A maioria dos pais mente para os filhos em uma tentativa de mudar o seu comportamento, segundo um estudo feito entre famílias americanas e chinesas, que registrou as mentiras mais frequentes contadas nesses dois países.
O estudo, publicado no International Journal of Psychology, foi feito por pesquisadores dos departamentos de psicologia da Universidade da California, nos EUA, da Zhejiang Normal University, na China, e da Universidade de Toronto, no Canadá.
Ele analisou a utilização da “mentira instrumental” em cerca de 200 famílias, registrando histórias inventadas pelos adultos que vão desde a fada do dente até ameaças de que as crianças podem ficar cegas se não comerem alguns legumes.
A mentira mais frequente observada no estudo foi a de pais que ameaçavam abandonar os filhos sozinhos na rua ou outro local público se eles não se comportassem.
“A forte ocorrência dessa mentira pode estar relacionada ao fato de que um desafio universal enfrentado pelos pais é o de deixar um lugar contra a vontade dos filhos”, os pesquisadores explicam.
Outra mentira comum tanto nos EUA quanto na China é a falsa promessa de comprar um brinquedo em um ponto indefinido no futuro: “Não trouxe dinheiro comigo hoje. Podemos voltar outro dia”, costumam dizer alguns pais.
Categorias
No estudo, os pesquisadores estabeleceram diferentes categorias de mentiras.
Uma delas reúne “declarações falsas relacionadas ao mau comportamento”. Podem ser, por exemplo, “Se você não se comportar, vou chamar a polícia” ou “Se você não se acalmar, aquela senhora ali vai ficar com raiva com você”.
No que foi registrado na categoria de “falsas declarações relacionadas com sair ou ficar”, o pai de uma criança chegou a ser gravado dizendo: “Se você não for comigo, um sequestrador vai sequestrá-lo enquanto eu estiver fora”.
Algumas mentiras são motivadas pelo desejo de proteger os sentimentos da criança – sendo classificadas como “falsas declarações relacionadas a sentimentos positivos”.
Tal categoria inclui, por exemplo, “Seu animal de estimação foi viver na fazenda de seu tio, onde ele terá mais espaço para correr.”
Outras mentiras envolvem “personagens fictícios”, como o Papai Noel, evocado para encorajar bom comportamento no período que antecede o Natal.
Diferenças
A pesquisa não encontrou diferenças entre as mentiras contadas por mães e pais. Mas os níveis de “mentiras instrumentais” foram mais altos entre chineses que entre americanos (embora sejam altos nos dois grupos).
Segundo o estudo, os pais em geral aceitam que mentiras devem ser contadas para fazer com que os filhos adotem um comportamento social desejável.
Por exemplo, a mentira de que “quem come brócolis cresce mais” termina sendo um incentivo a hábitos alimentares saudáveis.
O estudo levanta a questão do efeito de longo prazo sobre o hábito de mentir para as crianças, sugerindo que poderia ter um impacto duradouro sobre as relações familiares.
BBC Brasil