Guerra na Ucrânia e impactos na Economia *com Marcello Corsi, economista na WIT Invest, apresenta em entrevista o cenário econômico caso a Guerra na Ucrânia persista

Assessoria

25 fev 2024 - 12:00


2 anos de Guerra na Ucrânia: quais os impactos? Economista analisa Economia Global e Perspectivas Brasileiras (Foto: Senior Airman Leon Redfern / YuriiKochubey / Depositphotos)

A guerra na Ucrânia continua, mas como o setor econômico se apresenta para os investidores? Após dois anos desde seu início, o conflito deixou profundas marcas não apenas no meio social, mas também na esfera econômica. A estrutura do comércio internacional, que ainda se reerguia dos impactos da pandemia de Covid-19, sofreu outro abalo com o início do conflito, complicando ainda mais o cenário econômico. 

De maneira positiva, houve setores que devido a sua elevada produção se mantiveram estáveis e demonstram bons indicativos de investimento, como os setores petrolífero e agrícola. Em entrevista, o economista da WIT Invest, Marcello Corsi, deu um panorama sobre as perspectivas e impactos no Brasil com relação ao câmbio, commodities agrícolas, petróleo, inflação e os demais efeitos da guerra.

Leia abaixo a entrevista:

Após dois anos do início da guerra, quais são os efeitos do conflito para a economia global e brasileira?

R: Como a guerra já está se prolongando mais do que era esperado, a maior parte dos impactos já foi sofrida e incorporada nos riscos das economias. Como a economia russa é uma grande produtora de petróleo, gás natural e fertilizantes, e a economia ucraniana é responsável por boa parte dos grãos do mundo, o principal impacto foi no setor agrícola, por termos um aumento do custo dos insumos, fertilizantes e combustíveis, acompanhado de uma redução na oferta de grãos. Isso gerou uma oportunidade e problemas. Aqueles que tinham estoques e capacidade de aumento de produção conseguiram aproveitar o aumento no preço dos grãos, porém, aqueles que precisavam se capitalizar para fazer tal aumento de produção tiveram que o fazer em um momento de taxas de juros mais elevadas do que havíamos vivido há alguns anos.

2 – Em relação ao investidor, em que ele ainda deve estar atento nesse cenário?

R: O principal ponto ao qual o investidor deve ficar atento são os ativos que mais valorizaram nos últimos 2 anos. Diversos ativos valorizaram nesse cenário por conta da guerra, mas em caso de mudança, não necessariamente a alocação atual continuará a performar bem. O investidor deve ficar atento e não ter receio de realizar ganhos e mudar de estratégia.

3 – Quais ações estão sendo mais prejudicadas pelos efeitos da guerra?

R: As empresas aéreas foram muito impactadas pelo conflito e, principalmente, por terem se prolongado por tanto tempo. Como elas são muito impactadas pelos custos dos combustíveis, um dos principais insumos no ramo, o combustível a preços elevados por tanto tempo corroeu boa parte do resultado e balanço dessas empresas. Empresas essas que já estavam fragilizadas pelos impactos da pandemia.

4 – Quais são os setores recomendáveis para investir nesse cenário de continuidade da guerra?

R: Com a continuidade da guerra, ainda será vantajoso o investimento em empresas do ramo petrolífero. Porém, o investidor deve estudar bem os ativos antes de alocar para não adquirir ações de empresas já próximas ao preço justo.

5 – Com a proximidade política da China com a Rússia, há risco de uma escalada de tensões entre EUA e China?

R: A China manteve o comércio com a Rússia, mesmo após o início da guerra. Isso fez com que eles se tornassem aliados, pelo menos no campo econômico. Fazendo deles o principal fornecedor de produtos aos russos. Essa parceria não agradou aos EUA, porém, devido a importância que a China tem no mundo, o impacto é limitado.

6 – Existe a possibilidade de uma ampliação dos conflitos na Ucrânia ou no Oriente Médio?

R: Os conflitos na Ucrânia estão mais controlados do que os conflitos no Oriente Médio. Como o conflito ucraniano não é recente, os principais países que desejavam demonstrar apoio já o estão fazendo. Entretanto, o conflito no Oriente Médio ainda está aumentando a escala e reacendendo conflitos na região que estavam com menor intensidade.

7 – Pode estar ocorrendo um esgotamento de recursos e capacidades na Rússia?

R: Apesar da duração da guerra, a Rússia ainda é uma potência militar muito superior à Ucrânia. Atualmente, a Ucrânia só está se mantendo abastecida graças a apoios de aliados na Europa e América, enquanto a Rússia está se mantendo, mesmo com sanções e embargos econômicos.

8 – Em caso de vitória do ex-presidente Donald Trump nos EUA, e, eventualmente, a retirada de apoio à Ucrânia, isso poderia mudar o rumo da guerra?

R: Em caso de vitória de Trump, a retirada do apoio à Ucrânia deve mudar o rumo da guerra. Os EUA são uma das maiores potências militares e econômicas do mundo. Caso seu apoio seja reduzido, a Ucrânia terá muito mais dificuldades em manter suas tropas abastecidas e terá muito mais dificuldade de financiar os custos da guerra. Dessa forma, a Rússia terá mais facilidades em suas ofensivas.

