Uma reportagem especial, veiculada esta semana pela TV Pajuçara, realizada em duas edições pelo jornalista Tiago Correia e imagens de José Pereira, revelou de forma minuciosa, como funciona o esquema de arrecadação milionária entre funerárias e quadrilhas especializadas em desviar os recursos do seguro obrigatório DPVAT.
Conforme apurou a equipe de reportagem, o esquema tem raízes em quase todos o municípios alagoanos. O DPVAT é um seguro pago junto com o IPVA para indenizar vítimas de acidentes de trânsito, sejam elas motoristas, passageiros ou pedestres.
Logo no início da reportagem o jornalista Thiago Correia é ameaçado pela dona da Funerária Coração de Jesus, conhecida por ‘Zeza’. “Cuidado, filme e olhe o que esteja fazendo”, diz a dona do estabelecimento.
De acordo com a reportagem, em Alagoas o esquema do DPVAT mantém uma arrecadação milionária, que consegue abocanhar até 100% do valor das indenizações das vítimas de acidente de trânsito.
Uma equipe da TV Pajuçara passou três meses investigando os passos desses grupos. “Descobrimos que o golpe começa no momento em que as famílias estão emocionalmente frágeis”, relatou o repórter.
Dona Eurides da Silva, uma das vítimas do esquema, revela que recebeu um abraço de “consolo” da dona da funerária, durante a morte do filho. “Naquele triste hora chegou a ‘Zeza da funerária’. Eu nunca tinha visto aquela mulher, nem sabia onde ficava a funerária dela. Ai ela foi me abraçando, e dizendo: ‘ô minha filha, seu filhinho morreu, mas se controle”, disse dona Eurides, que acabara de retirar o corpo do filho do IML.
“Olhe minha filha, nós soubemos que seu filhinho morreu, e nós temos uma funerária e viemos diretamente aqui, porque eu vou tomar de conta do seguro dele e vou encaminhar ligeiramente; com trinta dias vai sair o seguro dele”, disse a dona da funerária à mãe da vítima.
Conforme levantou a reportagem da Pajuçara, a primeira abordagem acontece pela figura conhecida no meio como corretor. O seu papel é se tornar “invisível”, passar o dia em frente ao IML e em unidades de Urgência. Eles se misturam aos acompanhantes; fazem uma triagem entre os parentes e encontra o alvo, vítimas de acidentes de trânsito.
Conforme Thiago Correia, em Arapiraca se concentra vários grupos que “supostamente” ajudam as pessoas a terem acesso as indenizações do DPVAT.
“Dois fatores são fundamentais para isso: primeiro a baixa escolaridade de pessoas que vivem em regiões periféricas e até que vivem na zona rural da cidade. A outra é a localização geográfica da cidade. O município atende todos os municípios das regiões do Sertão e do Agreste; isso é um prato cheio para os golpistas”, afirma Thiago.
O repórter ainda afirma que, “o corretor encaminha as vítimas para as funerárias envolvidas no esquema. Por intermédio de um deles chegamos até Carlos, gerente da funerária São Francisco, ali as famílias já começam a perder o dinheiro da indenização, que sequer chegou a ser solicitada. Despesas com caixão e funeral começam a correr por conta do dinheiro do seguro DPVAT”, relatou.
Após esse primeiro contato, o corretor explica ao familiar da vítima que tudo corre por conta de uma assessoria jurídica, e que no momento em que for liberado o dinheiro é feito o ressarcimento ao advogado.
Uma das formas de aliciamento a familiares das vítimas é feito de informar a convencer os usuários de que há muita burocracia para se conseguir receber tal benefício, levando assim a necessidade de se ter uma “ajuda”.
Em São José da Tapera, no Sertão de Alagoas, o esquema é um negócio amplo e famililar. “Alagoas é um estado divido entre essas organizações, que se respeitam e não ousam invadir a área alheia”, retrata o repórter, em um dos trechos da matéria.
Em Coruripe é possível perder até 30% do valor do DPVT. Por telefone uma corretora nega que tenha influência em Olho d’Água das Flores e Santana do Ipanema.
“Pois eu vou provar pro senhor, que eu não tenho contato nem com Santana do Ipanema. Em Santana do Ipanema tem o Galego do seguro lá; E ele é quem faz tudo, tá com a… seguro lá, você sabe disso, há muitos anos”, disse a corretora.
Em Maceió o esquema é mais organizado, informa Thiago Correia, “as funerárias não utilizam o seguro do DPVAT para despesas do enterro, mas recebem de advogado sempre que indicam um cliente”.
Por telefone a reportagem conseguiu contato com um corretor, identificado por Rogério. “A estratégia é dar a falsa impressão de que o acesso ao dinheiro é burocrático demais, mas que ele ‘doutor advogado’ resolve tudo, sem complicações”.
Procurado pela reportagem da TV, o presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros e de Capitalização, Previdência Privada e de Saúde no Estado de Alagoas – Sincor-AL, Djaildo Almeida, falou que a instituição tem dado todo apoio para que os segurados deem entrada no benefício sem tanta burocracia.
“O que eles (os golpistas) querem é justamente isso; intimidar para que a pessoas se sintam vulneráveis e procurem os meios não legais pra dar entrada no DPVAT”, informou Almeida.
Os esquemas denunciados através da reportagem são muitos, e vale a penas conferir as duas edições,1ª REPORTAGEM E 2ª REPORTAGEM. A série ainda continua na noite desta quarta-feira (9).
Da Redação com TV Pajuçara