Clerisvaldo B. Chagas, 16 de maio de 2014
Crônica Nº 1.190. (Literatura)
Entre nomes diferentes que saem da nossa rotina, alguns se fixam na memória. É o caso de Pompeu. Quando menino ouvia a garotada cantar e até cantava também na rua, a quadra:
Dona Mariquinha
Cadê Pompeu?
Pompeu foi à rua
Os arubu comeu…
Parecia u’a marchinha boa de cantar que era uma beleza! Contudo, eu nunca soube quem era dona Mariquinha, quem foi Pompeu e como e porque os “arubu” haviam devorado o sujeito. Talvez até a quadrinha fosse cantiga de palhaço de circo, daqueles mais sem vergonhas possíveis. E eu com isso!…
Dona Mariquinha
Cadê Pompeu?…
Enquanto o eco permanecia esvoaçando pela Rua do Sebo, a primeira de Santana do Ipanema, o menino estirava-se para cima.
Quando adolescente estudei a história de outro Pompeu.
Este era filho de um homem enriquecido que veio do meio rural, tornou-se senador e cônsul de Roma, cuja elite não olhava com bons olhos essas pessoas porque, segundo ela, os campesinos não tinham sangue nobre. Pompeu foi criado nos acampamentos, acompanhando a trajetória do pai. Quando este morreu deixou a fortuna pra o filho que começou a fazer carreira militar logo cedo. Como o progenitor, era olhado com desconfiança pela elite de Roma, porém, venceu tantas batalhas que foi considerado um herói popular.
As aventuras de Pompeu (que chegou a senador, cônsul de Roma e general, daria um filme épico grandioso). Conseguiu até ser um genro de Júlio César e com ele fez aliança. No final das suas campanhas foi derrotado pelo próprio César, refugiou-se no Egito e foi assassinado por antigos companheiros de armas.
E foi lá na loja de tecidos do meu pai, aonde muitas pessoas importantes chegavam à quinta porta – mais larga e mais alta – e faziam o “senadinho” diário. E ali, de vez em quando se encontravam os boiadeiros como Arnóbio Chagas, Lucas, Enéas e Pompeu. Fora esse último, jamais encontrei no sertão outra pessoa com o nome Pompeu. Era famoso em acertar pedradas, usando a mão esquerda; alto de fala mansa e arrastada. Quando ouvia e todos calavam, ele iniciava a sua conversa ou não, mas sempre com a frase se arrastando pausadamente: “Eu-vou-dizer-uma-coisa…”;
Da adolescência para cá, nunca mais vi Pompeu. Mas ultimamente descobri gente tão alta quanto ele. Fiquei muito surpreso em saber que aquele homem com quem eu palestrava era filho de Pompeu. Então, veio à cabeça tudo de uma vez: “Dona Mariquinha…”; general Pompeu; boiadeiro… .
Sabe, seu menino: VOU-DIZER-UMA-COISA…