LIVROS, FEIJÃO E FARINHA
22 Maio 2018
Foi durante uma peleja entre os dois grandes cantadores, João Cabeleira e Manoel Pedro Clemente, conhecido como “o cego Manoel Pedro Clemente”. Em determinada altura da cantoria, o poeta João falou mal de mulher, dizendo mais ou menos que ela era ruim e fuxiqueira. O repentista Pedro Clemente aproveitou a deixa para ganhar a plateia:
Amigo João Cabeleira
Não diga palavra à toa
Não existe mulher ruim
Só existe mulher boa
Se não prestar pra o marido
Mas serve prou’tra pessoa.
O brasileiro, em geral, não gosta de ler (tirando os que não sabem). Sempre observamos isso, mas agora com a tal Internet, cabra velho, no modo de dizer: ninguém parte para a leitura de mais de cinco linhas. Toda a leitura nos dias de hoje se resume no: clique na foto. Kkkkkkkkk, é a nova linguagem do riso. E se a coisa já estava preocupante, chegamos à geração figura. Mesmo assim os “doidos” continuam produzindo livros, quase sempre vendendo geladeira a Antártida. E diante dos novos caminhos, livros vão resistindo pelo modo impresso, diante da ameaça virtual.
O mundo livresco tem de tudo: livro de santos, de safadeza, documentário, bruxaria, jogos, novelas… E assim por diante. Têm livros excelentes, bons, médios, tronchos e os livros abóboras de lixo. Mas assim como afirma o povo: “não falta chinelo velho para pé doente”, procura-se o que se almeja. Seguindo, então, a filosofia do segundo cantador, não existe livro ruim, porque “o que não presta para o marido, mas serve para outra pessoa”.
Vivendo nesse mundo onde todo sujeito é sábio, melhor é não achar de maneira alguma, mulher feia e ruim. O corujão dela precisa. E se o corujão precisa, indica que se deve também comer o livro com feijão e farinha.
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de maio de 2018
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