Felipe Melo quer repetir Dunga e ser herói do Brasil na Copa de 2014

01 abr 2013 - 13:49


Foto: Wander Roberto/Gazeta Press

Foto: Wander Roberto/Gazeta Press

O volante Felipe Melo deixou a Copa do Mundo de 2010 com o rótulo de um dos vilões da eliminação da Seleção Brasileira diante da Holanda, nas quartas de final. Desde então, nunca mais foi convocado, mas sonha em voltar a ser lembrado, para repetir a trajetória de um amigo: Dunga.

Criticado em 1990, o ex-meio-campista retornou como capitão no Mundial seguinte e levantou o troféu sob o comando de Carlos Alberto Parreira, hoje coordenador da comissão técnica de Luiz Felipe Scolari.

Nesta entrevista exclusiva concedida por telefone à Gazeta Esportiva.net, Felipe Melo revela detalhes de sua participação no Mundial passado, explica sua nova fase como evangélico assíduo e ainda fala sobre o atual bom momento no Galatasaray, convivendo com Drogba e o carrasco brasileiro Sneijder. Ao se definir como um jogador autêntico, o meio-campista explica que o holandês não se atreve a falar sobre a partida que determinou a eliminação do Brasil.

Agora, Felipe Melo se concentra para disputar nesta quarta-feira o primeiro jogo das quartas de final da Liga dos Campeões da Europa, contra o Real Madrid. Em um dos compromissos mais importantes da história do clube turco, que tenta repetir a campanha da temporada 1988/1989, quando atingiu a semifinal do torneio, o volante chamado de Pitbull pela torcida acredita que tem também a chance de despertar o interesse de Felipão, depois de ter visto as portas da Seleção fechadas com Mano Menezes.

Gazeta Esportiva.net: Você acha que a Liga dos Campeões é uma chance de chamar a atenção do Felipão?

Felipe Melo: Não tenho dúvida disso. Quando saiu que jogaríamos contra o Real Madrid, fiquei muito feliz, porque, quando cheguei ao Galatasaray, o clube vinha de uma das piores temporadas de sua história, mas eu e os outros jogadores que vieram trabalhamos muito e conseguimos o título nacional, trazendo de novo a equipe para a Liga dos Campeões. Vivo um momento profissional muito bacana e, para coroar isso, falta a Seleção Brasileira.

GE.net: Fica ansioso em dias de convocações?

Felipe Melo: Não vou negar e nem mentir, pois fico ligado em toda convocação da Seleção, esperando ser chamado. Para meu Deus, nada é impossível. Creio até o fim, sou brasileiro e não desisto nunca. Claro que neste jogo contra o Real Madrid vou fazer de tudo para meu time vencer. Fazendo um bom jogo e passando de fase, não tenho dúvida de que vou chamar a atenção do povo brasileiro e do Felipão.

GE.net: Por causa da expulsão contra a Holanda, você acha que saiu com uma imagem de vilão da Copa, junto com o goleiro Júlio César e o técnico Dunga?

Felipe Melo: Não ligo muito para o que os outros falam. Meus números na Copa do Mundo são incontestáveis, e o Brasil já estava perdendo aquele jogo por 2 a 1. Infelizmente, já estava tudo por água abaixo. Mas fico contente por ter sido colocado pela Fifa como o jogador mais versátil da Copa do Mundo. Claro que você sente a derrota, mas no futebol você ganha e perde. Espero fazer parte desse grupo que vai trazer alegria ao povo, porque não tenho dúvida de que o Brasil vai ser campeão em casa.

GE.net: Você pode não ouvir o que os outros falam, mas sentiu um peso a mais em suas costas?

