LAMPIÃO, LUCENA E O CHAPÉU DE COURO

28 jul 2017 - 04:38

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de julho de 2017

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica 1.703

Foto: Divulgação

Sendo hoje aniversário de morte de Lampião, lembramo-nos das palavras do combatente Eduardo, depois sargento: “Quando víamos de Maceió como membros do batalhão que fora criado em Santana do Ipanema, em 1936, tivemos que conter o ímpeto de Lucena. Ele pediu que ao passarmos de Palmeira dos Índios todo cabra encontrado com chapéu de couro à cabeça era para entrar no cacete. Mas fizemos ver a ele que a coisa não era bem assim. O trabalhador rural gosta bem de um chapéu de couro e se fosse para bater em todos os usuários, seria bater no sertão inteiro”. O major Lucena Maranhão aquiesceu.

Interessante é que desde o início da década de vinte que Lucena combatia bandidos no sertão e ele próprio usava chapéu de couro e alpargatas. De onde teria vindo tanto furor assim contra o chapéu de couro, principalmente na época, usado pelo vaqueiro pegador de boi no mato e o tirador de leite das fazendas?

O próprio sargento Eduardo conta: “No cerco a Angicos era tão cedo que os cabras de Lampião ainda estavam tirando as ramelas dos zoi”. E o seu companheiro de farda Otacílio Bezerra – também combatente em Angicos – dizia: “Muitos cabras escaparam na neblina e na fumaça do tiroteio pronunciando para os soldados: ‘companheiro’, ‘companheiro’, tendo já colocados os longos cabelos dentro do chapéu de couro”.

A impressão de quem não conhece é de um chapéu muito quente para o verão. Mas assim como o chapéu de palha da palmeira Ouricuri, ele é leve e mantém uma temperatura agradável.

Os cangaceiros apenas criaram o estilo próprio do cangaço, usando o mesmo chapéu de couro de abas longas dobrando-o e enfeitando abas, barbicachos e testeiras em couro desenhado, coloridos e metais. Havia muitos artesãos do couro no semiárido, inclusive cangaceiros e o próprio Lampião.

E se por um lado o chapéu de couro identificava o vaqueiro pegador de boi no mato e o tirador de leite, o chapéu de palha marcava o homem do eito, trabalhador da enxada e do machado.

O chapéu de massa era usado pelos das classes média e alta.

Como os veados foram extintos – preferência de luxo para chapéus e alpargatas macias – ficaram os bodes que permitem couro flexível para todos os modelos de chapéu.

Meu compadre, já viu sertão nordestino sem chapéu de couro!

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