ESCRITORES E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (III) (Série de 5 crônicas)

26 mar 2014 - 15:11

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de março de 2014

Crônica Nº 1158

ESCRITOR E GEÓGRAFO CLERISVALDO B. CHAGAS, EXPLICA OS FENÔMENOS NO RIO IPANEMA (Foto: Manoel Messias)

ESCRITOR E GEÓGRAFO CLERISVALDO B. CHAGAS, EXPLICA OS FENÔMENOS NO RIO IPANEMA (Foto: Manoel Messias)

Enquanto o automóvel engolia a estrada de terra pedregosa, eu pensava na frase escrita há 27 anos no livro “Ipanema um rio macho”: “Adiante, nada mais de veredas e sim uma longa descida de pedras gigantescas até chegar à areia, lá muito à frente, na parte central do abismo. Era um espetáculo tão grandioso e aterrador que eu tive a impressão de está em outro planeta”.

CLERISVALDO B. CHAGAS (CAMISA BRANCA) E EQUIPE DA TV GAZETA DE ALAGOAS (Foto: Marcello Fausto)

CLERISVALDO B. CHAGAS (CAMISA BRANCA) E EQUIPE DA TV GAZETA DE ALAGOAS (Foto: Marcello Fausto)

Lá íamos nós, Clerisvaldo, Marcello Fausto, seu irmão Marcílio e Manoel Messias. Atrás seguia a equipe de reportagem da TV Gazeta num jipão. Chegamos ao sítio Telha, nome local, ou Cachoeiras, apelidado pelos nossos antepassados santanenses. Estava ali o trecho mais fantástico do rio Ipanema em seus 220 km de extensão. Tudo intacto como eu o deixara ao passar ali a pé com meus companheiros Wellington Costa e João Quem-Quem, naquela tarde abrasadora de janeiro de 1986. O longo canhão rasgado pelo rio Ipanema, as montanhas marginais brancas e avermelhadas, a vegetação de caatinga no terreno pedregoso que a não deixava crescer; o extenso corredor de rochas lavadas no leito do Panema em variadíssimas formas e dimensões pelo declive imenso, as serranias mais distantes, a solidão de deserto e a bela e terrível paisagem num todo, deixavam-me repetir automaticamente a frase escrita: “Tenho a impressão de está em outro planeta”.

CLERISVALDO, MANOEL MESSIAS E MARCÍLIO NA CAATINGA DO SÍTIO TELHA (Foto: Marcello Fausto)

CLERISVALDO, MANOEL MESSIAS E MARCÍLIO NA CAATINGA DO SÍTIO TELHA (Foto: Marcello Fausto)

Quando o repórter se chegou a mim, repetiu a mesma frase, como se tivesse lido meus pensamentos: “Tenho impressão que estou em outro planeta”. Todos estavam extasiados e meditativos. Como é possível um cenário deste em pleno sertão alagoano? “Ipanema um rio macho” descreveu, a TV Gazeta de Alagoas vai mostrá-lo ao mundo.

O santanense dizia que a piracema esbarrava nas Cachoeiras. O peixe não chegava a Santana, com razão. Menos de 1% da minha cidade conhece o lugar Telha.

Não se pesca mais o pitu nas Cachoeiras para ser vendido em Sergipe. A estrada até o lugar foi alargada. Talvez tenha surgido umas duas casas de taipa, no restante tudo permanece igual como se o tempo nunca tivesse passado naquele fim de mundo, naquele deserto de outro planeta repleto de macambiras, facheiros e cobras venenosas.

RIO IPANEMA E O FANTÁSTICO (Foto: Clerisvaldo)

RIO IPANEMA E O FANTÁSTICO (Foto: Clerisvaldo)

Estávamos ali entre 6 e 8 km do povoado Barra do Panema, município de Belo Monte. Após filmagens, fotos e entrevistas, juntamos o material de pesquisa, retornamos pela mesma estrada em forma de corredor até a principal que leva ao povoado. Tarde do dia 21 de março de 2014.

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