Felipe Melo: Não sou de ficar acompanhando o que os outros falam. Ouvi algumas vezes alguns ex-jogadores falando gracinhas, mas não tem nem lógica responder a certas pessoas, que nunca jogaram Copa do Mundo ou não ganharam nada no clube. Não vou citar nomes. Mas, em qualquer profissão, existe quem vai criticar de forma justa ou injusta, faz parte do ser humano. Temos de aprender e conviver com isso. Respeito todo mundo e vou continuar fazendo meu trabalho. Apesar de pouco tempo no Brasil, ganhei tudo no País: Copa do Brasil, Campeonato Carioca, Mineiro, Brasileiro… Tenho uma carreira brilhante aqui fora e números incontestáveis na Seleção, com apenas uma derrota, justamente contra a Holanda. Ganhei de grandes seleções e também a Copa das Confederações. Estou esperançoso de que posso fazer muito mais pela Seleção.

GE.net: O Dunga também foi criticado em 1990 e depois foi campeão em 1994. Isso serve de estímulo?

Felipe Melo: O Dunga é um espelho muito grande para mim. Falaram tão mal dele na Copa de 90 e, depois, em 1994, ele levantou o caneco, com o próprio Parreira na Seleção brasileira. Eu me agarro a isso. Querem falar mal? Beleza. Mas o Júlio César já voltou e está fechando o gol. Por que não o Felipe Melo também? Para isso, tenho de trabalhar, jogar bem e fazer por onde. Tenho de melhorar em cada treinamento, correndo mais e acertando o posicionamento, para estar preparado no jogo. Quando chegar a oportunidade, preciso estar pronto, assim como estava quando fui convocado pela primeira vez para jogar contra a Itália. Foi lá que comecei a carreira na Seleção. Respeito as convocações do Felipão, mas não vou deixar de sonhar nunca.

GE.net: O Felipão já deixou claro que faz questão de ter um primeiro volante marcador. Você tem esperança de fazer esta função?

Felipe Melo: Confesso que eu não tinha muita esperança de voltar com o último treinador da Seleção Brasileira. Mas o Felipão nunca fechou porta para ninguém. Pelo contrário, ele diz que está sempre observando. Temos visto amistosos em que ele tem buscado este primeiro homem. No ano passado, o Galatasaray jogava com dois volantes. Neste ano, jogamos com três centrocampistas e eu tenho feito a função de número cinco. Fico contente por fazer esta função que a Seleção precisa e o treinador gosta. O Pitbull está aí, trabalhando com muita humildade e respeitando quem está lá, mas sem deixar de sonhar em voltar à Seleção Brasileira.

GE.net: Por que você não tinha esperança com o Mano Menezes?

Felipe Melo: Não sei, mas eu não tinha. Nunca tive problema com ele, pelo contrário, eu não o conheço e nem tivemos oportunidade de conversar. Agora é diferente, vejo com mais esperança, apesar de nunca ter deixado de sonhar. Não é uma expulsão que vai manchar tudo o que fiz pela Seleção. Os meus números pelo Brasil são incontestáveis e quero aumentá-los. Respeito todos os jogadores que defendem a Seleção Brasileira, mas não me vejo inferior aos que lá estão. Estou trabalhando com humildade e esperançoso em Deus.

GE.net: Depois da Copa, o Dunga só aceitou voltar a trabalhar agora, no Inter, e está indo bem. Você está acompanhando?

Felipe Melo: O Dunga sempre foi muito aberto com a gente, tinha o grupo na mão. Hoje em dia, o treinador precisa ser amigo do jogador. Os grandes treinadores são amigos. Quando ele assumiu o Inter, liguei para ele e conversamos um pouco. Não tenho dúvida da capacidade dele de dirigir um clube, até porque tem números muito bons na Seleção. Venceu a Copa América, a Copa das Confederações e classificou para a Copa do Mundo jogando na Argentina. Depois, perdeu o Mundial para a Holanda e isso pode acontecer, porque no futebol você também perde. Acho que ele está provando para todo mundo que é um grande treinador. Estou acompanhando de longe e torcendo por ele, porque merece.

GE.net: Na época em que dirigiu o Brasil, o Dunga foi cobrado por não ter levado Neymar e Ganso à Copa. Hoje, o atacante é presença certa na Seleção, mas ainda não teve grandes atuações, enquanto o meia sequer está sendo chamado. Você acha que isso mostra que a crítica daquele período foi injusta?

