Livro “Grande Sertão: Veredas” foi tema de doutorado de docente do Cesmac

14 dez 2014 - 05:00


Foto: Flea Market Brechó / Divulgação / Ed. Nova Fronteira

Foto: Flea Market Brechó / Divulgação / Ed. Nova Fronteira

Luiz Cunha, fotojornalista e professor do Cesmac, analisou, através de sua tese de doutorado apresentada no mês novembro deste ano (2014), o feminino presente na transposição criativa de Grande Sertão: Veredas.

O escritor João Guimarães Rosa empreendeu viagens desde os tempos em que começou a atuar como médico na pequena Itaguara-MG. Suas anotações, utilizando inúmeros pequenos cadernos que pendurava no pescoço, não deixavam escapar nada que estivesse ao alcance dos seus olhos e ouvidos. Tomava nota tanto dos “causos” dos vaqueiros como também captava, através dos demais sentidos, impressões daquele mundo encantado e novo do Sertão.

Maureen Bisilliat, fotógrafa inglesa, logo ao chegar ao Brasil, encantada com o país, concebeu a possibilidade de aqui permanecer para sempre. No início da década de 1960 recebe de presente Grande Sertão: Veredas. Uma das suas primeiras jornadas em terras brasileiras é então iniciada, através da literatura na qual mergulha no mundo sertanejo recriado em palavras através do imaginário do universo rosiano.

Guimarães Rosa propôs que Maureen testemunhasse essa realidade elaborando um roteiro fotográfico. Este, traçado pelo escritor, motiva ainda mais a fotógrafa a empreender uma jornada de algumas viagens ao Sertão mineiro, sempre acompanhada de perto por ele em suas chegadas. Rosa sempre a indagava sobre os detalhes vistos por ela. Queria saber minúcias de todos os lugares por onde passou e o que fotografou. Chegou 1967 e Maureen Bisilliat não concluiu a obra em conjunto com o escritor, pois este faleceu.

A literatura e a fotografia são detentoras de linguagens distintas, especialidades que ao longo dos tempos se imbricam e se complementam. Por mais que se diga que uma imagem vale mil palavras, ela nunca abarca a totalidade desse universo, e vice-versa. Ao transpor a obra Grande Sertão: Veredas para imagens fotográficas, pode-se observar a complementaridade entre elas. O escritor traduz uma realidade, a fotógrafa a desvenda com outra linguagem, ambas se combinam.

Apesar de tantas outras interpretações indicando a possibilidade da considerável presença feminina na obra, o ensaio fotográfico também contribui ao afirmar que é possível ter essa leitura de um Sertão com a representação do universo sob a interação dos olhares feminino e masculino, na tentativa de se obter um mundo equilibrado, como yang/ying, forças básicas opostas e interligadas. No Sertão rosiano, hostil e masculino, de tantas violências e provações, o universo feminino de Maureen Bisilliat surge como um sopro da alegria.

Por Adriana Santos / Assessoria Cesmac

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