A curiosa história da política brasileira desde a chegada da frota comandada por Pedro Álvares Cabral em 22 de Abril de 1500, nos revela, para infelicidade nacional, que poucos homens chegaram a se vestir daquele, que a meu ver, é o mais salutar e indispensável dos sentimentos reservados aos homens, sobretudo, aqueles, que por vocação ou não, exercem algum tipo de liderança. Essa semana, a declaração do Deputado Federal mato-grossense Nilson Leitão (PSDB) me alertou para esse fato e me fez refletir de como seria melhor se essa vestimenta fosse mais usual e rotineira: “Vestir-se de espírito público”, disse ele, referindo-se a Presidente Dilma e sua possível renúncia, já que o país vive uma recessão política, econômica e moral jamais vista.
Colocar os interesses da comunidade acima de interesses pessoais ou de grupos, sinceramente, não é para qualquer um. Às vezes, esse adorno nobre e raríssimo significa ainda ir mais além, como no caso de Luiz Carlos Prestes, por exemplo, aquele da Coluna Prestes, que liderou a revolução comunista no Brasil em 1935. Getúlio Vargas, então presidente, fizera-o passar pelos piores momentos de sua vida. Manteve o líder trancafiado por dez anos e deportou sua mulher, a judia Olga Benário, para a Alemanha nazista, onde foi morta anos depois na câmara de gás pelo regime.
Poucos entenderam quando Prestes apoiou a permanência de Vargas na Presidência em 1945. O surpreendente apoio ao presidente tinha uma só explicação: para ele, o futuro do país era mais importante do que qualquer mágoa pessoal. Poucos, muitos poucos na história política recente tem se vestido desse sentimento e, nem sempre, os que vestem, são compreendidos, como no caso que acabei de citar.
Certa vez, quando também dividi o palanque com adversários políticos, numa situação jamais vista em minha cidade, acreditei estar me vestindo desse mesmo espírito, embora, tenha sido, assim como Prestes e guardadas as proporções históricas, muito mal avaliado. A lição é que, agindo assim, o tempo como pai da verdade, sempre há de nos salvar.
O populismo tem feito vítimas no Brasil e a coragem cívica, o sacrifício, a renúncia, e o altruísmo, tem se afastado cada vez mais da política, sobretudo, a que nunca mira o horizonte.
Aos homens que lideram estes, devem estar mais atentos e mais seguros de suas missões. E não só a eles cabe essa postura, mas, a todos os cidadãos, que deve também se ocupar desta causa coletiva. Não é porque o espírito é público que é de má qualidade, portanto, façamos bom uso dele e de preferência sem moderação.
Jeno Oliveira – Colaborador