“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Essa famosa frase representa bem a obra do filósofo, cientista social e professor Paulo Freire, que comemoraria seu aniversário de 100 anos neste domingo (19).
O pensador ficou conhecido pelos seus estudos a respeito da construção de uma educação acessível, crítica e reflexiva, distribuídos em seus mais de 15 livros. Discutindo questões voltadas à prática docente, propôs um método de alfabetização estruturado no diálogo – e no aprendizado mútuo entre educando e educador.
Trata-se de uma aproximação entre o conteúdo acadêmico e o cotidiano do estudante que proporciona a construção conjunta de ideias. Na década de 1960, Freire colocou seu método em prática ao alfabetizar 300 cortadores de cana da cidade de Angicos (RN) em 45 dias. O feito terminou por consolidar e trazer visibilidade para as suas teorias, de forma que, em 2012, Freire tornou-se patrono da educação brasileira.
Para além de seu inegável impacto no desenvolvimento educacional brasileiro, suas pesquisas são referência mundial. Freire é o terceiro pensador mais citado do mundo na área de ciências humanas, de acordo com levantamento do Google Scholar.
Sua obra “Pedagogia do Oprimido” integra a lista dos 100 livros mais pedidos em universidades de língua inglesa de todo o planeta, segundo o projeto de estudo Open Syllabus. Ao ser o brasileiro mais homenageado de todos os tempos, após a sua morte, foram criados 19 institutos com seu nome no Brasil e no exterior.
Paulo Freire e a celebração da intencionalidade pedagógica
De acordo com Leticia Lyle, cofundadora da Camino Education e diretora da Camino School, Freire foi um dos primeiros pensadores da educação – do mundo todo e não só do Brasil – a colocar em primeiro plano os contextos da individualidade.
“A diversidade precisa ser compreendida para que o processo de aprendizagem aconteça. Antes da pedagogia freiriana, trabalhava-se aquele conteúdo que seria meramente depositado. Freire acreditava que todos e todas temos muitas riquezas, logo, essas singularidades transformam o processo de conhecimento. Com esse raciocínio, ele fez com que o processo educacional pudesse ser um pilar da equidade”.
Lyle ainda pondera que só se chega à equidade quando existe empenho do time pedagógico para que isso ocorra efetivamente. “A proposta da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) vislumbra a intencionalidade pedagógica em sua raiz e está muito alinhada ao que propõe o patrono. A metodologia da aprendizagem ativa, que praticamos na Camino School, propicia oportunidades de que esse processo ocorra. Em linhas gerais, a intencionalidade pedagógica está diretamente relacionada com a didática. Atualmente, a tecnologia permite que essas ideias do Paulo Freire possam tomar forma, abrindo espaços para indivíduos que interagem e fazem perguntas”.
Paulo Freire na sala de aula
Em face dessa rica produção do pensador, muitos educadores se empenham em trazer suas contribuições para o dia a dia do ambiente escolar. Denise Schnyder, academic dean of assesstment na Camino School, explica que a pedagogia freiriana é prática, libertária e inclusiva, pois objetiva tornar todos os indivíduos protagonistas na sociedade.
“Ele acreditava que precisamos olhar para a realidade acreditando que ela é passível de transformação, reconhecendo suas contradições e atuando sobre elas. Isso só pode ser alcançado criando oportunidades para a construção de conhecimento”, conta.
Dessa forma, Denise acredita que levar esse pensamento para a sala de aula é essencial, enfatizando o papel do educador nesse processo: “O pensamento de Paulo Freire é pautado na prática do professor, na relação entre ensino e aprendizagem. É um ensino voltado à escuta e ao diálogo, no qual o docente não só leciona, mas aprende, não transfere conhecimento, mas cria oportunidades para uma construção conjunta, que tenha sentido para o estudante”. A escola deve se tornar, portanto, um espaço preocupado não só com o domínio técnico, mas com o indivíduo e sua capacidade de ler o mundo, desenvolvendo o pensamento crítico.
No entanto, frente a um autor que estaria para completar 100 anos, alguns poderiam questionar se suas teorias permanecem atuais. A educadora Denise Schnyder discorda dessa posição e afirma que, atualmente, a sociedade entende a importância do desenvolvimento de uma educação acessível a todos e transformadora.
“O pensamento de Paulo Freire é essencial para pensarmos em um futuro em que todos se reconheçam e sejam reconhecidos como sujeitos sociais. A educação é um processo voltado para o futuro, onde preparamos os estudantes para desafios que não podemos prever . Paulo Freire acredita que o processo pedagógico deve apoiar o desenvolvimento de alunos capazes de aprender sempre, buscando recursos e estratégias para transformar suas realidades e vivenciar com liberdade suas próprias trajetórias”, acrescenta.
Por Assessoria