Felipe Melo: Em termos da convocação, não vou comentar se teria ou não de levá-los, mas vou falar do hoje. O Ganso tem um potencial incrível. Vi alguns jogos dele por Seleção, São Paulo e Santos e é um gênio com a bola nos pés. Claro que está tendo um pouco de lesões, que estão amenizando um pouco o caminho dele, mas não tenho dúvida de que é um belíssimo jogador e uma realidade no futebol. Quanto ao Neymar, é indiscutível a qualidade dele, que cria uma jogada do nada. Todos esperam que ele vá para a Europa, mas acho que está certo de continuar no Brasil. Na hora certa, ele vai se transferir e fazer chover na Europa também, assim como faz no País. É um jogador novo ainda, que tem uma cobrança incrível nas costas. O Brasil precisa de novos Neymares e Gansos, porque são jogadores que fazem a diferença. Se eles são cobrados, é porque têm um potencial incrível.

GE.net: Como um flamenguista, ficou feliz com a chegada do Jorginho, com quem você trabalhou na Seleção?

Felipe Melo: Não tenho nada contra o último treinador do Flamengo [Dorival Júnior], que acho muito bom também, mas o Jorginho é um amigo. Quando fiz o meu primeiro gol pela Seleção, contra o Peru, em Porto Alegre, dei uma entrevista e ofereci para minha família, mas também para Jorginho e Dunga, que me deram chance na Seleção. Mandei mensagem para ele no Twitter desejando boa sorte e ele me respondeu. Fiquei muito contente, não por ser evangélico, mas por ser um cara de caráter incrível, muito sério no que faz e que trabalha bastante, bota quem está bem para jogar. Torço para que tenha muito sucesso, assim como teve como jogador.

GE.net: Você falou sobre o fato de o Jorginho ser evangélico. Houve críticas a supostas ‘panelinhas’ de religiões na Copa. Existiu mesmo problema?

Felipe Melo: Na Seleção Brasileira, tinha evangélico e católico e todas as religiões eram respeitadas. Hoje em dia, há tanta gente que é falso cristão ou católico. Isso está escrito na Bíblia. Na Seleção, os evangélicos convidavam para orar junto, assim como católicos chamavam para rezar. Isso não influenciava em nada. Pelo contrário, trazia união ao grupo. Antes dos jogos, fazíamos também nossa batucada, nosso pagodinho, que o Robinho puxava, o Kaká de vez em quando tocava um pandeirinho… Não deixávamos de nos divertir por sermos evangélicos. Aquele grupo tinha uma união muito grande.

GE.net: Como você já falou, para voltar à Seleção, precisa continuar se destacando pelo Galatasaray. Como está a preparação para o jogo desta quarta-feira?

Felipe Melo: É um jogo especial, por ser quartas de final da Liga dos Campeões, contra o Real Madrid, que está acostumado com esse tipo de competição. Já o Galatasaray vai jogar esta fase pela segunda vez em sua história. Por isso, acho válido concentrar antes e viajar, para viver já o clima do jogo.

GE.net: Como um jogador de marcação, existe diferença para você em enfrentar o Cristiano Ronaldo?

Felipe Melo: Já joguei contra o Cristiano várias vezes, assim como também contra o Messi. Ganhei e perdi deles. Nós nos classificamos para uma Copa do Mundo ganhando da Argentina na casa dela. Do mesmo jeito, o Galatasaray precisa de concentração do primeiro ao último minuto, porque você não pode bobear. Vi o jogo do Madrid pelo Espanhol, contra o Mallorca, que teve oportunidade de vencer e saiu na frente, mas por bobeira acabou perdendo de cinco.

GE.net: O que ficou de lição deste jogo?

