A estudante Maria José Cavalcante, do curso de bacharelado em Agroecologia do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), mantido pelo Incra em parceria com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), foi premiada por Excelência Acadêmica pelo trabalho de pesquisa Quero Panc: Um aplicativo para a popularização de Plantas Alimentícias Não Convencionais no estado de Alagoas. A solenidade de divulgação aconteceu online, no último dia 8, e foi presidida pelo reitor da Ufal, Josealdo Tonholo.
O trabalho faz parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti) da Ufal e foi apresentado no 15º Congresso Acadêmico de Iniciação Tecnológica (CAIT), junto a outros 102 trabalhos de pesquisa tecnológica. A premiação foi para as atividades de iniciação científica (Pibic) e iniciação tecnológica (Pibiti), e teve mais de 200 trabalhos comtemplados.
Os bolsistas indicados ao prêmio são aqueles que apresentam os melhores relatórios, classificados ou premiados em Congresso Acadêmico, salões ou seminários realizados nas instituições de ensino e pesquisa.
Maria José faz parte da primeira turma do curso de bacharelado em Agroecologia, iniciado em 2018 e voltado a alunos inseridos no contexto rural. Agricultora do assentamento Flor do Bosque, em Messias-AL, ela recebeu o convite para participar da pesquisa por já ter experiência no cultivo de Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) no seu lote e na comercialização dos alimentos na feira de produção agroecológica da praça do Centenário, em Maceió.
A agricultora e estudante disse que aceitou a bolsa por ser uma área com que se identifica e que participou do processo de articulação para encontrar as pessoas que produzem e comercializam os alimentos. A maioria dos contatos feitos foram de Messias, Branquinha e Murici, feirantes como ela. “Eu sou produtora de Panc e acredito que será uma alternativa alimentar nutricional. São alimentos que estão na maioria dos quintais dos agricultores de Alagoas”.
Ora-pro-nóbis, taioba, banana verde, bredo, vinagreira, hibisco, jambo, alfavaca, coentrão, chaya, mastruz, cúrcuma, coração de bananeira. Muitos desses alimentos já eram conhecidos e já faziam parte da cultura camponesa, mas hoje possuem sua capacidade nutritiva reconhecida. “Antes, as pessoas diziam que quem comia banana verde era quem estava passando fome. Com pesquisas, quantificação e qualificação dos benefícios isso mudou”, acrescentou.
A ideia é que as pessoas que produzem as Panc também possam ajudar o consumidor no preparo, pois tem o público que quer consumir, mas não conhece o preparo, e o agricultor que tem esse conhecimento. Com o aplicativo, o consumidor vai poder entrar em contato e até receber o produto pronto para consumo.
A pesquisa teve início em 2021 e o relatório entregue foi relativo ao 1º ciclo do Pibiti. O trabalho já iniciou o 2º ciclo e ainda estão sendo colhidas informações para o aplicativo, com caracterização das plantas por meio do contato com agricultores extrativistas parceiros. Até o momento, esses agricultores já indicaram tipos de plantas que comercializam e os locais de cultivo, informações ecológicas, botânicas, além de formas de preparo desses alimentos.
O objetivo do aplicativo é disponibilizar uma ferramenta para quem produz ter novos meios para comercializar as plantas, muitas vezes levadas para as feiras e não vendidas. O primeiro ano da pesquisa foi para identificar quem, onde e o que é produzido. Neste segundo ano, quando o aplicativo deve entrar em funcionamento, a ideia é encurtar a distância entre consumidores e produtores.
A orientadora do trabalho, Patrícia Muniz Medeiros, explica que a escolha do tema se deu pela observação de trabalhos anteriores com Panc no grupo de pesquisa, que identificou uma falta de sincronia entre os consumidores e produtores. A ideia é que o aplicativo crie essa sincronia e permita que o consumidor possa encomendar o produto, fazendo contato direto com o agricultor.
Patrícia acrescenta que o aplicativo pode aumentar o alcance e a valorização das Panc e que o aumento do consumo desses alimentos tem importância ecológica, pois possuem espécies mais ajustadas ao ambiente; importância nutricional, com a diversificação alimentar, e importância social, com o fortalecimento da agricultura familiar, levando novas fontes de renda para agricultores e extrativistas.
Assentamento e produção
O assentamento Flor do Bosque, onde Maria produz, foi criado em 2007 e possui 28 famílias numa área de 350 hectares, em Messias, distante 35 km de Maceió. As famílias cultivam principalmente frutas e verduras, além das Plantas Alimentícias Não Convencionais.
O curso
O curso de bacharelado em Agroecologia pelo Pronera/Ufal teve início em novembro de 2018, com 50 estudantes, assentados e filhos de assentados. Em outubro de 2022, por meio de termo aditivo, a parceria foi renovada até 2024.