9 – Num mundo cada vez mais polarizado e fragmentado, o acordo UE-Mercosul é viável?

R: Com o aumento da polarização, o acordo se torna menos viável, mas muito mais necessário. Os países terão exigências maiores nos termos do acordo, porém, as economias precisam de mais facilidades nas negociações para termos ambientes cada vez mais competitivos e mais eficientes, pontos esses que são extremamente necessários para o crescimento econômico mundial.

10 – A abordagem multilateral para o comércio global ainda faz sentido em um mundo cada vez mais polarizado?

R: Apesar de ter ocorrido no século passado, já passamos por momentos muito mais polarizados do que o momento atual. Nesse momento, a saída foram os acordos multilaterais. Apesar de se tornarem mais difíceis em momentos de polarização, a multilateralidade se torna cada vez mais necessária para termos uma solução mais pacífica e eficiente para todos os lados envolvidos.

11 – Como o Brasil pode aproveitar as oportunidades com a transição verde?

R: O Brasil é o país com mais possibilidades de liderar a transição verde. Com regiões com disponibilidade hídrica, alta incidência solar e ventos constantes, temos os elementos naturais necessários para a implementação e o desenvolvimento de energias renováveis. Porém, por se tratar de projetos de elevada utilização de capital e retornos no longo prazo, caso não tenhamos incentivos governamentais através de menores impostos e linhas de crédito facilitadas, a transição será lenta demais e podemos até perder a oportunidade de sermos o referencial.

12 – Quais as perspectivas e impactos no Brasil com relação ao câmbio, commodities agrícolas, petróleo e inflação? E o minério de ferro?

R: Devido à elevada produção agrícola brasileira e a economia estar mais forte do que era esperado no ano passado, devemos ver um câmbio que não perderá muito poder de compra, porém, não acredito que se apreciará a ponto de ser aproveitado pela maior parte da população. As commodities agrícolas devem ainda se manter em queda devido às produções ainda elevadas este ano. O que será bom para nossa balança comercial. O petróleo deve manter um patamar de preços elevados devido aos conflitos. Caso mais países do Oriente Médio entrem no conflito, a situação só piorará. A inflação brasileira ainda está bem abaixo do que era esperado para um governo com maiores gastos, porém, devemos lembrar que esses impactos vêm com o tempo e não são sentidos de imediato. Caso a situação fiscal não melhore, a inflação não ficará nos níveis atuais e voltará a ser um problema.

13 – O Brasil se beneficiou com mercados de grãos, como trigo e milho. Há outros benefícios na economia que o país conseguiu obter ganho?

R: O segmento petroquímico foi bastante impulsionado junto com o segmento de grãos. O que, dada a composição da nossa bolsa de valores, auxiliou para que o índice tenha uma boa performance nos últimos tempos. Além disso, com a queda da taxa de juros, estamos vendo um crescimento no segmento imobiliário que ainda não parece ter chegado em seu auge.

14 – Por que a economia da Rússia não colapsou com esta extensa guerra? Para compararmos: em 2022, no primeiro ano da guerra, o PIB da Rússia recuou 1,2%, segundo dados oficiais. Analistas ouvidos pela Reuters acreditam que, em 2023, a economia russa cresceu 3,1%.

R: Com o auxílio de economias que não aderiram às sanções como a China e a Índia, o país conseguiu manter a economia nos primeiros meses da guerra. Porém, após diversos países terem que voltar a negociar com ela, como a Alemanha no caso do gás natural e o Brasil no caso dos fertilizantes, pode-se contornar as principais sanções impostas no início da guerra.

15 – Quais os impactos da retirada de bancos russos do sistema Swift, excluindo o país do sistema financeiro global, da interrupção de diversas cadeias produtivas, marcação a zero de títulos russos (o mesmo que dizer que os títulos não têm mais valor) e desvalorização de quase 50% do rublo?

R: O principal problema foi a dificuldade criada para que fossem feitos comércio e transações dentro da Rússia, o que fez com que menos rublos russos fossem demandados pelo mercado, desvalorizando a moeda. Porém, a desvalorização da moeda também fez com que os produtos russos ficassem mais baratos para os demais países, ajudando a manter a economia russa aquecida.

Sobre a WIT – Wealth, Investments & Trust

A WIT – Wealth, Investments & Trust – é assessoria, planejamento e execução para cuidar do patrimônio de pessoas, grupos familiares e empresas, de forma integral e sincronizada, apoiada por uma sofisticada estrutura de especialistas e de empresas que atuam de forma independente, porém complementar.

O multi family office atua nas áreas de assessoria de investimentos; fundos exclusivos; câmbio e remessas internacionais; serviços financeiros (principais linhas de crédito) e emissão de dívidas em mercado de capitais; seguros e benefícios; ativos imobiliários e consultoria patrimonial. Atualmente, a empresa está presente em nas capitais de São Paulo e Paraná, em Curitiba, e em cidades do interior paulista: Campinas, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, São João da Boa Vista, Araçatuba, Votuporanga, Jundiaí e Itu.

*Marcello Corsi Janota de Carvalho, economista da WIT Invest, aponta que as empresas aéreas foram muito prejudicadas devido ao conflito

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