Felipe Melo: Você precisa de atenção redobrada. Nós empatamos em casa contra o Schalke porque não tivemos atenção suficiente [na fase anterior da Liga dos Campeões]. Mas, fora de casa, jogamos como um time pequeno nos momentos em que não tínhamos a bola. Já quando estávamos com ela, tocávamos com autoridade e sem medo, apesar de respeitar. E nós vencemos lá. Este é o caminho. Vamos respeitar o Real Madrid, mas não tememos, porque, se ficarmos com medo, dentro de nossa área, vamos tomar cinco.

GE.net: O Galatasaray tem condições de eliminar o Real Madrid?

Felipe Melo: Não existe bobo no futebol e cada jogo tem uma história diferente, podemos dar surpresa. Acho de suma importância o primeiro jogo ser em Madri. Se jogarmos fechados, compactos, sem dar bobeira, podemos levar a decisão para Istambul. Não podemos deixar o Real matar neste primeiro. Claro que vamos jogar contra um dos melhores treinadores do mundo, com grandes jogadores, no melhor clube do mundo. É inevitável dizer que o Real é favorito para a partida, mas também tem de respeitar o Galatasaray, que vem em ascensão e tem jogadores com experiência na Liga dos Campeões.

GE.net: Se o Galatasaray passar pelo Real e continuar caminhando, vocês podem enfrentar a Juventus na final. Como seria jogar contra seu ex-clube?

Felipe Melo: Eu sou jogador deles, tenho dois anos de contrato (risos). Na realidade, sou flamenguista de coração, mas já joguei contra o Flamengo e contra outros ex-clubes meus. Isso faz parte do futebol. O último ex-clube que enfrentei foi a Fiorentina e tenho um carinho muito grande pelas pessoas da cidade, passei um ano maravilhoso lá. Mas joguei dois anos seguidos contra eles e sei como é essa experiência. Tenho de encarar como um jogo normal e viver o presente, que agora é o Real. Vamos com um passo de cada vez. Vai ser difícil passar, mas, graças a Deus, não é impossível.

GE.net: Você chamou a atenção defendendo um pênalti pelo Galatasaray, em novembro do ano passado. Costuma brincar de goleiro nos treinos ou decidiu na hora?

Felipe Melo: Em peladas, quando estava muito cansado, eu sempre ia para o gol. Quando saiu o pênalti e vi que o Muslera ia ser expulso, já fui pegar a luva e falei: ‘Vou defender este pênalti’. Eu estava muito seguro. Nosso capitão, o Sabri, apesar de ser pequeno, sempre brinca no gol, pegando pênaltis e faltas. Mas falei para ele nem encostar na luva: ‘Vou pegar e acabou’. Aquele momento foi para extravasar. Quando o cara bateu o pênalti e pulei para o meu canto direito, vi que a bola estava chegando a mim e sabia que ia defendê-la. Foi uma sensação incrível. Imagina o Taffarel, que pegou pênalti na Copa. Fiz 12 gols na temporada passada e sempre comemorei como Pitbull. Desta vez, foi mais do que um gol, porque foram três pontos importantíssimos para nós, já que poderíamos ter sido ultrapassados naquele jogo.

GE.net: Como surgiu o apelido de Pitbull?

Felipe Melo: Na Itália, sempre inventam apelidos e me chamavam de Gladiador, por lutar sempre. Mas, quando cheguei aqui, disseram que seria Pitbull. Vesti a camisa e, quando fiz um gol, imitei para eles, que gostaram e isso virou uma febre aqui. Criaram cachorrinho com minha cara, tinha gente imitando na rua… É uma forma de homenagear essa torcida que faz a diferença.

GE.net: Como está sua convivência no Galatasaray com estrelas como Sneijder e Drogba?

Felipe Melo: É mais ou menos igual à Juventus, que tinha Del Piero, Trezeguet… São jogadores com volume de jogo muito grande, com nome feito na história do futebol. Eles vieram para dividir a responsabilidade que nós já tínhamos e isso ajuda muito. Dentro do vestiário, são jogadores com humildade incrível. Claro que são estrelas, por tudo que já fizeram, e merecem este rótulo, mas são amigos e o Galatasaray está crescendo muito.

GE.net: Você tem contato fora de campo também com eles?

