Loca: sinônimo de uma saudável infância e adolescência em Santana

29 abr 2019 - 02:00


Locas reviveram brincadeiras do passado (Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net)

De acordo com o dicionário português, loca é um substantivo que denomina o esconderijo de peixe. No entanto, para uma turma de crianças e pré-adolescentes que viveu os tempos áureos do Bairro Monumento, em Santana do Ipanema, Sertão de Alagoas, “loca” quer dizer menino traquino, hiperativo e adepto de amizades saudáveis.

Para os garotos do bairro Monumento, que viveram a infâncias e adolescência nas décadas de 70 e 80, um loca participava de peladas nos campinhos, jogava ximbra, pião, rouba bandeira, garrafão, sete pecados, bafo-bafo, entre outras brincadeiras que marcaram a época.

Um loca frequentava o rio Ipanema o ano inteiro, fosse no Escondidinho, na Ponte dos Canos ou na Barragem, bem como o Riacho do Bode, onde a pescaria de anzol e o “racha” (jogo de futebol) eram comuns.

Um loca curtia as tradicionais festas da cidade, tais como: carnaval, São Pedro, São João, Senhora Sant’Ana, Nossa Senhora da Assunção (a padroeira dos locas), Natal e Ano Novo, esbanjando uma animação marcante.

Sertanejos promovem 1º Encontro dos Locas de Santana do Ipanema

Durante os festejos de Nossa Senhora da Assunção, as beatas organizadoras da festa sempre solicitavam os préstimos dos locas para a limpeza da capela.

Além das tradicionais festas de rua, os locas marcavam presença nos bailes do Tênis Clube Santanense, da Sede dos Artistas e nos saraus em alguma residência, onde a única regra era que cada loca levasse uma bebida.

Os locas também tinham seus momentos de atritos entre si. E mesmo com as brigas, geralmente no braço, jamais um feriu o outro com alguma arma de fogo ou branca. Sem contar que, um dia após as divergências, todos estavam juntos, contando com o apoio dos que não participaram do atrito.

As mais ferrenhas disputas entre os locas aconteciam, por exemplo, no desfile de 7 de Setembro, quando desfilavam as bandas marciais do Ginásio Santana e do Colégio Estadual, do Padre Francisco Correia e do Ormindo Barros.

Na apresentação de cada uma delas, os grupos de locas se dividiam para torcer pela sua banda. Bastava um pequeno erro na cadência, e as vaias da oposição ecoavam pela avenida.

Locas se reuniram para seu primeiro encontro após 40 anos (Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net)

Outra grande disputa entre locas se dava no período carnavalesco, quando se apresentavam as escolas de samba Unidos do Monumento e Juventude no Ritmo, cada um torcendo pela sua agremiação.

Foram tempos em que as disputas eram saudáveis e a criatividade aguçava as mentes das crianças e adolescentes.

Como na música de Remi Bastos, na voz de Waldo Santana…

Saudade,

Não vá embora é cedo,

Pois, sozinho tenho medo

De ficar a recordar,

Dar uma volta na Praça do Monumento

Onde eu fiz meu juramento

Na igrejinha de Senhora Assunção.

Por Sérgio Campos – colaboração ao 1º Encontro dos Locas de Santana do Ipanema

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