deus, por quê?”. Mas me disseram, um religioso: “Não diga ‘por quê’, mas ‘para quê?’. A melhoria do Ministério Público, da instituição. [Os procuradores] Juntaram-se e fizeram uma instituição mais forte. O surgimento também da Fundação Pedro Jorge. A partir da morte dele, houve mais autonomia.

Sem espaço para orgulho

Não, eu não sinto orgulho. Ele não fez mais do que a obrigação. Todo mês, ele vinha em casa. Ele vinha em casa para quê? Para ver a família. Me dizia: “Mãezinha, querem me matar…”. E eu dizia: “Meu Deus…”. E ele: “O que é que eu posso fazer?”. Eu perguntava: “Mas por que querem matar você, meu filho?”. E ele respondia: “Por causa de um processo maçudo”. Eram 39 acusados e não era gente simples, era militar, político.

Mensagem final

É tão difícil a gente falar aos outros… Eu falava ao meu filho. Mas eu não mandei fazer [sobre a atuação como Procurador], porque ele já estava lapidado. Eu não fui prepará-lo. Os outros têm exemplos, têm a vida. E, tem muita gente boa.

Assessoria de Comunicação

Ministério Público Federal em Alagoas

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