Felipe Melo: A gente sai para jantar algumas vezes, mas, ultimamente, tenho saído muito pouco, porque meu filho nasceu há um mês. Sempre tive vontade de ter quatro filhos. O meu primeiro mora no Brasil e tive agora o terceiro com a minha esposa. Como é o meu quarto, o último, acompanhei a gestação muito de perto e estou mais com o bebê, com o Luke. Tenho deixado um pouco de sair, ficando mais em casa.

GE.net: Você enfrentou os dois na Copa. Conversam sobre os jogos?

Felipe Melo: O Drogba nunca tocou no assunto comigo. E o Sneijder até hoje nunca se atreveu a falar sobre isso (risos)… Para não falar que nunca conversamos, certa vez ele disse: ‘Você se lembra daquele jogo? Teve um jogador nosso que estava cagado na hora do aquecimento e nem jogou’.

GE.net: Como assim?

Felipe Melo: Ele disse que o cara estava com medo de jogar, que o jogador se cagou na calça. Trocaram de zagueiro e jogou outro. Mas eu já cortei o assunto depois, porque não gosto de falar daquela partida. Não falo nem que seja pela expulsão, mas sim por causa da eliminação, já que aquele grupo merecia ser campeão do mundo. Mas acontece.

GE.net: O gol também deve te deixar chateado, porque o chute do Sneijder desviou em você…

Felipe Melo: Não me deixa chateado com nada. Poderia ter sido chute do Huntelaar ou outro. A Holanda venceu o jogo e acabou, do mesmo jeito que vencemos a Inglaterra, a Itália…

GE.net: Voltando a falar do Galatasaray, você foi acusado de ter cuspido no Ozyakup, do Besiktas, em uma partida disputada em janeiro. Você já jurou que não fez isso, mas foi punido pela Federação Turca…

Felipe Melo: É muito claro. Ninguém pode ir contra a imagem, que não mostra nada saindo da minha boca. Não concordo quando dizem que a imagem é duvidosa, porque ela é muito clara. Tem uma câmera que pegou certinho que eu não fiz nada. Não posso falar agora, mas vamos tomar medidas cabíveis para tentar ir à Fifa. Foram quatro jogos e meu time perdeu pontos importantes, já poderíamos ter matado o campeonato. Um jogador rival nosso pegou 11 jogos de suspensão porque cuspiu no juiz, com a imagem mostrando claramente que sai cuspe da boca dele. Depois, tiraram sete jogos dele. Não gosto de falar disso, porque estou trabalhando minha parte psicológica. Mas é importante dizer que não estou sendo expulso por agressão ou indisciplina aqui, apenas por ter de fazer falta como último homem, que faz parte do futebol.

GE.net: Como está cuidando da parte psicológica?

Felipe Melo: Você vai ganhando idade e ficando mais experiente. Em primeiro lugar, você tem de querer. Eu quero mudar e melhorar, porque é uma coisa que me faz mal e também à equipe. Tenho me apegado muito a Deus, sou evangélico e hoje tenho ido muito à igreja, com minha esposa e família. Nenhuma pessoa pode te mudar como Deus, que está guiando minha vida. Acho que é por isso que o resultado tem saído, estou bem profissionalmente e com minha família.

GE.net: Mas você está frequentando psicólogo também?

Felipe Melo: Não, nunca fui.

GE.net: Você é evangélico desde quando?

Felipe Melo: Depois da Copa, eu comecei a me firmar. Sou nascido em lar cristão, de avós pastores e pais evangélicos, inclusive com mãe diaconisa, mas eu ia à igreja em um domingo e depois não ia… De pouco tempo para cá, há um ano e meio ou dois, realmente me converti e tenho estado firme, seguindo o que diz a Bíblia.

GE.net: Melhorar o lado psicológico é não se envolver em confusão?

