O segundo brasileiro a ser enviado ao espaço ainda está cursando a faculdade. Aos 21 anos, Pedro Henrique Dória Nehme estuda engenharia eletrônica na Universidade de Brasília (UNB). Ele foi o ganhador de uma promoção mundial realizada pela companhia aérea holandesa KLM, que o levará a bordo de uma viagem suborbital que deve atingir uma altitude de até 100 quilômetros — longe o suficiente da superfície terrestre para ser considerado espaço e para o tripulante ser um astronauta.
Marcos Pontes, o primeiro astronauta brasileiro, era formado em engenharia aeronáutica, fazia parte da elite da Força Aérea Brasileira e passou por seis anos de treinamento intenso na Nasa antes de ser enviado ao espaço em 2006. O currículo de Pedro Nehme não chega a tanto, mas ele possui alguma experiência na área. No ano passado, ele estudou em Washington D.C., nos Estados Unidos, pelo programa Ciência sem Fronteiras, e estagiou no Centro de Voos Espaciais Goddard, da Nasa. “Qualquer um poderia ter ganhado o prêmio, mas ele veio justo para mim, que tenho experiência e sou fascinado pela área espacial. É uma oportunidade de ouro”, disse Pedro Nehme, em entrevista ao site de VEJA.
O estudante ficou sabendo da promoção a partir de uma propaganda veiculada no Youtube. O vídeo anunciava que a companhia holandesa KLM iria lançar, no dia 22 de abril, um balão de alta altitude no Deserto de Nevada, nos Estados Unidos. O participante que fosse capaz de descobrir o local exato onde o balão iria alcançar seu ponto mais alto , antes de explodir, ganharia a viagem espacial — além de duas passagens aéreas para Curaçao, com estadia em um hotel de luxo.
Segundo Pedro, seu conhecimento sobre a tecnologia aeroespacial não o ajudou a vencer a promoção. “Eu teria alguma chance de calcular a altitude exata do balão se a empresa tivesse divulgado informações como seu tamanho, peso, material, a quantidade de hélio, e até as condições climáticas. Como nada disso foi dito, eu simplesmente chutei o número”, diz o estudante, que errou o resultado por apenas 14,7 quilômetros.
Paixão espacial — Pedro Nehme diz que seu gosto pela tecnologia espacial é antigo, anterior à viagem aos Estados Unidos. Após ingressar na UNB, em 2009, ele passou a fazer parte do Laboratório de Automação e Robótica da universidade, onde teve seus primeiros contatos com a área. Em 2011, participou de um curso sobre tecnologias aeroespaciais no Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE), que serviu para confirmar seu interesse. O estágio na NASA, então, foi definitivo. “Lá, eu trabalhei no desenvolvimento de um balão espacial, como o usado para levar o Felix Baumgartner até a estratosfera. Só que, no nosso caso, o balão carregava um telescópio”, afirma o estudante, que trabalhou na parte de eletrônica do projeto.
De volta ao Brasil, Pedro atualmente ajuda a desenvolver um microssatélite na UNB e conseguiu um estágio na Agência Espacial Brasileira. “Essa viagem será muito importante para mim. Quero ajudar a avançar o setor espacial brasileiro. Minha experiência na Nasa me mostrou que esse setor precisa ter investimentos tanto governamentais quanto da indústria. Por trás de cada iniciativa da agência, existiam de vinte a trinta empresas dando apoio. Eu acredito que a minha viagem pode ser uma oportunidade de chamar atenção para esse lado”, disse.
A viagem de Pedro Nehme será realizada a bordo da nave Lynx, desenvolvida pela empresa Xcor Aerospace. Durante a viagem, que dura cerca de uma hora, ele deverá ficar por alguns minutos a mais de 100 quilômetros da superfície da Terra. A XCor está terminando as últimas etapas de seu projeto de desenvolvimento, e pretende começar a operar voos espaciais privados a partir do início do ano que vem. A viagem que será realizada por Pedro, por exemplo, deve custar 95.000 dólares.
A operação da Xcor Aerospace faz parte de uma nova era da exploração espacial, na qual, com o fim da era dos ônibus espaciais, empresas privadas começarão a levar astronautas — e turistas — até o espaço. Em janeiro, a marca de desodorante AXE já havia anunciado uma promoção que iria levar 22 pessoas ao espaço, inclusive um brasileiro, a bordo da mesma nave Lynx.
Por Veja