Depois de quatro séculos de serviços prestados nos sertões nordestinos, o jumento recebeu sua primeira homenagem: um monumento em praça pública na entrada da cidade de Santana do Ipanema, em Alagoas.
A honraria teve apoio de muitos e as restrições de alguns. Inteligente, o jumento não pula obstáculos, contorna-os. O cavalo pula porque é burro, frase retirada do livro “Ribeira do São Francisco” de Manoel Cavalcante Proença, edição de 1944.
O Jumento é uma figura quase lendária na vida do sertão, o jumento conquistou baião de louvor e monumento em praça pública, na entrada da cidade de Santana do Ipanema.
As estatuas do Jegue e da figura do Tangedor que representa o homem sertanejo que tangia no período de seca o jumento no transporte de água, o líquido precioso era retirado do Rio Ipanema e levado no lombo do animal em ancoretas para as residências.
Construído e inaugurado na segunda gestão do prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, vai coincidir com a chegada da água encanada na cidade em 1966. Segundo registros, o monumento, todo em cimento armado, custou aos cofres públicos CR$ 6.200,99. É composto do jumento, cangalha, ancoretas arreios e tangedor.
O homem homenageado com a estátua tangendo o jumento ficou conhecido como “Candinho”, que segundo informações foi o mais ágile prestativo “botador de água” da cidade.
Mas essa homenagem ao camelo brasileiro custou muitas dores de cabeça ao Prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, prefeito da cidade pela terceira vez, que enfrentou, no seu segundo mandato, até ameaças de cassação, por parte dos vereadores oposicionistas, e criticas da elite social local, que preferia, no lugar do jegue, um filho da terra.
Dizia o Prefeito Adeildo que o seu amor aos jumentos tinha seguidores também fora da poesia. Ao inaugurar os serviços de abastecimento d’água, a cidade de Paulo Afonso, Goiás, aposentou 80 jericos que até então transportavam água para a comunidade.
E em Poço das Trincheiras, houve um acontecimento inédito: houve uma passeata de uma centena de jegues em solidariedade ao prefeito de Santana. Tangedores conduziam os animais pela rua principal, sob os aplausos da população agradecida. Depois disso, até capitais como Salvador e Maceió, foram cenários de pitorescas corridas de jumentos.
Para o escritor Tardeu Rocha, o monumento erguido á entrada de Santana do Ipanema , constitui verdadeiro marco na evolução dos sertões, pois indica o fim da busca da água nas cacimbas cavadas nos leitos esturricados dos rios temporários.
A partir da data acima, a profissão de “botador d’água” com o jumento e as quatro ancoretas, começa a desaparecer na cidade até a sua completa extinção. É o fim de mais um ciclo da história municipal.
*Marcelo André Fausto é professor de história e escritor. Esse texto contou com informações extraídas do livro “Santana Conta sua História”, de Floro Araújo Melo e Darci de Araújo Melo (1976).