Felipe Melo: É. Por exemplo, se hoje estivéssemos perdendo o jogo por 2 a 1, eu não faria uma falta como a que cometi nas quartas de final da Copa. Isso é maturidade também. Eu aprendi com a dor, porque foi muito doloroso perder aquela Copa. Aprendi com aquilo, com os erros. Às vezes, ouço uma crítica a mim e vejo que é construtiva, que é boa para mim. Os resultados têm saído, inclusive tenho de agradecer muito ao Denílson, que vem me dando moral e é campeão mundial pela Seleção Brasileira. O Vampeta também. Isso é gratificante para mim, porque são ídolos mundiais, que jogaram fora do Brasil e já venceram Mundial.

GE.net: Você se achava um jogador polêmico?

Felipe Melo: Depende do ponto de vista. O que é ser polêmico? Se você me pergunta, eu respondo. Não sou muito de esconder o que penso. Se você pergunta para alguns jogadores se uma coisa é branca ou preta, tem gente que responde que é meio amarelada. Mas é preta ou branca. Tem muita gente que se ofende com isso. Sou muito autêntico naquilo que falo e, se me perguntam, é porque querem escutar. Perguntaram na Copa se eu me lembrava de algum jogador do tri. Eu até sabia, mas, no momento, não me lembrava. Trabalhei com o Carlos Alberto Torres, que foi capitão do tri e me levou ao profissional do Flamengo, inclusive fiz um gol que livrou o clube do rebaixamento. Mas eu respondi que não me lembrava, porque sou de 1983. Muita gente falou disso, mas como eu me lembraria de uma coisa de quando nem tinha nascido?

GE.net: Antes de ir para o Galatasaray, houve interesse de clubes do Brasil, como o São Paulo. Você realmente esteve perto de ir para o Morumbi?

Felipe Melo: Para ser sincero, houve interesse de vários clubes brasileiros, mas é inevitável dizer que tenho um salário alto e, por mais que eu deixasse um dinheiro para trás para voltar ao Brasil, continuaria sendo alto para os parâmetros do País. O único que chegou ao que eu queria, deixando para trás quase 50% do que ganhava, era o São Paulo. Só não fechei com eles porque o Taffarel (preparador de goleiros da equipe turca) me ligou com o projeto do Galatasaray. Eu estava conversando também o Leonardo todos os dias e o Paris Saint-Germain fez oferta, mas, financeiramente, o Galatasaray ultrapassou todos os limites.

GE.net: O lado financeiro foi o principal?

Felipe Melo: Hoje em dia, falam que jogador é mercenário, mas somos contratados, assim como o funcionário da Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda, da Gazeta, de um banco… Não é questão de sermos mercenários, foi uma oferta incrível, que resolveria minha vida de uma vez por todas. Além disso, o projeto é incrível e está andando de vento em popa, podemos ser bicampeões na Turquia. Resolvi vir ao Galatasaray por isso. Mas sempre agradeci ao São Paulo e ao Luizão, o ex-atacante, que dirigia a negociação. Além disso, ao Leonardo e ao Paris Saint-Germain também, com quem eu estava conversando sempre. Sou muito agradecido mesmo. Fico muito feliz por ter recebido o interesse.

GE.net: Seu contrato vai até o meio do ano. Qual é seu plano para depois disso?

Felipe Melo: O plano é ser bicampeão da Copa das Confederações, bicampeão na Turquia e ir longe na Liga dos Campeões. O Galatasaray tem a opção de compra, assim como tinha na temporada passada, quando não exerceu. Sou muito direto naquilo que falo e não volto mais para a Juventus. Gosto muito da Juventus e estou bastante feliz pelo clube estar bem, tenho carinho por eles e nunca tivemos problemas. Falo com jogadores de lá e diretores também, mas meu ciclo acabou e eles têm grandes jogadores para o meio-campo. Vamos fazer o possível depois. Se o Galatasaray exercer o direito de compra, vou ficar aqui encantado, até porque minha família está estabilizada. Se não der, vou ver, porque, mantendo essa regularidade, não tenho dúvidas de que vai chover oferta. O certo é que não venho para cá emprestado outra vez, só se me comprarem.

Por GE.net

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